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Para analisar as informações colhidas, adotei a Análise Textual Discursiva de Moraes e Galiazzi (2007), a qual tem como propósito a compreensão dos fenômenos investigados. A pesquisa qualitativa obtém informações de seu objeto de estudo, através de entrevistas e observações, produzindo textos, ou de textos já produzidos, a fim de investigar o entendimento dos fenômenos, os quais observa atentamente, reconstruindo conhecimentos sobre os temas investigados.

Todo o material gráfico torna possível uma interpretação diferente para cada leitor. Esses modos diversos de analisar e interpretar dependem dos referenciais teóricos trazidos, em suas leituras, pelo leitor/pesquisador. Segundo Moraes e Galiazzi (2007, p. 15), “é impossível ver sem teoria; é impossível ler e interpretar sem ela”.

A Análise Textual Discursiva inicia a partir de um grupo de documentos (textos) denominados corpus. “O corpus da análise textual, sua matéria prima, é constituído essencialmente de produções textuais” (MORAES; GALIAZZI, 2007, p. 16). A seguir, fazem-se a unitarização, a categorização e o metatexto.

A desconstrução dos textos do corpus ou unitarização é a desmontagem dos textos, fragmentando-os, dividindo-os em unidades de significado, algumas menores, outras maiores, dependendo do pesquisador. Na construção das unidades, verificam-se dois momentos. No primeiro momento, classificam-se unidades amplas, que talvez guardem elementos para mais de uma categoria. No segundo momento, essas unidades maiores são reinterpretadas, visando unidades menores.

Dessas unidades menores podem surgir as subunidades produzidas na categoria em que estão inseridas. Esse conjunto desorganizado vai se compondo, possibilitando novas intuições sobre os fenômenos trabalhados. É relevante que o pesquisador crie um sistema alfanumérico para identificar seus textos de origem, possibilitando a ida e vinda aos textos originais, sempre que necessário. Segundo Moraes e Galiazzi (2007, p. 72), “apresentou-se a unitarização como um processo de recorte e desconstrução de materiais de comunicação submetidos à análise qualitativa. Dele resulta uma „explosão de idéias‟, movimento em direção ao caos capaz de possibilitar a emergência de novas formas de compreensão.”

Categorizar é agrupar o que é similar. A categorização é delimitada pela saturação, ou seja, pela colocação de mais materiais nas categorias já produzidas, sem que o pesquisador acrescente novas interpretações. O trabalho de categorizar na Análise Textual Discursiva é um

processo que requer interpretação, pressupostos teóricos, criação e organização para o entendimento dos fatos investigados.

De acordo com Moraes e Galiazzi (2007, p. 78):

Pode-se concebê-lo como construção de um quebra-cabeças em que o objeto do jogo e suas peças são criadas e ajustadas à proporção que a pesquisa avança. Numa perspectiva mais radicalmente qualitativa, talvez uma metáfora melhor seja a criação de um mosaico, entendendo-se que o mesmo conjunto de unidades de sentido pode dar origem a uma diversidade de modos de organização do produto final.

A defesa das categorias organizadas pelo pesquisador é feita através de argumentos que liguem, expliquem a relação existente entre elas, visando ao entendimento, à construção do metatexto. Essa defesa, na Análise Textual Discursiva, caracteriza-se por ser argumentativa, como nas abordagens qualitativas, em vez de numérica, como nas abordagens quantitativas.

O terceiro momento da análise textual evidencia-se pela versatilidade, pois é a comunicação dos novos entendimentos alcançados. É o metatexto se expressando e “[...] é importante compreender que a construção do metatexto é um processo reiterativo de construção. Várias versões poderão ser produzidas, sendo cada uma delas submetida a leitores críticos para seu aperfeiçoamento” (MORAES; GALIAZZI, 2007, p. 44).

A Análise Textual Discursiva tem por finalidade a criação de metatextos que expressem novos significados, originados das leituras dos textos ou corpus e não da cópia de ideias que estavam dispersas nesses textos. “A pretensão não é o retorno aos textos originais, mas a construção de um novo texto” (MORAES; GALIAZZI, 2007, p. 31).

Para atingir esse objetivo, o pesquisador necessita fundamentar e validar as descrições do processo analítico. Para tal, ele usa as falas empíricas, retiradas dos textos, e as falas dos teóricos, como citações dentro de seu metatexto. Dessa forma, o autor fornece aos leitores uma imagem com a presença efetiva e participante dos autores empíricos e dos teóricos utilizados na construção da ciência, e submete-se a seu julgamento.

Conforme Moraes (2002, p. 245):

Submeter as produções escritas a critica de colegas e de outros pesquisadores é um modo de aperfeiçoar gradativamente as produções. Também esta possibilidade de ser questionado caracteriza um conhecimento como científico. Neste processo de crítica os argumentos e resultados de uma pesquisa validam-se, possibilitando ao mesmo tempo que o objeto da pesquisa se explicite cada vez com maior clareza.

dedução e a indução. As categorias dedutivas são definidas anteriormente à leitura do corpus, ou seja, são predefinidas. No método por indução, as categorias emergentes resultam do corpus. Não há impedimento para o uso das duas metodologias, pois, segundo Laville e Dione (1999 apud MORAES; GALIAZZI, 2007, p. 24) “a indução auxilia a aperfeiçoar um conjunto prévio de categorias produzidas por dedução”.

No Apêndice A do presente trabalho, consta o material descritivo das aulas gravadas em áudio e sua transcrição, denominado diário de aula do professor. Estão, neste diário, as percepções por mim coletadas, tanto das aulas ministradas antes da leitura dos diários dos alunos, como das aulas ministradas após a leitura dos diários dos alunos. No Apêndice B, constam a fichas de avaliação dos seminários. No Apêndice C, está a „tabela músculos‟, confeccionada pelos estudantes.

As categorias emergentes e predefinidas neste estudo resultaram dos objetivos específicos determinados no projeto do trabalho:

a) investigar o papel do professor e do aluno durante a aplicação das técnicas propostas para ensinar pela pesquisa e pelo questionamento;

b) identificar atitudes e práticas pessoais do professor que favoreçam a aprendizagem na disciplina de Anatomia e Fisiologia Humana;

c) desenvolver a autocrítica sobre a prática pessoal da pesquisadora ao utilizar a pesquisa e o questionamento em sala de aula;

d) identificar atitudes e práticas pessoais dos alunos, que representem crescimento cognitivo, quando utilizados a pesquisa e o questionamento em sala de aula. Dos objetivos específicos originaram-se categorias e subcategorias, as quais estão dispostas no Quadro 4.

Categorias Subcategorias

Autonomia - O papel do professor no desenvolvimento da autonomia dos estudantes; - O papel do aluno no desenvolvimento da sua autonomia;

- Evidências de trabalho autônomo;

- Avaliação das Atividades Propostas aos Sujeitos e a Avaliação das Atividades Propostas aos Sujeitos, Pelos Sujeitos.

Construção de Conhecimentos

- O papel do professor na construção de conhecimentos dos estudantes; - O papel do aluno na sua construção de conhecimentos;

- Evidências de construção de conhecimentos.

Quadro 4 - Categorias e subcategorias emergentes Fonte: A autora (2009)

Dos 22 alunos selecionados inicialmente, 19 participaram efetivamente do estudo devido a evasões e transferências de turno. Os estudantes estão referidos segundo um sistema alfanumérico - A1, C, C1, C2, C3, D, E, E1, E2, K, L, L1, M, M1, P, S, S1, S2, V. Essa codificação, denominada ‟unidades de contexto‟ (MORAES; GALIAZZI, 2007) visa facilitar ao pesquisador o ir e vir aos textos de origem.

Algumas vezes, quando da comunicação mantida com os alunos durante a investigação, utilizo também minha voz, referida como IBA. Na transcrição de alguns diálogos, nos quais os estudantes escreveram o nome dos colegas, foi usado o símbolo  para garantir o sigilo. Pelo mesmo motivo, não foram colocadas as iniciais dos estudantes ao final das falas, pois a letra de identificação de cada estudante corresponde à inicial de seu verdadeiro nome.