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Nossa investigação se caracteriza como uma pesquisa qualitativa participante com enfoque marxista, como explica Triviñus (1987). Para o autor uma pesquisa qualitativa com enfoque no marxismo objetiva compreender e analisar a realidade, uma realidade concreta, com enfoques crítico- participativos e visão dialética da realidade social. Partimos da necessidade de conhecer, por meio de percepções, reflexão e intuição uma determinada realidade para não apenas compreendê-la, mas também para colaborar com a transformação de fato, para realizarmos um trabalho concreto ou emancipador.

Para Triviñus (1987), a pesquisa participante (ou participativa) pode prestar-se melhor a um enfoque dialético, que tenha por objetivo transformar a realidade que se estuda.

Assim sendo, como pesquisadores que optam por uma pesquisa qualitativa participante fundamentada no marxismo, temos por objetivo atingir uma interpretação da realidade do ângulo qualitativo. Dessa forma nos apoiamos no método dialético com enfoque no contexto do fenômeno social que estudamos, neste caso o espaço de formação da Oficina “Tablet uma janela para a arte: experiências colaborativas na formação docente em Artes Visuais”.

Assim como aponta Triviñus (1987) ao tratar sobre a pesquisa qualitativa, nossa pesquisa também privilegia a prática e o propósito transformador do conhecimento que se adquire da realidade durante o processo de investigação. Esse tipo de pesquisa valoriza muito mais o processo, ao buscar desvendar seus aspectos essenciais, assinalar as causas e as consequências dos problemas, suas contradições, suas qualidades, suas dimensões quantitativas caso existam. Logo, visa realizar por meio da ação, a transformação da realidade investigada.

A pesquisa qualitativa de tipo histórico- estrutural, dialética, parte também da descrição que intenta captar não só a aparência do fenômeno, como também sua essência. Busca, porém, as causas da existência dele, procurando explicar sua origem, suas relações, suas mudanças e se esforça por intuir as consequências que terão para a vida humana. (TRIVIÑUS, 1987, p. 129).

Triviñus (1987), ao se apoiar em Bogdan, aponta algumas características da pesquisa qualitativa: 1º) tem o ambiente natural como fonte direta dos dados e o pesquisador como instrumento-chave; 2º) é descritiva; 3º) os pesquisadores qualitativos estão preocupados com o processo e não simplesmente com os resultados e o produto; 4º) os

pesquisadores qualitativos tendem a analisar seus dados indutivamente. 5º) o significado é a preocupação essencial na abordagem qualitativa.

Contudo, pesquisas qualitativas do tipo dialética partem do fenômeno social concreto e buscam captar não apenas a aparência do fenômeno, mas sim sua essência, suas causas, origens, relações, mudanças e se esforçam por intuir as consequências que terão para a vida humana. Dessa forma, seus significados se avaliam na prática social. “O enfoque dialético parte da base, do real, que é analisado em sua aparência e em sua profundidade, para estabelecer a “coisa em si”, o número, que se definem e se justificam existencialmente na prática social”. (TRIVIÑUS, 1987, p. 130).

Salientamos que, ao considerarmos Triviñus (1987), ao traçarmos nossos objetivos e estabelecermos nossas questões problematizadoras, já apresentadas na introdução deste trabalho, partimos para a escolha dos instrumentos de coleta de dados. Optamos por três diferentes instrumentos. Cada um nos forneceu elementos diferentes, porém complementares, necessários à construção de uma proposta colaborativa de formação docente para incorporação do tablet no trabalho docente em Artes Visuais. A saber: questionário, observação livre e entrevista de grupo focal.

Esses instrumentos de coleta de dados apresentam caráter colaborativo na medida em que os dados por eles apontados serviram de parâmetro ou fundamento para a definição da Proposta Pedagógica da Oficina como: abordagens metodológicas, temas e conceitos abordados, necessidades dos professores quanto ao uso do tablet (operacionais e pedagógicas), tempo presencial previsto para a Oficina, discussões e encaminhamentos que sugiram durante esse percurso. Apresentaremos mais detalhadamente tais dados no decorrer deste capítulo. Assim sendo, durante nossa

pesquisa, passamos por diferentes etapas de investigação, também complementares e indissociáveis:

Primeira etapa: o levantamento bibliográfico foi fundamental durante todo o processo de investigação. As teorias marxistas apresentadas no segundo e terceiro capítulos deste trabalho foram fundamentais para o nosso entendimento sobre os temas e conceitos que permeiam os processos de formação docente continuada e que, como tal, devem ser contemplados em uma formação para a incorporação das TIC, bem como serviu de estofo para as análises do quinto capítulo.

Ademais, acreditamos que as teorias materialista histórico dialéticas, apontadas neste trabalho, fortalecem os processos de formação continuada e nos ajudam a articular melhor as relações entre teoria e prática, tão necessárias numa pesquisa que visa também a elaboração de uma proposta de formação docente com vistas não apenas a compreensão do nosso objeto de investigação, mas também de sua transformação para uma consequente valorização e ressignificação do trabalho docente em Artes Visuais.

Dessa forma as teorias de Marx, Vazquez, Kosik, Teixeira, Vieira Pinto, dentre outras, apresentadas e discutidas no segundo e terceiro capítulos deste trabalho, ao abordarem conceitos fundamentais como trabalho emancipador, práxis, arte como práxis criadora e o conceito de tecnologia como epistemologia da técnica, além de algumas passagens sobre as políticas educacionais que tratam sobre a inclusão digital, foram fundamentais para a elaboração de uma proposta de formação continuada colaborativa e voltada para uma práxis criadora, também desenvolvida durante este processo de investigação.

Na segunda etapa, utilizamos como instrumento de coleta de dados a aplicação de questionário. Convém relatar

que as dificuldades durante o processo de investigação, iniciaram nesta etapa da pesquisa, quando em dezembro de 2013, ao encaminharmos via e-mail institucional os questionários destinados aos professores de Artes Visuais, para as 65 escolas de Ensino Médio da Grande Florianópolis, com o objetivo de obter um diagnóstico sobre a chegada dos tablets nessas escolas, obtivemos inicialmente apenas quatro respostas.

Para atingirmos a nossa meta inicial de no mínimo 10 participantes, recorremos ao contato por telefone com a direção de algumas escolas para marcar horários para conversar pessoalmente com o professor de artes e explicar sobre o projeto. Dessa forma, conseguimos a participação de 11 professores, dentre os quais 10 eram de Artes Visuais e 01 de Artes Cênicas.

A partir deste questionário foi possível verificar o perfil profissional dos professores de artes: idade, formação, tempo de serviço, tipo de contratação (se efetivo ou substituto). Buscou-se também, a partir do questionário, observar a participação dos professores nos cursos com as TIC oferecidos pelo MEC; relação dos professores com as TIC como tecnologias mais usadas pelos professores, o uso ou não do tablet; sua compreensão sobre arte contemporânea, se associa ou não arte contemporânea com tecnologia; se trabalha sobre arte contemporânea com seus alunos ou não.

Os dados obtidos por meio da aplicação do questionário, foram transcritos, tabulados e quantificados quando possível. A análise desses dados serviu também para verificarmos o interesse dos professores em participar da Oficina, constatar as dificuldades, necessidades e interesses dos mesmos em relação ao uso pedagógico do tablet, bem como nos serviu de orientação para a elaboração e definição da estrutura desta Oficina, metodologia de trabalho, atividades,

conceitos e temas abordados no processo de formação docente, conforme apresentamos no decorrer deste capítulo.

Em fevereiro de 2014, já com os questionários em mãos, constatado o interesse dos professores em participar da Oficina e a necessidade de formação continuada para incorporação dos tablets no trabalho docente em Artes Visuais, novamente entramos em contato com os professores sem intermediação da escola, para confirmarmos sua inclusão na Oficina. Nesta ocasião nos deparamos com outra dificuldade: definir um horário que fosse viável para todos os professores. Devido às dificuldades em conseguir um número expressivo de participantes, abandonamos a ideia inicial de uma Oficina exclusiva para professores de Artes Visuais e abrimos vagas para professores de outras áreas. Dessa forma, iniciamos a Oficina com 3 professores de Artes Visuais, 3 professores de Artes Cênicas, 01 professora de Artes Desenho e 01 professora da sala de tecnologias – Pedagoga, conforme detalhado no item “Perfil dos Professores participantes da Oficina” e na tabela 1 (Perfil profissional dos docentes). Convém também ressaltar que, embora ao longo de nossa investigação tenhamos obtido respostas de 14 professores de Artes Visuais ao questionário direcionado - primeiro instrumento de coleta de dados - para efeito de análise optamos por apresentar somente o perfil dos oito professores que participaram efetivamente de todas as etapas de investigação de nossa pesquisa (aplicação de Questionário, Oficina e realização de grupo focal).

Na terceira etapa de investigação utilizamos como instrumento de coleta de dados os registros realizados no espaço de formação continuada possibilitado pela Oficina: registros descritivos, audiovisuais, e fotográficos obtidos por meio das observações participativas neste espaço de formação; registros das atividades e discussões presenciais; registros das atividades e discussões realizadas no espaço On-line (Fórum).

Na quarta etapa de investigação utilizamos o encontro do Grupo Focal como instrumento de coleta de dados, que também aconteceu durante os eventos presenciais realizados durante o desenvolvimento da Oficina. Caplan (1990), explica que o Grupo focal, ou entrevistas de grupo focal, é muito utilizado no meio acadêmico como instrumento de coleta de dados nas pesquisas qualitativas exploratórias, tendo como principal objetivo estimular um pensamento científico ou aprofundar estudos sobre um determinado problema.

Em nosso caso, acredita-se que este método é a melhor opção para estimular a geração de novas ideias para que o professor possa vislumbrar diferentes possibilidades pedagógicas e estéticas de uso do tablet. Igualmente, permite que o professor aprofunde suas reflexões acerca de uma proposta viável de formação docente para incorporação do tablet no trabalho pedagógico com vista a uma práxis criadora. Ademais, esse tipo de instrumento de coleta de dados favorece o debate, discussões e avaliações ao tratarmos sobre as políticas públicas e nosso processo de formação docente continuada.

Segundo Triviñus (1997), em toda e qualquer pesquisa os instrumentos de coleta de dados como entrevistas, questionários, etc, são fortalecidos e ganham valor exclusivamente mediante o referencial teórico, da mesma forma também a análise de conteúdo precisa necessariamente estar embasada em um bom referencial teórico.

As etapas de coleta e análises de dados realizadas durante o processo de pesquisa qualitativa com enfoque dialético, não é algo estanque, nem linear, ao contrário é dinâmico, característica que exige uma especial atenção por parte do pesquisador tanto em relação às anotações ou registros de campo possibilitados pelas gravações audiovisuais e fotográficas, quanto ao informante, ou seja aos professores que participam do processo investigativo. Nesse sentido, passamos

a seguir a apresentação dos professores que contribuíram e participaram efetivamente da nossa pesquisa.

4.2 PERFIL DOS PROFESSORES PARTICIPANTES DA