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O presente estudo foi desenvolvido nos anos de 2012 à 2018 na área experimental do Instituto Regional de Desenvolvimento Rural (IRDeR) pertencente ao Departamento de Estudos Agrários (DEAg) da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ) no município de Augusto Pestana/RS, localizado geograficamente a 28° 26’ 30’’ de latitude S e 54° 00’ 58’’ de longitude W. Apresenta ainda, uma altitude próxima a 400 metros a cima do mar.

O solo da unidade experimental se caracteriza por um Latossolo Vermelho distroférrico típico (U.M. Santo Ângelo). Apresenta um perfil profundo, bem drenado, coloração vermelho escuro, com altos teores de argila e predominância de argilominerais 1:1 e óxi-hidróxidos de ferro e alumínio. De acordo com a classificação climática de Köeppen, o clima da região se enquadra na descrição de Cfa (subtropical úmido), com ocorrência de verões quentes e sem ocorrência de estiagens prolongadas (KUINCHTNER & BURIOL, 2001). Além disso, apresenta invernos frios e úmidos, com ocorrência frequente de geadas.

A área na qual foi instalado o experimento tem como característica marcante a ocorrência de semeadura direta há mais de vinte anos, caracterizando, portanto um sistema de semeadura direta consolidado. No período do verão a área é ocupada com soja e com milho, refletindo nos dois sistemas de cultivo que foram utilizados nesta pesquisa.

Na implantação do ensaio, por volta de dez dias antes da semeadura, foi realizada uma análise de solo nas condições de estudo, identificando as características químicas do local (TEDESCO et al.,1995). A semeadura foi realizada no mês junho com semeadora- adubadora, seguindo as orientações técnicas da espécie. Cada parcela foi constituída de 5 linhas com 5 m de comprimento cada, e espaçamento entre linhas de 0,20 m, correspondendo a uma unidade experimental de 5 m2. A densidade populacional utilizada foi de 400 sementes viáveis m-2. As sementes foram submetidas ao teste de germinação e vigor em laboratório para corrigir a densidade de plantas e obter a população desejada.

Nos experimentos, foi aplicado na semeadura, 45 e 30 kg ha-1 de P2O5 e K2O,

respectivamente, com base nos teores de P e K no solo para expectativa de produtividade de grãos de 3 t ha-1 e de nitrogênio na base com 10 kg ha-1 (exceto na unidade experimental padrão), sendo o restante para contemplar as doses propostas em cobertura nos estádios em estudo, com nitrogênio disponibilizado na forma de ureia. Durante a execução, foram

efetuadas aplicações do fungicida tebuconazole de nome comercial FOLICUR® CE na

dosagem de 0,75 L ha-1. Além disso, o controle de plantas daninhas foi efetuado com

herbicida metsulfuron-metil de nome comercial ALLY® na dose de 4g ha-1 e capinas adicionais sempre que necessário.

Os estudos foram conduzidos em dois sistemas de cultivo, envolvendo a cobertura de solo com resíduo vegetal de elevada e reduzida relação carbono/nitrogênio (C/N), no sistema de sucessão soja/trigo e milho/trigo, respectivamente. Em cada sistema, dois experimentos foram conduzidos, um para quantificar a taxa de produtividade biológica total acumulada a cada 30 dias até o ponto de maturidade fisiológica e, o outro, para a colheita no final do ciclo visando exclusivamente à estimativa da produtividade de grãos e análise dos componentes da espiga. Portanto, nos quatro experimentos, o delineamento experimental adotado foi de blocos casualizados com quatro repetições, seguindo um esquema fatorial 5 x 3 para os fatores doses de nitrogênio, e formas de fornecimento do N-fertilizante, respectivamente. Nestas fontes de variação os níveis de cada fator foram assim representados: i) doses de nitrogênio (0, 30, 60, 90 e 120 kg ha-1); e ii) formas de fornecimento [condição cheia (100%) no estádio fenológico V3 (terceira folha

expandida); fracionada (70%/30%) no estádio fenológico V3/V6 (terceira e sexta folhas

expandidas) e fracionada (70%/30%) no estádio fenológico V3/R1 (terceira folha

expandida e diferenciação da espiga)], totalizando 240 unidades experimentais. A Figura 1, apresenta a distribuição das doses e condições de fornecimento do nitrogênio no delineamento experimental, juntamente, com a identificação dos blocos, em cada sistema de cultivo.

Figura 1. Croqui do experimento localizado no IRDeR em sistema milho/trigo e soja/trigo

V3 = Condição cheia (100%) da dose de nitrogênio na terceira folha expandida. V3/V6 = Condição fracionada (70%/30%) da dose de nitrogênio na terceira e sexta folha expandida e V3/R1 = Condição fracionada (70%/30%) da dose de nitrogênio na terceira e diferenciação da espigaFonte: Própria autora (2020)

O estádio de desenvolvimento é de suma importância conhecê-los, pois é em função deles que é decidida o momento adequado de se realizar os manejos fitossanitário que a cultura necessita, além de ser uma referência universal entre os profissionais que se dedicam tanto ao melhoramento, pesquisa e também de profissionais da assistência técnica. Dentre as várias escalas existentes que podem ser utilizadas na cultura do trigo, utiliza-se neste trabalho a proposta de (COUNCE et al., 2000).

Estádios de desenvolvimento vegetativo:

V1 – Colar formado na 1ª folha do colmo principal

V2 – Colar formado na 2ª folha do colmo principal

V3 – Colar formado na 3ª folha do colmo principal

60 30 120 90 0 60 30 IV 0 30 90 60 120 30 0 60 III 0 90 120 90 V3 V3/V6 V3/R1 120 90 30 60 0 120 90 120 60 30 0 V3 V3/V6 V3/R1 0 60 120 30 90 60 0 90 0 90 60 90 120 0 30 S is te m a S o ja /T ri g o V3 V3/V6 V3/R1 I 30 90 60 120 30 120 V3 V3/V6 V3/R1 0 90 0 60 120 30 II 60 30 120 0 90 60 30 120 ESTRADA 0 90 0 60 120 30 I 30 90 60 120 0 30 V3 V3/V6 V3/R1 120 30 90 60 90 120 30 120 0 90 0 60 II 60 IV 0 30 90 V3/R1 120 30 0 60 90 V3 V3/V6 0 120 90 30 60 0 V3 V3/V6 V3/R1 S is te m a M il h o /T ri g o III 90 120 60 30 V3 V3/V6 V3/R1 60 30 0 90 120 60 60 120 30 120 90 0

V4 – Colar formado na 4ª folha do colmo principal

V5 – Colar formado na 5ª folha do colmo principal

V6 – Colar formado na 6ª folha do colmo principal

V7 – Colar formado na 7ª folha do colmo principal

V8 – Colar formado na 8ª folha do colmo principal

Estádios de desenvolvimento reprodutivo:

R0 – Iniciação da espiga

R1 – Diferenciação da espiga

R2 – Formação do colar na folha bandeira

R3 – Emissão da espiga

R4 – Antese

R5 – Elongação do grão

R6 – Expansão do grão

R7 – Maturidade de um grão da espiga

R8 – Maturidade completa da espiga

Dentre as tecnologias recomendadas nos cereais de inverno, destaca-se a adubação nitrogenada. Esta técnica é recomendada em função do teor de matéria orgânica dos solos, a produção que se deseja obter, textura e cultivo anterior. Existem várias fontes de nitrogênio no mercado, onde a ureia é a mais comercializada e utilizada nas culturas, por possuir a concentração de nitrogênio (45%) e por ter baixo custo de transporte, alta solubilidade, menor corrosividade, compatibilidade com inúmeros outros fertilizantes e defensivos, alta taxa de absorção foliar, disponibilidade imediata para as plantas e facilidade de manipulação, além de causar menor acidificação no solo (CIVARDI et al., 2011; CAIRES & MILLA, 2016). Na Figura 2, está apresentado o manejo do nitrogênio no decorrer dos sete anos de experimento instalado na área experimental.

Figura 2. Manejos realizados nos 7 anos de cultivo

(A) semeadura; (B) fonte do nutriente – ureia; (C) sistema de sucessão soja/trigo; (D) sistema de sucessão milho/trigo; (E) capinas; (F) fornecimento da adubação nitrogenada em V3; (G) fornecimento da adubação nitrogenada V3/V6; (H) fornecimento em V3/R1. Fonte: Própria autora (2020)

A cultivar utilizada para a realização dos experimentos foi aquela de genética excelente, resistência às manchas foliares, alto nível de resistência à ferrugem da folha e bacteriose, além do elevado nível de resistência aos maiores problemas de difícil controle na cultura do trigo, contemplando doenças como Brusone e Giberela, além de ter como característica o alto potencial produtivo para a região do noroeste do estado do Rio Grande do Sul.

Na Figura 3, está apresentada a forma com que se deu a colheita dos experimentos para a estimativa da produtividade de biomassa e grãos, sendo que ocorreu de forma manual pelo corte das três linhas centrais de cada parcela, estádio próximo ao ponto de colheita (125 dias), com umidade de grãos de 15% (SILVA et al., 2015). As parcelas direcionadas para a colheita de grãos foram trilhadas com colheitadeira estacionária e encaminhadas ao laboratório para correção da umidade de grãos para 13%, após realizada a pesagem e estimativa da produtividade de grãos, convertida para a unidade de um

hectare (PG, kg ha-1). Nos experimentos direcionados à produtividade biológica total ao

longo do desenvolvimento das plantas, a colheita do material vegetal foi realizada rente ao solo, a partir da coleta de um metro linear das três linhas centrais de cada parcela, no período de 30, 60, 90 e 120 dias após a emergência, totalizando quatro cortes. Após, as amostras com a biomassa verde foram direcionadas a estufa de ar forçado à temperatura de 65 °C, até atingir peso constante, para a estimativa da matéria seca total, convertida para a unidade de um hectare (PB, kg ha-1).

Figura 3. Coleta dos dados de produtividade de biomassa e grãos

(A) corte de biomassa aos 30 dias; (B) corte de biomassa aos 60 dias; (C) corte de biomassa aos 90 dias; (D) corte de biomassa aos 120 dias; (E) estufa para secagem das amostras; (F) pesagem da amostra de biomassa seca; (G) corte das três linhas centrais para estimativa da produtividade de grãos; (H) trilha do material coletado. Fonte: Própria autora (2020)

Foram analisados, tanto a campo como em laboratório, os seguintes caracteres que compõem a produtividade da cultura:

a) Caracteres de produtividade:

1 - Produtividade de grãos (PG, kg ha-1) – determinada pela massa de grãos proveniente

da colheita das três linhas centrais de cada parcela e posterior pesagem em balança de precisão.

2 - Produtividade biológica (PB, kg ha-1) – equivale à massa seca total obtida no final do ciclo.

3 - Produtividade de palha (PP, kg ha-1) – determinada pela diferença da PB pela PG.

b) Caracteres da espiga:

1 - Massa da espiga (ME, g) – Média obtida de 10 espigas coletas aleatoriamente de cada parcela.

2 - Número de espiguetas férteis (NEF, n) – foi realizada através da contagem manual das espiguetas férteis de espigas colhidas aleatoriamente na parcela.

3 - Número de espiguetas estéreis (NEE, n) – foi realizada através da contagem manual das espiguetas inférteis de espigas colhidas aleatoriamente na parcela.

4 - Número de grãos na espiga (NGE, n) – por meio da trilha e contagem de grãos de espigas colhidas aleatoriamente na parcela.

5 - Massa de grãos da espiga (MGE, g) – utilizados os grãos anteriormente trilhados e pesados em balança de precisão.

6 - Comprimento da espiga (CE, n) – determinado por mensuração com auxílio de régua. 7 - Índice de colheita da panícula (ICE) – determinado pela razão da massa de grãos da espiga pela massa da espiga (ICP = MGE/ME, representado em valor decimal.

Na Figura 4 são apresentadas as avaliações de algumas variáveis ligadas a produtividade e caracteres da espiga.

Figura 4. Avaliação dos caracteres da espiga

(A) espiga de trigo; (B) comprimento da espiga; (C) massa da espiga; (D) trilha da espiga; (E) massa de grãos. Fonte: Própria autora (2020)

c) Caracteres de qualidade química de grãos:

As análises químicas foram mensuradas através da técnica da espectrofotometria de refletância no infravermelho proximal, NIR (Near infrared Reflectance), a qual tem demonstrado ser uma técnica apta para predizer o valor nutritivo dos alimentos por meio da emissão de radiação eletromagnética, caracterizando substâncias orgânicas, é fundamentado em aplicações da matemática à química analítica (PIRES et al., 1998). Além disso, o método da refletância no infravermelho proximal apresenta-se como alternativa que não utiliza reagentes, não é destrutivo e é extremamente rápido e eficaz (Figura 5).

Figura 5. Espectrômetro de refletância no infravermelho proximal (NIR)

Própria autora (2020)

Para as avaliações foram utilizadas amostras que fossem suficientes para encher o recipiente do equipamento, sendo que as dimensões do equipamento são: 7,5 cm de diâmetro, 2,5 cm de altura e 120 mL de volume, provenientes de cada parcela útil. O equipamento utilizado é da marca Perten, modelo Diode Array DA7200, no qual está instalado no laboratório de bromatologia da UNIJUÍ.

Os caracteres avaliados foram: 1 - Proteína total (PT, %)

2 - Amido (AM, %)

d) Caracteres agrometeorológicos:

Os dados agrometeorológicos foram obtidos pela Estação Total Automática instalada a 200 metros da implantação do experimento.

1 - Tmin (ºC) – Temperatura mínima da cultura

2 - Tmax (ºC) – Temperatura máxima da cultura

3 - Tmed (ºC) – Temperatura média da cultura

4 - PP (mm m-2) – Precipitação pluviométrica 5 - St (graus dia-1) – Soma térmica

Destaca-se que a soma térmica (St) foi obtida a partir da emergência das plantas pelo seguinte modelo:

St = ∑ ( Tmax+Tmin 2 n

i=1 ) − Tb (1)

onde Tmax= temperatura máxima; Tmin= temperatura mínima; n = número de dias do

período de semeadura-colheita; Tb = temperatura base. A temperatura base utilizada no estudo foi de 4ºC, conforme resultados encontrados por Pedro Júnior et al. (2004).

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