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PROCEDIMENTOS DE AN`LISE

No documento O suicídio na adolescência (páginas 70-75)

A partir da hiptese que o suicdio na adolescŒncia resulta de uma falha do funcionamento psicolgico, caracterizada pelo uso excessivo do me canismo de identificaªo projectiva, que impede a elaboraªo psquica das experiŒncias emoci onais, recorreu-se a um protocolo Rorschach de um adolescente que tentou o suicdio p ara se verificar se o uso excessivo do mecanismo de identificaªo projectiva caracteriza o seu funcionamento psicolgico.

Entenda-se por uso excessivo do mecanismo de identificaªo projectiva, quando a identificaªo projectiva aparece numa dimensªo defe nsiva, como tentativa de negar e controlar a realidade psquica indesejada. A sua utilizaªo ex cessiva fragiliza a integridade do Eu, impossibilitando a diferenciaªo entre o Eu e o obj ecto, entre realidade e fantasia, e provoca o empobrecimento do pensamento verbal e abstracto, conduzindo ao pensamento concreto e a mÆs interpretaıes da realidade, devido perda da capa cidade de pensamento simblico.

A partir do processo resposta Rorschach pode-se constatar se o sujeito apresenta fragilidades identitÆrias e relacionais, dificuldades de simbolizaªo, representaªo e diferenciaªo dos objectos, que impossibilitem a elaboraªo psqu ica das experiŒncias emocionais e a integraªo e adaptaªo ao processo adolescente.

A anÆlise e interpretaªo do protocolo irÆ realizar-se em trŒs momentos: inicialmente com a anÆlise resposta a resposta e cartªo a cartªo; seguido da anÆlise de elementos de cotaªo do psicograma; finalizando com a integraªo e sntese dos elementos recolhidos, caracterizando o funcionamento psicolgico do sujeito.

A cotaªo das respostas estÆ sujeita a determinados princpios de cotaªo, dos vÆrios elementos de cotaªo contidos no psicograma destaca m-se essencialmente: os modos de

apreensªo , referem-se localizaªo da resposta na mancha, q ue pode ser simples ou complexa; os determinantes, referem-se s caractersticas do estmulo que det erminaram a resposta, podendo ser uma caracterstica perceptiva, sensorial ou cin estØsica; os conteœdos, referem-se ao descritivo atribudo, podendo ser especifico ou simblico.

Em seguida sªo apresentados de forma sucinta os pri ncipais elementos de anÆlise utilizados, cuja fundamentaªo jÆ foi abordada por diversos autores (Rausch de Traubenberg, 1975:1983; Lerner, 1988; Chabert, 1998; Marques, 1999), constituindo-se como organizadores de

anÆlise: a representaªo do Eu , a expressªo dos afectos , a percepªo da realidade e a

representaªo das relaıes .

Ao nvel da representaªo do Eu, procura-se verifi car se os novos objectos construdos pelo sujeito respeitam os limites entre o interior e o exterior, entre o subjectivo e o objectivo, ou se existe um sobreinvestimento das fronteiras, manifestado pelo predomnio do modo de apreensªo global (G), denunciando a ausŒncia de limites e a confusªo entre o Eu e o Outro. A capacidade ou incapacidade de estabelecer fronteiras entre o Eu e o Outro, entre a realidade e a fantasia, observa-se pelo predomnio dos determinan tes com boa qualidade formal (F+, K+) ou com uma fraca ou mÆ qualidade formal (F–, F-). AtravØs dos conteœdos apresentados pretende- se constatar se existe fragilizaªo da representaª o do Eu, pelo predomnio ou ausŒncia de representaıes humanas (H%), pelas imagens em que a identidade das mesmas aparece ameaada na sua integridade, constatar ainda se existe ou nª o dificuldade na escolha identificatria, pela atribuiªo ou nªo de uma identidade sexual s perso nagens. TambØm se procura constatar se atributos ou sentimentos indesejados aparecem projectados nas personagens, para o seu controlo, destruiªo ou reparaªo.

A representaªo do Eu ao manifestar fragilidades e vulnerabilidades ao nvel da integridade e delimitaªo do Eu, revela um sentimen to de perda de coesªo que obriga a um trabalho de reconstruªo do Eu, que se manifesta pe la oscilaªo entre movimentos regressivos e progressivos, considerando-se o predomnio dos movi mentos regressivos o resultado da dificuldade sentida na reconstruªo do Eu, na const ituiªo do Eu com limites estÆveis e bem delimitados.

Ao nvel da expressªo dos afectos e controlo dos im pulsos, procura-se observar a manifestaªo de uma expressªo emocional com control o dos afectos (FC, FE, FClob), em que a realidade interna Ø controlada atravØs da percepªo objectiva da realidade externa, demonstrando uma capacidade de elaborar as tensıes emocionais e revelando o equilbrio comunicacional entre o interior e o exterior, entre a realidade interna e a realidade perceptiva, ou se pelo contrÆrio se constata uma grande reactividade ao mundo exterior, marcada pela dificuldade ou incapacidade de controlo dos afectos (CF, EF, C, E, Clob), revelador da existŒncia de tensıes internas e da dificuldade em elaborar essas tensıes emocionais. O aparecimento de conteœdos com a manifestaªo da agressividade (cartıes II e III), q uer como agressor ou como objecto de agressªo, foi considerado como revelador das dificuldades sentidas no controlo dos impulsos agressivos.

A capacidade de controlo emocional observa-se quando os sujeitos apresentam um funcionamento flexvel, um equilbrio comunicaciona l entre o interno e externo, entre fantasia e realidade, com a alternncia entre determinantes fo rmais, sensoriais e cinestØsicos com boa qualidade formal. A dificuldade de controlo emocional constata-se nos sujeitos que apresentam um funcionamento rgido, pela manifestaªo de uma s ucessªo rgida ou incoerente na abordagem da mancha, pelo predomnio de determinantes sensori ais sem controlo formal ou pelo uso excessivo da realidade objectiva como forma de atenuar e organizar as tensıes internas. Outros elementos que tambØm se consideram como reveladores da dificuldade no controlo emocional das tensıes internas sªo: o nœmero de respostas (R% baixo ou elevado), a recusa de resposta, um tempo de latŒncia de resposta muito baixo ou elevado, comentÆrios depreciativos, crticos ou hesitantes.

Ao nvel da percepªo da realidade, procura-se cons tatar se existe um reconhecimento de uma imagem perceptiva e do conteœdo latente dos cartıes, nomeadamente, o simbolismo relacional (cartıes II, III, VII) e identitÆrio (cartıes I e V), revelador da capacidade de integraªo e adaptaªo realidade externa, do equilbrio entr e a realidade subjectiva e a realidade objectiva, pela alternncia dos determinantes com boa qualidad e formal e o reconhecimento do conteœdo perceptivo frequentemente utilizado (Banalidades). Ou se existem dificuldades de adaptaªo e integraªo na realidade, manifestadas pela presena de confabulaıes ou contaminaıes, pelo predomnio de determinantes com pouca qualidade for mal, pela dificuldade em reconhecer o conteœdo perceptivo frequentemente utilizado, isto Ø, quando os novos objectos sªo construdos sob a influŒncia da actividade fantasmÆtica e a desconsideraªo da realidade perceptiva.

Ao nvel da representaªo das relaıes, procura-se constatar de que forma Ø experiŒnciada a relaªo com o Outro, uma relaªo objectal ou narc sica, libidinal ou agressiva. A representaªo das relaıes em que as cinestesias aparecem com boa qualidade formal, demonstra a capacidade de elaboraªo do sujeito, o equilbrio entre percep ªo e projecªo, entre realidade e fantasia. A presena da simetria ou a referŒncia ao duplo, reflexo, espelho, nos cartıes relacionais (II, III, VII) pode revelar fragilidades identitÆrias e relacionais, ou seja, a simetria pode ser interpretada como uma necessidade de figurar e organizar a mancha ou como um resultado de fragilidades identitÆrias, que leva reproduªo do Outro igual a si devido dificuldade de diferenciaªo entre o Eu e o Outro ou da dificuldade em aceitar o Outro como diferente. A pouca frequŒncia de interacıes humanas, demonstra a impossibilidade de manter os limites do Eu nas relaıes

interpessoais devido perda da capacidade de objec tividade e de separaªo. TambØm se pretende constatar se nas relaıes representadas aparece a p rojecªo de uma substncia ou sentimento colocado no interior do Outro, para o seu controlo, destruiªo ou reparaªo.

Estes elementos de anÆlise, encontram-se sintetizados e distribudos na Tabela 1. em funªo dos organizadores utilizados e da dimensªo d a identificaªo projectiva utilizada.

Identificaªo Projectiva Comunicativa Identificaªo Projectiva Defensiva Representaªo do Eu (Identidade, Identificaªo, Imagem corporal) Predomnio de G e D; F+, K+; H%, A% normal;

G elevados; presena de Dd ou Do; Sim; F%, F+% baixo ou elevado; H% baixo ou elevado; Hd, Ad; Expressªo dos

Afectos (Controlo dos

Impulsos)

FC, FE, FClob

R baixo ou elevado; T.Lat. baixo ou elevado; recusa; C, CF, E, EF,

Clob; Percepªo da Realidade Poucos F–, F-; F+, K+; Ban; DG; D/G; D(G); F%, F+% baixo ou elevado;

poucas ou muitas Ban;

Representaªo das Relaıes

Predominio de K+; Kan+; H%, A%;

K elevado ou muito baixo e geralmente Ø K-; Kan-, kp, kob; Sim; presena de agressividade;

(H), (A);

TABELA 1. Conjunto de elementos de anÆlise da identificaªo projectiva.

Aps a anÆlise e interpretaªo dos dados recolhido s no protocolo, irÆ se realizar a integraªo e sntese dos mesmos, realando qual a c apacidade de adaptaªo e integraªo do sujeito realidade e ao novo, a capacidade de cons truªo e reconstruªo de smbolos e de novos objectos, resultado da oscilaªo entre movimentos r egressivos e progressivos e da troca entre o interior e o exterior, entre o subjectivo e o objectivo.

Procurar-se-Æ descrever se o funcionamento psicolgico do sujeito Ø caracterizado pelo uso da identificaªo projectiva na sua dimensªo com unicativa, revelada pela capacidade de elaboraªo, adaptaªo e integraªo realidade, ou se pelo uso excessivo da identificaªo projectiva defensiva, em que as fragilidades identitÆrias e relacionais, as dificuldades de simbolizaªo, representaªo e diferenciaªo dos obj ectos, impossibilitam a elaboraªo psquica das experiŒncias emocionais e dificultam a integraªo e adaptaªo ao processo adolescente.

7. SUJEITO

De entre vÆrios protocolos, disponveis numa base de dados de metodologia Rorschach, seleccionou-se aleatoriamente um protocolo de um adolescente que tivesse tentado o suicdio.

O sujeito escolhido Ø um adolescente do sexo feminino, com 16 anos de idade, ao qual se atribuiu o nome de Patrcia.

Sabe-se que a Patrcia tem ideaªo suicida, teve co mportamentos que colocaram em perigo a sua vida, designadamente auto-mutilaıes ( corte de pulsos) e uma vez cortou os pulsos com deliberada intenªo de morrer. Estes comportam entos podem ser considerados como comportamentos para-suicidas ou tentativas de suic dio que poderiam ter causado a morte da adolescente.

No documento O suicídio na adolescência (páginas 70-75)

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