• Nenhum resultado encontrado

2.1 Teorias do Desenvolvimento: uma revisão da literatura

2.1.4 A metodologia etapista de Rostow

A metodologia etapista é utilizada por Rostow (1964) para dar subsidio à sua teoria e permitir o entendimento sobre o processo de desenvolvimento econômico. Ele utilizou como referência a teoria dos estágios lineares para compreender as transformações das sociedades agrárias em potências econômicas e industrializadas (TODARO, 1997). Após tal entendimento sobre os estágios de desenvolvimento propostos pelo autor, foi possível desenhar uma trajetória de modernização das nações emergentes, que seguisse pari passu as economias industrializadas (OLIVEIRA et al., 2013).

Para Ribeiro (2004) o desenvolvimento é

[...] o nome dado ao processo pelo qual o ser em questão, no caso a sociedade, percorre o caminho, que lhe é inerente percorrer, pelo qual “desenvolve” suas potencialidades, desenvolve o que já no início contém, mas só em germe, e cuja realização é por princípio o seu objetivo. Com uma formulação como esta estamos na presença absoluta da “necessidade histórica” do determinismo evolucionista (RIBEIRO, 2004, p. 4).

Assim, a trajetória de desenvolvimento econômico das sociedades está diretamente condicionada ao seu momento histórico, onde o progresso é um processo que se correlaciona especificamente com o esforço derivado do interior da sociedade, não havendo interferência de externalidades.

O fator político é indispensável na transição do estágio “sociedade tradicional” à “sociedade moderna” (ACCORSI, 2007). Sendo assim, é necessário que as nações coexistam em um processo democrático capaz de subsidiar a evolução social (RIBEIRO, 2004).

Para Rostow (1964), existem etapas distintas e sequenciais por onde as sociedades se comportam no decorrer do processo de evolução econômica. Tais etapas seriam caracterizadas por cinco estágios de desenvolvimento (ROSTOW, 1964). O primeiro é chamado de sociedade tradicional, marcada pela subsistência, rudimentar tecnologia, forte subordinação do homem à natureza e infrutífero aproveitamento dos recursos naturais.

No segundo estágio, observa-se a sociedade em processo de transição, fase em que aparecem precondições para o desenvolvimento econômico – atitudes racionais adequadas ao controle e à exploração da natureza (ACCORSI, 2007). A principal atividade econômica concentra-se na agricultura, caracterizada por uma produção instável e de pequeno rendimento per capita, devido a eventos que fogem ao controle desta categoria de sociedade, bem como, pragas, secas e guerras e pelo modelo elementar de produção (LEITE, 1983). Nesta etapa, a agricultura cede lugar aos setores industriais e de serviços. No entanto, a realização da produção agrária possui papel importante na criação de demanda para produtos manufaturados, além de fornecer recursos para investimentos em outros setores da economia (LEITE, 1983).

As pré-condições para a decolagem nem sempre estão ligadas a fatores endógenos. Existem casos em que se percebe a necessidade de intervenção externa (OLIVEIRA et al., 2013). Quando existe algum tipo de intervenção externa faz levantar na região uma vontade de mudança daquela sociedade tradicional, onde, nos casos que tais transformações ocorreram endogenamente, houve suficiente disposição das elites agrárias para aceitar a mudança de uma economia predominantemente agrícola para uma economia industrializada (ROSTOW, 1964). Nota-se ainda no terceiro estágio, a chamada sociedade em início de desenvolvimento, nesta etapa se incluem as sociedades nas quais são superados os primeiros limites das sociedades tradicionais, investimento de capital na produção, crescimento da manufatura e aparecimento de um sistema político, social e institucional, que caracterizam a base da sociedade moderna.

Para Rostow (1964), é no estágio do arranco ou decolagem que um ou mais setores da economia alcançarão crescimento acima da média. É nesta fase que uma região consegue superar os obstáculos que o condicionam ao subdesenvolvimento. O fator tecnológico é fundamental para se alcançar esta fase, pois o estoque de capital proporciona uma maior produção (ACCORSI, 2007). O domínio da tecnologia de ponta e a possibilidade de produção de qualquer bem industrial são realidades deste momento histórico. A indústria e, principalmente, o setor de serviços compreendem a maior parte da atividade econômica. Tais condições tendem a gerar um processo de substituição de importações combinado com um marcante aumento nas exportações e o crescimento se torna autossustentado (LEITE, 1983).

A sociedade em maturação, considerada o quarto estágio, é reconhecida quando as forças de expansão econômica passam a predominar. A tecnologia não é mais um desafio para a produção de bens e serviços (OLIVEIRA et al., 2013). É neste estágio que as sociedades conseguirão avançar em seu processo de desenvolvimento. O foco nos setores dinâmicos da economia e o incentivo ao desenvolvimento tecnológico resultarão no aumento das inovações.

A sociedade de consumo em massa é o penúltimo estágio apresentado por Rostow (1964). Neste, pode-se observar o efetivo desenvolvimento da produção, além de um aumento do investimento produtivo de capital. É caracterizado pela transposição dos parâmetros de consumo básico para o conforto que uma sociedade altamente industrializada oferece (LEITE, 1983). A taxa de crescimento da renda apresenta-se superior ao aumento populacional. Nessa fase, o mais importante é o investimento em assistência social. O crescimento econômico não é mais o objetivo principal, sendo substituído pelo desejo de melhora nos indicadores de qualidade de vida (ACCORSI, 2007).

Considerando casos de algumas nações, como os Estados Unidos, no período pós-guerra, que ultrapassou o estágio do consumo em massa, Rostow (1978), apresenta a etapa “Para além do consumo em massa”, onde as necessidades das pessoas são geradas pelo esforço de marketing das corporações e as motivações para o consumo provêm de aspirações como prestígio ou exclusividade.

Tabela 2 - Síntese do Modelo de Desenvolvimento de Rostow

Índice Estágio Características

Sociedade Tradicional

- Falta de ciência e tecnologia; - Fomes, guerra e pestes; - Economia de subsistência.

As pré-condições para decolagem

- Indústria extrativa em desenvolvimento; - Excedente de capital para desenvolvimento vem da agricultura;

- Incremento nos transportes.

A decolagem

- Indústria de manufatura cresce rapidamente; - Rápida expansão da infraestrutura;

- Novos grupos de líderes desejando mudança.

Marcha para a maturidade

- Fábricas com níveis maiores de tecnologia; - Crescimento econômico se espalha por toda a economia;

- Surgem novas indústrias.

Consumo em Massa

- Terceira onda de crescimento industrial; - Automação;

- Ascensão dos grupos ambientalistas; - Estado de bem-estar.

Para além do Consumo em Massa

- Consumo de supérfluos; - Robotização;

- Marketing de necessidade. Fonte: Autor (2017)

Para Rostow (1964) existem duas condições para uma sociedade avançar no seu processo de desenvolvimento. Primeiro, é indispensável incentivar o desenvolvimento de políticas de pesquisa e desenvolvimento da ciência e tecnologia para subsidiar a evolução da sociedade tradicional à moderna, além da elevação dos níveis de produtividade da sociedade. Além da incorporação dos avanços tecnológicos, a quebra de paradigmas tem de ocorrer, essencialmente entre as elites e aqueles que detêm o poder político na sociedade, assim permitindo um amadurecimento democrático e avanço dos mecanismos de promoção política.

Em suma, o modelo de desenvolvimento de Rostow é constituído por etapas de desenvolvimento que estabelecem condições preliminares para avançar. Neste aspecto, é necessário que a Economia seja dotada de determinados pré-requisitos para avançar à etapa seguinte, e assim, sucessivamente.