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Capítulo 3 – O conceito de Competência

4. Capítulo 4 – Estudo empírico: Centro Novas Oportunidades do IEFP de Setúbal

4.1. Metodologia da Investigação

A investigação qualitativa, segundo Bogdan e Biklen (1994), surgiu no fim do século XIX e início do século XX, atingindo o seu auge nas décadas de 60 e 70 por meio de novos estudos e a sua divulgação. Os métodos quantitativos não respondiam as necessidades dos investigadores, e a investigação qualitativa aumentou rapidamente na educação.

Bogdan e Biklen (1994) apresentam as cinco características que configuram a investigação qualitativa. A primeira característica prende-se com o facto de o investigador ser o instrumento principal, e que a fonte de dados é o ambiente natural. Os investigadores introduzem-se e permanecem bastante tempo nos meios que são o alvo de investigação. Os registos de observação poderão ser realizados num simples bloco de apontamentos com o uso de um lápis, ou até mesmo, em aparelhos de áudio ou de vídeo. No entanto, o investigador deverá combinar o uso destes equipamentos com os dados obtidos. O instrumento – chave de análise será o entendimento que o investigador atribuir aos materiais registados mecanicamente, sendo que os mesmos são totalmente revistos. Os investigadores qualitativos visitam repetidas vezes locais de estudo, pois acreditam que as acções podem ser melhor compreendidas quando são examinadas no local onde frequentemente aconteceram. Desta forma, torna-se impossível dissociar a investigação qualitativa do contexto em que se produz. “Para o investigador qualitativo divorciar o acto, a palavra ou o gesto do seu contexto é perder de vista o significado”. A segunda característica mencionada revela que a investigação qualitativa é descritiva. Na investigação qualitativa os

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dados obtidos são sob a forma de palavras ou imagens. Os dados recolhidos podem incluir a reprodução de parte de uma entrevista, notas de campo, vídeos, fotografias, documentos pessoais e outros registos. Os investigadores qualitativos reúnem a totalidade de informação e tentam reproduzir a mesma sob a forma de narrativa escrita, respeitando as condições em que foram registados. A investigação qualitativa tem a necessidade de que todo o pormenor seja observado e tido em consideração, visto que poderá constituir uma vista sob outra perspectiva do objecto de estudo. A terceira característica está relacionada com o facto de os investigadores qualitativos revelarem maior interesse pelo processo do que pelos resultados. O interesse dos investigadores no estudo de um problema é verificar as evidências de como o mesmo se manifesta nas actividades, nos procedimentos e nas interacções do quotidiano. A pesquisa qualitativa reflecte a complexidade do quotidiano escolar. A quarta característica relaciona-se com a forma como os investigadores analisam os dados, podendo existir uma tendência a ser feita de forma indutiva. Os investigadores não procuram ou definem dados antes de iniciarem o estudo, pelo contrário, as conjecturas são construídas à medida que os dados recolhidos se vão agrupando, num processo de “baixo para cima”, em que a informação se inter – relaciona. Os investigadores podem não dispor de hipóteses ou questões específicas formuladas antes da investigação, o que não implica a não existência de um quadro geral teórico que guia a recolha e análise dos dados. O desenvolvimento de um estudo assemelha-se a um funil, visto que no início poderão existir várias questões e focos de interesse com grande amplitude, e que ao sofrer uma triagem irão tornar-se mais específicos. A quinta característica está relacionada com o significado. Os investigadores qualitativos determinam estratégias que lhes permite perceber qual a perspectiva dos participantes, ou seja, a forma como os informadores consideram as questões e os focos de interesse. “Ao apreender as perspectivas dos participantes, a investigação qualitativa faz luz sobre a dinâmica interna das situações, dinâmica esta que é frequentemente invisível para o observador exterior.” Assim sendo, a investigação qualitativa é o reflexo do diálogo entre o investigador e os participantes. Para Ludke e André (1986) a pesquisa qualitativa pode assumir várias formas, destacando-se, a pesquisa

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etnográfica e o estudo de caso. Ambas têm ganho muita aceitação e credibilidade na área da educação, mais precisamente na investigação de questões relacionadas com a escola.

No início da década de 70, os investigadores da área da educação começaram a fazer uso das técnicas etnográficas, sendo que estas eram do uso quase exclusivo dos sociólogos e antropólogos, dando origem à pesquisa etnográfica ou antropológica. No entanto, neste processo de transferência para a área educacional foi necessário fazer adaptações, perdendo assim o seu sentido original. Wolcott (1975) é referenciado na obra de Ludke e André (1986) pois apresenta um teste cujo objectivo é determinar se um estudo pode ser denominado de etnográfico. Segundo o autor, consiste em verificar se a pessoa que lê o estudo consegue reproduzir o que ocorre no grupo estudado como se fosse um dos seus membros. Wolcott (1975) revela que o uso da etnografia em estudos sobre o ensino deve incluir o ambiente escolar, mas também o que se passa fora da escola, ou seja, relacionar os dois meios. O primeiro critério para a utilização da abordagem etnográfica reside no facto de o problema ser redescoberto no campo, o que significa que o etnógrafo deve envolver-se na situação, e a partir daí aperfeiçoar o problema inicial da investigação. O segundo critério indica que o investigador deve realizar pessoalmente a maior parte do trabalho de campo, porque a abundância de auxiliares de pesquisa nunca substituirá o contacto íntimo com a realidade a estudar. O terceiro critério define o tempo de duração do trabalho de campo, neste caso deve durar pelo menos um ano escolar, para que o investigador se insira na sua nova realidade, compreendendo as regras e os costumes do grupo a estudar. No quarto critério considera-se que o investigador deve ter tido uma experiência com outros povos de outras culturas para que consiga entender o sentido do grupo em estudo. O quinto critério indica que a abordagem etnográfica combina vários tipos de recolha de informação, a observação directa pode ser associada a análise de documentos, vídeos, fotografias e outros, que podem dar uma visão mais precisa da situação em estudo. O sexto e último critério revelam que o relatório etnográfico apresenta uma grande quantidade de dados primários, como materiais produzidos pelos participantes, excertos de entrevistas ou de documentos.

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Segundo Ludke e André (1986), a natureza dos problemas é que determina o método, isto é, a escolha do método faz-se em função do tipo de problema a estudar.

De um modo geral, o investigador desenvolve o seu estudo em três etapas: exploração, decisão e descoberta. A primeira fase envolve a selecção e definição de problemas, a escolha do local onde será feito o estudo e o estabelecimento de contactos para entrar em campo. Nesta etapa estão incluídas as primeiras observações, com o propósito de adquirir maiores conhecimentos e seleccionar aspectos que serão investigados invariavelmente. Neste primeiro momento não existe4 obrigatoriedade da existência de hipóteses explicitamente formuladas, é apenas necessário que o investigador disponha de um esquema geral ao qual possam ser levantadas questões pertinentes à investigação. Estas primeiras perguntas orientam o processo de recolha de informação e conduzem à formulação de novas hipóteses ou a reformulação das anteriores. Na abordagem etnográfica está presente o princípio de que o investigador pode modificar o centro do seu problema e as suas hipóteses durante o processo da investigação. A segunda fase da pesquisa reside na busca sistemática dos dados que o investigador seleccionou durante a primeira fase. Os tipos de dados relevantes são: forma e conteúdo da interacção verbal dos participantes e dos mesmos com o investigador, comportamento não - verbal, padrões de acção e não acção, registo de arquivos e documentos. O investigador tem de aprender a seleccionar os dados necessários para responder às suas questões e descobrir uma forma de ter acesso a essa informação. Durante a investigação, o género de dados recolhidos pode mudar, porque as informações recolhidas devem ser usadas para dirigir as seguintes colheitas de dados. A terceira fase envolve o desenvolvimento de teorias permitindo a estruturação de um quadro teórico no qual o acontecimento pode ser interpretado e compreendido.

O observador tem de ser capaz de tolerar ambiguidades, ser capaz de trabalhar sob sua responsabilidade, deve inspirar confiança, auto disciplinada, madura e consistente, e revelar a capacidade de guardar informações confidenciais. O observador deve tentar que os participantes o aceitem, tendo em conta a forma da sua participação nas actividades.

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O objectivo desta investigação é investigar quais as implicações, do ponto de vista profissional, formativo e pessoal, na vida de um adulto que frequenta o Processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências – Nível Secundário. Para tal, consideramos o estudo de caso como a metodologia ideal para o efeito.

Bogdan e Biklen (1994) definem o estudo de caso como a observação detalhada de um contexto, ou indivíduo, de uma única fonte de documentos ou de um acontecimento específico. Bell (1984) refere que os estudos de caso são apropriados para os investigadores individuais, permitindo que um aspecto de um problema seja profundamente estudado durante um período de tempo limitado. Neste sentido, Lessard – Hébert, Goyette e Boutin (2008) apresentam o estudo de caso como sendo um modo de investigação que ocupa a posição extrema em que o campo de investigação é mais real, aberto, mas o menos controlado. Assim sendo, o investigador está pessoalmente implicado ao nível de um estudo de casos particulares. “Ele aborda o seu campo de investigação a partir do interior” (p. 169).

Os estudos de caso têm algumas características que lhe são próprias. Na sua obra, Ludke e André (1986) destacam: 1. Os estudos de caso visam a descoberta. O investigador deve partir de alguns pressupostos teóricos iniciais, mas deverá estar consciente de que novos aspectos podem surgir à medida que o estudo vai avançando. 2. Os estudos de caso enfatizam a “interpretação em contexto”. Um dos princípios básicos dos estudos de caso é que, para uma melhor compreensão do objecto, é necessário ter em conta o contexto em que este se situa. 3. Os estudos de caso buscam retratar a realidade de forma completa e profunda. O investigador pretende dar a conhecer a multiplicidade de dimensões que estão presentes numa determinada situação, colocando-o em evidência como um todo. Este tipo de abordagem destaca a complexidade natural das situações, colocando em evidência a inter – relação dos seus componentes. 4. Os estudos de caso usam uma variedade de fontes de informação. No desenvolvimento de um estudo de caso, o investigador utiliza uma variedade de dados, recolhidos em momentos diferentes, em várias situações e com a possibilidade de existir uma enorme variedade de fontes.

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Com esta variedade de informações, o investigador pode cruzar informações, confirmar ou rejeitar hipóteses, descobrir novos dados, afastar suposições ou fazer surgir hipóteses alternativas. 5. Os estudos de caso revelam experiência vicária e permitem generalizações naturalísticas. O investigador pretende narrar as suas experiências durante o estudo, de modo que o leitor consiga interrogar-se acerca do que pode aplicar deste caso na sua situação. 6. Os estudos de caso procuram representar os diferentes e às vezes conflituosos pontos de vista presentes numa situação social. Quando o objecto ou a situação estudados suscitam opiniões divergentes, o investigador vai tentar trazer essas divergências para o estudo, mostrando o seu ponto de vista sobre a questão. 7. Os relatos de estudo de caso utilizam uma linguagem e uma forma mais acessível do que os outros relatórios de pesquisa. Os dados do estudo de caso podem ser apresentados numa variedade de formas, tais como fotografias, desenhos, colagens, discussões, etc. Os relatos escritos apresentam, geralmente, um estilo informal, narrativo, ilustrado por figuras de linguagem, citações, exemplos e descrições. É possível que um mesmo caso, tenha diferentes formas de relato, dependendo do tipo de utilizador.

Os mesmos autores referem que o estudo de caso caracteriza-se por ter três fases: exploratória; sistemática; e análise, interpretação dos dados e elaboração do relatório. As linhas que as separam são pouco visíveis e podem-se sobrepor umas nas outras. O estudo de caso começa por podem-ser um plano pouco desenvolvido, que vai ganhar contornos mais vincados à medida que o estudo se vai desenvolvendo. Ao início podem existir algumas questões ou pontos que vão sendo explicitados, reformulados ou abandonados, conforme a sua relevância para o estudo. As questões ou pontos referidos anteriormente podem ter origem na revisão de literatura, nas observações ou narrativas de entendidos na área, ou do contacto com as pessoas ligadas ao estudo. No estudo de caso não se pretende ter uma ideia pré – determinada da realidade, mas assimilar os aspectos ricos e imprevistos de uma determinada situação. A fase exploratória é fundamental para a definição precisa do objecto de estudo, é o momento em que se deve tornar específicos todos os pontos que levantem questões, assim como de estabelecer os contactos iniciais para entrar em campo, localizar as fontes de informação e de dados necessários ao estudo. O

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