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Esta investigação foi conduzida no âmbito da Rede Municipal de Educação de Salvador. Conjuga uma perspectiva quantitativa, utilizando-se do banco de dados da Secretaria de Educação Cultura Esporte e Lazer (SECULT), contendo algumas variáveis demográficas e escolares, com uma perspectiva qualitativa de caráter amostral, complementando-se. Esta abordagem teve como amparo teórico as análises de Gamboa (1997), ao afirmar que qualidade e quantidade não podem ser pensadas separadamente, visto que os dados qualitativos, não sendo a priori altamente falíveis, consistem no fundamento geral da medida quantitativa. Os dados quantitativos pressupõem os qualitativos.

O caminho percorrido para responder a questão aqui formulada, foi dado pelo tipo de objeto e não o contrário, na qual, conforme Gamboa (2009), o risco que se corre quando o caminho ganha destaque é de descaracterização do objeto. A compreensão da pesquisa neste trabalho coaduna com a perspectiva defendida pelos autores supracitados ao concordar que

[...] pesquisador não é axiologicamente neutro; como cidadão de uma determinada sociedade, como ser político, como homem de sua época e também como sujeito da história, deve ter consciência clara dos interesses que comandam seu fazer investigativo”. (GAMBOA, 2009, p.22)

Desse modo, o objetivo último da pesquisa é a transformação da realidade social e o melhoramento da vida dos sujeitos imersos nesta realidade. (GAMBOA, 2009, p.29)

4.1 Campo de investigação

O campo de investigação escolhido para realização da coleta de dados qualitativos foram as turmas do Primeiro Segmento da Educação de Jovens e Adultos (SEJA I) (equivalente à conclusão do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental). Para analisar os dados quantitativos, optou-se pelas informações referentes ao fluxo escolar nos dois semestres letivos de 2009.

No ano de 2009, a modalidade da Educação de Jovens e Adultos na RME de Salvador foi ofertada em média por 210 escolas, sendo que destas, 180 ofertaram o SEJA I e 30 ofertaram o SEJA II. Estas unidades estão organizadas em 11 Coordenarias Regionais de Educação, a saber: Centro, Cidade Baixa, São Caetano , Liberdade, Orla, Itapuã, Cabula, Pirajá , Cajazeiras, Subúrbio I e Subúrbio II.

4.2 Instrumentos de coleta de dados

Os dados quantitativos foram disponibilizados pelo Núcleo de Gestão de Informática (NGI). Este banco é alimentado através de um sistema de matrícula pelas Unidades Escolares, no qual é gerenciado pelas subcoordenadorias de Matrícula e de Informática. Desse modo, as análises quantitativas ficaram condicionadas à existência de variáveis no referido banco, no que diz respeito à situação final dos educandos nos semestres letivos de 2009, com as variáveis:

Sexo; Idade;

Turma (estágio de matrícula); Cor.

O segundo instrumento de coleta de dados na perspectiva qualitativa foi um roteiro de entrevista semiestruturada, para orientar a interação com os grupos focais. Este roteiro foi elaborado com questões julgadas viáveis e pertinentes para problematizar a investigação.

Gondini (2002) faz uma importante discussão sobre a técnica de pesquisa de grupos focais. Para a autora, grupo focal é uma técnica que coleta dados por meio das interações grupais, ao se discutir um tópico especial sugerido pelo pesquisador, ou ainda um recurso para compreender o processo de construção das percepções, atitudes e representações sociais de grupos humanos.

Na realização das entrevistas em campo o pesquisador, conforme Gondini (2002, p. 2), "assume uma posição de facilitador do processo de discussão, e sua ênfase está nos processos psicossociais que emergem, ou seja, no jogo de interinfluências da formação de opiniões sobre um determinado tema”.

4.3 Os sujeitos, procedimentos de coleta e de análise

Conforme explicitado anteriormente, não houve aplicação de instrumentos para coleta de dados quantitativos, uma vez que estes já foram coletados e disponibilizados pelo NGI da SECULT. Para análise dos dados quantitativos foi utilizado o Statistical Packard of Social Sciences (SPSS) e adotado o procedimento de análises descritivas.

Com base nos dados quantitativos referentes às taxas de abandono das Unidades Escolares nos semestres de 2009, e com o auxílio do SPSS, foi realizado um cálculo para definir três parâmetros de classificação das Unidades Escolares (UE). Escolas que apresentaram taxas até 14,8% foram classificadas como BAIXA taxa de abandono, de 14,9% à 29,6% MÉDIA taxa de abandono e acima de 29,7% ALTA taxa de abandono.

É importante destacar que no universo das UE consideradas na pesquisa para cálculo da média, foram consideradas apenas 98 escolas por estas apresentarem as mesmas taxas nos dois semestres de 2009, conforme tabela a seguir:

Tabela 1. Distribuição em percentual de escolas por faixa de abandono

Fonte: SECULT/Tabela elaborada pelo autor

A partir deste cálculo foram selecionadas quatro UE para realização das entrevistas com grupos focais. O primeiro grupo composto por 24 educandos de escola de baixa taxa de abandono, o segundo grupo composto por 13 educandos de escola de média taxa de abandono, o terceiro composto por 54 educandos também de uma escola de média taxa de abandono, e o quarto grupo composto por 16 educandos de uma escola com alta taxa de abandono, todos matriculados em 2010 que permanecem ou abandonaram os semestres letivos de 2009.

Nível de abandono Faixa de % Quantidade de escolas

Baixa 0 - 14,8 09

Média 14,9 - 29,6 71

Alta 29,7 e mais 18

Os encontros foram agendados com os grupos antecipadamente. As entrevistas foram precedidas de um vídeo que abordava a problemática do abandono, no intuito de fomentar a discussão, e, em seguida foi utilizado o roteiro de entrevista com questões direcionadas para o coletivo, por meio de registro de imagens e áudio com prévia autorização.

A partir das análises dos dados quantitativos e do planejamento dos grupos focais, realizou-se entrevista com o gestor da unidade escolar a ser pesquisada. Por isso, com o intuito de identificar a concepção de abandono utilizada para declarar no sistema a situação do educando no final do semestre letivo, bem como as ações com foco na permanência, realizou- se uma entrevista com roteiro de perguntas abertas com gestores de seis UE, classificadas pelas letras A, B, C, D, E e F. Para Gondini (2002, p.5), a “utilização de grupos focais em sequência às entrevistas individuais, por exemplo, facilita a avaliação do confronto de opiniões, já que se tem maior clareza do que as pessoas isoladamente pensam sobre um tema específico.”

As variáveis disponíveis no banco de dados serviram para traçar um panorama analítico do abandono e da permanência. Para os dados qualitativos foi adotado o procedimento de análise de conteúdo como modalidade de interpretação, seguindo a ideia de construção dialética de uma explicação. É importante destacar que o produto final tem um caráter provisório e aproximativo (MINAYO, 1994), sem perder de vista princípios éticos, que são pré-requisitos indispensáveis às pesquisas.

Os dados quantitativos e qualitativos foram analisados a partir da categoria contradição, expressos na relação abandono/permanência, organizadas com base nos seguintes indicadores:

 Dados quantitativos – perfil dos alfabetizandos que abandonam

INDICADORES DO ABANDONO – Análise contextual: condições de subsistência, situação educacional, ocupacional, contexto familiar.

 Dados qualitativos – análise das estratégias

INDICADORES DA PERMANÊNCIA – Definição e categorização das estratégias; inter-relações com os educandos que abandonam e dos que permanecem no processo de formação, continuidade no processo formativo.

CAPÍTULO V