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2.3. PEGADA ECOLÓGICA

2.3.2. A metodologia

O procedimento de cálculo da metodologia PE é baseado na idéia de que para cada item de matéria ou energia consumida por um sistema, existe certa área de terra, em um ou mais ecossistemas, que é necessária para fornecer o fluxo destes recursos e absorver seus resíduos. Como não é possível estimar a demanda por área produtiva para fornecimento, manutenção e disposição de milhares de bens de consumo, os cálculos se restringem às categorias consideradas mais importantes e a alguns itens individuais (VAN BELLEN, 2004; WACKERNAGEL; REES, 1996).

Existem duas formas complementares de se calcular a PE, denominadas de abordagens

 Abordagem Compound:

O método de cálculo pela abordagem Compound é mais robusto e utiliza como referência de cálculo os fluxos de comércio e dados de energia. Seu cálculo é composto de três partes:

(1) Análise do consumo de 50 recursos bióticos (carne, frutas, produtos lácteos, etc), onde se adicionam aos itens produzidos (no local em estudo), os itens importados e subtraem-se os itens exportados. Essa quantidade é chamada de ‘consumo aparente’, que será dividida pela produção média global deste recurso biótico (que tem unidade de massa por área – kg/ha.), gerando uma área de terra necessária para aquele recurso.

(2) Análise do balanço de energia, considerando tanto a gerada localmente quanto a incorporada em produtos importados. Em ambos, transforma-se o consumo de energia de determinada fonte em área de terra.

(3) Nesta última parte, as áreas geradas nas etapas (1) e (2) são classificadas em seis categorias de terra (cultivável, pasto, floresta, oceano, energia e construída). O valor de cada categoria é multiplicado por um Fator de Equivalência (Equivalence Factor), que classifica a produtividade de cada categoria de terra. Somam-se os seis valores e obtém-se a PE total da região em estudo. Pode-se comparar esta PE total com a biocapacidade existente na região, que é calculada pela soma ponderada da área de cada categoria de terra existente pelo Fator de Rendimento (Yield Factor). O Fator de Rendimento serve para igualar a produtividade local de cada categoria de terra com a média mundial.

A fórmula da PE, através da abordagem Compound, pode ser apresentada da seguinte maneira (VAN BELLEN, 2004):

= × = n i i i i t Ip Pt Ct PE 1 Sendo:

PE = Pegada Ecológica (ha./per capita); Ct = Consumo total do produto (em kg); Pt = População total (hab);

Ip = Índice de produtividade (kg/ha.); t (subscrito) = total;

Buscando-se uma maneira mais científica de se apresentar esta fórmula, obteve-se a seguinte equação genérica (WIEDMANN; LENZEN, 2007):

Ω Ω− Ω Ω × = c y PE l kl k jk j j l ) 1 ( ) ( ... ' ε χα χ χ χ α α α Onde:

• PE’ = Pegada Ecológica (gha. ou ha.) de uma categoria específica; • εl(α)= Fator de equivalência para o tipo de terra;

y = Produtividade média global do produto (kg/gha);

• χ = Quantidade de produto (i-1) para produzir o produto (i) (kg/kg); •

α

= produto primário;

j = produto secundário;

k= produto terciário; • l = produto quaternário; • Ω = produto final;

c= Consumo do produto final.

A classificação de produtos em primário, secundário, terciário, quaternário e final é feita para distinguir os produtos gerados de um produto anterior. Para facilitar a compreensão desta classificação, Wiedmann e Lenzen (2007), utilizam o seguinte exemplo:

• Produto primário: Trigo;

• Produto secundário: Farinha de Trigo; • Produto terciário: Pão;

• Produto final: Fatias de pão utilizados em uma refeição, num restaurante.

 Abordagem Component:

Nesta abordagem os valores de PE para certas atividades são pré-calculados usando dados apropriados da região em consideração. O objeto de estudo (regiões, produtos, organizações, etc) será dividido em etapas, onde serão coletados dados específicos de cada uma. Utilizar-se- á novamente as categorias de terra propostas por Wackernagel e Rees (1996) em cada etapa, obtendo valores de PE específicos. Esses resultados serão somados, obtendo um resultado final de PE.

A principal diferença entre estas abordagens está na forma como os dados são obtidos. A abordagem Compound utiliza dados estatísticos de produção, importação, exportação e produtividade de diversas categorias de produtos. Já a abordagem Component utiliza dados de

fluxo de matéria e energia, ou seja, identifica produtos e serviços consumidos na área de estudo, calcula o consumo de recursos de cada componente (durante todo seu ciclo de vida), e então transforma e agrega estes itens em PE de uma certa unidade ou atividade. A escolha pela abordagem depende do escopo do estudo (FREY; HARRISON; BILLETT, 2006). Esta abordagem é a que mais se assemelha com a ACV.

Existem outras abordagens de cálculo da Pegada Ecológica sendo desenvolvidas, como a análise de entradas e saídas, ou input-output analysis (BICKNELL et al., 1998), além de propostas de algumas modificações na metodologia (CHEN; CHEN, 2007; LENZEN; MURRAY, 2001; LIU et al., 2008; NGUYEN; YAMAMOTO, 2007; ZHAO; LI; LI, 2005).

Observa-se pelos estudos já desenvolvidos que a abordagem Compound é mais utilizada para calcular a pegada ecológica de regiões (nações, cidades, etc). A abordagem Component possui maior flexibilidade, podendo ser utilizada para calcular a pegada ecológica tanto de regiões como de produtos.

As categorias de terra propostas inicialmente numa análise de PE são (CHAMBERS; SIMMONS; WACKERNAGEL, 2000; WACKERNAGEL; REES, 1996; WACKERNAGEL; YOUNT, 1998):

• Agricultura: plantações de frutas, vegetais e grãos; • Pastagem: pasto para pecuária – carne e leite;

• Floresta: Madeira e outras funções (proteção da biodiversidade, controle de erosão, etc.);

• Água/oceano;

• Área construída: Prédio, casas, rodovias, etc.;

• Área para energia: Seqüestro de carbono (para combustíveis fósseis) ou produção de energia a partir de biomassa.

Essas categorias são utilizadas em diversos estudos, no entanto, elas podem variar de acordo com o escopo e os objetivos do estudo. Van Der Werf et. al. (2007), em um estudo de produção agrícola, escolheu os seguintes itens:

• Área de terra necessária para produzir os insumos (fertilizantes, pesticidas, ração) que não eram gerados na própria fazenda;

• Área de terra para produzir energia (não renovável), utilizada na fazenda e em todas as etapas de produção e transporte de produtos;

• Área de terra necessária para seqüestro de carbono das emissões de gases de efeito estufa emitidos na fazenda e em todas as etapas de produção e transporte de produtos.

(VAN DER WERF et al., 2007)

Já num estudo de sustentabilidade do turismo da cidade de Florianópolis, utilizou-se as seguintes categorias de análise (ANDRADE, 2006):

• Consumo de gasolina automotiva; • Geração de resíduos;

• Consumo de energia elétrica; • Consumo de água;

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