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6. Projeto 2 – Perspetiva dos Utentes sobre o uso de Medicamentos Genéricos

6.3. Metodologia

De forma a satisfazer os objetivos propostos, foi criado um questionário (Anexo 3) adaptado do conjunto de 4 questionários já existentes e validados - (32) (43) (44) (34). O inquérito foi divulgado em várias plataformas digitais através da plataforma GoogleForms, uma vez que não podia ser realizado pessoalmente, no contexto de pandemia. Esta plataforma permitiu a análise percentual dos resultados, automaticamente. Não foi verificada a significância estatística dos mesmos.

Foram preenchidos 45 questionários e tendo em conta a quantidade de respostas, os resultados serão analisados em número relativo.

6.4. Resultados e Discussão

No anexo podem ser consultadas todas as perguntas presentes no questionário (Anexo 3) e também todos os resultados obtidos em análise percentual (Anexo 4).

A distribuição etária dos inquiridos foi semelhante entre os 25 e os 65 anos. Contudo, aproximadamente metade dos inquiridos (22/45) correspondem à faixa etária mais jovem (<25 anos) e apenas 1 resposta corresponde à faixa etária mais envelhecida (>65 anos). Tendo em conta que o questionário foi realizado apenas em formato online, é natural que se verifique uma maior aderência das faixas etárias mais jovens. A distribuição dos sexos foi praticamente igual, havendo um número ligeiramente maior de inquiridos do sexo feminino.

Relativamente ao conhecimento dos medicamentos genéricos por parte da amostra, logo com a primeira pergunta do questionário, ficou claro que 100% dos inquiridos reconhecem estar informados sobre o termo MG, contudo isto não significa que saibam efetivamente o que são MG. O primeiro conjunto de questões encontra-se dividido em 3 conceitos diferentes: equivalência, substituição e disponibilidade. No que toca à equivalência, mais de metade dos inquiridos concorda que os medicamentos genéricos são equivalentes aos medicamentos de referência em composição e em teor de substâncias ativas, 31/45 (Figura 2) e 26/45 (Figura 3) respetivamente. Contudo, é importante salientar que todos os inquiridos responderam que sabiam o que eram medicamentos genéricos e, ainda assim, 8 dos inquiridos discordam quando abordados sobre a sua equivalência. Estes dados são concordantes com a experiência que tive em contexto de atendimento, durante o meu estágio. Muitos utentes, quando questionados

sobre a preferência entre MG ou MR, embora demonstrassem preferência pelos MG perguntavam, em tom de confirmação, se estes eram efetivamente “iguais”.

Figura 2. Resultados relativos à perceção dos utentes da equivalência em composição de substâncias ativas dos medicamentos genéricos (%).

Figura 3. Resultados relativos à perceção dos utentes da equivalência em teor de substâncias ativas dos medicamentos genéricos (%).

Por um lado, é notório que quase todos os inquiridos, 42/45, está familiarizado com possibilidade de substituição de um medicamento de referência por um medicamento genérico. Ainda assim, como na situação anterior, um dos inquiridos admite não ter conhecimento desta realidade. Por outro lado, 24/45 inquiridos admite ficar confuso quando na farmácia lhe informam que existem vários medicamentos com a mesma substância ativa (Figura 4). Isto indica que embora a população esteja mais consciente para esta prática, ainda apresenta muitas dificuldades em compreender a sua verdadeira aplicabilidade. Em contexto de atendimento, pude verificar que os utentes não entendem muito bem os motivos que lhes permitem optar por um MR ou MG.

Figura 4. Resultados relativos à perceção dos utentes sobre a substituição de medicamentos de referência por medicamentos genéricos (%).

Em relação à disponibilidade de MG no mercado português, 14/45 inquiridos julga existirem MG para todos os medicamentos de referência, enquanto apena 21/45 reconhece que efetivamente esta não é uma realidade.

Por outro lado, os inquiridos foram questionados sobre os motivos que os levam a escolher um determinado medicamento, de forma a entender os fatores que influenciam a preferência dos utentes. Os resultados podem ser analisados através da Figura 5. Observando estes dados, pode-se verificar que o principal fator recai na prescrição médica, sendo que todos os inquiridos indicaram que a sua compra é sempre influenciada pelo médico. Contudo, existem outros fatores importantes de ressalvar, como é o caso de os inquiridos darem preferência ao uso de um medicamento com o qual já tiveram experiência e o facto de que apenas metade dos inquiridos tem o preço do medicamento em consideração. Estes resultados são concordantes com a minha experiência durante o estágio. Várias vezes, quando questionava os utentes sobre a sua preferência, eles diziam que queriam comprar o medicamento que o médico prescreveu, mesmo a prescrição sendo feita por DCI. Na maioria das vezes, após informar os utentes de que tinham o direito de opção, estes preferiam optar pelo MR ao invés do MG porque acreditavam que o médico preferia o MR. Estes dados são concordantes com estudos anteriores, que indicam que a informação transmitida pelo médico corresponde ao fator que mais influencia a decisão do utente (34).

Figura 5. Resultados relativos aos fatores que influenciam a escolha de um medicamento (%).

Numa outra secção do questionário, foi usada uma escala de 5 pontos de resposta, desde “Concordo Totalmente” até “Discordo Totalmente” para uma melhor perceção da opinião dos inquiridos. Por conseguinte, no que diz respeito às preferências dos utentes, a maioria dos inquiridos concorda que a decisão de compra deve ser da sua responsabilidade, sendo que autorizam a substituição do medicamento de referência por um MG. Por outro lado, verifica-se que as questões de qualidade, eficácia e segurança são os aspetos que causam mais dúvidas na amostra, verificando-se uma grande percentagem de respostas inconclusivas (Neutras). Contudo, cerca de um quarto dos inquiridos reconhece que os medicamentos genéricos são igualmente eficazes e seguros, verificado pelo facto de que a gravidade da doença não afeta a substituição por um MG. Relativamente à questão monetária, cerca de metade dos inquiridos admite que esta é uma questão relevante no momento de compra de um medicamento, mostrando preferência por medicamentos mais acessíveis, sendo que na sua maioria compreendem que os MG têm um custo mais reduzido, admitindo que o uso de MG acarreta uma poupança significativa nas suas despesas com medicação. Durante o meu estágio, pode constatar que muitos utentes optam efetivamente pelo medicamento mais barato disponível no mercado, mas quando não se verifica uma poupança significativa, acabam por preferir o MR, indicando assim, que ainda existe um preconceito associado aos MG. Quer isto dizer que os utentes acreditam que o seu uso só se justifica quando acompanhado de uma poupança significativa. Por outro lado, pode-se verificar que quando o preço é realmente mais baixo em relação ao medicamento de referência, os utentes apresentam mais desconfiança quanto à sua eficácia – “por esse preço vai fazer alguma coisa?”.

Numa última análise, julguei pertinente avaliar as preferências dos utentes de MG mais conhecidos pela população, como é o caso do paracetamol e do ibuprofeno. Os resultados indicam que 27/45 prefere comprar paracetamol e 33/45 prefere comprar ibuprofeno, em comparação com o Ben-u-ron e Brufen, respetivamente (Figura 6). Esta discrepância de valores pode ser justificada pela diferença de preço, uma vez que, em termos de custos, o ibuprofeno apresenta uma maior percentagem de poupança em comparação com o medicamento de referência, ao invés do paracetamol que apresenta preços mais semelhantes com o medicamento de referência. Deste modo, podemos dizer que quando não se verifica uma poupança significativa, os utentes continuam a preferir os medicamentos de referência.

Figura 6. Resultados relativos à preferência de compra do utente (%).

6.5. Conclusão

Em concordância com os resultados que obtive, estudos anteriores indicam que os principais fatores de barreira ao uso de MG são relativos aos conceitos de qualidade, eficácia e segurança. Tendo em conta o conhecimento e toda a legislação acerca deste assunto, estas continuam a ser questões sem fundamento, uma vez que o Infarmed assegura o cumprimento de todos estes parâmetros através dos seus programas de

farmacovigilância e vigilância terapêutica, desta forma garantindo a qualidade no decorrer de todo o percurso do medicamento.

Como se conseguiu verificar, é evidente que os utentes têm conhecimento sobre a existência dos MG e que estes representam uma poupança nas suas despesas em saúde. Por um lado, os utentes precisam de mais informação para que possam confiar e acreditar de que os MG e os MR são bioequivalentes e, portanto, igualmente seguros e eficazes. Por outro, devem ter conhecimento de que a poupança obtida com o uso de MG não os favorece só a eles, mas a todo o sistema de saúde (34). Desta forma, em concordância com os resultados obtidos, estudos anteriores indicam que as recomendações do médico são um dos aspetos com mais influência na escolha de MG. Quer isto dizer que a passagem de conhecimento e informação sobre este assunto, deve começar no consultório, com recomendações por parte dos médicos e continuar nas farmácias comunitárias, por parte dos farmacêuticos (34).

Em suma, um aspeto importante a referir é que as dúvidas que surgem associadas ao uso de MG são muitas vezes provocadas pela falta de conhecimento sobre o tema. Embora os utentes julguem ter conhecimento sobre os MG é de extrema importância fornecer mais informações e aumentar a literacia em saúde sobre esta classe de medicamentos, para que os utentes tenham a capacidade de tomar decisões mais consciencializadas e informadas.

7.

Projeto 3 – Fidelização em Farmácia Comunitária

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