Temas x momento

A escolha livre dos temas pelos alunos também foi decorrente do momento em que vivíamos em meados de 2009. A Amazônia era notícia constante por causa do desmatamento cada vez mais intenso na região. A preocupação com o meio ambiente, principalmente em relação ao aquecimento global, era cada vez maior. Outros fatores também foram destacados como a pirataria de animais e a descoberta de novas espécies de plantas que poderiam ser utilizadas no combate a certas doenças.

Outro assunto muito em pauta na época foi a pandemia da gripe suína (Influenza A H1N1). A doença, detectada inicialmente no México no final de março de 2009, espalhou-se por diversos países e causou certo pânico nas populações. As aulas foram suspensas durante certo período por medo de transmissão, já que não havia medicamentos específicos para a doença. Idosos, crianças e gestantes foram aconselhados a se protegerem com mais afinco, pois eram o principal alvo do vírus. Tudo isso repercutiu de forma estrondosa em todos os meios de comunicação e foi abordada durante meses, mesmo após a descoberta de uma vacina que protegeria a população (aplicada no Brasil de abril a junho de 2010).

A riqueza de informações sobre a doença e a constante abordagem da mídia estimularam dois alunos de PIC a escreverem artigos sobre o tema da gripe suína, o que realmente mostra que a TV e alguns outros meios de comunicação influenciam os jovens de todas as formas possíveis.

4.4.6. Fase VI

Para melhor verificar o processo de domínio e de apropriação das ferramentas, elaboramos um pequeno projeto em que haveria um processo de transferência de conhecimento entre os alunos do grupo de pré-iniciação científica e os alunos de sua escola. Essa decisão foi tomada após um dos encontros, em que questões como “será que a gente consegue usar isso no dia-a-dia e sem a orientação de outra pessoa?” e

“acho que o estudo será útil na faculdade, mas como vou saber se entendi tudo?” eram feitas com certa insegurança por parte dos estudantes.

Considerando essas perguntas, chegamos à conclusão que os alunos do grupo sentiam necessidade de colocar em prática todo seu conhecimento e ver se realmente tinham aprendido o necessário, se eram capazes de escrever algo sem que alguém os dissesse como.

Assim, para avaliarmos o quanto eles absorveram de todo o processo, decidimos que seria interessante que usassem o conhecimento aprendido até o momento com outras pessoas, tentando lhes transmitir tudo que foi recebido por nós de modo que seus “pupilos” também conhecessem e, talvez, se apropriassem das ferramentas necessárias à elaboração de artigos de divulgação científica.

Uma nova reunião foi marcada na faculdade e novos direcionamentos, com base nesses objetivos, foram transmitidos a eles. Um cronograma foi definido para esse fim de forma que eles soubessem quais atitudes tomar para desempenhar a tarefa.

O primeiro passo foi conversar com a diretoria da escola, porque as reuniões entre os alunos participantes do projeto deveriam acontecer após o horário escolar. Para isso, elaboraram um Termo de Consentimento que seria enviado para os pais dos alunos escolhidos de modo que ficassem cientes do projeto e da possibilidade de haver gravações ou o uso de imagens na escola. O consentimento da diretoria foi dado e o projeto foi aplicado na escola de imediato.

Em seguida, cada integrante do grupo deveria escolher um aluno de sua turma ou de outra sala qualquer para participar do projeto. Mais uma vez, a seleção foi feita de modo aleatório, ou seja, o projeto foi explicado nas salas de aulas escolhidas e aqueles que por ele se interessaram participaram de um sorteio, de modo a não haver influência nos resultados.

Com o grupo de seis alunos já organizado, tiveram início as reuniões, que foram registradas em um caderno do grupo (chamado de “Diário de Bordo”). Nesse caderno foram feitas algumas anotações consideradas por eles relevantes como um calendário em que constavam o início e o final do projeto, os nomes dos alunos que fariam parte do grupo, toda a descrição do que aconteceu nos encontros, bem como os termos de consentimento assinados pelos estudantes.

Nas reuniões, os conceitos sobre a divulgação científica e as ferramentas necessárias para a elaboração de artigos foram passados, da mesma forma que o grupo- orientador os recebeu. Além disso, o grupo de PIC elaborou um passo a passo (chamado

de “Cartilha para elaboração de artigo de divulgação científica”) contendo conceitos sobre a divulgação científica, como escrever um artigo e alguns artigos escritos por eles durante o estudo.

Depois de receberem as instruções básicas sobre o assunto, os novos participantes tiveram que mostrar o que entenderam elaborando um artigo de divulgação científica de acordo com as especificações dadas, ou seja, dentro do padrão determinado pelo grupo (o mesmo aprendido por eles). O tema escolhido também foi “célula- tronco”. A justificativa para a escolha desse tópico foi o fato de que o grupo-orientador já tinha pleno domínio do assunto e poderia avaliar de forma mais precisa os artigos recebidos de seus pupilos.

Alguns encontros foram gravados pelos próprios alunos. Com a ajuda de um MP3, as gravações foram feitas em sala de aula e entregues na forma de arquivo digital (o qual não constará deste trabalho). O objetivo disso foi analisar os debates para ver se o que tinham transmitido ao grupo estava de acordo com o que tinham aprendido nas primeiras reuniões.

Os alunos tiveram seus trabalhos corrigidos pelo grupo-orientador, que discutiu junto com eles o tema em questão, assim como a relevância da divulgação científica na escola.

Após a entrega dos trabalhos pelos alunos, o grupo-orientador elaborou um relatório final e o entregou juntamente com os artigos e o diário. Esse relatório foi um breve relato do que significou todo o projeto para eles e como foi transferir um conhecimento adquirido por meio da prática. Todo esse processo durou cerca de dois meses e foi o trabalho final desse grupo de PIC, pois a vigência da PIC terminou em outubro de 2009 (ANEXO VIII).

Dessa forma, com esse material em mãos, poderíamos analisar o desenvolvimento desses alunos em um determinado ambiente e a apropriação das ferramentas necessárias para a elaboração de textos escritos nesse projeto de pesquisa.

Para resumir todo o processo de trabalho, elaboramos uma tabela que abrange todas as etapas.

Tabela 1. Resumo das atividades realizadas no estudo

Fase Descrição Período

I Questionário com perguntas pessoais aplicado ao grupo de PIC (ANEXO I)

Questionário com perguntas sobre divulgação científica aplicado ao grupo de PIC (ANEXO II)

Questionário com perguntas pessoais e sobre ciências (16 com abordagem geral e 17 com temas específicos), aplicado aos alunos da escola estadual em que o grupo de PIC estudava (ANEXO III) Análise dos dados do questionário aplicado na escola pelos alunos de PIC

novembro de 2008 a janeiro de 2009

II Apresentação do filme “Gattaca – Experiência Genética” e aplicação de questionário sobre entendimento do filme e divulgação científica em geral (ANEXO IV)

fevereiro de 2009 III Elaboração de um artigo de divulgação científica sobre o tema

DNA sem conhecimentos prévios das ferramentas necessárias à elaboração de um texto desse gênero (ANEXO V)

março e abril de 2009 IV Elaboração de um artigo de divulgação científica tendo como

base dois pontos principais: - DNA;

- entrevista com um profissional da área (ou seja, um cientista que trabalhasse com o tema escolhido).

Nesse momento, os alunos já haviam recebido as instruções necessárias para a elaboração do artigo de divulgação científica (ANEXO VI)

maio e junho de 2009

V Elaboração de um artigo de divulgação científica, sem intervenção do orientador, e com escolha livre de tema (ANEXO VII)

julho de 2009 VI Mini-projeto em que os alunos de PIC deveriam escolher um

grupo de alunos na escola em que estudavam para transferir seus conhecimentos sobre a elaboração de artigos de divulgação científica. O grupo escolhido deveria entregar artigos de divulgação científica ao grupo de PIC e este deveria analisá-los e elaborar um relatório final sobre todo o processo pelo qual passaram durante a pré-iniciação científica (ANEXO VIII)

agosto e setembro de 2009