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METODOLOGIA:

No documento liamariamansosiqueira (páginas 111-116)

3 CAPÍTULO INCURSÕES SOBRE FAMÍLIA MONOPARENTAL

4.1 METODOLOGIA:

Durante a pesquisa foi estabelecido como foco principal a análise e características da interação familiar com a escola a partir de entrevistas evidenciando as experiências concretas de mães e professoras(es).

Propusemos, como metodologia de pesquisa, a investigação descritiva/explicativa tendo em vista o intuito de demarcar as características e situação do grupo estudado e, desta forma, demonstrar aproximação fática com o objeto de pesquisa em busca de adensamento de ideias e hipóteses.

Sob a perspectiva de investigação referida, pretendemos desenvolver pesquisa de viés qualitativo. Como método de coleta e análise. Foi utilizada análise etnográfica através de entrevistas como fonte de pesquisa primária. Ademais, durante a fase bibliográfica da pesquisa realizou-se análise de material e dados secundários como tabelas e gráfico.

Como estudo qualitativo, que prioritariamente emprega técnicas de coleta de dados como a entrevista semi-estruturada, não fora estabelecida estanque separação entre a coleta de informações e a sua interpretação. A dimensão subjetiva do enfoque qualitativo, da dimensão cultural para a análise do conflito de classes pela teoria bourdieusiana, corrobora a hipótese trabalhada por Wells. Ela estrutura o argumento através do conceito de “habitus” (BOURDIEU & PASSERON, 1977) – consistem em esquemas de percepção, pensamentos e ações, impulsionados por condições objetivas de poder, contudo, extrapolando-as persistindo no tempo. A classe, a religião, a raça e o contexto familiar podem afetar profundamente o “habitus” de um indivíduo e definí-lo de maneira única. A partir da assunção de que o “habitus” se constitui de maneira única, Wells percebeu que o comportamento das(os) alunas(os) negras(os), de origens semelhantes, pode transitar desde a aceitação, até à oposição ao capital cultural reproduzido pelas escolas. Logo, a relação estudante/escola é desenhada de maneira complexa e não se apresenta como processo previsível ou incontestável.

cujas verdades se baseiam em critérios internos e externos, favoreceu a flexibilidade da análise dos dados, permitindo a passagem entre informações que foram reunidas e que, em seguida, serão interpretadas para o levantamento o amadurecimento do estudo e de suas hipóteses.

As pesquisas de natureza tipicamente qualitativa geram um enorme volume de dados que precisam ser organizados e compreendidos, requerendo assim um processo continuado em que se procura identificar dimensões, categorias, tendências, padrões, relações, desvendando-lhes o significado. Esse processo é complexo, não linear e implica um trabalho de redução, organização e interpretação dos dados que se inicia já na fase exploratória e acompanha todo o ciclo da investigação. Desta maneira, como metodologia de coleta de dados qualitativos, foram realizadas entrevistas, armazenadas em gravações em áudio, com o objetivo de sumariar a informação.

Posteriormente à colheita foi realizada a organização das informações em notas escritas como continuidade do processo de formação de significado. Em ambas as fases aplicamos as compreensões e reflexões angariadas ao decorrer do estudo bibliográfico e tratamento de dados secundários.

Como consistiu em pesquisa qualitativa guiada por entrevistas, não houve desconforto ou riscos físicos. Entretanto, consideramos, durante as entrevistas, a possibilidade do sujeito colaborador sentir desconforto por compartilhar informações pessoais ou confidenciais e, até mesmo, incômodo de falar em alguns tópicos. Portanto, os sujeitos foram alertados pela equipe de pesquisa que não precisavam responder a qualquer pergunta ou dar informações durante o debate/entrevista/pesquisa, caso sentissem que ela era muito pessoal ou que causava algum desconforto.

Como benefícios da presente pesquisa, que se propôs a ser apenas o primeiro passo para aprofundamentos bibliográficos e em campo, ressalta-se: a compreensão do contexto escolar e do intercâmbio entre escola e família através das entrevistas, material de campo colhido; impulsionar novas investigações de como é possível tornar o espaço escolar mais atento a realidades sociais e familiares diversas; compreender como o direito a educação vem sendo promovido pelas instituições escolares.

No desenvolver da pesquisa foi possível compreender que os estudos de gênero e das relações raciais possuem aspectos comuns, como o foco nas experiências dos sujeitos, no combate à discriminação, o teor político na luta pelas desigualdades, um engajamento com os processos de aprender a identificar, criticar, desconstruir distorções, omissões e avaliações baseadas em preconceitos. Isto é, dão ênfase à construção de novas significações e procuram

compreensões teórico-práticas com o compromisso com o que é democrático, inclusivo, antimargializado.

Mas e a escola e a família? Em que medida esses contextos se articulam ou são tensionados? Como a escola e a família se conectam com as questões de gênero e raça? Um número considerável de mulheres realiza atividade remunerada que as obriga a passar um período longo fora de casa. A responsabilidade de acompanhar o processo de educação e escolarização dos filhos na maioria dos casos cabe às mães, às mulheres. “Essas tarefas são consideradas femininas não só pela escola ou pelas famílias, mas fazem parte da construção do feminino em nossa sociedade” (PAIXÃO, 2006). Léa Paixão ressalta que “a educação da criança é balizada por expectativas de futuro e de valores em torno de uma ética, de um ethos que organiza a vida social de um grupo familiar. Para a família, a escolarização é uma das componentes do processo mais amplo de educar os filhos” (2006). Assim, cabe refletir sobre as expectativas das mulheres pesquisadas em relação à escola, mas também pensá-las articuladamente a um projeto mais amplo de educação e de vida.

4.1.1 Sobre as escolas escolhidas:

A escolha das escolas se orientou pelo critério do sorteio entre todas as escolas municipais da Rede de Ensino de Juiz de Fora - Minas Gerais com a finalidade de que o perfil das instituições escolhidas fosse o mais diverso viável. A seleção foi supervisionada e ratificada pela Secretaria de Educação do Município.

A Escola Municipal Tancredo Neves foi a primeira acompanhada pela pesquisa. A instituição se localiza no bairro Cidade Universitária, São Pedro, bairro da Zona Norte de Juiz de Fora e atende alunos e alunas das comunidades do entorno com realidade socioeconômica vulnerável, como Adolfo Vireque, Nova Germânia, Caiçaras, Nova Calofórnia. Pudemos perceber que a comunidade escolar é composta por uma maioria de crianças pretas e pardas.

A segunda instituição na qual a pesquisa foi aplicada trata-se de Escola Municipal do Santa Cândida, localizada no bairro de Santa Cândida, na zona leste de Juiz de Fora. Trata- se de uma comunidade predominantemente negra e em vulnerabilidade socioeconômica. Entretanto, em contato com os atores presentes na realidade do bairro, percebemos uma comunidade proativa e militante que se preocupa em estar presente no ambiente escolar em um diálogo estreito e diário. Da mesma forma, o corpo de direção deixa as portas da

instituição sempre abertas para que os coletivos de mulheres, bem como os de hiphop possam realizar debates e diálogos com alunas e alunos. Notamos a importância deste trabalho pelas palavras de todas e todos as(os) envolvidas(os) que destacaram o diálogo da comunidade como essencial para ressignificar a periferia e a participação de jovens pretas(os) por uma perspectiva crítica, empoderada e ocupando territórios, inclusive, aquele de protagonismo no ensino.

Em um último momento, o levantamento de dados ocorreu no Centro Educacional de Referência Herval da Cruz Braz. Trata-se de uma escola localizada na área central da cidade de Juiz de Fora, atualmente a instituição se encontra em uma sede provisória que não pode oferecer infraestrutura adequada para alunos e alunas, contudo, pudemos perceber, quando das visitas ao estabelecimento, o empenho do corpo de professoras e professores, bem como da direção em apoiar a pesquisa, apresentar a escola e receber a pesquisadora.

Trata-se de um centro de referência, criado em 2010 como uma das ações da Secretaria de Educação de Juiz de Fora (MG) na implementação de propostas para a melhoria da qualidade de educação. A instituição recebe alunos e alunas matriculadas(os) no sexto ano do ensino fundamental que contem com pelo menos três reprovações em sua trajetória escolar (BARBOSA, W.M; CUNHA,A.B.; SILVA,G.P, 2012).

O Centro Educacional é um indicativo de como o “insucesso” escolar estende-se a fatores e preconceitos nascidos para além dos muros. Os levantamentos do Centro de Políticas e Avaliação da Educação (CAEd) da Universidade Federal de Juiz de Fora, demonstram as variáveis de cor/raça, escolaridade da família (mãe e pai), bem como renda, vejamos:

Figura 1 – características da Escola Centro Educacional de Referência Herval da Cruz Braz

Fonte: CAEd/UFJF. Boletim Contextual, maio de 2011.

A escola recebe jovens de comunidades diversas e tem como objetivo trabalhar uma postura dialógica entre as alunas e alunos, pois mais do que defasagem de idade/série são alunas(os) que tiveram atrelado a sua vivência escolar os rótulos de “indisciplinadas(os)”, “irrecuperáveis” e que em suas escolas de origem encontravam-se na iminência da evasão. Assim, o Centro Herval é referência para os desafios da diversidade e inclusão educacional na

cidade de Juiz de Fora e resiste ainda hoje, mesmo alocado em um prédio sem a infraestrutura e com salas inadequadas, em situação diversa do projeto concebido inicialmente em 2010.

A equipe que foi encontrada na instituição preocupa-se em promover o desenvolvimento de capacidades cognitivas, operativas e sociais das alunas(os), bem como colocá-las(los) em posição de protagonismo dialógico a exemplo da pedagogia de Anton Makerenko (1995).

No documento liamariamansosiqueira (páginas 111-116)