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Metodologia da proposta

No documento Viver com o clima (páginas 109-112)

Capítulo V – Proposta (inicial)

5.2 Metodologia da proposta

Após o processo de contextualização, análise e levantamento da ruína, agora é necessária uma abordagem da proposta, de modo a entender o processo de desenvolvimento, ideias e a sua interligação com a pré-existência, assim como os desafios. Partiremos assim, de um programa que nos parece elementar para a proposta, chegando a uma solução icónica que pretende re- presentar os conceitos abordados na dissertação.

5.2.1 Programa

O programa funcional da proposta parte, de forma muito ténue, do vasto tema da habitação, aclamando uma habitação unifamiliar flexível, de modo a refletir o modo de vida contemporâ- nea. Acolhendo uma sala de estar e jantar (58,34 m²), cozinha (15,59 m²), dispensa (9,61 m²), duas instalações sanitárias de serviço, uma no piso superior de apoio ao escritório (3,80 m²) e uma no piso intermédio (5,23 m²), dois quartos (21,20 m²) com casas de banho privativas (am- bas com 5,30 m²) e uma zona técnica (5,80 m²). Pretende-se ainda um escritório/atelier (57,15 m²), proporcionando um espaço de trabalho com a possibilidade de se tornar numa zona inde- pendente de modo a dinamizar e promover o negócio.

É prevista uma estufa anexa (14 m²) que conta com um pavimento composto por lajetas de granito e seixos entre estas, de modo a acumular o calor no inverno. Já no verão o espaço entre as lajetas e os seixos é submerso por um espelho de água que favorece um arrefecimento eva- porativo e uma maior taxa de humidificação do ar.

São ainda acomodadas algumas zonas de lazer, no exterior, como piscina biológica que faz parte do sistema de filtragem de água proposto, uma zona de estar de modo a usufruir de todo o espaço protegido. É proposta ainda a reabilitação de uma pequena horta, já existente fora da área da proposta.

5.2.2 Abordagem Conceptual

Deparamo-nos com as pré-existências e o que fazer com elas!? Partindo o pondo de reutilização e minimização de desperdícios o ponto de partida será a própria ruína que inevitavelmente condicionará a disposição do programa, a procura da correta escala e proporção, devido as suas dimensões e à ligação com da paisagem, envolvente e do meio ambiente. Sendo que todas as soluções e ideias apresentam sempre uma enorme sujeição da ruína e da envolvente, desde a ideia inicial, de um edifício mais conservador, passando por diferentes variações até a proposta final com implementação de estratégias bioclimáticas (Figura 59).

“A relação entre natureza e construção é decisiva na arquitectura. Esta relação, fonte perma- nente de qualquer projecto, representa para mim como que uma obsessão; sempre foi deter- minante no curso da história e apesar disso tende hoje a uma extinção progressiva” (SIZA,

2000)172. Tal como Siza, nesta proposta pretende-se uma ligação à natureza, não apenas ao

clima, mas também uma ligação entre o interior e o exterior entre o passado, o presente e o futuro. «People like us, who believe in physics, know that the distinction between past, pre-

sent, and future is only a stubbornly persistent illusion»173 (Albert Einstein)174.

Apesar de os modelos de habitar terem evoluído nos últimos cinquenta anos, fazendo com que essas casas hoje em dia já não consigam atingir níveis de satisfação e conforto, não podemos demolir tudo e construir de novo ignorando o passado e as marcas deixadas. Desta forma a proposta foi pensada de modo a manter um certo carácter de presença da ruína, deixando desde o ponto inicial em alguns momentos a pedra à vista, sendo a representação da memória e do próprio edifício. “O carácter de coisa está tão incontrolavelmente na obra de arte que

devíamos até dizer antes ao contrário: o monumento está na pedra (…)” (HEIDEGGER, 2004)175.

Assim nesta ‘inversão’ de pensamento, uma das principais decisões foi a também, a transposi- ção da lógica organizativa comum, de acesso no piso inferior com as zonas comuns e a ascen- dência das zonas privadas. Nesta proposta a disposição foi intervertida, principalmente, devido ao nível da rua se encontrar acima do piso inferior do edifício. Este único gesto, relaciona e permitem a leitura sintética dos três pisos, ou seja, uma tentativa de fazer uma complemen- taridade entre o contexto social, a arquitetura que a proposta visa promover e também uma tentativa de refletir o modo pragmático da vida contemporânea. Assim assume-se o piso supe- rior com a atividade mais dinâmica e independente, mais próxima do nível da rua. No piso intermédio dispõem-se as zonas de usufruto comum, este piso torna-se também uma importante ligação entre o interior e o exterior. Finalmente no piso inferior acomodam-se os espaços pri- vados.

Cria-se assim uma rotina poética, em que o habitante ascende durante o dia onde fica exposto, onde trabalha e socializa, descendo durante a noite de modo a afastar-se da vida social e des- cansar. “E assim se refugia na caverna para descansar, para dormir, e sobe à cabana para viver,

para sonhar mais perto do céu e das estrelas. Uma Arquitectura posta ao serviço do homem que vive, que pensa, que sonha” (BAEZA, 2013)176.

Assim o edifício deixa de ser um casario e passa a ser uma única habitação modelada ao modo de vida contemporâneo “(…) a compreensão do espaço arquitetónico – seja este vernáculo ou

172 SIZA, Álvaro - Imaginar a Evidência. (2000) p.17

173 «Pessoas como nós, que acreditamos na física, sabemos que a distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente.»

174 Palavras ditas por Albert Einstein, físico teórico alemão, após o falecimento do seu amigo Michele Besso em 1955.

175 HEIDEGGER, Martin – A origem da Obra de Arte (2004) p.13 176 BAEZA, Alberto Campo – Pensar com a mãos (2013) p.59

erudito – passa necessariamente pelas vias subjetivas. É na interação de todos os sentidos humanos que se pode começar a ver; a experienciar a arquitetura.” (CASTELNOU, 2003)177

Culminando este pensamento cito as palavras de Eduardo Souto de Moura sobre o projeto para a reconversão do mosteiro de Santa Maria do Bouro, “Afinal de contas, não estou a restaurar

um mosteiro, estou a construir uma pousada com as pedras de um mosteiro” (LEÓN, et al.,

2001)178, assim a proposta desta dissertação distancia-se de uma reconstrução exata do que

existia e assemelha-se a um recuperação de um casa, porem não é a mesma, cada elemento e cada volume é reinterpretado conforme a sua nova função.

No documento Viver com o clima (páginas 109-112)