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A pesquisa empírica surgiu no presente trabalho como forma de aprofundar os conhecimentos sobre o sujeito que se busca conhecer e (ela) é justificada pela complementação que a metodologia quantitativa presta para confirmação (ou não) das informações encontradas na pesquisa qualitativa, sendo o início de uma fase exploratória da investigação para, através da triangulação de métodos, obter as respostas, pois, conforme FLICK (2009):

A triangulação [...] significa a combinação entre diversos métodos qualitativos [...], mas também a combinação entre métodos qualitativos e quantitativos. Neste caso, as diferentes perspectivas metodológicas complementam-se para a análise de um tema, sendo este processo compreendido como a compensação complementar das deficiências e dos pontos obscuros de cada método isolado. A base desta concepção é o insight lentamente estabelecido de que “métodos qualitativos e quantitativos devem ser vistos como campos complementares, e não rivais” (Jick, 1983, p. 35). (FLICK, 2009, p.43).

Assim, é determinação da presente pesquisa que a coleta de dados e sua posterior análise estejam articuladas com as demais fontes de informações, e também embasada em uma teoria que lhes dê sustentação, para que se possa obter como resultado dessa inter-relação de subsídios o mais fiel retrato do objeto de estudo e diante disso, se está ciente de que “A pesquisa que emprega a triangulação como alternativa metodológica demanda tempo, inserção paciente e demorada no contexto empírico e cuidadoso trato teórico do material investigado.” (FERREIRA, SCHIMANSKI, BOURGUIGNON, 2012, p.148).

A triangulação também é justificada pela aplicação do método de análise de conjuntura empregado no Capítulo 2, e é utilizado para trazer para o presente trabalho

uma síntese do cenário criado com a promulgação da Lei n. 12.619/2012, vinculando ações do passado aos principais atores e aos aspectos sociais, econômicos e políticos que tornaram o tema tão relevante para o momento atual.

Além disso, o presente trabalho caracteriza-se por ser um estudo de caso dos motoristas empregados no transporte de carga especificamente do município de Ponta Grossa, e é justificado pela importância desses profissionais para o município, conforme verificado nos capítulos anteriores e também porque esses profissionais, ao percorrem todo o território brasileiro, levam para todos os rincões do país seus hábitos, suas crenças, numa interação constante das partes com o todo.

Robert K. Yin (2010) destaca:

Como método de pesquisa, o estudo de caso é usado em muitas situações, para contribuir ao nosso conhecimento dos fenômenos individuais, grupais, organizacionais, sociais, políticos e relacionados.

[...] Em resumo, o método do estudo de caso permite que os investigadores retenham as características holísticas e significativas dos eventos da vida real – como os ciclos individuais da vida, o comportamento dos pequenos grupos, os processos organizacionais e administrativos [...] (YIN, 2010, p.24).

Na sequência, Robert K. Yin (2010, p.29) apresenta uma tabela (Figura 4.1) que auxilia o pesquisador na tomada de decisão sobre o método a ser empregado, a qual foi um dos aspectos que influenciaram na opção pelo presente estudo de caso:

Figura 4.1 – Situações para diferentes métodos de pesquisa

Método (I) Forma de questão de pesquisa (2) Exige controle dos eventos comportamentais (3) Enforca eventos contemporâneos

Experimento Como, por quê? Sim Sim

Levantamento

(survey) Quem, o quê, onde, quantos, quanto? Não Sim

Análise de arquivos Quem, o quê, onde, quantos,

quanto? Não Sim/não

Pequisa histórica Como, por quê? Não Não

Estudo de caso Como, por quê? Não Sim

No mesmo sentido, Antonio Carlos Frasson e Constantino Ribeiro de Oliveira Junior (2009) manifestam-se sobre o estudo de caso no sentido de que:

O pesquisador não tem a possibilidade de intervir sobre a situação estudada, mas sim proporcionar o conhecimento tal qual ela lhe surge. Além disso, essa situação ajuda a gerar novas teorias e questões visando uma futura investigação. (FRASSON, OLIVEIRA JUNIOR, 2009, p.90).

Apesar do questionário proposto para a presente pesquisa responder questões mais abrangentes, prendeu-se, sobretudo, na identificação das atuais condições de trabalho do profissional empregado no transporte de carga de Ponta Grossa, mormente a motivação para o cumprimento de extensivas jornadas de trabalho, além de verificar o atendimento às prescrições contidas na Lei n. 12.619/2012 e, aproveitando o contato direto com esse profissional, questões adicionais foram incluídas, tais como o “porquê” que os motoristas consomem substância psicoativas, dentre outras questões abertas ligadas a escolha pela profissão ou formas de comportamento diante das exigências dos detentores do poder de decisão do capital.

Citando ainda Yin (2010):

Uma observação importante é que o método de estudo de caso não é apenas uma forma de “pesquisa qualitativa”, mesmo que possa ser reconhecida entre a variedade de opções da pesquisa qualitativa (por exemplo, Creswell, 2007). Alguma pesquisa de estudo de caso vai além de um tipo de pesquisa qualitativa, usando uma mistura de evidência quantitativa e qualitativa. Além disso, os estudos de caso não precisam sempre incluir a evidência observacional direta e detalhada marcada pelas outras formas de “pesquisa qualitativa”. (Yin, 2010, p.49).

Por fim, ao identificar as condições socioeconômicas do motorista profissional de transporte de carga, por meio de uma pesquisa exploratória e experimental como parte de um estudo de caso, também buscou-se “testar hipóteses a respeito da natureza da realidade social, mesmo aquelas que parecem lógicas e evidentes por si mesmas” (LEVIN, FOX, FORDE, 2012, p.9), evitando assim, simplesmente aceitar como verdadeiras as informações que se veiculam diariamente, ou que o preconceito estabelece, e de tal modo, ultrapassar o senso comum e trazer ao conhecimento da comunidade ponta-grossense a concretude daquilo que muitas vezes só é observado

abstratamente.

Sobre a pesquisa exploratória, Herivelto Moreira e Luiz Gonzaga Caleffe (2008) trazem a seguinte explicação:

Gil (1994) define a pesquisa exploratória como a que tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, com vistas à formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. Os exemplos mais comuns são os levantamentos bibliográficos e documentais, entrevistas não padronizadas e estudos de caso. Procedimentos de amostragem e técnicas quantitativas de coleta de dados não são costumeiramente aplicados nessas pesquisas. (CALEFFE; MOREIRA, 2008, p.69).

Apesar da observação na última frase da citação acima, o levantamento de dados no presente trabalho vem corroborar com a triangulação de métodos e, nesse sentido, Yin (2010) explica que:

[...] Os estudos de casos integrados contam com estratégias mais holísticas de coleta de dados para o estudo de caso principal, mas recorrem, então aos levantamentos ou outras técnicas mais quantitativas para coletar os dados sobre as unidades integradas de análise. Nesta situação, outros métodos de pesquisa estão integrados em seu estudo de caso. (YIN, 2010, p.87).

A utilização da pesquisa quantitativa ainda é justificada pelo grande volume de sujeitos que estão envolvidos no tema abordado, pelas poucas variáveis (embora o número de questões propostas seja elevado) e pelo objetivo de identificar padrões comportamentais de tais sujeitos, bem como verificar as condições de conhecimento e aplicabilidade da lei recém promulgada. (CERVI, 2009, p.133).

Concluindo, com as palavras de CERVI (2009):

O que justifica a utilização de instrumentos estatísticos e matemáticos na pesquisa quantitativa é que eles permitem reduzir uma grande massa de informações a alguns indicadores que são capazes de representar as principais características do objeto analisado. (CERVI, 2009, p.135-136).

As considerações a seguir, feitas por CERVI (2009, p.136-139), também corroboram com a utilização de métodos quantitativos na presente pesquisas:

1) na tentativa de explicar as possíveis causas; 2) na tentativa de prestar explicações multivariadas;

3) na seleção dos casos para permitir generalizações;

4) na transformação de conceitos teóricos em indicadores empíricos.

E, partindo dos escopos relacionados acima, segue-se transcrevendo os procedimentos adotados para obtenção dos dados.