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3. METODOLOGIA

3.4. Metodologia e instrumentos de recolha de dados

Neste estudo, recorreu-se a uma metodologia mista, ou seja, com uma vertente quantitativa e outra qualitativa para atingir os objectivos definidos.

No ponto de vista de Pardal & Correia (1995, p.17), o método quantitativo “Privilegia o recurso a instrumentos e a análise estatística.” Deste modo, as metodologias quantitativas baseiam-se na oportunidade de mensurar os fenómenos sociais. (Azevedo & Azevedo, 1994)

Da mesma forma, Bardin (2008, p. 141) refere que a abordagem quantitativa “obtém dados descritivos através de um método estatístico.” Além disso, caracteriza este tipo de análise como sendo “mais objectiva, mais fiel e mais exacta, visto que a observação é mais bem controlada.” (ibidem) Contudo, o mesmo autor destaca a rigidez deste tipo de abordagem. (ibidem)

Ao longo deste estudo, uma das técnicas de recolha de dados utilizada foi um inquérito por questionário aos alunos. O questionário é uma “(…) técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objectivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas, etc.” (Gil, 1999, p. 128)

Para Afonso (2005, p. 101) “Na construção de questionários, o objectivo principal consiste em converter a informação obtida dos respondentes em dados pré- formatos, facilitando o acesso a um número elevado de sujeitos e a contextos diferenciados.”

Os inquéritos por questionário permitem “quantificar uma multiplicidade de dados e de proceder, por conseguinte, a numerosas análises de correlação.” (Quivy & Campenhoudt, 2005, p. 189). Outra das vantagens deste método de recolha de informação é “O facto de a exigência, por vezes essencial, de representatividade do conjunto dos entrevistados poder ser satisfeita (…)”. (Ibidem)

Na perspectiva de Azevedo & Azevedo (1994, p. 30), “Os questionários permitem uma maior cobertura da população a ser inquirida.” e não há interacção entre o investigador e os inquiridos. (ibidem)

As vantagens apontadas para a utilização deste instrumento de recolha de informação são muitas. Destas destaca-se o facto de esta técnica permitir que um elevado número de indivíduos respondam ao questionário, o anonimato dos inquiridos que é essencial para que respondam com autenticidade e que cada um responda na hora

mais conveniente para si. (Pardal & Correia, 1995) Além destas vantagens, Gil refere também que os questionários implicam poucos custos na sua aplicação e os inquiridos não são expostos a diferentes opiniões. (Gil, 1999)

Por outro lado, o inquérito por questionário também apresenta algumas desvantagens, como por exemplo: não pode ser aplicado a analfabetos ou indivíduos com dificuldades na compreensão das questões, por vezes é respondido em grupo, perturbando o valor dos dados obtidos, e muitos não respondem ou atrasam-se, principalmente quando os questionários são enviados por correio. (Pardal & Correia, 1995) Por outro lado, os questionários têm um número relativamente reduzido de questões porque senão a probabilidade de serem respondidos é muito baixa e as circunstâncias em que são respondidos são desconhecidas. (Gil, 1999) Além disso, Quivy & Campenhoudt (2005, p. 189) referem ainda que “A superficialidade das respostas, que não permitem a análise de certos processos (…)” é um dos limites deste método de recolha de dados.

O inquérito por questionário implementado, ao longo deste estudo, aos alunos do nono ano, num total de 130 discentes, é constituído por perguntas fechadas e perguntas de escolha múltipla, em leque aberto e fechado, num total de nove questões. As perguntas do inquérito foram agrupadas em duas partes: Parte I – Dados pessoais e Parte II – A disciplina de Matemática.

Além da metodologia quantitativa, neste estudo também se recorreu a uma metodologia qualitativa. Segundo Bogdan & Biklen (1994, p. 47-50), os estudos de natureza qualitativa têm cinco características:

“1. Na investigação qualitativa a fonte directa de dados é o ambiente natural,

constituindo o investigador o instrumento principal. (…)

2. A investigação qualitativa é descritiva. (…)

3. Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que

simplesmente pelos resultados ou produtos. (…)

4. Os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de forma

indutiva. (…)

5. O significado é de importância vital na abordagem qualitativa.”

Como referem Pardal & Correia (1995, p.17), o método qualitativo “Privilegia, na análise, o caso singular e operações que não impliquem quantificação e medida.” Assim, na opinião de Azevedo & Azevedo (1994, p. 29), “(…) as metodologias qualitativas (…) valorizam as manifestações subjectivas, comportamentais para a intelecção dos fenómenos.”

Ao longo do estudo, além dos questionários aplicados aos discentes, foram realizadas entrevistas aos docentes que leccionavam nas turmas a que os alunos pertenciam.

A entrevista é uma das técnicas de recolha de dados mais utilizada nas investigações e Gil (1999, p. 117) define a “entrevista como a técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objectivo de obtenção dos dados que interessam à investigação.”

Na opinião de Azevedo & Azevedo (1994, p. 29), “A entrevista pretende recolher a opinião do sujeito da investigação sobre temáticas de interesse para a própria investigação.”, o que implica a existência de interacção entre o investigador e o entrevistado. (ibidem)

Refira-se que, como afirmam Bogdan & Biklen (1994, p. 136), “As boas entrevistas produzem uma riqueza de dados, recheados de palavras que revelam as perspectivas dos respondentes.” No mesmo sentido, Quivy & Campenhoudt (2005, p. 191) referem que “(…) estes processos permitem ao investigador retirar das entrevistas informações e elementos de reflexão muito ricos e matizados.”

Destaca-se como principais vantagens das entrevistas o facto de permitirem a obtenção duma informação mais rica e de não exigirem entrevistados alfabetizados. Contudo, as entrevistas limitam a recolha de informação mais delicadas e não é possível aplicá-las a um grande número de pessoas, sendo estas as principais desvantagens deste instrumento de recolha de dados. (Pardal & Correia, 1995)

Além das vantagens referidas, Gil destaca que as entrevistas permitem que se obtenha dados de diferentes aspectos, que são um instrumento importante para se conseguirem dados sobre o comportamento humano, que se obtenham dados classificáveis e quantificáveis, que se alcance informações com maior flexibilidade, bem como possibilitam que sejam captada a expressão corporal. (Gil, 1999) Na óptica de Quivy & Campenhoudt (2005, p. 194), outra das vantagens é “O grau de profundidade dos elementos de análise recolhidos.” e a flexibilidade do próprio método.

Gil menciona que as limitações das entrevistas, para além das que já foram referidas anteriormente, são: a falta de motivação do entrevistado, a dificuldade deste responder ao que é pedido ou fornecer falsas informações e a influência que o entrevistador pode exercer sobre o entrevistado e suas respostas. (Gil, 1999)

A entrevista realizada ao longo do estudo foi aplicada aos quatro docentes que leccionavam nas turmas dos alunos que responderam ao inquérito por questionário. A entrevista é composta por sete questões agrupadas em quatro categorias distintas.

Neste estudo, a entrevista utilizada é de carácter estruturado. Segundo Afonso (2005, p. 98), neste tipo de entrevista “(…) cada entrevistado responde a uma série de perguntas preestabelecidas dentro de um conjunto limitado de categorias de resposta. (…) O entrevistador controla o ritmo da entrevista utilizando um guião (…) que deve ser seguido de forma padronizada e sem desvios.”

Seguindo o mesmo ponto de vista, Azevedo & Azevedo (1994, p. 30) referem que “Na entrevista estruturada o investigador já tem uma ideia exacta dos dados que quer obter, utiliza o entrevistado com confirmante das suas hipóteses e categorias pré- definidas.”

A entrevista estruturada exige rigor na colocação das questões o que pode condicionar o entrevistador e entrevistado, sendo que o primeiro está condicionado por um guião da entrevista e o segundo apenas deve responder ao que lhe é perguntado. (Pardal & Correia, 1995)

Saliente-se ainda o facto da recolha de dados relativos ao inquérito por questionário se ter realizado em Junho de 2010 e as entrevistas foram realizadas nos meses de Junho, Julho e Setembro do mesmo ano.

3.4.1. Estudo Etnográfico

Na investigação das ciências sociais destaca-se, dentro da metodologia qualitativa, uma modalidade de investigação: a etnografia.

Na opinião de Mauss (1993, p. 21), “A ciência etnológica tem como fim a observação das sociedades, como objecto de conhecimento dos factos sociais.” A etnografia não dá lugar à intuição, tem que ser exacta e completa, procurando a objectividade tanto na observação pormenorizada como na exposição. (idem)

Segundo André (2000, p. 27), “A etnografia é um esquema de pesquisa desenvolvido pelos antropólogos para estudar a cultura e a sociedade.” Em cada estudo etnográfico é abordado um pequeno número de casos de forma detalhada com “uma intenção de interpretação explícita dos significados da acção dos actores sociais, nos

Ao longo dos anos, constata-se que, ao nível das investigações educacionais, é dado um maior destaque à etnografia por oposição aos métodos de investigação mais tradicional. (Woods, 1999)

Na perspectiva de Woods (1999, p. 17),

“A etnografia, ao enfatizar o respeito pelo mundo empírico, penetrando diversas camadas de significados, facilitando o “tomar o papel do outro” e ao definir as situações mediante uma perspectiva processual, constitui a metodologia ideal para uma tal abordagem, bem como para tentar compreender a “arte do ensino”.”

Deste modo, a etnografia caracteriza-se por ser um tipo de abordagem mais aberta e de carácter essencialmente indutivo, construindo-se a teoria com base nos dados. (ibidem)

Na óptica de André (2000, p. 30)

“(…) a pesquisa etnográfica busca a formulação de hipóteses, conceitos, abstrações, teorias e não sua testagem. Para isso faz uso de um plano de trabalho aberto e flexível, em que os focos da investigação vão sendo constantemente revistos, as técnicas de coleta, reavaliadas, os instrumentos, reformulados e os fundamentos teóricos, repensados. O que esse tipo de pesquisa visa é a descoberta de novos conceitos, novas relações, novas formas de entendimento da realidade.”

Para André (2000), num estudo etnográfico existe interacção permanente entre o investigador e o que é investigado e a ênfase é dada ao processo e não aos resultados finais. Outras características da etnografia são a preocupação em retratar a visão pessoal dos que são investigados e a necessidade de realizar trabalho de campo. (idem) No mesmo âmbito, Afonso (2005, p. 65) refere que a pesquisa etnográfica “(…) é também frequentemente designada por observação participante, trabalho de campo ou pesquisa no terreno (fieldwork).”

Finalmente, destaca-se ainda que Woods (1999, p. 20) afirma que “(…) a etnografia proporciona aos professores o acesso à investigação, o controlo sobre ela, e resultados que eles consideram merecedores e de uso prático no ensino.”