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Tendo em conta que «a pesquisa é desenvolvida mediante o concurso dos conhecimentos disponíveis e a utilização cuidadosa de métodos, técnicas e outros procedimentos científicos»83, para o trabalho de investigação, da natureza como o que aqui se apresenta, foi adotado um método conforme a seguir se explana. Tenta-se aqui espelhar as etapas percorridas, indicar critérios de escolha de fontes documentais, bibliografia e forma de recolha, que facultam e facilitam uma observação atenta e uma análise rigorosa posterior. Assim, como facultam um tratamento eficaz da informação e cruzamento de dados, no sentido da obtenção de respostas de modo rigoroso destinadas à diversidade de questões entretanto formuladas.

Inicialmente decidiu-se o objeto (batalha de Ponte Ferreira) a estudar na presente dissertação de mestrado. De seguida colocaram-se questões e hipóteses de respostas, estabelecendo-se o modo como seria então investigada a batalha. Determinou-se que este trabalho se dividia em dois momentos, pelo que se estabeleceu a sua estrutura. Após uma introdução justificativa, estabelecimento dos objetivos, delimitação e análise das fontes de informação e a descrição dos métodos, temos numa primeira parte a investigação dos factos do acontecimento e numa segunda as repercussões à época. Neste caso, as repercussões, têm em conta as reivindicações e benefícios (dividem-se em dois níveis: locais e militares), associando-as com a reestruturação do exército, numa ligação dos oficiais superiores ao poder político (politização dos militares) durante o século XIX. Sendo a pesquisa um «procedimento racional e sistemático que tem como objectivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos»84, foi então dado início à mesma, em monografias locais e bibliografia específica da história

83 GIL, 2002, p. 17. 84

militar, sobre o objeto em estudo e seu enquadramento. Esta pesquisa consistiu na procura sistemática de trabalhos de investigação, sobretudo em bibliotecas mas também na internet. Paralelemente partiu-se para a pesquisa de fontes em arquivos, também quer presencialmente quer à distância via internet. Neste caso a procura, por palavras-chave como (Ponte Ferreira, batalha, Vallongo, Valongo, Baltar, entre outras) dirigiu-se, essencialmente, aos testemunhos de intervenientes na batalha, incluindo narrativas expedicionárias e memórias, e documentação militar e da administração pública. Por, à partida, existir mais documentação produzida pela fação liberal e mesmo uma bibliografia que conta uma “versão liberal”, tentou-se guiar a procura de modo a obter fontes produzidas pelos miguelistas vencidos no final da guerra civil. Neste caso o sucesso foi tímido, demonstrando-se mais uma vez que dos vencidos não reza a história.

Para apoio da pesquisa sistemática e consistente, foram construídas tabelas exel que sistematizassem a informação contida nas fontes primárias manuscritas, fontes primárias impressas e bibliografia. Uma outra tabela com indicação de mapas e gravuras foi construída. As tabelas para recolha de informação têm por objetivo a obtenção de dados de modo rigoroso e para uma melhor ordenação e análise ulterior, de modo a auxiliar e a facilitar a redação final do trabalho. Nestas tabelas foram criados campos para introdução de informações úteis como toponímia, ideias chave, ilações retiradas pela leitura, respostas a questões entretanto colocadas, referenciação, entre outros dados. Na redação do trabalho, o capítulo respeitante à interpretação do episódio bélico, com enfoque da investigação dirigido a um curto período, uns dias antes e uns dias depois da batalha, inicia-se com uma leitura histórica do espaço. Desta faz parte a caraterização da ponte (ponto fulcral na contenda), enquanto infraestrutura, sua função e importância ao longo dos tempos, e o enquadramento administrativo e geográfico antes e depois da batalha. Segue-se o enquadramento histórico do episódio, os antecedentes e o dia antecedente (reconhecimento de Valongo). Posteriormente é abordado e interpretado o episódio (batalha de Ponte Ferreira), numa tentativa de reconstituição histórica dos factos, no sentido de contribuir com uma resposta válida para a principal questão colocada no início desta investigação: Qual a importância da batalha de Ponte Ferreira? A esta questão, para se conseguir responder cabalmente, seguiram-se e impuseram-se-lhe outras sub-questões como por exemplo: Quanto tempo durou a batalha?; Quantos homens estiveram presentes e lutaram, quer de um lado quer do outro?; Que personalidades de relevo intervieram no embate militar?; Quem se destacou

na batalha e posteriormente foi agraciado?; Quantas baixas se contabilizaram?; Terá sido a posição deste lugar, considerado como estratégico que, militarmente, determinou o local da batalha?; Das forças militares liberal e absolutista em conflito qual saiu vitoriosa?; Terá havido vítimas civis e onde se refugiaram as populações?; Quantos habitantes e que área foram afetados?; Que meios bélicos foram utilizados?; Que dimensão teve o impacto sociodemográfico?; Porque se denomina de Ponte Ferreira e não Granja, conforme os absolutistas a batizaram?; Terá sido a primeira grande batalha da guerra civil?; Será que a ocorrência desta batalha teve proveito posterior para as populações locais? Todas estas perguntas estão umbilicalmente ligadas à representação que foi sendo alimentada pela memória coletiva local.

O capítulo seguinte é respeitante às repercussões à época. Aqui, optou-se por uma divisão entre três partes: reivindicações e benefícios locais, reivindicações e benefícios político-militares imediatos e finalmente reivindicações e benefícios político- militares posteriores a longo prazo. Nas reivindicações e benefícios locais faz-se uma análise das mesmas ao nível municipal no concelho de Valongo durante o decorrer do século XIX, após o ano de 1832. Quanto a reivindicações e benefícios político-militares, opta-se por uma divisão entre imediatas e posteriores, na medida em que se deram em grande número após o episódio, mas continuam no decorrer do século.

O uso da bibliografia, neste estudo, é-o essencialmente na parte respeitante às repercussões à época, reivindicações e benefícios, locais e militares. Para se tentar chegar à proximidade dos factos ocorridos em julho de 1832, neste caso, grosso modo, apenas são usadas fontes primárias.

Para o trabalho que aqui se apresenta é de ressalvar que a utilização de novos meios de acesso a documentação on line, que cada vez mais é disponibilizada, muito ajudam na pesquisa para encontrar o que se pretende, mas ao mesmo tempo criam um problema que é o excesso de informação. Neste caso deu-se conta da existência de imensa informação disponível à distância de um clique, como o caso das narrativas expedicionárias, pelo que houve, naturalmente e para uma boa exequibilidade do trabalho, uma necessidade em limitar e excluir, depois de devidamente selecionada, analisada e registada a documentação.

A metodologia aqui adotada ajudou a conduzir, o trabalho empreendido, ao encontro das respostas válidas, adequadas e necessárias às questões de partida. Foram estabelecidos procedimentos, conceitos e técnicas respeitantes às diferentes etapas do trabalho científico. É evidente que na evolução da presente investigação, houve ajustes,

decorrentes do próprio desenrolar do processo, eliminando falhas e deficiências no sentido de o melhorar. Neste processo de investigação, tentou-se fazer um planeamento adequado de metas e prazos a atingir e uma acertada organização de resultados no sentido de facilitar uma boa redação e apresentação do trabalho final, capaz de ser entendido pelos outros85.

85

II – Batalha de Ponte Ferreira: conhecimento e interpretação de um episódio

«[…] grandes suóres que de parte a parte eram gotijados com sangue derramado por uma causa que uns e outros julgavam justa e que o historiador imparcial apóda de loucura»86.