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A amostra constituinte deste estudo trata-se de 24 alunos (n=24) que frequentam o 10º ano de escolaridade na turma C na Escola Secundária Morgado Mateus situada em Vila Real. A amostra de alunos era constituída por 16 raparigas e 8 rapazes, apresentando uma média de 15,33 anos de idade, sendo que o aluno mais velho tinha 18 anos e o mais novo 14. Em relação à composição corporal, a turma apresentou uma média de 22,27 em termos de IMC, ou seja, está no intervalo de peso considerado normal pela OMS, sendo que o valor máximo (26,78) e o valor mínimo (19,53) encontram-se perto dos limites do intervalo de peso normal.

Tabela 1: Resultados da altura, peso e IMC da amostra.

N Mínimo Máximo Média Dp

Altura 24 1,54 1,82 1,66 0,07 Peso 24 50,0 79,0 62,2 8,04 IMC 24 19,5 26,7 22,2 1,68

Todos os alunos frequentaram as aulas de Educação Física duas vezes por semana (2 aulas de 90 minutos por semana) durante um período de 13 semanas entre os meses de Janeiro e Abril de 2014 durante o qual este estudo foi aplicado.

Nenhum dos constituintes da amostra apresentava nem reportava problemas psicológicos e cognitivos nem restrições à prática de atividade física, ou seja, todos os indivíduos presentes na amostra foram considerados saudáveis e aptos para a prática de atividade física.

Procedimentos e Instrumentos

Seguindo o trabalho de Killingbeck et al (2007), os exercícios realizados nas aulas basearam-se exclusivamente em jogos e na parte atlética (athletics) dos alunos, ou seja, existem várias áreas de ação que promovem o desenvolvimento da literacia motora, mas para este estudo e através da análise individual de cada área, acabou por se utilizar duas: jogos e athletics.

Os jogos, segundo os mesmos autores, desenvolve a velocidade de reação, a força, a velocidade, a coordenação mão-olho e a coordenação pé-olho, desenvolvendo, também, a leitura do ambiente que rodeia o aluno, já que durante um jogo os alunos são confrontados com uma série de problemas nas quais têm de arranjar uma solução num espaço de micro segundos e têm de ter em conta, também, quais são os seus colegas de equipa e quais são os adversários. Os jogos são a melhor ferramenta para se trabalhar o trabalho em grupo, a comunicação e a leitura do ambiente.

O athletics abrange o treino específico das capacidades de correr, anda, saltar e atirar que são cruciais, não só no athletics, mas também em muitos outros desportos. Apenas o athletics desenvolve a capacidade dos alunos de correr mais rápido, de saltar mais alto e de atirar mais longe, sendo que o aluno com mais experiência no athletics é o mais capaz de ler e reagir mais efetivamente às mudanças no ambiente que o rodeia.

Por isso mesmo, os exercícios de 10 minutos que foram aplicados durante as 13 semanas consistiram, na área dos jogos, em Jogos dos 10 passes, Bola ao capitão, Jogo do Mata, Meinho e na área do athletics, foram utilizados circuitos de velocidade (utilizados com parte do aquecimento), circuitos de apanhar bola do chão e de colocar a bola na linha de meta (râguebi) e circuitos de passe (andebol).

Para se verificar a literacia motora de cada aluno, tanto a inicial como a adquirida ao longo do período de teste, foi utilizada a bateria de teste PLAYBasic, que se encontra dividido em quatro subsecções.

Locomotor Kicking

Balance Throwing

Figura 2:. As quatros seções do PLAYBasic.

A secção Locomotor refere-se à habilidade da criança na tarefa correr, sendo que, de acordo com o CS4L, a tarefa de correr é a base da preparação física de vários desportos e é uma competência obrigatória e deve ser dominada o melhor possível, pode ser trabalhada durante a vida adulta mas quanto mais cedo na vida esta tarefa for dominada, melhor. A secção Throwing refere-se à capacidade de a criança movimentar os seus segmentos corporais para arremessar objetos, de manejar objetos e de utilizar a sua coordenação óculo- manual, sendo esta habilidade é uma das mais importantes e das mais utilizadas pelo ser humano ao longo da sua vida. A secção Kicking trata da habilidade da criança para pontapear e ter controlo do seu espaço motor. Em relação ao Balance, este baseia-se no equilíbrio e na capacidade da criança de o manter.

Cada seção, está dividida em dois levels (níveis) – level 1 (nível 1) e level 2 (nível 2) – e cada level tem uma tarefa específica a ser realizada e do level 1 para o level 2 a dificuldade de execução da tarefa aumenta, sendo necessário uma maior capacidade de execução, de confiança e de concentração. Cada tarefa executada é graduada numa escala de quatro categorias, dependendo do seu desempenho: initial (principiante), emerging (emergente), competente (competente) e proficient (dominante).

Após serem realizadas as tarefas da bateria de testes e de serem cuidadosamente avaliadas, os níveis de execução observados vão ser transformados em Physical Literacy Score (PLS - nível de literacia motora). Estes PLS obtêm-se atribuindo um determinado número ao nível de desempenho observado em cada tarefa. No final, somam-se todos os pontos obtidos em cada seção e em cada tarefa, tendo-se, por sim, o PLS.

Figura 3: Relação entre o nível de desempenho em cada tarefa e os pontos atribuídos.

Ao mesmo tempo que é graduada a performance, é avaliada também a confiança demonstrada aquando a realização da tarefa. Os níveis de confiança durante a tarefa são avaliados em low (pouca confiança), meddium (confiança média) e high (muita confiança), sendo que atribui-se um ponto quando o aluno apresenta pouca confiança, dois pontos se apresenta confiança média e três pontos se apresenta muita confiança. Este nível de confiança é normalmente avaliado através da postura do aluno aquando a realização da tarefa.

O valor de PLS obtido irá permitir ter uma visão geral do nível de literacia motora de cada avaliado podendo-se, depois, comparar os valores obtidos antes e depois da aplicação dos exercícios.

O tratamento de dados foi realizado através do SPSS 22- Statistical

Package for the Social Sciences, for Windows. Foi realizada análise descritiva

(máximo, mínimo, média e desvio padrão) e comparativa, sendo adotado um p≤ 0.05.

Resultados

Após o tratamento de dados relativamente à comparação do PLS inicial e final que nos irá dizer que houve ou não efetivamente melhoria da literacia motora, estes foram os dados obtidos:

Initial 1 ponto

Emerging 2 pontos

Competente 3 pontos

Proficiebt 4 pontos

30

Para se verificar se houve diferenças nos resultados obtidos por ambos os sexos, esta foi a tabela obtida:

Tabela 2: Relação entre o PLScore no pré-teste (PLScore1) e pós-teste (PLScore2) e o sexo do indivíduo.

N Mean Dp Lower Upper IC 95% Minimum Maximum F Sig.

PLScore1 Feminino 16 13,5 4,4 11,1 15,8 9,0 21,0 17,841 ,000* Masculino 8 20,6 2,32 18,6 22,5 15,0 22,0 Total 24 15,8 5,12 13,7 18,0 9,0 22,0 PLScore2 Feminino 16 16,4 4,54 14,0 18,8 12,0 25,0 21,255 ,000* Masculino 8 24,7 3,19 22,0 27,4 17,0 27,0 Total 24 19,2 5,71 16,7 21,6 12,0 27,0

Como resultados após o tratamento de dados relativamente aos níveis de confiança dos alunos na realização de cada tarefa, a tabela apresenta os valores obtidos, comparando-os por sexo:

Tabela 3: Comparação entre os níveis de confiança apresentados na realização de cada tarefa e o sexo do indivíduo.

Média F p

Confiança L1nível1 Entre

Grupos 3,521 17,455 ,000* Dentro

grupos ,202 Total Confiança L1nível2 Entre

Grupos 2,521 16,742 ,000* Dentro

Grupos ,151 Total Confiança K1nível1 Entre

Grupos 4,688 19,412 ,000* Dentro

Grupos ,241 Total Confiança K1nível 2 Entre

Grupos 4,688 19,412 ,000* Dentro

Grupos ,241 Total

Apenas são apresentadas as tarefas com diferenças significativas (p ≤0,05).

Para se verificar se houve melhorias da literacia motora nas tarefas de Correr e Arremessar, esta é a tabela que demonstra os resultados do momento inicial (l1 e T1) e do momento final (L2 e T2) do estudo:

Tabela 4: Resultados nas tarefas de Correr ( L) e Arremessar (T) e nos seus níveis ou levels (n1 e n2), num pré-teste ( L1 e T1) e pós-teste (L2 e T2).

Média dp Lower Upper Mínimo Máximo IC 95% L1 nível1 1,66 ± 0,48 1,46 1,87 1,00 2,00 L2 nível 1 2,08 ± 0,88 1,71 2,45 1,00 3,00 L1 nível 2 2,33 ± 0,63 2,06 2,60 1,00 3,00 L2 nível 2 2,79 ± 0,77 2,46 3,12 1,00 4,00 T1 nível 1 2,08 ± 0,88 1,71 2,45 1,00 3,00 T2 nível 1 2,45 ± 0,58 2,20 2,70 2,00 4,00 T1 nível 2 1,75 ± 0,60 1,49 2,00 1,00 3,00 T2 nível 2 2,37 ± 0,49 2,16 2,58 2,00 3,00

Discussão de Resultados

Observando a Figura 2, é possível verificar que todos os indivíduos da amostra tiveram um aumento do PLS do pré-teste para o pós-teste, o que, segundo o PLAYBasic representa uma melhoria dos níveis de literacia motora. Apesar de os números serem irregulares (houve variações que vão desde 1 ponto a 5 pontos, não havendo um padrão visível) a melhoria geral da literacia motora individual é notória, o que, segundo Whitehead & Murdoch (2006), é muito importante pois permite deixar uma “porta aberta” para que no futuro haja uma participação desportiva ou que surjam oportunidades para que a atividade física se mantenha durante todo o percurso de vida destes alunos.

Conjugado com a Figura 2, a Tabela 2 mostra-nos mais especificamente os números das diferenças existentes em sexos nos dois momentos, pré-teste e pós- teste, sendo visível que houve diferenças significativas entre sexos em ambos os momentos (p = 0,00, ou seja, segundo os valores definidos, é significativo), sendo que os rapazes tiveram um maior crescimento do PLS geral do pré-teste (20,6250) para o pós-teste (24,7500) em relação às raparigas (13,500 – 16,4375). Estes valores podem ser explicados por Oliver (2013), que afirma que a raparigas não gostam dos conteúdos da EF – os tradicionais jogos coletivos e individuais – mas também não gostam da maneira como as atividades que envolvem os rapazes estão planeadas, tal como têm medo de se magoar ou de serem deixadas de fora, o que faz com que a sua ação nas aulas EF seja um menos motivada e, consequentemente, menos efetiva em relação á ação dos rapazes.

Segundo Whitehead e Murdoch (2006), é no “coração” da literacia motora que se encontra a motivação para a atividade física por parte dos alunos do Ensino Secundário, sendo esta motivação adquirida à medida que os alunos vão fazendo progressos no domínio dos movimentos, ganhando assim confiança e auto estima, aspetos importantes para o nosso potencial humano. Por isso mesmo, é importante verificar se houve diferenças significativas nos níveis de confiança entre sexos durante a realização das tarefas (Tabela 3). Verificou-se que houve diferenças significativas (p≤ 0,05) em apenas duas tarefas – correr e pontapear – o que mais uma vez nos leva às conclusões de Oliver (2013) de que as raparigas não gostam das atividades tradicionais da EF e por isso mesmo, a sua confiança aquando a realização destas tarefas seja menor que a dos rapazes que realizam a mesma tarefa.

Apesar de se ter conseguido obter resultados em relação aos níveis de confiança dos alunos, a verificação dos níveis de confiança dos alunos foi uma tarefa um pouco difícil de realizar. A bateria de testes incluía quais os parâmetros a avaliar durante a realização de uma tarefa e quais os níveis de desempenho correspondestes à ação do aluno, mas em relação à confiança apenas era referido que era classificada em três níveis, não exemplificando nem descrevendo quais os comportamentos a observar em cada um dos níveis. Esta foi a maior lacuna encontrada na bateria de testes utilizada, tendo por isso sido a maior dificuldade encontrada na realização deste estudo. Para se tentar contornar esta dificuldade, os níveis de confiança dos alunos foram avaliados de acordo com a postura e linguagem corporal dos alunos aquando a realização da tarefa.

Devido às UD que deveriam ser lecionadas nesse período (andebol e râguebi) de teste e como os exercícios de 10 minutos teriam de estar integrados na dinâmica da aula, a maior parte dos circuitos e jogos envolvia o manuseamento de uma bola com as mãos e a consequente ação de atirar a bola para o colega ou para a baliza e o constante movimento dos alunos, utilizando-se frequentemente a velocidade para “escapar” ao adversário. Por estes motivos, mostra-se pertinente comparar os resultados nas tarefas de correr e arremessar objetos já que, devido à frequência de utilização, estes seriam os parâmetros que melhor nos dão uma visibilidade da melhoria da literacia motora nestes alunos. Observando-se a Tabela 4, é possível verificar que houve efetivamente uma melhoria da literacia motora de um momento para o outro, sendo essa melhoria mais evidente no Throwing (atirar)

na tarefa level 2, havendo uma diferença na média de 0,625 do pré-teste para o pós-teste. Também é visível a diferença no Locomotor (correr) na tarefa level 2 em que há uma diferença do pré-teste para o pós-teste, em termos de média, de 0,4584. Isto vai contra o pensamento de Whitehead (2006) sobre a literacia motora nos alunos do Ensino Secundário, onde afirma que é importante manter a abrangência de atributos da literacia motora fazendo a transição da mesma do ensino pré-secundário para o Secundário, já que estes alunos se encontram num estado crítico de desenvolvimento para atingirem a idade adulta e que, por isso mesmo, devem experimentar e dominar os movimentos de uma vasta variedade de movimentos.

Conclusões

De acordo com o estudo efetuado, 10 minutos por aula são suficientes para que a literacia motora seja, efetivamente melhorada nos alunos do Ensino Secundário, sendo ainda necessário alterar a aproximação da literacia motora e, consequentemente, da atividade física, às raparigas que, apesar da melhorias verificadas, demonstram uma menor confiança que os rapazes na realização das tarefas motoras, o que poderá influenciar negativamente a sua performance.

Outro ponto a ter em atenção, é a necessidade de se trabalhar todos os domínios da literacia motora (locomotor, throwing, kicking e balance) tal como os domínios cognitivos da confiança, da comunicação e da leitura do ambiente rodeante, já que se verificou que a utilização constante de apenas duas tarefas faz com que os alunos tenham apenas melhorias nessas tarefas, o que faz com que o desenvolvimento da literacia motora seja afetado negativamente.

Foi possível ao longo deste estudo verificar a importância da literacia motora na EF e a facilidade com que esta pode ser inserida na rígida estrutura que é a planificação da disciplina nas escolas atualmente, independentemente do grau de ensino em que nos encontramos, podendo ser trabalhada e melhorada em todas as aulas, utilizando apenas 10 minutos do tempo preciso de aula do qual disponibilizamos.

Para terminar e reforçar a importância que a literacia motora deve ter nas escolas, é importante realçar que os indivíduos que têm uma literacia motora bem

desenvolvida movem-se com competência numa vasta variedade de atividades físicas que beneficiam o desenvolvimento individual como uma pessoa inteira (Mandigo et al, 2009).

Bibliografia

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Supplement to Sports Coach UK. Armley, West Yorkshire. UK. The National

Coaching Foundation.

Killing, M. Bowler, M. Golding, D. and Gammon, P. (2007). Physical education and physical literacy. Physical Education Matters. 2 (2). 20-24.

Kriellaars, D. (2013). Physical Literacy Assessment for Youth. Supplement to

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Mandigo, J. Francis, N. Lodewyk, K. e Lopez, R. (2009). Physical literacy for educators. Physical and Heath Education Journal. 75 (3). 27-30.

Oliver, K.L. (2013). Engaging adolescent girls in Physical Education – Supporting girls in process of becoming physically literate. Journal of Sport Science and

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Whitehead, M. and Murdoch, E. (2006). Physical literacy and physical education: conceptual mapping. Physical Education Matters. 1 (1). 6-9

Whitehead, M. (2001). The concept of physical literacy. European Journal of

Physical Education. 6 (2). 127-138

Whitehead, M. (2010). Physical Literacy: Throughout the Lifecourse. London. Routledge.

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