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Capitulo 1 Contextualização regional da Serra do Gandarela

1.3 A Serra do Gandarela e a expansão das Unidades de Conservação no Quadrilátero

1.3.2 As metas nacionais e internacionais

O aumento crescente de UC no Quadrilátero Ferrífero não pode ser explicado exclusivamente como resultante do avanço da mineração sobre áreas que resguardam importantes atributos naturais, nem como produto de compensações ambientais derivados das atividades minerárias presentes na região. De fato, o Estado brasileiro tem se comprometido com o cumprimento de metas internacionais e nacionais que visam ao desenvolvimento de estratégias, políticas, planos e programas nacionais para melhorar o gerenciamento, incentivar e incrementar o número de áreas protegidas (BRASIL, 2006). Desse modo, ele tem assumido, nas últimas décadas, compromissos internacionais, como signatário da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB),25 e nacionais por meio das diversas Conferências Nacionais de Meio Ambiente.

Assim, nos últimos anos, o empenho do Brasil no cumprimento das metas internacionais e nacionais, o tem colocado numa posição de liderança no cenário global. De acordo com dados do Panorama da Biodiversidade Global 3 (Global Biodiversity Outlook 3) do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), dos 700.000 Km2 de áreas protegidas criadas no mundo desde 2003 estão concentradas no Brasil 75% (PORTAL BRASIL, 2012). E a expectativa nacional no curto e médio prazo é aumentar o número dessas áreas protegidas. Isso porque, de acordo com as metas internacionais estabelecidas para 2020 na CDB-10 (metas de Aichi), pelo menos 17% das áreas terrestres e 10% das áreas marinhas e costeiras deverão ser conservadas por meio de sistemas de áreas protegidas (MMA, s/data).

25A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) foi promulgada em 1992 no marco da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD. É o principal tratado ambiental multilateral que objetiva a conservação da diversidade biológica, a utilização sustentável de seus componentes e a repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos (MMA, Convenção da Diversidade Biológica, s/data). Atualmente mais de 160 países são signatários da CDB; o que é muito pouco na verdade, uma vez que todos os países deveriam se preocupar com uma questão que atinge a todos.

53 Em relação às metas brasileiras estabelecidas no marco da CDB, serão conservados até 2020, por meio de unidades de conservação, pelo menos 30% da Amazônia, 17% de cada um dos demais biomas terrestres e 10% de áreas marinhas e costeiras (MMA, METAS NACIONAIS PARA A BIODIVERSIDADE, 2020). Em consonância às metas internacionais e nacionais de aumento de áreas protegidas, o governo do estado de Minas Gerais também planeja ampliar as áreas protegidas em curto e médio prazo. Um exemplo dessa sintonia entre os níveis de governo pode ser encontrado no Plano Estadual de Proteção à Biodiversidade (MINAS GERAIS, 2011). Certamente, para alcançar as metas globais e nacionais, o número de áreas protegidas em Minas Gerais deverá ser ampliado nos próximos anos, o que não garante em nada a manutenção da qualidade do meio ambiente pelas razões acima declaradas.

Adicionalmente ao cumprimento dessas metas, outra motivação de estimulo ao crescimento dessas áreas no QF nos últimos anos é o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), uma compensação financeira repassada àqueles municípios que mantêm áreas protegidas dentro de seus limites. Desse modo, a legislação ambiental estipula que os serviços desempenhados pelas áreas protegidas – como melhoria da qualidade do ar, da água, do solo, dentre outros – sejam retribuídos financeiramente. Certamente o PSA poderá desempenhar um papel importante para incrementar as UC no estado nos próximos anos.

Tais cenários de compromissos assumidos pelo governo brasileiro nas esferas internacional, nacional, bem como as metas estaduais direcionadas a ampliar e aperfeiçoar o sistema de áreas protegidas, certamente têm repercussões no QF, e mais especificamente na Serra do Gandarela.

Desse modo, existe um conjunto complexo e diverso de interesses, pressões e compromissos que incidem direta ou indiretamente sobre a Serra: a) as metas globais, assinadas pelo Brasil no marco da CDB; b) as metas nacionais de proteção dos biomas brasileiros; c) as metas estaduais de proteção da natureza e o incentivo de PSA para os municípios que possuem áreas protegidas; d) as pressões de movimentos ambientalistas e organizações da sociedade civil para proteger o patrimônio natural e hídrico do QF frente ao avanço da mineração e da expansão urbana; e) a expansão da mineração tendo como contrapartida a compensação ambiental por meio da criação de UC. Trata-se, portanto, de um conjunto complexo de interesses e pressões que incorrem sobre o presente e o futuro da Serra do Gandarela e das comunidades locais que nela habitam.

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1.4 As comunidades locais da Serra do Gandarela

Como ressaltamos no início desse capítulo, a Serra do Gandarela não é um espaço vazio. Pelo contrário, a presença humana na região é antiga e remonta ao período do pré- descobrimento; época na qual a região era habitada por nações indígenas pertencentes ao grupo tupi-guarani. Posteriormente, com o auge da exploração aurífera no século XVIII, a região recebeu um contingente populacional importante em busca das ricas jazidas minerais. A fim de conhecer melhor a realidade das comunidades locais, apresentamos uma breve caracterização a partir de seus aspectos históricos, econômicos, sociais e culturais. E ainda, analisamos elementos que consideramos fundamentais para a compreensão da reprodução dessas comunidades: as modalidades de acesso à terra, as principais atividades econômicas desenvolvidas – agrícolas e extrativistas – e algumas dimensões culturais mais destacadas. Em nosso entendimento, torna-se necessário e urgente ter um maior conhecimento a respeito dessa realidade, pouco conhecida como apontamos na Introdução, sobre a qual recaem atualmente dinâmicas e interesses econômicos regionais, nacionais e internacionais que ameaçam os modos de vida dessas comunidades na Serra do Gandarela.

1.4.1 A ocupação da Serra do Gandarela e seu entorno

Como mencionamos nas páginas anteriores, a história da ocupação do Gandarela e, de maneira mais geral, do Quadrilátero Ferrífero tem sua gênese ligada ao ciclo da mineração do ouro e do ferro. Eles contribuíram com a fixação da população na região e possibilitaram a formação de numerosas vilas e povoados da região, muitos dos quais se desenvolveram até chegar às atuais cidades, e outros ainda permaneceram como povoados e pequenos distritos (LAMOUNIER, 2009).

A exploração aurífera na Serra do Gandarela durante o ciclo do ouro não teve a mesma intensidade que em outras áreas da "região das minas". No entanto, o trânsito pelos caminhos da mineração e a exploração do ouro fomentaram o surgimento de povoados na região que serviram tanto como base para os garimpeiros como locais de produção de insumos para abastecimento da região das minas. Desse modo, a prática da agricultura para fornecer