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METODOLOGIA RORSCHACH

No documento O suicídio na adolescência (páginas 45-70)

A metodologia projectiva de inspiraªo psicanaltic a e designadamente o processo de resposta Rorschach, possui grandes capacidades para aceder ao funcionamento psquico dos sujeitos. um instrumento que, face situaªo pr ojectiva, permite evidenciar o trabalho de ligaªo e de transformaªo e a relaªo entre object os internos e externos.

Segundo Marques (2005), o processo de resposta Rorschach obriga construªo de imagens, conceitos, smbolos que sustentados pela n arrativa permitem perceber de que forma cada sujeito procede e processa face ao objecto, a o impacte do objecto sobre o sujeito e relaªo, comunicaªo, ligaªo e transformaªo entre sujeito e objecto, caldeada pela e na intersubjectividade (p.24).

A partir da relaªo, interpretaªo, comunicaªo e s imbolizaªo Ø possvel aceder expressªo dos mecanismos psquicos envolvidos nos processos de ligaªo, transformaªo e criaªo, ou seja, acede-se ao processo de elabora ªo e construªo de narrativas pessoais, ao trabalho de ligaªo, transformaªo e criaªo entre o interno e o externo, subordinada pela intersubjectividade (Marques, 2005).

O processo de resposta Rorschach promove a confrontaªo entre o interno e o externo e impıe um trabalho de transformaªo, construªo e co municaªo de um sentido, submetido pelo contexto situacional e relacional onde as narrativas sªo solicitadas. Assim, o trabalho mental desenvolvido no Rorschach possibilita o acesso na tureza da organizaªo e essŒncia dos objectos internos potenciados pela natureza da organizaªo e essŒncia dos objectos externos (Marques, 2005). Ou seja, as qualidades especificas do Rorschach mobilizam uma acªo psicolgica, a procura de sentido, a significaªo, a simbolizaªo e o pensamento, atravØs do envolvimento entre percepıes e representaıes inte rnas e externas e da transformaªo dessas percepıes e representaıes, revelando assim a capa cidade de ligaªo e transformaªo dos objectos internos.

O Rorschach Ø constitudo por 10 cartıes, em cada c artªo encontra-se impresso uma mancha de tinta simØtrica. Estas manchas possuem caractersticas perceptivas , tais como a forma, a cor e o esbatimento, que ao nªo apresentar em um significado preciso, devido ao seu

devido necessidade de procura de sentido . A apresentaªo dos cartıes acompanhada pela

instruªo, Diga-me tudo o que poderia ser, obriga o sujeito a procurar um significado, uma resposta num infinito universo de possibilidades. A impressªo sensorial passa a imagem, depois a palavra, conceito e smbolo. Assim, as repostas acabam por surgir do trabalho de ligaªo, transformaªo e criaªo, imposto pelo confronto ent re a realidade interna e a realidade externa.

Entªo o processo resposta Rorschach, este processo de reconhecimento e de significaªo, de interpretar e atribuir um sentido, Ø:

um processo em que operam separaªo-ligaªo-separaªo, isto Ø, interpretar Ø

identificar e respeitar as caractersticas objectivas e manifes tas do material, bem

como o contexto em que tal material Ø apresentado, Ø depois, colorir essas caractersticas com elementos da realidade interna, deixando participar a subjectividade, mas nªo deixando de manter separadas as caractersticas que advØm do externo e do interno, para que a reuniªo e ligaªo possa operar. este o processo que conduz a que, atravØs das verbalizaıes que se produzem e que deverªo trazer a marca dos dois mundos separados e ligados, se produza um novo objecto...

(cit. por Marques, 1999, p.150)

As respostas no Rorschach mostram o trabalho de ligaªo entre interno e externo, entre a subjectivaªo e a objectivaªo, permitem aceder r ealidade psquica interna e sempre singular do sujeito face a uma realidade externa, que embora partilhada por outros sujeitos, faz intervir a individualidade, a subjectividade e a singularidade de cada sujeito (Marques, 1999).

As interpretaıes que surgem no Rorschach sªo suste ntadas pelas relaıes entre realidade e fantasia, percepªo e representaªo. O Rorschach mobiliza representaıes e afectos, movimentos conscientes, prØ-conscientes e inconscientes, impıe a criaªo de novos objectos, o que permite aceder natureza do sujeito e s repre sentaıes do Eu e dos objectos (Marques, 1999).

Chabert (1998) salienta que para alØm das estimula ıes perceptivas dos conteœdos manifestos, os cartıes possuem conteœdos latentes, que sustentados pelo modelo psicanaltico, permitem aceder construªo da identidade, dos pro cessos identificatrios e das representaıes de relaıes. Os conteœdos manifestos e/ou latentes dos cartıes proporcionam determinada

De acordo com a autora, o valor simblico dos cartı es pode ser observado pela dimensªo

estrutural, a construªo formal dos cartıes, e a dimensªo sensorial , pela presena das cores.

Em relaªo dimensªo estrutural, refere que os car tıes sªo organizados pela simetria e podem ser diferenciados pelo seu carÆcter unitÆrio, pela configuraªo bilateral e pelo carÆcter aberto ou fechado. Os cartıes unitÆrios ( I, IV, V, VI e IX) podem reflectir a imagem do corpo humano organizado simetricamente em torno de um eixo. Os cartıes bilaterais (II, III, VII, e VIII) podem reflectir as representaıes das relaıe s. Os cartıes abertos (I, II, III, VII, VIII, IX, e X) e designadamente os cartıes I, II, VII e IX evid enciam um simbolismo relacionado com a imagem feminina/materna, devido ao desenvolvimento perceptivo a partir do vazio. Os cartıes fechados (I, IV, V e VI) sªo compactos e remetem pa ra um simbolismo fÆlico devido presena de apŒndices salientes.

Em relaªo dimensªo sensorial, os cartıes sªo dis tinguidos pela sua cor: os cinzento- escuros (I, IV, V e VI), provocam ansiedade, inquietaªo ou angœstia, mais ou menos intensa; os cinzentos, designadamente o cartªo VII, um cinzento -claro esbatido com grande participaªo do branco; os negro-branco-vermelhos (II e III), o contraste destas cores pode reactivar os afectos mais intensos, quer sejam agressivos ou ligados s exualidade, que juntamente com a sua organizaªo estrutural evocam as representaıes das relaıes; os pastel (VIII, IX e X) sªo caracterizados por tintas pÆlidas que reactivam os afectos.

Entªo, os cartıes Rorschach possuem determinadas pa rticularidades que induzem associaıes simblicas ou efectivas que se manifest am nas respostas, no conteœdo latente ou manifesto das mesmas, pelas projecıes da vivŒncia relacional e conflitual, permitindo constatar o registo mais ou menos evoludo do funcionamento p squico.

Rausch de Traubenberg (1983) refere que as respostas representam atitudes que vªo do perceptivo ao projectivo, do percebido ao vivido, reflectem as acıes e as relaıes que o sujeito estabelece em situaıes novas. Em cada resposta, o perceptivo e projectivo tŒm uma importncia diferente, existe uma oscilaªo entre movimentos re gredientes e progredientes em que os mecanismos defensivos e adaptativos dªo conta da or ganizaªo interna do sujeito.

Rausch de Traubenberg (1970/1975) faz uma abordagem multidimensional para a anÆlise e interpretaªo das respostas, refere que a riqueza de dados recolhidos impıe uma exploraªo mÆxima dos mesmos, evitando assim uma anÆlise limitada e fragmentÆria e uma interpretaªo

isolada dos signos. A anÆlise e interpretaªo das respostas incide sobre os elementos decorrentes da abordagem intelectual, da afectividade e da socializaªo.

Para a autora o processo de resposta Rorschach Ø um espao de interacıes entre a realidade externa do objecto conhecido e a realidade interna do objecto experiŒnciado, entre a percepªo e a fantasia, em que a realidade externa Ø moldada em funªo das necessidades e das fantasias internas do sujeito.

Resumindo, o processo resposta Rorschach permite revelar o funcionamento psquico do adolescente, os seus mecanismos defensivos e adaptativos e a sua capacidade de se integrar e adaptar ao processo maturativo, devido ao trabalho de ligaªo, transformaªo e criaªo imposto pela situaªo projectiva.

As caractersticas perceptivas e simblicas dos car tıes promovem no adolescente sentimentos de tensªo e destabilizaªo, obrigando a um trabalho psicolgico, de procura de sentido, de significaªo, de simbolizaªo, que resu lta da interacªo entre a realidade externa e a realidade interna do adolescente.

A partir da relaªo, interpretaªo, comunicaªo e s imbolizaªo Ø possvel aceder aos mecanismos psquicos individuais do adolescente env olvidos nos processos de ligaªo, transformaªo e criaªo. As transformaıes das per cepıes e representaıes internas e externas revelam a capacidade de ligaªo e transformaªo dos objectos internos. As respostas permitem perceber qual o impacte do novo objecto e de que forma o adolescente procede e estabelece relaıes em situaıes novas.

O Rorschach Ø mobilizador de representaıes e afect os, movimentos conscientes e inconscientes, progredientes e regredientes, impıe relaıes entre realidade e fantasia, percepªo e representaªo, revelando a construªo da identidade , os processos identificatrios, as representaıes das relaıes e os mecanismos defensi vos e adaptativos que dªo conta da organizaªo interna do adolescente.

5.1. A Expressªo da AdolescŒncia no Rorschach

A expressªo da adolescŒncia no Rorchach tem sido estudada por inœmeros e diversos autores. Neste estudo, recorreu-se a alguns estudos com metodologia projectiva de inspiraªo

psicanaltica, para demonstrar que atravØs do Rorschach se pode observar as principais problemÆticas inerentes ao processo maturativo mais referenciadas na literatura. De entre vÆrios autores, que tŒm prestado um importante contributo para o aperfeioamento e desenvolvimento das potencialidades do Rorschach, na anÆlise e interpretaªo do funcionamento psquico dos adolescentes, abordaram-se os estudos realizados por Maria Emlia Marques, Nina Rausch de Traubenberg e Michele Emmanuelli.

Marques (1991), realizou um estudo em que constatou que a adolescŒncia se apresenta por duas expressıes diferentes: a puberdade e a ado lescŒncia propriamente dita. Este estudo foi realizado com dois grupos de adolescentes: um grupo com adolescentes de 13 anos; um grupo com adolescentes de 17 anos.

Neste estudo, a autora constatou que os adolescentes de 13 anos tŒm maior necessidade de expressªo elevado nœmero de respostas (R) do qu e os adolescentes de 17 anos, resultado da intensificaªo das tensıes internas no perodo inic ial da adolescŒncia. Os adolescentes de 13 anos tŒm uma maior preocupaªo em delimitar os perc eptos, apresentam maior investimento dos limites predomnio do modo de apreensªo global (G ) resultado da preocupaªo do adolescente em manter o sentimento de integridade. No entanto, apesar deste investimento dos limites, o investimento na realidade objectiva Ø caracterizada sobretudo por respostas cor (C) e cinestesias (K), constatando-se poucas respostas de dominncia formal (F%). Sªo adolescentes que revelam maior preocupaªo na procura activa de uma identificaªo (K, H%, elevados) e grande reactividade ao mundo exterior predomnio de respostas determinadas pelo plo sensorial mas sem perder o controlo do aspecto formal (FC; FE). Ao contrÆrio dos adolescentes de 17 anos, que apresentam menor expressªo de tensı es internas e maior adequaªo realidade objectiva F%, F+% , K, H%, Ban dentro dos valores normativos. Ao nvel dos conteœdos, os adolescentes de 13 anos apresentam uma temÆtica variada, mas com o predomnio de conteœdos regressivos revelador de mecanismos narcsicos do minados pelo retraimento libidinal jÆ os adolescentes de 17 anos centram-se mais em imagens parciais (Hd) e em respostas de anatomia (Anat) a centraªo em imagens parciais e em refe rŒncias corporais, revela uma angœstia de castraªo que o leva a recorrer a imagens de interi or do corpo como eixo organizador.

Enquanto que nos adolescentes de 17 anos a expressª o pulsional Ø estÆvel, revelador da capacidade de mentalizar as pulsıes agressivas e/ou sexuais, nos adolescentes de 13 anos a

expressªo da agressividade encontra-se presente mas de forma oscilatria, ou seja, o activo e passivo e o agredir e ser agredido expressam-se mutuamente.

Ambos os grupos etÆrios apresentam uma constituiªo de identidade estÆvel, mas no entanto, os adolescentes de 13 anos apresentam uma identidade subjectiva menos estÆvel. Estes adolescentes apresentam uma maior diversidade e oscilaªo de representaıes humanas e para- humanas, animais e para-animais, femininas e masculinas, predominantemente inteiras, revelador da procura activa de uma identificaªo sexual, pode ndo ser interpretada como indicador de uma fragilizaªo da representaªo de si devido presen a de imagens onde a identidade aparece ameaada na sua integridade. Os adolescentes de 17 anos nªo revelam a necessidade de representaªo directa de si (H%, A% baixas), nem a expressªo de representaªo de si atravØs das relaıes (K baixo), mas no entanto, revelam preocup aıes sobre o corpo presena de imagens parciais, preocupaıes com o carÆcter imperfeito da s manchas, imagens ou comentÆrios que minimizam os elementos viris das manchas.

Em ambos os grupos o narcisismo Ø marcado por um retraimento libidinal, mas a sua expressªo Ø marcada por caractersticas diferentes. Enquanto que nos adolescentes de 13 anos o retraimento aparece na representaªo directa de si que mobiliza angœstia, caracterizada pela desvalorizaªo e/ou valorizaªo de si, nos adolesce ntes de 17 anos surge sobretudo de imagens do interior do corpo e de imagens de valorizaªo. De outra forma, os adolescentes de 13 anos recorrem muitas vezes a respostas em espelho, reflexo, simetria e os adolescentes de 17 anos recorrem mais vezes a imagens de «flores», «vasos», imagens de valorizaªo narcsica, referŒncias do tipo «coluna vertebral», com o objectivo de neutralizar a representaªo directa de si ou da relaªo.

Em relaªo aos mecanismos defensivos, ambos os grup os apresentam mecanismos defensivos variados e flexveis. No entanto, nos c artıes II, IV e VI constata-se uma maior frequŒncia de defesas rgidas, designadamente o recalcamento e a inibiªo.

Segundo Marques (1991), os elementos realados nest e estudo nªo devem ser encarados de forma negativa, mesmo apesar de alguns deles poderem ser inquietantes, uma vez que surgem episodicamente associados solicitaªo simblica d os cartıes e sªo sempre sucedidos por reorganizaªo.

O real interno e externo podem confrontar-se, expr essar-se sem que a perda de controlo persista mais do que o desejÆvel. Estes aspectos podem ser vistos como movimentos oscilatrios, pendulares, percorrendo um a panplia imensa de estratØgias cognitivo-afectivas que possibilitam a expressªo. T udo isto Ø revelado num quadro vivo onde as possibilidades, as capacidades de levar as coisas a extremos que nos fazem recear sobre as possibilidades adaptativas, coexistem surpreendentemente com movimentos de recuperaªo surpreendentes. Concebemo s estes movimentos, como movimentos de recuo atØ patamares mais securizantes - recuar para melhor saltar -, como se o ir atØ aos limites fosse a tarefa fundamental...

(cit. por Marques, 1991, p.208)

Em suma, a partir do Rorschach constatou-se que os adolescentes de 13 apresentam um funcionamento psquico, caracterizado por uma maior expressªo da tensªo pulsional e maior preocupaªo em assegurar uma identidade/identifica ªo bem delimitada e estÆvel, enquanto que os adolescentes de 17 anos caracterizam-se pela diminuiªo da tensªo pulsional e menor investimento narcsico, pelo maior investimento obj ectal e maior adequaªo realidade externa. O adolescente perante a intensificaªo das tensıes internas e a dificuldade em as elaborar, pode recorrer ao uso excessivo da realidade objectiva como forma de atenuar e organizar as tensıes internas. Ao verificar-se uma diminuiªo das tensı es internas, constata-se uma maior capacidade de elaboraªo, simbolizaªo, organizaªo e ligaªo entre realidade interna e realidade externa.

Entªo, na puberdade, com a maturaªo corporal e a c onsequente intensificaªo dos impulsos, o adolescente fica mais perturbado com questıes centradas volta do corpo e da identidade/identificaªo subjectiva. Enquanto que na adolescŒncia propriamente dita, com o reconhecimento do novo corpo, surgem preocupaıes m ais relacionada com o Outro, com a realidade externa, uma vez que passa a ser o objecto de investimento que permite a construªo da identificaªo e conservar o sentimento de integrida de.

Numa outra investigaªo, realizada por Marques (199 3), pretendia-se analisar, atravØs do Rorschach, a expressªo masculina e feminina dos ado lescentes relativamente aos processos de maturaªo gradual, na puberdade e na adolescŒncia p ropriamente dita, processos de integraªo, construªo e transformaªo. Neste estudo participa ram adolescentes de 13 e 17 anos de idade, do gØnero masculino e feminino, distribudos por quatro grupos.

A autora, constatou que todos os grupos de adolescentes apresentaram fragilidades e descontinuidades ao nvel da identidade e da difere nciaªo, todavia, evidenciaram capacidades de

ligaªo, de integraªo e de construªo, no intuito de conservar a integridade e coesªo posta em causa pelo processo maturativo.

Na puberdade, constata-se a expressªo de uma maior intensidade emocional, com uma oscilaªo muito intensa e confusªo entre representa ªo, investimento e natureza da relaªo entre realidade interna e externa, revelando dificuldades ao nvel da identidade subjectiva. Os adolescentes, apresentam maior pressªo, muitas ince rtezas, dœvidas, oscilaıes entre o interno e o externo, revelando dificuldades de diferenciaªo en tre progressªo e regressªo, entre infantil e adulto. As adolescentes, apresentam as mesmas incertezas face diferenciaªo, o que as leva a investir mais no objecto externo, todavia, com tendŒncia a confundir-se com o objecto externo.

Na adolescŒncia propriamente dita, observa-se uma melhor capacidade de integraªo e construªo da identidade. No entanto, constata-se uma tendŒncia para recorrer regressªo, a objectos continentes protectores respostas «peles », «vasos» , revelador do desenvolvimento da capacidade de diferenciaªo e integraªo. TambØm s e constata, que ainda existem dificuldades em mentalizar a vivŒncia corporal, pulsional e relacional. Os adolescentes, apresentam uma temÆtica ligada castraªo, que os leva ao sobrein vestimento dos elementos protectores. As adolescentes, por sua vez, apresentam uma temÆtica do olhar e um aumento da depressividade. O aparecimento da temÆtica de castraªo e da temÆtica do olhar, acompanhada por depressividade, revelam as dificuldades e o sofrimento que os adolescentes experiŒnciam.

Segundo Marques (1993), o processo que vai da clivagem para a integraªo, observado nas transformaıes que ocorrem na puberdade e na ad olescŒncia, revela que os adolescentes passam de uma expressªo marcada pelo investimento n os contrÆrios para uma expressªo mais controlada, todavia, mais empobrecida, marcada pelo retraimento e a restauraªo, a dor e o persecutrio. Enquanto que nas adolescentes, a tra nsformaªo revela-se da passagem da confusªo com o objecto externo, que ajuda a anular a realidade interna, confusa e intensa, para o desprezo dessa realidade externa, fortemente investida no passado.

Rausch de Traubenberg, et al. (1993), tambØm realizaram uma investigaªo, com o objectivo conhecer a expressªo das modalidades do f uncionamento psquico da adolescŒncia, atravØs do Rorschach. Neste estudo, participaram 37 adolescentes do gØnero feminino e 36 adolescentes do gØnero masculino, com idades compreendidas entre os 16 e os 19 anos.

Os autores, constataram que nªo existem diferenas significativas entre os adolescentes, femininos e masculinos, relativamente ao nœmero mØdio de respostas no protocolo (R), modos de

apreensªo (G%, D%), determinantes (F%, F+%), conteœdos (A%, H%) e reactividade cor (RC%). Mas pode-se observar, que a percentagem de respostas globais (G%: F38% e M43%) Ø superior aos valores ditos normativos (entre 20% e 30%) e que a percentagem de respostas de figura humana (H%: FM21%) tambØm apresenta valores ligeiramente superiores norma (entre 12% e 18%). Em relaªo, percentagem de respostas de grande detalhe (D%: F50% e M45%) observam-se valores abaixo da norma (entre 60% e 80%), observando-se o mesmo relativamente percentagem de respostas com bom aspecto formal ( F+%:F62 e M60, valor normativo entre 80% e 90%). As restantes percentagens encontram-se dentro dos valores ditos normativos.

A tendŒncia de resposta destes adolescentes, revelada estatisticamente a partir das percentagens mØdias observadas e confirmada pela mediana, pode evidenciar que os adolescentes apresentam fragilidades ao nvel da identidade, ide ntificaªo e adequaªo realidade objectiva.

Ao analisarem-se estes resultados cartªo a cartªo, constata-se: uma maior percentagem de respostas nos cartıes VIII, IX e X; uma maior perce ntagem de respostas globais nos cartıes I, IV e V; uma maior percentagem de respostas de grande detalhe nos cartıes III, VIII e X; as respostas de pequenos detalhes (Dd), detalhes brancos (Dbl) e detalhes oligofrØnico (Do) sªo mais frequentes nos cartıes II, VII e IX; maior nœmero de respostas de movimento humano (K) nos cartıes III e VII; maior nœmero de respostas de atribuiªo de movimento a um animal (Kan), a uma parte do corpo humano (kp) e a um objecto (kob), nos cartıes II, V, VII, VIII, IX e X; maior nœmero de respostas influenciadas pela cor (FC, CF e C) nos cartıes II, VIII, IX e X; maior nœmero de respostas influenciadas pelo esbatimento (FE, EF e E) nos cartıes IV, VI e VII; maior nœmero de respostas influenciadas pelo aspecto sombrio das manchas (FClob, ClobF e Clob) no cartªo IV; maior percentagem de respostas determina das pela forma (F%) e com boa forma (F+%) nos cartıes I, V e VI, e menor percentagem de stas respostas nos cartıes II, III e IX; maior nœmero de respostas de banalidades (Ban) nos cartıes I, III e V.

Apesar da generalidade destas respostas serem influenciadas pela prpria solicitaªo perceptiva dos cartıes, pode salientar-se que os ad olescentes evidenciaram maior reactividade emocional no cartªo II, curiosamente num dos cartıe s onde os adolescentes apresentaram maiores dificuldades de adequaªo realidade (F+% 45%), revelador de fragilidades ao nvel das relaıes e no controlo da expressªo pulsional. No cartªo III, apesar do maior nœmero de respostas de movimento humano e de banalidades, tambØm se verificaram dificuldades de adequaªo realidade (F+% 55%), podendo ser revela dor de dificuldades na representaªo das

relaıes, no controlo pulsional e na representaªo da imagem do corpo. Esta reactividade emocional provocada pela cor, tambØm se observou no cartªo IV, onde se registou o maior nœmero de respostas influenciadas pelo aspecto sombrio das manchas, revelador de ansiedade e angœstia, mas que no entanto acabou por ser controlada atravØs de mecanismos defensivos adequados. Finalmente, no cartªo IX, apesar do ele vado nœmero de respostas, tambØm se verificou que os adolescentes apresentaram dificuldades ao nvel da adequaªo realidade (F+% 44%).

Assim, com este estudo os autores demonstraram a capacidade do Rorschach para identificar as caractersticas do funcionamento ps quico dos adolescentes, mais referenciadas na literatura, designadamente, as fragilidades ao nve l da representaªo da identidade, representaªo das relaıes e dificuldades no controlo pulsional e adaptaªo realidade.

De forma a evitar que o funcionamento psquico dos adolescentes seja objecto de mÆs

No documento O suicídio na adolescência (páginas 45-70)

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