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A metodologia de pesquisa adotada é de perfil qualitativo. A abordagem qualitativa surgiu como um contraponto às pesquisas quantitativas que se preocupavam em dividir a realidade em unidades passíveis de mensuração, estudando-as isoladamente (ANDRÉ, 1995). Na perspectiva qualitativa procura-se alcançar uma “visão holística” dos fenômenos, no qual a preocupação com o processo é muito maior do que com o produto, o ambiente natural é a fonte direta dos dados e o pesquisador é o principal instrumento de coleta (LUDKE; ANDRÉ, 1986).

“A observação é chamada de participante porque parte do princípio de que o pesquisador tem sempre um grau de interação com a situação estudada, afetando-a e por ela sendo afetado” (ANDRÉ, 1995, p. 28).

A interação constante entre o pesquisador e o objeto pesquisado é uma forte marca desse tipo de pesquisa na qual “os dados são mediados pelo instrumento humano, o pesquisador” (ANDRÉ, 1995). No entanto, são possíveis vários graus de participação do pesquisador na situação de pesquisa. Junker (1971) define um leque de possibilidades em que a escolha vai desde uma imersão total na realidade até um completo distanciamento. Na participação total o pesquisador se integra ao grupo sem revelar seus propósitos ou sua identidade. Quando o pesquisador participa como observador ele revela apenas parte do que pretende para não alterar o comportamento do grupo observado. Na modalidade observador como participante o pesquisador tem sua identidade e seus objetivos revelados, o que permite acesso a várias informações. E na observação total o pesquisador observa, sem ser visto, como nas câmeras de vigilância, por exemplo. Para manter a clareza da coleta de dados e promover uma análise dos documentos, optamos pelo grau de participação classificado como observador como participante.

Em nosso estudo, seis alunos de uma escola estadual da região de Carapicuíba e integrantes do programa de Pré-Iniciação Científica na Universidade de São Paulo foram acompanhados durante o período de um ano para que pudéssemos observá-los quanto à produção de artigos de divulgação científica.

A escolha da metodologia está relacionada ao contato direto do pesquisador com a situação estudada e com a necessidade de entender o processo de domínio e de apropriação da linguagem da divulgação científica em textos escritos.

5.1 Dados

Consideramos, em primeiro lugar, o nível de conhecimento desses alunos quanto à comunicação/divulgação científica.

Para isso, houve a elaboração de questionários (disponíveis nos Anexos), que continham tanto perguntas gerais quanto relacionadas às Ciências. No total, foram três questionários aplicados, sendo que dois foram respondidos somente pelos alunos de PIC e o outro pelos alunos que estudavam na mesma escola deles.

A segunda fonte de dados considerada foi um questionário avaliador relacionado à exibição do filme “Gattaca”.

A terceira, quarta e quinta fontes de dados foram os artigos de divulgação científica elaborados pelos alunos de PIC, que percorreram todo um processo para escrevê-los: o primeiro foi sem uma base total do que era realmente a divulgação científica, o segundo, já com conhecimentos sobre o assunto, foi elaborado com base em uma entrevista e o terceiro foi redigido sem qualquer intervenção e com livre escolha do tema.

A última fonte de dados foi a transposição dos conhecimentos adquiridos durante o estudo para colegas que estudavam na mesma escola e a elaboração de artigos por esses alunos, acompanhados por um relatório feito pelos alunos de PIC.

5.2 Aplicação da proposta

Para que a proposta de ensino funcionasse, tentamos elaborar um cronograma em que os alunos desenvolveriam determinadas tarefas. No entanto, por desconhecimento do nosso grupo de pesquisa, uma vez que foram selecionados por meio de um Edital, essas tarefas foram sendo adaptadas de acordo com o desenvolvimento do estudo.

Com a aplicação dos questionários, pudemos conhecê-los melhor, quanto ao conhecimento escolar e cultural, e definimos que grande parte de nosso estudo se relacionaria a artigos escritos de divulgação científica. Assim, definimos como deveriam proceder quanto à elaboração desses textos.

Antes da aplicação da redação de artigos, selecionamos um filme que apresentasse um conteúdo compatível com os conhecimentos dos alunos e que pudesse nos ajudar em nossa proposta de comunicação científica. Também, um questionário relacionado ao filme, do qual poderíamos obter alguns dados pertinentes ao nosso

trabalho, foi aplicado e serviu para nos nortear quanto ao estabelecimento dos procedimentos que seriam aplicados desse momento em diante.

Na primeira reunião relacionada à tarefa, que seria a elaboração de um artigo de divulgação científica sobre DNA, os alunos foram informados que suas atividades envolveriam a pesquisa, a leitura e a elaboração de um artigo de divulgação científica. O trabalho seria individual e deveria ser entregue dentro de um prazo estipulado. Foram passadas algumas noções do que seria a divulgação, incluindo um site sobre o assunto, porém sem muito aprofundamento. Eles não receberam informações adicionais sobre como deveriam proceder nessa tarefa, ou seja, deveriam descobrir por si só o que era um texto de divulgação e a forma de fazê-lo. Todo o processo durou quase dois meses.

Para a segunda tarefa, os alunos receberam orientações para a realização do trabalho (um artigo de divulgação científica, também sobre o tema DNA, porém baseado em uma entrevista feita com um profissional da área). Além disso, também receberam informações mais aprofundadas sobre o que seriam os artigos de divulgação científica, como poderiam ser feitos, fontes que poderiam ser pesquisadas, profissionais que poderiam ser abordados, bem como as instituições que poderiam conter esse tipo de profissional, de modo que tivessem subsídios para redigi-los do modo mais adequado possível. Também, foram instruídos a montar um pequeno questionário antes da entrevista, para que pudesse norteá-los durante o encontro com o cientista (cabe ressaltar que a escolha do tema da entrevista e as perguntas foram escolhidas somente pelos alunos). Essa fase durou cerca de dois meses.

A terceira tarefa consistiu da redação de um novo artigo de divulgação científica, contudo, sem intervenção quanto aos procedimentos de elaboração e ao tema escolhido (dessa vez, os alunos puderam escolher sobre o que gostariam de escrever). Essa atividade visou avaliar o modo como esses alunos desenvolviam sua metodologia para elaborar um texto, sem a necessidade de um orientador, usando as ferramentas necessárias para esse fim. Ao final, eles responderam a um questionário que, para nós, avaliou, de certa forma, o nível de aprendizado desses alunos. O processo durou um mês, pois estavam em período de férias.

Na quarta e última tarefa, os alunos do grupo deveriam tentar transpor seus conhecimentos para colegas da escola em que estudavam. Decidimos que o ideal seria que cada um deles tivesse apenas um colega sob orientação, devido ao prazo curto que possuíam. Assim, sortearam seis alunos na escola (que se inscreveram para esse mini- projeto) para o estudo. Nosso grupo foi orientado a seguir as diretrizes aprendidas no

decorrer do estudo para que pudessem passá-las aos colegas da forma mais adequada possível. Eles deveriam fazer com que seus “alunos” redigissem artigos de divulgação científica individuais, da mesma forma como o fizeram, e avaliar, na forma de um relatório, como foi esse processo de transposição de conhecimento. Dedicaram-se a esse pequeno projeto durante dois meses e, ao final, todo o material foi entregue aos orientadores.

5.3 Coleta dos dados

A coleta de dados ocorreu de outubro de 2008 a outubro de 2009, totalizando doze (12) meses, que foi o período estipulado para o projeto de PIC. A conveniência em fazer um acompanhamento dos estudantes em um intervalo de tempo razoavelmente longo residiu no fato de que o grande número de eventos foi por nós presenciado e orientado, o que facilitou nosso entendimento sobre o domínio e a apropriação das ferramentas necessárias para elaboração de artigos de divulgação científica por esses alunos. Também, foi possível averiguar os alunos na produção de textos científicos de natureza diversificada, o que seria impossível em um tempo menor.

Os ambientes de registro ocorreram nas salas de aula e no laboratório de Química da Faculdade de Educação em encontros quinzenais devido à questão de mobilidade dos alunos, uma vez que a distância era grande e o horário restrito. Somente a última fase ocorreu nas dependências da escola em que estudavam, com o consentimento da diretoria da escola.

A metodologia escolhida partiu do fato de que o contato direto do pesquisador com a situação estudada permite reconstruir os processos e as relações que configuram a realidade estudada (ANDRÉ, 1995). A observação participante, segundo André, torna possível “documentar o não-documentado”, objetivo de nosso estudo: entender o processo de domínio e de apropriação das ferramentas necessárias para construir textos de comunicação científica pelos participantes do processo.

Para estruturar nossa metodologia de pesquisa, levamos em consideração a forma mais adequada de registro de modo a ser possível a análise e o estudo dos meios de apropriação e transcrição de conhecimentos. Assim, a escolha do registro por meio de redações de artigos de divulgação científica foi a que mais se adequou às nossas necessidades, uma vez que observaríamos o desenvolvimento desses alunos, que adquiriram certos conhecimentos, principalmente o da linguagem científica, por meio da

escrita. Ademais, isso nos propicia uma forma de aprofundar o olhar em relação a diversos aspectos que possam ser identificados em uma coleta de dados.

Todos os artigos foram entregues tanto na forma virtual quanto impressos, o que facilitou seu manuseio na avaliação.

Todas as atividades do projeto foram programadas de acordo com as necessidades do projeto, definidas após cada reunião, nas quais dúvidas eram abordadas, e dos alunos em relação ao seu crescimento científico. De acordo com Lemke (1998a), a estrutura de uma atividade é tão importante quanto o diálogo que se estabelece em uma sala de aula, pois a partir dela pode-se identificar a forma como se ensina e como se aprende o conteúdo de Ciências. Com isso, tornou-se extremamente importante planejar todas as atividades, pois a linguagem científica envolve uma maior dificuldade, já que os alunos não estão familiarizados com muitos dos termos encontrados em textos diferentes dos didáticos.

Em relação à análise dos dados, alguns pontos foram levados em consideração como fatores lingüísticos, estrutura e, principalmente, o nível de domínio e de apropriação das ferramentas relevantes à redação de um artigo de divulgação científica. O propósito da análise é organizar os dados, extraídos de material bruto a partir das categorias que têm significado específico e estritamente ligado à natureza das informações que se quer obter (PACCA; VILLANI, 1990).

Levando em conta o objetivo do trabalho, consideramos o quanto esses alunos se apropriaram das ferramentas, analisando seus artigos e discorrendo se a divulgação é uma forma de aprendizagem que realmente faz a diferença no desenvolvimento cultural e científico do aluno.

Todos os dados coletados foram analisados, de alguma forma (algumas das respostas dadas aos questionários, escolhidas de acordo com nossa necessidade, foram analisadas para nos dar subsídios quanto a seu aprimoramento), porém os textos escritos foram o foco de nosso estudo tendo por objetivo responder à pergunta de nossa pesquisa.