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2.4 Participação: um elemento da descentralização na gestão de bacias hidrográficas

2.4.1 A metodologia da Pesquisa-ação

Para a qualificação da participação existe uma série de metodologias participativas, nas quais o indivíduo pode trazer para dentro de si a motivação para que assim possa posicionar-se diante de alguma problemática de forma pró-ativa e não apenas fatalista, reacionária ou ativista.

A função didática que ocorre com o advento da participação é fazer com que cada indivíduo seja cidadão e decomponha e analise a realidade, entre em contato com outros saberes e culturas e inicie um processo de transformação da realidade interior em busca da transformação da realidade externa.

A modalidade de metodologia participativa chamada por MICHEL THIOLLENT de Pesquisa-ação é descrita como

Um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo, no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 2005).

Alguns dos principais aspectos da pesquisa-ação sendo esta uma estratégia metodológica de pesquisa social são:

O Objetivo da pesquisa não é constituído pelas pessoas e sim pela problemática comum de diferentes naturezas que possam se apresentar no meio social e consiste em resolver ou ao menos esclarecer a problemática observada; há uma interação muito ampla e explícita entre todos os participantes sendo pesquisadores (moderadores) ou atores implicados no processo e desta interação resulta um consenso da prioridade dos problemas que serão analisados e culminarão em ações concretas; há durante todo o processo um acompanhamento das decisões e atividades intencionais por parte dos moderadores; a pesquisa não se limita a uma forma de ação, e, portanto, não é ativismo e sim pretende formar e capacitar os pesquisadores e os participantes mudando sua percepção da problemática e promovendo o diálogo de saberes.

No caso da pesquisa-ação existem três tipos de situações aonde esta pode ser empregada e a primeira citada pelo autor THIOLLENT é a mais adequada à situação da presente pesquisa que a descreve como sendo organizada para realizar os objetivos práticos (O Enquadramento) de um ator social homogêneo

(Comitê de gerenciamento de bacia hidrográfica) dispondo de suficiente autonomia para encomendar e controlar a pesquisa.

THIOLLENT descreve várias fases para a pesquisa-ação:

A fase exploratória: Definição do escopo do trabalho e diagnóstico preliminar da problemática, formação da equipe de trabalho e suas especificidades e organização da estrutura de financiamento do projeto. É preciso que haja respeito à situação social dos atores envolvidos na pesquisa-ação e que o diagnóstico contemple não só os problemas e as falhas, mas também as oportunidades e potencialidades daquela comunidade.

O tema da pesquisa: O tema deve ser definido como um problema de ordem prática a ser resolvido na área de conhecimento. Esse pode ser descritivo ou normativo, e o caso desta pesquisa se insere na segunda forma, a normativa, pois se trata da formulação de uma metodologia que visa auxiliar no processo da implementação do enquadramento na bacia.

A colocação dos problemas: Inserção do tema da pesquisa em uma problemática. Então na presente pesquisa o enquadramento é o tema e as problemáticas discutidas serão a sócio-ambiental, a metodológica, a legal ou normativa.

O lugar da teoria: É a busca da sedimentação da pesquisa através de teorias que contribuam e corroborem com o tema e as problemáticas escolhidas. Nas oficinas participativas deve haver um cuidado em mediar o conhecimento teórico e o empírico além de traduzir as teorias para melhor absorção pelos participantes.

Hipóteses: Podem ser escolhidas tanto hipóteses como uma forma mais suave, como as diretrizes, mas a falta destas pode deixar o trabalho confuso.

Seminário: A partir do momento em que há um consenso entre os pesquisadores e os participantes sobre os objetivos e os problemas a serem abordados, inicia-se uma fase principal que é chamada de seminários, na qual se pode examinar, discutir e tomar decisões sobre o tema investigado.

Campo de observação, amostragem e representatividade qualitativa: O campo de observação são as áreas geográficas, geológicas ou sociais escolhidas para se trabalhar o tema pesquisado. Quando o campo de observação é abrangente pode-se escolher realizar uma amostragem qualitativa ou representativa e

quantitativa. Essas amostras são regidas quando quantitativas pela estatística, e qualitativas por fatores e critérios de relevância em relação ao tema.

Coleta de dados: Sob controle do seminário central, os participantes e pesquisadores recolhem informações acerca do tema que podem ser recolhidas de diversas formas, tais como: questionários, entrevistas abertas ou dirigidas, explicações e falas extras (que podem enriquecer o trabalho).

Aprendizagem: Essa é a fase cognitiva da pesquisa-ação que é ativada ou iniciada pelo processo investigatório e o envolvimento na coleta de dados e se estabelece uma “estrutura de aprendizagem conjunta”, na qual o papel dos especialistas é “facilitar a aprendizagem dos participantes de diferentes maneiras" (ORTSMAN, 1978: 233).

Saber formal e saber informal: Conhecida como o diálogo de saberes (SILVA, 1998), visa a facilitar a comunicação entre todo o grupo, considerando especialistas e participantes que devem conseguir trocar informações de maneira aberta e desarmada para buscar produzir resultados. A sociolingüística e a transdisciplinaridade, entre outras matérias e teorias, podem auxiliar neste processo. Plano de ação: É a definição dos passos metodológicos que serão adotados na pesquisa, como a definição dos atores ou intervenientes, a relação entre os intervenientes, sobre quem toma as decisões, e quais são os objetivos tangíveis da pesquisa e como esta será avaliada. Também podem ser descritas as limitações e oportunidades do trabalho e as formas de assegurar a participação na pesquisa.

Divulgação externa: É a fase da divulgação do projeto, de seus resultados e do tema para os intervenientes do campo de observação e também para a população de forma geral. Meios de comunicação podem servir a esse propósito, assim como é importante que relatórios sejam produzidos e disponibilizados para prováveis futuros pesquisadores e técnicos.