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Capítulo III – Enquadramento Metodológico

3.1. Metodologia de Investigação

A investigação desenvolvida ao longo do estágio baseia-se nos pressupostos da metodologia qualitativa. O trabalho empírico permitiu obter dados descritivos e qualificáveis, tendo sempre como objeto de estudo a cibergestão da formação, isto é a utilização da plataforma digital FAZ como meio de gestão da formação em contexto empresarial e as relações intra e inter dos utilizadores.

Existem vários paradigmas de investigação (Casa-Nova, 2009). Com o paradigma compreensivo-interpretativo entra-se diretamente na metodologia qualitativa. A ideia é a de que o conhecimento se forma a partir das interpretações que o investigador faz com base nas perceções e representações dos participantes sobre acontecimentos e comportamentos. Esta abordagem dá ênfase às perspetivas e expressões de cada um dos sujeitos-atores, os dados são recolhidos sobretudo em forma de entrevistas, contendo transcrições e respetivas narrativas, respeitando assim a riqueza das palavras e opiniões de cada um (Bogdan & Biklen, 1994).

A investigação de natureza qualitativa, permitindo a criação de conhecimento, tem por objetivo essencial compreender os significados que os atores atribuem a acontecimentos e comportamentos, ou seja, é característico na investigação qualitativa que o investigador se mostre interessado pelas várias perspetivas dos participantes, nunca deixando para segundo plano as

experiências vividas e sentidas, nem mesmo os significados atribuídos pelos participantes sobre determinado fenómeno (Erickson, 1986).

Assim, é importante realçar o modo como os investigadores de ordem qualitativa privilegiam a compreensão de complexas interelações sobre tudo o que existe, para, se poder fazer uma interpretação dos dados. Em suma, o investigador qualitativo “procura a formulação de conceitos, teorias ou modelos com base num conjunto de hipóteses que podem surgir quer no decurso, quer no final da investigação” (Guerra, 2002, p. 23). Portanto, “as questões, as hipóteses, as variáveis ou as categorias de observação normalmente não estão totalmente formuladas ou predeterminadas no início de uma pesquisa” (Hébert, Goyette & Boutin, 2008, p. 102). Por norma, surgem “categorias emergentes”.

Quando se investiga na base da metodologia qualitativa é preciso ter sempre muita mais atenção ao processo do que apenas ao produto. Ou seja, quando utilizamos esta metodologia e qual quer que seja o tema de estudo e o objeto que se quer investigar, irá valorizar-se acima de tudo a complexidade da vida humana depositando uma grande importância às representações e aos significados que os participantes atribuem à ação. Os intervenientes devem sentir-se ouvidos na investigação de carácter qualitativo. O “significado” que as pessoas atribuem às coisas e à sua vida são focos de atenção especial em termos qualitativos (Lüdke & André, 1986; Bogdan & Biklen, 1994).

No que diz respeito a métodos de análise, privilegiamos, aqui, o estudo de caso que se inscreve numa abordagem qualitativa e que “consiste na observação detalhada de um contexto, ou indivíduo, de uma única fonte de documentos ou de um acontecimento específico” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 89). É esta abordagem qualitativa que se convoca quando o investigador “aborda o seu campo de investigação a partir do interior. A sua atitude compreensiva pressupõe uma participação ativa na vida dos sujeitos observados e uma análise em profundidade do tipo introspetivo” (Lessard-Hébert et al., 1990: 169).

Este trabalho de investigação-intervenção realiza-se, em termos empíricos, a partir do interior, dentro de uma empresa, perante um instrumento interno, uma plataforma digital, a FAZ. A análise de conteúdo temática incide sobre os instrumentos, procedimentos, práticas, conceções, representações dos intervenientes-utilizadores. A investigação-intervenção exigiu um contato direto, um contato próximo com os intervenientes e utilizadores da FAZ. Ao longo deste estágio

fomos participantes ativos privilegiados com acesso à plataforma de gestão FAZ. Esta possibilidade foi-nos propiciada pela CYBER.

O estudo de caso revelou-se na estratégia investigativa primordial por propiciar a adoção de uma postura de maior interação entre os intervenientes que, de antemão, sabiam que o estudo estava a ser realizado tendo por base conceções e práticas no âmbito da educação, da formação, das plataformas de gestão, dos processos e das práticas profissionais. Os participantes sabiam que estávamos em processo de estágio, na área da educação, formação, trabalho e recursos humanos da Universidade do Minho.

Desde logo fomos percebendo que a investigação-intervenção a realizar não poderia excluir os princípios de uma sociologia crítica da formação (Estêvão, 2001) que pode ser potenciada quando se convoca uma metodologia qualitativa, que considera a participação dos intervenientes, que apela a formas de contato direto, que procurar incentivar os participantes do estudo a estarem mais envolvidos no projeto para conhecer as suas opiniões, dar-lhes voz. Trata-se de um estudo em que apesar de se analisar instrumentos e números não deixa de se perceber e interpretar os discursos dos próprios atores intervenientes – FAZ.

O estudo de caso como método e estratégia de pesquisa social considera como fundamental a perspetiva de procurar interpretar, descrever, compreender o problema na sua totalidade, em contexto real sem nenhum controlo de fenómenos, de modo a que se consiga refletir, avaliar e transformar. Com o estudo de caso surgem novas ideias, novos pensamentos sobre a problemática (Morgado, 2012, p. 63). O estudo de caso constitui um método válido para esta investigação-intervenção até porque, como consta na literatura, proporciona densas descrições da realidade em estudo, ou seja, consiste num exame detalhado de uma situação, sujeito ou acontecimento. Aqui “a preocupação central não é a de saber se os resultados são suscetíveis de generalização, mas sim a de que outros contextos e sujeitos a eles podem ser generalizados” (Bogdan & Bicklen, 1994: 52).

Neste trabalho, o método do estudo de caso foi apoiado pela convocação de técnicas de investigação tais como entrevistas detalhadas e profundas com os sujeitos sob investigação, observações minuciosas e prolongadas das suas atividades. Este estudo de caso consubstancia- se numa análise de conteúdo de tipo temática, uma análise que se faz a partir a partir de dados quantitativos, mas sobretudo a partir de unidades de registo qualitativas. Com esta análise de

conteúdo, tal como já é tradição, visa-se obter um distanciamento crítico na interpretação dos dados e o favorecimento da validade e da objetividade da investigação (Bardin, 2009).

Ao longo do estágio tivemos contacto direto com o público-alvo em questão, houve interação, de modo a que fosse possível apresentar resultados mais interpretativos. No âmbito da educação, a vertente sociológica, educacional e crítica deve prevalecer sobre a vertente meramente instrumental da formação. Estar com os outros, ouvi-los, perceber sentimentos, emoções, pensamentos, perspetivas e ações é uma dinâmica específica e importante numa investigação educacional.

Como a interligação do sujeito-objeto (interveniente-instrumento), as relações instrumentos e pessoas e vice-versa são fundamentais neste estudo, pretendeu-se relacionar o uso diário e direto das plataformas e tecnologias no dia-a-dia de trabalho (a parte da ação) com as vivências (pessoais e relacionais) dos atores em estudo. A ideia é tentar conseguir perceber se os processos tecnológicos são vantajosos ou não, quando se consideram relações de comunicação que nos permitam estar com os outros. Há que compreender se comportamentos tecnicistas e objetivistas vão potenciar ou não as relações humanas, se nas relações há possibilidade de se confrontar ideias, pensamentos e observações com vista a melhorias sem que isso implique controlo sobre tudo o que se faça, diga, pensa. Há então aqui a possibilidade de se interpretar a problemática, sustentando essa compreensão de forma empírica, com o intuito de trazer novos contributos para o enriquecimento do conhecimento sobre os modos de gestão de recursos humanos informatizados.

No sentido de operacionalizar todos os objetivos pensados para esta investigação, foram utilizadas as seguintes técnicas de recolha de dados: entrevista semiestruturada, a observação participante direta, a análise documental e a análise de dados.