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Parte II – A reportagem multimédia e o jornalista multitasking nos espaços online dos meios de

5. Metodologia

Para responder à pergunta de partida formulada e aos subsequentes objetivos, esta investigação dividir-se-á em dois momentos de análise: primeiramente, uma análise de conteúdo quantitativa a 75 reportagens multimédia feitas pela RR, durante o ano de 2016, e, de seguida, uma análise qualitativa baseada em entrevistas semi-diretivas a profissionais do mesmo meio de comunicação, com o propósito de compreender melhor os processos de seleção, preparação, elaboração e difusão deste género jornalístico.

Escolheu-se o espaço online da Rádio Renascença como caso de estudo visto que este meio foi o mais premiado pelo ObCiber em 2016, como já referido.

• Análise de conteúdo quantitativa

A análise de conteúdo é um tipo de análise que incide, segundo Quivy e Campenhoudt (1998), “sobre mensagens tão variadas como obras literárias, artigos de jornais, documentos oficiais, programas audiovisuais, declarações políticas, actas de reuniões ou relatórios de entrevistas pouco directivas” (p.226), sendo acompanhada por um “certo grau de profundidade e de complexidade” (p.227).

Este tipo de análise apresenta duas categorias: os métodos quantitativos e os métodos qualitativos. Os primeiros revelam-se extensivos e “teriam como informação de base a frequência do aparecimento de certas caraterísticas de conteúdo ou de correlação entre elas (Quivy & Campenhoudt, 1998, p.227). Os segundos são intensivos, afirmam os autores, e têm como informação de base a presença ou a ausência de uma certa característica ou um “modo segundo o qual os elementos do ‘discurso’ estão articulados uns com os outros” (p.227).

Num primeiro momento deste estudo empírico pretende-se recorrer à análise de conteúdo quantitativa, dado que a presente investigação procura perceber qual a frequência de certos elementos multimédia e da presença do jornalista multitasking nas reportagens multimédia publicadas no espaço online da Renascença.

Portanto, a esta análise de conteúdo quantitativa foram submetidas 75 reportagens multimédia publicadas, pela RR, durante o ano de 2016. A extração das reportagens fez-se segundo uma amostragem acidental, pois apenas foram recolhidas as que estavam disponíveis, dada a complexa

68 organização e consequente possibilidade de recolha de dados do back office do site deste meio. Destaca-se o facto de se terem excluído artigos não-informativos ou trabalhos jornalísticos apenas em vídeo, estes últimos por se considerar que os mesmos apenas dizem respeito a um formato, ou seja, são considerados, nesta investigação, como monomédia. Mesmo considerando a possibilidade de poder existir uma componente multimédia nas videoreportagens da RR, dado que, por vezes, se fazem acompanhar na sua composição de pequenas frases ou até de fotografias, é facto que a presente investigação pretende estudar cada elemento constitutivo isoladamente e não inserido num formato inclusivo, sem possibilidade de leitura isolada.

Depois da fase de recolha das reportagens multimédia e da construção do modelo de análise, que será esmiuçado abaixo, os dados foram introduzidos e organizados no programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), a fim de iniciar a análise de conteúdo. Esta análise incidirá sobre três dimensões: elementos constitutivos, autores e contribuições externas.

Os elementos constitutivos comportam as seguintes componentes: vídeo, fotografia, galerias de fotografia (fotogalerias), texto, infografia, ilustração, animação audiovisual e ficheiros de som isolados. Estes são os elementos mais referidos quando se abordam as potencialidades do jornalismo online na criação de conteúdo para a web pelos investigadores da área (Salaverría, 2014; Gomes, 2012), tendo sido também incluídas outras dimensões que melhor se ajustaram à produção do meio em causa - animação audiovisual, galerias de fotografias e ficheiros de som isolados. Para cada um, será analisada a sua presença e a sua autoria.

Relativamente aos autores, pretende-se apurar o número de jornalistas intervenientes por reportagem multimédia, o número de web-developers e/ou web-designers presentes neste género jornalístico, a existência de colaborações entre as diferentes secções da Renascença, se existe ou não divisão de tarefas entre jornalistas e/ou outros profissionais na elaboração do objeto de estudo e se existem jornalistas multitasking nas várias reportagens multimédia recolhidas e qual o seu posicionamento por secção na RR.

Por fim, a dimensão “contribuições externas” pretende perceber se existe, nas várias reportagens analisadas, material de agências noticiosas e/ou outras entidades e que tipo de material é que é (mais) utilizado.

69 Esta análise irá servir-se das assinaturas das reportagens multimédia e das assinaturas dos diferentes elementos que as constituem. Desta forma, será possível perceber se cada elemento constitutivo foi feito por diferentes jornalistas ou se foi uma peça feita integralmente por um jornalista multitasking. Para uma análise transparente, foi criada a categoria “Indefinido”, que se refere a trabalhos não assinados ou onde não conste uma divisão de tarefas clara entre jornalistas e/ou outros profissionais.

Foi escolhida a reportagem multimédia como objeto de análise dado que é o formato mais complexo e trabalhoso do jornalismo contemporâneo e aquele que exige mais tempo e uma maior diversidade de formatos (Bastos, 2015), para além de que é na reportagem que a “grande parte do sucesso do jornalismo” reside já desde a sua conceção (Gomes, 2012, p.47).

Neste capítulo importa ainda definir o que será considerado como reportagem multimédia. Nesta investigação, por reportagem multimédia entende-se o género jornalístico que vai para além do relato de factos atuais e cria uma narrativa não linear a partir de uma estória (Artwick, 2004; Stevens, 2002), de acordo com um estilo mais criativo, e que ganha forma através dos elementos acima definidos para a análise de conteúdo.

Não se pretende, portanto, observar a reportagem enquanto relato ou “mera cobertura de um determinando acontecimento ou evento no local em que o mesmo ocorre, implicando naturalmente a deslocação do jornalista em causa para o acompanhamento desejado” (Gomes, 2012, p.223). Pretende-se antes analisar a reportagem multimédia, aquela que aproveita “a fundo as possibilidades audiovisuais da Web, mediante o uso de galerias fotográficas, infografias interactivas, sons e vídeos” (Gomes, 2012, p.191) para contar uma estória capaz de transportar o leitor para um determinado espaço e tempo (Clark, 2015).

Seguem abaixo os dois critérios que foram considerados para a sua seleção:

• O texto deve respeitar o estilo de reportagem, não enquanto relato, mas antes como um texto criativo que conte uma estória ao leitor. Exemplos: “Pai, toquei no Marcelo. Yeaaaaah” (link de acesso: http://rr.sapo.pt/noticia/45100/) e “O que levaria na mochila? Eu encho mochilas” (link de acesso: http://rr.sapo.pt/noticia/54008/).

70 • As reportagens recolhidas devem ser compostas, na sua apresentação final, por dois elementos constitutivos ou mais, a fim de serem consideradas como multimédia. Principio baseado na definição do conceito “multimédia” por Salaverría (2014): “Para nos encontramos perante uma mensagem multimédia basta que coincidam dois desses elementos, independentemente de quais forem” (p.29).

Importa ainda esmiuçar a divisão feita para a caracterização dos jornalistas intervenientes. Esta mesma divisão teve em conta as funções mais características dos jornalistas nas redações da Renascença e que se dividem sobretudo em dois tipos: redação digital e redação de rádio. Tendo em conta que dentro da redação digital existem jornalistas que se ocupam mais da produção de texto e outros que ficam encarregues da produção multimédia (fotografia e vídeo), foi feita uma segunda divisão: jornalista do online (remete para online-texto) e jornalista multimédia (remete para produção multimédia). Durante a análise de conteúdo às reportagens recolhidas foram criadas ainda mais duas categorias: “correspondente” e “secção de grafismo”.

Abaixo apresenta-se a grelha de análise que servirá de base para a caracterização de todas as reportagens recolhidas. Reportagem multimédia Elementos constitutivos Texto

Presença de texto Tem

Não tem Autoria do texto Jornalista de multimédia Jornalista do online Jornalista de rádio Correspondente Indefinido Não se aplica Vídeo Presença de vídeo Tem Não tem Autoria do vídeo Jornalista de multimédia Jornalista do online Jornalista de rádio Correspondente 2 jornalistas multimédia Agências noticiosas e/ou

outras entidades Jornalista multimédia e agências noticiosas e/ou

outras entidades Indefinido Não se aplica

71 Fotografia Presença de fotografia(s) Tem Não tem Autoria da(s) fotografia(s) Jornalista de multimédia Jornalista do online Jornalista de rádio Correspondente Jornalista multimédia e jornalista de rádio Agências noticiosas e/ou

outras entidades Jornalista de multimédia

e agências noticiosas e/ou outras entidades Jornalista de rádio e agências noticiosas e/ou

outras entidades Redação e outras entidades Indefinido Não se aplica Galeria de fotografias (Fotogaleria) Presença de galeria de fotografias (fotogaleria) Tem Não tem

Autoria das fotografias da fotogaleria

Jornalista de multimédia Jornalista do online

Jornalista de rádio Correspondente Agências noticiosas e/ou

outras entidades Jornalista de multimédia

e agências noticiosas e/ou outras entidades

Indefinido Não se aplica Infografia Presença de infografia Tem Não tem Autoria da infografia Jornalista de multimédia Jornalista do online Jornalista de rádio Correspondente Secção de grafismo Indefinido Não se aplica

Ilustração Presença de ilustração

Tem Não tem Autoria da ilustração Jornalista de multimédia Reportagem

72 Jornalista do online Jornalista de rádio Correspondente Secção de grafismo Indefinido Não se aplica Animação audiovisual Presença de animação audiovisual Tem Não tem Autoria da animação audiovisual Jornalista de multimédia Jornalista do online Jornalista de rádio Correspondente Secção de grafismo Indefinido Não se aplica Ficheiros de som isolados Presença de ficheiros de som isolados Tem Não tem

Autoria dos ficheiros de som isolados Jornalista de multimédia Jornalista do online Jornalista de rádio Correspondente Indefinido Não se aplica Autores

Jornalistas Número de jornalistas

intervenientes Web-developers

e/ou web- designers

Número de web- developers e/ou web- designers intervenientes Colaborações entre secções da RR Existe Multimédia e rádio Multimédia e online Multimédia, rádio e grafismo Multimédia, online e grafismo Online e rádio Online, multimédia e rádio Multimédia e grafismo Indefinido Indefinido Não existe Não se aplica Apenas pessoal de multimédia Apenas pessoal do online

Apenas pessoal de rádio Correspondente Reportagem

73 Divisão de tarefas

por jornalista e/ou outro profissional

Existência de divisão de tarefas por jornalista e/ou outro

profissional Sim Não Indefinido Jornalista multitasking Presença do jornalista multitasking Existe Jornalista de multimédia Jornalista do online Jornalista de rádio Correspondente Jornalista de multimédia e jornalista de rádio Indefinido Indefinido Não existe Não se aplica

Combinação de elementos constituintes criados Texto e fotografia Texto e vídeo Texto e som Fotografia e vídeo Texto, vídeo e fotografia

Texto, som e fotografia Texto, vídeo, som e

fotografia Contribuições externas Material de agências noticiosas e/ou outras entidades Presença de material de agências noticiosas e/ou outras entidades

Existe

Fotografia Vídeo Vídeo e fotografia Indefinido Indefinido Não existe Não se aplica

Tabela 3 - Modelo de análise elaborado para a análise das reportagens multimédia.

Este será o guião para perceber se o jornalismo multifunções é de facto imprescindível para a RR, quais os elementos constitutivos mais utilizados na realização neste formato jornalístico e se o meio noticioso em estudo faz uso das potencialidades permitidas no e pelo espaço online.

• Análise qualitativa - Entrevistas

A análise qualitativa vai debruçar-se sobre um total de cinco entrevistas semi-diretivas a profissionais da Rádio Renascença, escolhidos segundo uma amostragem não-probabilística de casos típicos, por se considerar que os mesmos são representativos do fenómeno que se pretende estudar. Escolheu-se este tipo de análise qualitativa, pois permitirá obter, por parte dos entrevistados, informação rica sobre as dimensões em estudo (Pardal & Correia, 1995), bem como perceber melhor algumas tendências que surgirão da análise de conteúdo quantitativa.

Reportagem multimédia

74 Foi escolhida a entrevista semi-diretiva, pelo facto de se situar num nível intermédio, visto que possibilita ao entrevistado estruturar o seu pensamento, exigindo-lhe o aprofundamento de temáticas, e permite ao entrevistador ir para além do guião de perguntas feito para procurar outros temas e/ou justificações plausíveis para a pergunta de partida e objetivos anteriormente formulados e sobre os quais não se havia ainda debatido e/ou apercebido da sua existência (Albarello et al., 1997; Quivy & Campenhoudt, 1998).

Como não é possível entrevistar a totalidade dos membros do universo, foram selecionados a chefe da redação digital, o editor principal de online e três jornalistas das diferentes secções da RR, dada a frequência com que apareceram nas reportagens multimédia recolhidas (jornalistas) ou segundo a hierarquia e nível de relação com o tema em estudo (editor e chefe de redação). Mais pormenorizadamente, foram entrevistados os seguintes profissionais:

- Chefe da redação digital, Maria João Cunha - Editor principal para o online, Pedro Rios

- Jornalista multimédia e vencedora, por múltiplas vezes, do Prémio de Ciberjornalismo, Catarina Santos

- Jornalista online, também premiado pelo ObCiber em 2016, João Carlos Malta - Jornalista de rádio, André Rodrigues

Os guiões de entrevista utilizados28 foram construídos com base em cinco dimensões de análise,

de forma a responder aos objetivos estipulados: autores, elementos constitutivos, contribuições externas, custos financeiros e autoridade para propor temas.

Este mesmo método, por ser centrado no individuo, possibilitará, portanto, obter feedback por parte daqueles que dirigem as secções deste meio de comunicação generalista com um espaço online permanentemente atualizado, por parte de quem busca estórias novas, por parte de quem constrói os conteúdos para o site e por parte de quem está no terreno e capta, a todo o custo, o que está a presenciar para construir a narrativa mais perfeita e possível.

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