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Analisar a revista Infância para reconhecer a noção de infância nela presente.

4.2 HIPÓTESE

A noção de infância era fundamentada na educação e na psicologia. 4.3 MÉTODO

Material: revista Infância, publicada pela Cruzada Pró-Infância na cidade de São Paulo entre os anos de 1935 e 1937. A revista podia ser adquirida em bancas de jornal ou mediante assinatura anual. Seu formato era de 26,5cm x 20cm, as capas eram coloridas, e os textos, fotos, figuras e propagandas eram

em preto e branco. Foi idealizada para ser uma publicação mensal, porém a periodicidade era irregular. Circulou durante três anos (1935-1937), nos quais foram publicados 18 números. Os números 3, 5 e 6 não foram localizados. Não se sabe o motivo da cessação da publicação da revista. O público-alvo eram as famílias de classe alta.

Procedimento: é feita a descrição, classificação e análise dos textos publicados na revista Infância. Iniciamos com uma descrição da revista em geral; a seguir, os textos são classificados de acordo com o destinatário (educadores, pais, pai, mãe e criança); em seguida, indicamos quem foram os autores do material publicado. Também é feito o levantamento das imagens ilustrativas da revista e, finalmente, um levantamento das propagandas veiculadas. Depois das classificações e análises dos conteúdos, procuramos reconhecer a noção de infância presente na revista como um todo, isto é, nos textos, imagens e propagandas.

5. RESULTADOS

Destinada aos pais e educadores da década de 1930, a revista tinha como objetivo difundir as idéias científicas entre a maior quantidade possível de leitores, conforme consta no texto “Infância” no início do primeiro exemplar:

“‘Infância’ vem focalizar a vida e os problemas da criança. A novel revista procurará collaborar com os paes e educadores, contribuindo assim para que, num porvir bem próximo, nos orgulhemos de possuir um povo mais sadio e culto. (...) Conseguir multiplicar o número de leitores, levando a todos os rincões a palavra do scientista, eis nosso objetivo”5(Infância, Ano 1, nº 1, p. 2). O quadro abaixo demonstra cronologicamente todos os números publicados pela revista.

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Quadro 1. Edições da revista Infância Nº. Mês Ano 1 Março 1935 2 Abril 1935 3 --- 1935* 4 Agosto 1935 5 --- 1935* 6 --- 1935* 7 Dezembro 1935 8 Fevereiro 1936 9 Abril 1936 10 Julho 1936 11 Outubro 1936 12 Dezembro 1936 13 Fevereiro 1937 14 Abril 1937 15 Junho 1937 16 Julho 1937 17 Agosto 1937 18 Novembro 1937

Nota: (*) indica edições que não foram localizados.

Fonte: Quadro elaborado pela autora com base nas revistas disponíveis entre 1935 e 1937.

Percebemos nos textos da revista Infância que também fazia parte de seus

objetivos capacitar as famílias pobres para a tarefa de assistir e educar as crianças. Porém, a transmissão do conhecimento se daria através dos leitores da revista, principalmente aqueles pertencentes à classe alta. Nela encontramos hábitos e costumes da classe alta, como, por exemplo, os métodos de educação, os padrões de saúde e a prevenção de doenças que eram claramente tidos como os melhores e aqueles que deveriam ser seguidos. As crianças deveriam ser moldadas para garantir o futuro promissor do país.

Apesar de a revista ter sido dedicada aos pais (pai e mãe), grande parte dos artigos era destinada às mães, sendo o pai em alguns momentos incentivando a participar dessa tarefa, apesar de a publicação dirigir-se poucas

vezes diretamente a ele, como veremos detalhadamente. Uma confirmação da classe alvo da revista é a mensagem de abertura do primeiro exemplar, escrita por Guilherme de Almeida6 e denominada “Infância”. De certa maneira, esse texto apresenta a idéia de criança e de infância que a revista defenderá ao longo de sua publicação: “... onde cantam os chocalhos de prata e marfim; ou

cochilam os ursos mollengos e commodos de pellucia; ou ”posa“, muito enfatuada, olhando com coragem a luz forte, a boneca de feltro de Lency”

(Infância, Ano 1, nº 1, p. 1). Que criança na década de 1930 tinha chocalhos de prata e ursos de pelúcia? A criança que pertencia à classe alta, principalmente da sociedade paulistana. Assim, por meio dessas expressões verificamos que a noção de infância presente na revista reflete as condições do público-alvo daquela classe.

Conhecendo o público-alvo e os objetivos da revista, passaremos a descrever cada um dos três anos da publicação. Para tal apresentação utilizamos nas tabelas abaixo a freqüência e a proporção dos assuntos tratados.

A tabela a seguir ilustra os destinatários dos conteúdos dos 15 números localizados, durante os três anos de publicação (1935-1937).

6 Guilherme de Almeida (1890 -1969). Formou-se em Direito em 1912. Conciliou o exercício da profissão de advogado com trabalhos como jornalista literário, tradutor e, principalmente, poeta. Em 1917, teve publicado seu primeiro livro, Nós; seguiriam-se A Dança das Horas (1919), Messidor (1919), Livro de Horas de Sóror Dolorosa (1920), e Era uma Vez...(1922). Participou da Semana de Arte Moderna de 1922, e foi o primeiro modernista a entrar para a Academia Brasileira de Letras, em 1930. Em 1932, combateu na Revolução Constitucionalista, como um dos líderes, o que lhe custou a prisão e o exílio na Europa. De volta ao Brasil, continuou produzindo ensaios, traduções e poemas. Sua produção de caráter modernista concentra-se em três livros publicados em 1925: Encantamento, Meu e Raça. Posteriormente adotou uma poética mais tradicional, o que deve ter contribuído para que fosse eleito Príncipe dos Poetas Brasileiros, em 1958, pelo Correio da Manhã.

Ano

Conteúdo Freqüência Proporção Freqüência Proporção Freqüência Proporção

Pais 17* 0,24 28* 0,34 34* 0,39 79 0,33 Mãe 32 0,44 24 0,29 29 0,34 85 0,35 Pai 2 0,03 1 0,01 0 0 3 0,01 Educador 14 0,19 13 0,16 18 0,21 45 0,19 Criança 7 0,1 7 0,08 0 0 14 0,06 Leitor em Geral 10 0,12 5 0,06 15 0,06 Total 72 1 83 1 86 1 241 1 Total Proporção

Nota: Os textos marcados com (*) foram considerados em duas categorias, por isso o total não é a soma dos textos publicados.

Fonte: Elaborada com base nas informações da revista Infância entre 1935-1937

1935 1936 1937

Tabela 1. Destinatários dos conteúdos da revista Infância nos anos de 1935-1937

Pela tabela acima constatamos que a quantidade de textos destinada às mães é a mais alta na soma de todos os anos, porém somente no primeiro ano representa o maior número de textos – 32 (0,44). No segundo ano são 24 (0,29) e no terceiro 29 textos (0,34). Nota-se, entretanto, que no segundo e no terceiro ano de publicação a quantidade de textos destinada aos pais (pai e mãe) é de 28 (0,34) e 34 (0,39), respectivamente, tendo os mais altos índices de textos. Porém, na soma geral, como verificamos, o número de textos para os pais é o segundo mais alto.

Aos pais (homens) foram dedicados somente três textos (0,012) durante os três anos de publicação, a menor quantidade no período. Destes, dois (0,03) foram publicados no primeiro ano e o texto restante (0,01) foi publicado no segundo ano.

Aos educadores foram destinados 45 textos (0,186), sendo 14 (0,19) no primeiro ano, 13 (0,16) no segundo e no terceiro ano chegou-se a um total de 18 textos (0,21).

Às crianças foram dedicados sete textos (0,01) no primeiro ano e sete (0,08) no segundo. No entanto, no terceiro ano não foi destinado nenhum texto ou jogo para esse público, totalizando 14 materiais (0,058) – textos e jogos especialmente para as crianças.

Notamos que houve uma significativa mudança no perfil dos textos publicados na revista Infância, principalmente em relação ao público infantil, que não foi contemplado no terceiro ano da revista.

No segundo e no terceiro ano da revista foram localizados textos que não se encaixaram nos grupos acima descritos e assim foram classificados como para os leitores em geral. Tais textos podem ser dedicados a pais, mães, educadores e interessados na educação infantil.

Diante dos dados apresentados, confirmamos que o principal destinatário da revista eram respectivamente as mães, os pais (pai e mãe) e os educadores, como descritos no texto de lançamento da revista. Tal resultado é esperado para a sociedade da época e público alvo da revista, na qual as mães da classe alta, eram as principais responsáveis pelos cuidados e educação das crianças. Cabe ressaltar, no entanto, que a quantidade de textos destinados a ambos os pais é a segunda maior, apesar de haver poucos textos destinados somente ao pai. Isso demonstra algumas idéias de vanguarda para a sociedade da época, como incluir o pai na tarefa de educação dos filhos.

As mães da classe alta, que em sua maioria não trabalhavam, eram incentivadas pela Cruzada a participar das ações de divulgação da educação e saúde entre as comunidades de classes baixas, que eram o principal público das atividades da entidade.

Outro aspecto a ser observado na revista são as propagandas nela presentes. Em geral são propagandas de produtos como geladeira, carro, seguro, banco, alimentos e medicamentos, como se pode observar na tabela em anexo. Tais propagandas confirmam que os leitores da revista pertenciam à

classe alta paulistana, tendo em vista que até hoje esses produtos não podem ser adquiridos por boa parte da população brasileira.

Podemos notar que alguns produtos foram anunciados na maior parte dos números. O Dr. Zuinglio Themudo Lessa7, um médico, anunciou os seus serviços em onze, dos dezoito números analisados. Provavelmente os anúncios faziam parte de um amplo acordo entre a Cruzada e seus anunciantes, para que não só fossem colaboradores da revista, mas também da organização como um todo.

Notamos que a composição da revista Infância teve características semelhantes em diversos números e algumas diferenças marcantes. A partir de agora passaremos a analisar alguns aspectos da revista. O primeiro deles será quanto à identificação dos autores de cada texto. Pode-se perceber pela tabela a seguir que no primeiro ano da revista a maioria dos textos não foi assinada. No entanto, já no segundo ano de publicação, apesar do decréscimo do número de textos por número da revista, houve uma inversão quando à assinatura dos textos, porque durante aquele ano a maioria dos textos foi assinada. No terceiro ano, mesmo havendo um decréscimo em relação ao

7Zuinglio Themudo Lessa (1909-1995). Nasceu em São Luis do Maranhão, filho de Vicente do Rego Lessa e Henriqueta Themudo. Cresceu vi ajando, devido ao trabalho missionário do pai, pastor presbiteriano, a quem acompanhou em algumas viagens. Formou-se em medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Em 1932, alistou-se como médico voluntário para a Revolução Constitucionalista. No dia 25 de junho de 1935, casou-se com Nilze Ferreira Themudo Lessa, com quem teve três filhos. Dedicou-se ao exercício da profissão tendo ocupado importantes cargos. Durante mais de 30 anos trabalhou no Hospital das Clínicas de São Paulo, chegando a chefe do Departamento de Radioterapia. Trabalhou por mais de 20 anos no Departamento de Radioterapia do Instituto Doutor Arnaldo Vieira de Carvalho, na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, onde também chegou a ocupar o cargo de chefe do Departamento de Radioterapia. Na segunda Guerra Mundial foi convocado para trabalhar no Hospital da Base Aérea do Campo de Marte. Chefiou o Departamento de Radioterapia do hospital Modelo, ao mesmo tempo em que trabalhava como funcionário público Estadual, no Setor de Radioterapia do INAMPS. No final da década de 30, foi o primeiro médico da cidade de São Paulo a possuir em seu consultório particular um aparelho de radioterapia importado dos Estados Unidos. Em 1989, aos 80 anos, aposentou-se do Hospital das Clínicas, continuando a trabalhar no INAMPS por mais 3 anos.

segundo ano nos textos assinados, eles continuaram sendo a maioria, dando maior credibilidade às idéias difundidas pela Cruzada.

Tabela 4. Autoria dos textos por ano

Ano 1935 1936 1937

Artigos Freqüência Proporção Freqüência Proporção Freqüência Proporção

Não Assinados 48 0,62 27 0,37 36 0,43

Assinados 30 0,38 45 0,63 47 0,57

Total 78 1,00 72 1,00 83 1,00

Fonte: Elaborada pela autora

Além de dar credibilidade às idéias e aos textos publicados, a identificação dos autores também pode ser um indicador de que a revista foi adquirindo credibilidade entre os profissionais de saúde da época, ou ainda que os autores se identificavam com os objetivos e idéias difundidos pela Cruzada.

Outro fator importante diz respeito à publicidade encontrada na revista. Quanto a isso percebe-se que houve um aumento na quantidade de propagandas veiculadas na revista, principalmente no terceiro ano. Outra característica é que em geral as propagandas são dos mesmos produtos, conforme pode ser notado numa tabela no final deste trabalho (Anexos 1 a 3). A tabela abaixo demonstra a presença da publicidade em cada número da revista referente a cada ano de publicação. Nela também incluímos a média anual de anúncios.

Tabela 5. Presença de Publicidade por ano da revista

Ano 1935 1936 1937

Freqüência Proporção Freqüência Proporção Freqüência Proporção

Média 16,2 0,25 15,6 0,20 22,3 0,16

Desvio Padrão 8,27 2,07 5,08

Total 65 1,00 78 1,00 134 1,00

Notamos por meio da tabela acima que a publicidade tinha um espaço razoável na revista e provavelmente era uma das maneiras de garantir lucro, divulgar a Cruzada e manter a revista. Também é interessante notar que no último ano de publicação da revista houve um aumento na quantidade de produtos anunciados, e mesmo assim a revista saiu de circulação.

Passaremos agora à análise do conteúdo dos textos publicados na revista, que será dividida em quatro partes de acordo com os seguintes assuntos: Saúde e Higiene, Educação, Aspectos Psicológicos do Desenvolvimento e Material para Crianças. Essa separação em assuntos também é importante na medida em que sabemos que a psicologia estava associada a ciências como educação e biologia (aqui tratadas como saúde e higiene). Esta análise constitui-se num importante aspecto do conhecimento da noção de infância presente nessa publicação, tendo em vista que ela será a nossa principal fonte de informações.

Para cada assunto analisado, existem textos de todos os anos da revista. Antes, porém, faremos uma análise da apresentação da revista em seu primeiro número, tendo em vista que é nesse texto que encontramos a declaração dos objetivos e do público-alvo da revista. A seguir abordaremos os assuntos mencionados acima.

A apresentação dos objetivos da revista, já apresentada anteriormente, e transcrita novamente a seguir, nos deixa bem informados a respeito da mesma e nos dá indícios dos temas a serem nela tratados. Vejamos:

“‘Infancia’ vem focalizar a vida e os problemas da criança. A novel revista procurará collaborar com os paes e educadores, contribuindo assim

para que, num porvir bem próximo, nos orgulhemos de possuir um povo mais sadio e mais culto”.

A preocupação com o futuro educacional e cultural da nação está bem clara nestas breves linhas de apresentação da revista, as quais se harmonizam com a hipótese da noção de infância. Tal preocupação continua a ser expressa na frase a seguir:

“... a Cruzada Pró-Infância lança esta revista de educação e de princípios básicos da criança, depois de avaliados os indices da mortalidade e morbidade infantis, do grande numero de menores delinqüentes e certificar-se de que as causas principaes dessas desgraças são a miséria e a ingnorancia”.

Mais uma vez, percebemos aqui que a educação é uma das principais preocupações da Cruzada e, portanto, também o será da revista.

Finalizando o texto, os editores explicam: “...esta revista não procura

auferir lucros commerciaes e sim difundir entre a população, cada vez mais, os ensinamentos e conselhos de technicos, especialistas nos vários assumptos que interessam a criança. Conseguir multiplicar o numero de leitores, levando a todos os rincões a palavra do educador e do scientista, eis nosso objectivo”

(Infancia, ano 1, nº 1, p. 2).

Como percebemos nessa apresentação da revista a preocupação principal é com que a informação seja científica e ao mesmo tempo prática e útil para a população em geral.

Outra informação interessante é que, em dois textos de apresentação do número, a revista inclui analogias com textos bíblicos, provavelmente por influência das crenças das fundadoras da Cruzada.

O texto de abertura do quarto número da revista é “A parábola do pae

pródigo”. Trata-se de uma paráfrase da parábola do filho pródigo relatada nos

evangelhos. Tal parábola coloca pai e filho em situação inversa à da parábola bíblica. “Havia um homem que tinha dois filhos e o menor delles lhe disse:

‘Pae, dá-me uma parte do teu tempo, da tua attenção, da tua companhia, e o conselho e a direcção que me cabem’. E o pae dividiu com elle seus bens, pagando-lhe suas contas, mandando-o a uma boa escola de preparatórios, a escola de dansas e à universidade, e julgou que, com isso, cumpria o seu dever de pae. (...) Quando cahiu em si, pensou (...) Irei a meu filho e lhe direi: ‘Filho, pequei contra o céu e contra ti, já não sou digno de ser chamado teu pae. Ai de mim! nem mesmo um de teus companheiros.’ Mas o filho respondeu: De maneira nenhuma. (...) é tarde demais. (...) Consegui então os conhecimentos e a companhia, mas eram ambos errados e, agora, – ai de mim! – sou um desgraçado na alma e no corpo e já não há mais nada que possas fazer por mim. É tarde demais, tarde demais!” (Infância, nº 4, p. 1).

Os extratos da parábola acima demonstram o valor atribuído à família e também ao papel do pai e revelam alguns aspectos sobre sua participação na educação dos filhos, tendo em vista que no período de publicação da revista a tarefa de educação dos filhos cabia principalmente à mãe. De uma maneira geral a revista publicava textos e opiniões com fundo moral e de valorização da família.

O texto inicial do segundo ano (oitavo número) é o último voltado exclusivamente ao pai. É intitulado “Os dez mandamentos de um pae”. Vejamos alguns extratos do texto:

“‘E a criança, falou, dizendo: Eu sou teu filho amado a quem trouxeste ao mundo, sem consultar-me. 1) Amarás a teu filho com todo o teu coração e não vacilarás em manifestar o teu interesse e carinho para com elle. Este, o mandamento primeiro e primordial. 2) Não farás para ti imagem de teu negócio (...). 3) Não tomarás em vão o nome de ‘pae’, porque Deus não terá por inocente aquele que considere de pouca importancia as responsabilidades da paternidade. 4) Dá atenção à parte do teu tempo que cabe ao teu filho (...). 5) Honra tua mulher, minha mãe, porque eu, teu filho a amo ternamente (...). 6) Aconselharás teu filho em tudo, e com ele compartilharás o segredo do teu coração. 7) Firme serás em tua disciplina (...). 8) Terás fé e confiança em teu filho e paciência (...) em todas as suas faltas. 9) Manterás um caminho recto perante os homens e tuas acções (...). 10) Não te esquecerás de que foste criança, nem tão pouco esquecerás que os tempos estão muito mudados, desde os dias em que eras joven ” (Infancia, ano 2, nº 8, s/p.).

Percebemos nesse texto de abertura do número uma analogia com a passagem bíblica dos Dez Mandamentos. As ordens dadas ao pai têm um teor forte e algumas vezes ameaçador. Isso nos mostra como era importante a idéia de que a criança deveria ser vista com seriedade e ser assunto de grande preocupação e dedicação por parte dos pais.

Agora que já temos algumas informações sobre os conteúdos que compõem a revista, passaremos a dividir a análise conforme descrevemos anteriormente.

Consideramos como pertencentes a esse grupo os textos que tratam de maneira direta sobre a saúde da mãe e da criança e ainda aqueles que pretendem didaticamente ensinar pais, mães e professores os princípios básicos de higiene. Estes textos foram em geral escritos por médicos sanitaristas, pediatras e educadoras sanitárias.

Percebemos que os textos refletem os objetivos da revista, já que tratam da saúde e da educação da criança. Textos publicados no primeiro ano da revista, como, por exemplo, “Hygiene da Criança”, “A Criança ao Ar Livre”, “Saúde”, “O Appetite do Bebê” e “Cardápio da Criança”, tratam da saúde da criança nos primeiros anos de vida. Dentre os textos citados acima, apenas “A criança ao Ar Livre” e “Saúde” são assinados. Dr. Itapema Alves e Myrianto ensinam as mães e a própria criança a terem boas práticas de saúde, principalmente de higiene, como podemos observar na seguinte afirmação: “...

a água é o factor primordial na hygiene geral. Banho nunca é demais” (Infância,

Ano 1, nº 1, p. 9). Já para as crianças Myrianto escreve: “Que quer dizer

saúde? Força para o homem, Belleza para a mulher. Força e Belleza, andam, de mãos dadas, com a Saúde. (...) A saúde, só gosta de morar em casas bem construídas, com paredes bem fortes, com alicerces bem firmes e resistentes” (Infância, Ano 1, nº 1, p. 10). Finalizando o mesmo texto, Myrianto escreve:

“Crianças:

Trabalhar para ser forte, é ser bom paulista, é ser patriota. Criança! Cumpre teu dever de bom paulista.

Sê forte!

A força de teu corpo, é uma parcella sobre a qual repousa a grandeza de tua terra.

Só os fortes luctam, só os fortes vencem. Sê um delles”. (Infância, Ano 1, nº 1, p. 9).

Notamos aqui que, além da preocupação com a saúde, a mensagem de patriotismo e força também permeia os textos da revista. Em “O Appetite do Bebê”, as informações são quanto ao uso da mamadeira e de como a má higienização pode causar transtornos gastrintestinais que podem até ocasionar a morte de crianças. Para finalizar o texto, a mensagem de “educação” também se faz presente: “Com um bebê bem acostumado, de cinco mezes, a mamãe

pode sustentar a mamadeira com a sua mão esquerda e com a outra tomar um

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