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A presente proposta de pesquisa caracterizou-se como uma pesquisa descritiva- explicativa. Isto porque além de pretender descrever as características de determinada população e a relação entre a deficiência e as condições de trabalho, “têm como preocupação central identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos” (GOULART, 2002, p. 162). Neste caso, especificamente, a relação entre: readaptação funcional e deficiência, acessibilidade, permanência, condições e organização do trabalho.

Em relação aos métodos, técnicas e instrumentos utilizados, é necessário reiterar que o campo teórico e prático da saúde do trabalhador possui várias vertentes metodológicas. Porém, algumas delas convergem, na medida em que consideram o trabalho como categoria principal na análise do adoecimento e do sofrimento dos trabalhadores.

Consideramos coerente para o estudo a perspectiva introduzida por Le Guillant, caracterizada por uma metodologia pluridimensional (LIMA, 2002; LE GUILLANT, 2006), e que se baseia “na busca de informações, através de todos os instrumentos disponíveis: observações, questionários e entrevistas” (LIMA, 2002, p. 62). Assim, no intento de produzir um saber mais coerente e abrangente, faz-se necessário buscar a integração do conhecimento das condições e da organização do trabalho à história de vida do sujeito trabalhador.

Para a consecução desta dissertação foram realizados dois estudos de caso, com dois professores de matemática que estão em readaptação funcional e vivenciam dificuldades no contexto de trabalho. Todos os nomes utilizados são fictícios.

Quadro 2 - Caracterização dos entrevistados para a composição do estudo de caso

Entrevistado Idade

Tempo de experiência como

professor

Motivo da readaptação funcional

Ano da readaptação

funcional

Conceição 47 20

Poliartrite reumatoide com deformidades importantes em mãos e pés – início aos 18

anos

2006

Cláudio 52 30 Retinopatia proliferativa isquêmica com

edema macular – início aos 25 anos 1998

A escolha de professores justifica-se porque, historicamente, na PBH, essa é a categoria mais representativa em termos de quantidade de readaptações funcionais, considerando que também representa um quantitativo maior de servidores públicos municipais. Segundo dados recentes da Secretaria Municipal de Educação (2013), há, aproximadamente, 10.800 professores na rede pública, sendo que, o número de laudos de readaptação funcional (1.000) representa um percentual de 9,26% desse contingente profissional. Importa-nos, nesse sentido, entender em que condições de trabalho atuam os professores que se encontram readaptados.

Além dos dois professores em readaptação funcional, entrevistamos também, ao longo do ano de 2012, dois médicos e uma assistente social dos serviços de Saúde e Segurança do Trabalho, um diretor, um vice-diretor, três coordenadores (etapa/turno), dois professores em exercício, dois professores em readaptação funcional, todos eles colegas de trabalho dos professores que entrevistamos para compor os estudos de caso.

Quadro 3 - Caracterização dos entrevistados

Entrevistado (nomes fictícios) Idade Tempo na função (em anos)

Médico do Trabalho: Lílian 50 18

Médico do Trabalho: Jandira 33 7

Médico da Cardiologia: Jane 47 17

Psicóloga: Áurea 48 9

Assistente Social: Cecília 54 5

Enfermeira do Trabalho: Glícia 43 17

Administradora: Diná 31 3

Enfermeira do trabalho: Hercília 49 20

Fonoaudióloga: Sofia 39 9 Diretor: Jefferson 49 3 Coordenadora 1: Ângela 42 8 Ex-diretora: Regina 46 4 Coordenadora 2: Bárbara 39 16 Coordenadora 3: Beatriz 45 3 Professora 1: Ana 25 1

Médico da Ortopedia: André 36 2

Professora 2: Dora 46 18

Médica da Psiquiatria: Vitória 39 10

Professora em readaptação funcional 1: Alice 26 4

Professora em readaptação funcional 2: Clotilde 46 15 Fonte: Dados de Pesquisa (2012)

Os sujeitos de pesquisa foram convidados a participar de entrevistas livres. Optamos pela utilização de entrevistas livres, por se tratar de uma técnica que visa proporcionar maior liberdade ao entrevistado para abordar assuntos pertinentes a um

dado fenômeno, fato ou situação, além de permitir ao pesquisador um aprofundamento das informações que lhe são fornecidas. Além disso, uma das vantagens desse tipo de entrevista é a de viabilizar a investigação dos significados atribuídos pelos entrevistados a certos fatos, situações e/ou comportamentos, numa sequência que não é pré- estabelecida, mas que atende às “preocupações e ênfases que os entrevistados dão aos assuntos em pauta” (MINAYO, 1994, p. 122).

No estudo que propomos, a distinção entre o trabalho prescrito e o trabalho real, já bem conhecida no campo da análise do trabalho (GUÉRIN et. al., 2001), é um ponto de partida para pensar a realidade dos servidores municipais, sobretudo, daqueles que foram readaptados. Dessa forma, ao se analisar o trabalho deve-se levar em conta aquilo que os indivíduos fazem efetivamente para responder às exigências prescritas e às variabilidades que se apresentam nas situações reais de trabalho (GUÉRIN et. al, 2001). Nessa perspectiva, Lima (1997) chama atenção, ainda, para o fato de que a análise da organização do trabalho não pode ser negligenciada, uma vez que “quando estamos tratando da organização do trabalho, o que está subjacente é a definição da vida de cada um dos indivíduos” (LIMA, 1997, p. 172). Nesse sentido, destacamos, conforme Assunção (2003), a importância de superar os obstáculos arraigados no senso comum e nas visões de mundo hegemônicas, para compreendermos o comportamento no trabalho através dos “olhos” dos trabalhadores.

Entretanto, acreditamos que as reflexões da Ergologia e da Clínica da Atividade podem nos auxiliar a ir além, percebendo também os debates de normas e valores e as dramáticas dos usos de si (SCHWARTZ, 2010) que se estabelecem nas situações concretas de trabalho e as atividades impedidas (CLOT, 2010) que dão origem a diferentes conflitos subjetivos experimentados pelos sujeitos.

A pesquisa bibliográfica e documental foi integrada ao processo de pesquisa,

em razão da necessidade de aprofundar o conhecimento a respeito do tema,escapando dos reducionismos e simplificações. Deste modo, o estudo da regulamentação e da condição do trabalho e do trabalhador aliado à análise da concretude do trabalho foi necessário nessa perspectiva.

Realizamos 10 entrevistas com os professores, perfazendo um total de aproximadamente 14 horas durante os anos de 2011 e 2012. Foram 08 entrevistas com a professora Conceição: 6 foram realizadas em 2011 e 2 em 2012, totalizando cerca de 10 horas.

Com o professor Cláudio, foram realizadas 1 entrevista em 2011, e 1 entrevista no inicio de 2012 que totalizaram cerca de 4 horas. Em 2012, não nos foi possível entrevistar mais vezes o professor Cláudio, que se encontra em licença médica, em tratamento de saúde e com possibilidade de submeter-se a uma cirurgia ortopédica. Ao final do ano de 2011, entre final de novembro e inicio de dezembro, fomos procurados pelo professor de matemática em readaptação funcional, Cláudio, que, sabendo do estudo e do acompanhamento que estávamos realizando juntamente à professora Conceição, solicitou-nos ser também ouvido por nós, desejando contar sua história e trajetória na escola municipal, revelando existir toda uma gama de situações e dramas pessoais que não desejava guardar somente para si. Sua solicitação foi, não somente, acatada por nós, como também incluímos esse professor de matemática, com uma história de readaptação definitiva, em nosso estudo.

Nos capítulos seguintes, apresentamos dois estudos de casos de trabalhadores que passaram pela readaptação funcional, a fim de compreender melhor as nuances desse processo, bem como seus desdobramentos sobre a subjetividade e saúde desses sujeitos.

CAPÍTULOIV-O CASO DE CONCEIÇÃO: “VOCÊ PASSA A SER TÃO