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ABORDAGEM DO CICLO CONTÍNUO DE POLÍTICAS E A METODOLOGIA DE PESQUISA

1.3 Metodologia Utilizada

Para viabilizarmos a proposta de investigação e alcançarmos os objetivos da pesquisa, abordamos a política de expansão tendo como foco de análise o Reuni, através do tratamento dado ao mesmo pela Universidade Federal de Pernambuco, locus desta investigação. Alves-Mazzotti (2002, p.162), pontua que “a escolha do campo onde serão colhidos os dados, bem como dos participantes é proposital, isto é, o pesquisador os escolhe em função das questões de interesse do estudo e também das condições de acesso e permanência no campo e disponibilidade dos sujeitos”.

A prática do Reuni em curso nas universidades públicas federais brasileiras, mesmo sendo um fenômeno geral, apresenta especificidades em cada espaço institucional, o que indica o estudo de caso como opção metodológica mais pertinente e relevante para a investigação.

É, pois, em congruência com este sentido que elegemos a UFPE como locus da investigação. Pelo menos três razões se fazem evidentes nesse sentido. Em primeiro lugar, pelo fato da UFPE apresentar um Plano de Reestruturação e Expansão que não contempla as “recomendações” sugeridas pelas Diretrizes Gerais do Reuni divulgadas pelo MEC. As Diretrizes Gerais do Reuni no que se refere ao item 9 das “recomendações” aponta que os projetos das IFES “poderão romper com a estrutura tradicional de ingresso já em cursos profissionalizantes, sendo possível propor estruturas que prevejam uma formação inicial de curta duração e diplomas intermediários como parte do caminho para a profissionalização ou formação específica” (BRASIL, 2007, p.22). A título de ilustração veja-se, por exemplo, os planos Reuni das universidades do Rio de Janeiro (UFRJ, 2007), da Bahia (UFBA, 2007) e do Rio Grande do Norte (UFRN, 2007).

Em segundo lugar, tendo em vista o processo conturbado marcado por manifestações de resistências expressas por grupos de estudantes, professores e técnico-administrativos durante a deliberação do Conselho Universitário/UFPE em Sessão Extraordinária, do dia 23 outubro de 200714

, que tinha como ponto de pauta a votação de adesão ao Reuni. Imediatamente depois da aprovação da adesão ao

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Programa Reuni pelo Conselho Universitário da UFPE a favor, o prédio da reitoria foi ocupado pelos movimentos estudantis por vinte e três dias. Isto é um sinal importante do clima institucional de acomodação do Reuni. Embora tenha sido aprovado, resistências e certas indisposições políticas não podem deixar de ser consideradas ao longo da análise.

Por último, não podemos deixar de considerar que as limitações de recursos e tempo para realizar o estudo em diferentes espaços institucionais. A facilidade de acesso aos dados e nossa capacidade financeira pesaram também nessa decisão. Claro que percebíamos que a relação Reuni-UFPE constituía caso relevante para o exercício analítico em torno dos contextos de formação e da prática, considerando os processos de re-significação das políticas.

Desse modo, o estudo realizou-se no contexto da UFPE, tendo como marco temporal da pesquisa o período que compreende os dois mandatos do governo Lula (2003-2010).

Para tanto, buscou-se explorar as influências dos documentos “globais” no processo de formulação da política nacional, bem como investigar no contexto da UFPE os impactos da política no que diz respeito à ampliação e democratização da educação superior no âmbito dessa instituição, considerando as contradições existentes no campo da educação superior.

Nessa direção, recorremos à produção acadêmica por meio da pesquisa bibliográfica com o intuito de contextualizar a temática de estudo e definirmos as categorias teóricas trabalhadas, bem como fontes documentais que explicitam o discurso da influência internacional e nacional sobre a produção de textos nacional e local.

Mais especificamente consideramos:

a) documentos globais divulgados por agências internacionais, tais como: La Ensenãnza Superior: las lecciones derivadas de la experiencia (BANCO MUNDIAL, 1995); Declaração Mundial sobre Educação Superior no Século XXI: visão e ação (UNESCO,1998); Construir Sociedades de Conocimiento: nuevos desafios para la educación terciária (BANCO MUNDIAL, 2003) e a Declaração de Bolonha – Declaração Conjunta dos Ministros da Educação Superior (1999), referências estas relevantes, como veremos no capítulo IV, que exercem influências nas concepções e recomendações no campo da

educação superior brasileira. É importante mencionar que tais influências, no entanto, não são uma mera transferência e migração de políticas, pois as políticas são recontextualizadas e reinterpretadas dentro de contextos específicos (BALL, 1998);

b) documentos nacionais, entre os quais destacamos o: Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2001), o Projeto de Lei n.°7200/2006 (BRASIL,2006) Plano de Desenvolvimento da Educação (BRASIL, 2007), a Minuta do Decreto Presidencial que institui o Plano Universidade Nova de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – Universidade Nova, o Decreto Presidencial n° 6.096/2007, que estabelece as Diretrizes do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) e os documentos elaborados pela Andifes, Andes-SN e UNE sobre a expansão da educação superior e o Reuni, bem como a Proposta da Universidade Nova;

c) documentos institucionais – tais como o Plano de Reestruturação e Expansão da Universidade Federal de Pernambuco, Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) 2009-2013, relatórios do Reuni/UFPE, memorandos e atas, dentre outros.

Ressaltamos ainda que nosso foco ao analisar os documentos supracitados não está no texto em si, como objeto final de explicação, mas como recorte de apreciação que nos possibilitou entender como a política educacional, mais especificamente, o Reuni, foi formulado. Tomamos então, o texto como objeto de explicação. Como nos lembram Shiroma et al. (2005), os textos devem ser lidos com e contra outros textos, ou seja, compreendidos em sua articulação ou contraposição com outros textos. A análise dessas conexões nos ajuda a compreender o sentido dos textos de forma mais profunda (BAZERMAN, 2006).

É importante chamar atenção que na análise dos documentos também ficamos atentos ao estilo de textos formulados, pois como ressalta Bowe & Ball (1992), existem distinções entre os estilos dos textos readerly e writerly. Os autores usam a palavra writerly para pontuar que se trata de uma forma de texto que

possibilita uma contribuição a ser dada pelo leitor, assim o texto convida o leitor a ser escritor, co-autor. Já o texto readerly expressa uma forma de texto que limita a produção de sentidos pelo leitor, que é levado a assumir um papel de “consumidor inerte [ao invés de um] papel do produtor do autor” (HAWKES, apud MAINARDES, 2007, p.38).

Partindo dessa compreensão, Bowe & Ball (1992) asseguram que é vital reconhecer que estas duas formas de textos (readerly e writerly) são produtos do processo de formulação da política, um processo que surge de e continuamente interage com uma variedade de contextos inter-relacionados. Conseqüentemente, os textos possuem uma clara interface com os contextos específicos em que são usados.

Assim, visando aprofundar o nosso olhar acerca da temática, realizamos também, à entrevista do tipo semi-estruturada com os principais protagonistas envolvidos com o Reuni em âmbito institucional, na tentativa de apreender os diferentes discursos e percepções que buscam ser fixados sobre o mesmo e a política de expansão da educação superior.

O critério utilizado para a escolha dos entrevistados deu-se em função do grau de envolvimento das pessoas que participaram e participam mais diretamente da aprovação, elaboração, execução e acompanhamento do Reuni na UFPE. A opção pela entrevista semi-estruturada justifica-se por permitir um nível de interação entre entrevistador e entrevistado que facilita a fluência das informações, bem como possibilita que o pesquisador reencaminhe a entrevista para os objetivos, cada vez que o entrevistado deles se afastar ou entrar em digressões que não contribuem para o entendimento da temática de estudo. O roteiro das entrevistas, na íntegra, encontra-se nos apêndices e teve como elemento norteador as categorias que trabalhamos nas referências teóricas.

Segue abaixo o quadro descritivo dos entrevistados, da data de realização das entrevistas, e da referenciação, ou seja, como ela se encontra citada nos capítulos analíticos.

Quadro 1 – Entrevistas realizadas

Categorização dos Informantes Data da Realização Referenciação

Reitor 06/08/2010 Entrevista n.°1

Pró-Reitora para Assuntos Acadêmicos 14/07/2010 Entrevista n.°2 Pró-Reitor para Assuntos de Pesquisa e

Pós-Graduação

27/07/2010 Entrevista n.°3

Interlocutora Institucional do Reuni na UFPE

10/06/2010 Entrevista n.°4

Integrante da Comissão de Elaboração do Plano Reuni/UFPE em 2007

Integrante da Comissão Gestora do Reuni

14/06/2010

Entrevista n.°5

Ex-presidente da Seção Sindical (gestão 2007-2008)

15/06/2010

Entrevista n.°6 Presidente da Seção Sindical

(gestão 2008-2009 e 2009-2010)

02/07/2010

Entrevista n.°7 1 ° Vice-Presidente da União Nacional dos

Estudantes (UNE)

08/07/2010

Entrevista n.°8 Vice-Presidente da gestão do Diretório

Central dos Estudantes (DCE), gestão 2008-2009

08/07/2010

Entrevista n.°9

Integrante da Coordenação Geral do Diretório Acadêmico (DA) do Curso de Ciências Sociais em 2007.

20/07/2010

Entrevista n.°10

Em conformidade com os objetivos do estudo, mencionados na introdução, e em face da natureza qualitativa e quantitativa da investigação lançamos mão, também, de dados estatísticos oficiais divulgados pelo: INEP/MEC, o Censo da Educação Superior, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que elabora a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e o Banco de Dados da Comissão do Vestibular da UFPE (Covest), órgão responsável pela realização do vestibular da instituição, que coleta e armazena informações por meio de questionários sobre o perfil socioeconômico e educacional dos candidatos inscritos e aprovados na seleção do vestibular para ingresso na UFPE. É por meio

da identificação da composição desse perfil que conseguimos estabelecer as relações necessárias a fim de alcançarmos os objetivos delineados no estudo.

Particularmente, analisamos a série temporal dos processos seletivos e dos questionários socioculturais do período 2004 a 2010.

É por meio da análise da composição do perfil da população estudantil que conseguimos estabelecer as correlações necessárias e relevantes em torno do processo de democratização delineados nos objetivos do estudo.

A amostra utilizada na pesquisa para cálculo dos indicadores considerou o número de candidatos que responderam ao questionário sociocultural quando da inscrição no concurso dos vestibulares nos anos de 2004, 2005 e 2006 (antes da implementação do Reuni) e 2008, 2009 e 2010 (após a implementação do Reuni) na UFPE. Lembramos que o questionário sociocultural é disponibilizado para todos os candidatos no ato da inscrição ao processo seletivo vestibular. No entanto, não é obrigatório respondê-lo para efetuar a inscrição. Porém, o índice de respostas é relativamente elevado, permitindo assim estudos de diversas ordens.

Registramos que para analisar os impactos do Reuni no que diz respeito as alterações do perfil socioeconômico e educacional dos estudantes da UFPE, consideramos as seguintes variáveis do banco de dados: sexo, faixa etária, estado civil, cor, curso de graduação, ocupação do pai ou responsável, ocupação da mãe ou responsável, escolaridade do pai, escolaridade da mãe, tipo de instituição que cursou o ensino fundamental, tipo de instituição que cursou o ensino médio, renda mensal da família e participação do estudante na renda familiar.

Utilizamos o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 17.0, para processarmos e estabelecermos relações entre as variáveis selecionadas no questionário, bem como para a geração de indicadores que nos possibilitou traçarmos o perfil do estudante da UFPE, antes e depois do Reuni na instituição. Esse software é usualmente utilizado para análise de dados quantitativos em pesquisa no âmbito das Ciências Sociais.

A propósito da abordagem metodológica a ser utilizada, no domínio do trabalho, assumimos a posição de Minayo (1999, p.32), em suas colocações sobre a relação entre as abordagens qualitativa e quantitativa, quando afirma que:

a) as metodologias qualitativas e quantitativas não são incompatíveis e podem e devem ser integradas em relação aos estudos dos fenômenos sociais;

b) que uma pesquisa quantitativa pode conduzir o investigador à escolha de um problema particular a ser avaliado em toda sua complexidade, através de métodos e técnicas qualitativas e vice-versa;

c) que a investigação qualitativa é que melhor se coaduna ao reconhecimento de situações particulares, grupos específicos e simbólicos, nas quais se encontram o estudo de caso de instituições complexas como é o caso das universidades.

Nesse sentido, de acordo com Minayo & Sanches (1993, p.247), “nenhuma das duas abordagens é mais cientifica do que a outra (...) uma pesquisa, por ser quantitativa, não se torna objetiva e melhor”. Entendermos que a qualidade da pesquisa transpõe as pontuais denominações metodológicas e passa a depender, também, da postura e da prática político- ideológica do pesquisador, em sua peculiar capacidade de interagir com o ambiente e os sujeitos.

A partir dessa compreensão, entendemos que desenvolver pesquisa no campo das ciências sociais, e especialmente no campo da educação, tem como desafio principal tratar os aspectos qualitativos sem desprezar o quantitativo, estudar a prática enquanto campo privilegiado da teoria, tratar das especificidades da parte como expressão e especificidade da totalidade, buscando assim a superação das dicotomias presentes nas abordagens teóricas positivista e pós-positivismo no trato da realidade social. De forma que, os métodos qualitativos e quantitativos são passíveis de serem combinados, complementados e, em muitos casos, acabam por subsumirem-se em determinados estágios da pesquisa.

Considerando, pois a articulação entre política e discurso e a ideia de circularidade dos textos políticos apresentados por Ball e Bowe (1992;1994), percebemos a pertinência e necessidade de interlocução com o campo do discurso para o tratamento e análise qualitativa dos dados. Assim, procuramos basear nossa análise, como principal procedimento, na Análise de Discurso Textualmente Orientada (ADTO) desenvolvida por Norman Fairclough (2001).

Optamos por tal procedimento em função de Fairclough (Ibidem) reunir a análise de discurso orientada textualmente, o pensamento social e político relevante para o discurso e a linguagem. Nesse movimento, o autor amplia o sentido de discurso e apresenta um quadro que consideramos mais estruturado e compreensivo, denominado de análise tridimensional do discurso, considerando o discurso a um só tempo como texto, prática discursiva e prática social. Essas três

dimensões interdependentes constituem a concepção tridimensional de análise crítica do discurso proposta pelo autor, que se faz presente em todos os contextos do ciclo contínuo de política, conforme apresentamos na figura a seguir:

Figura 2 – Concepção Tridimensional do Discurso

Fonte: FAIRCLOUGH, Norman (2001, p.101).

Chamamos a atenção, no entanto, que essas dimensões (texto, prática discursiva e prática social) não constituem momentos estanques, pelo contrário, estão intimamente relacionadas e sua compreensão não se realiza de forma separada. Nas palavras do autor (2001, p.22),

Qualquer „evento‟ discursivo (isto é, qualquer exemplo de discurso) é considerado como simultaneamente um texto, um exemplo de prática discursiva e um exemplo de prática social. A dimensão do „texto‟ cuida da análise lingüística de textos. A dimensão da „prática discursiva‟, como „interação‟, na concepção „texto e interação‟ de discurso, específica a natureza dos processos de produção e interpretação textual – por exemplo, que tipos de discursos (incluindo „discursos‟ no sentido mais socioteórico) são derivados e como se combinam. A dimensão de „prática social‟ cuida de questões de interesse na análise social, tais como as circunstâncias institucionais e organizacionais do evento discursivo e como elas moldam a natureza da prática discursiva [...].

Um fato a ser destacado nessa perspectiva é o entendimento de Fairclough (2001), sobre o termo discurso. O mesmo nos propõe que, ao usar o termo discurso

Discurso como Prática Social – o texto investido de questões políticas e ideológicas

que nos remete não só ao discurso, como também as práticas sociais.

Discurso como Prática Discursiva – O texto em termos de produção,

distribuição e consumo. Os textos são produzidos ou consumidos de formas diferentes, em contextos sociais específicos, assim como a distribuição textual também apresenta particularidades contextuais.

Discurso como Texto – focalizam-se os aspectos

lingüístico-textuais de sua constituição, articulados a produção ou a interpretação dos textos. A análise das formas lingüísticas não pode estar dissociada das relações de sentido dos seus usos.

devemos considerar “o uso de linguagem como forma de prática social e não como atividade puramente individual ou reflexo de variáveis situacionais” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 90). O que implica entender o discurso como uma forma “de ação das pessoas no mundo e sobre o mundo” e também um modo de representação do mundo segundo nossas posições sócio-ideológicas. Implica, ainda, uma relação dialética com a estrutura social, “existindo mais geralmente tal relação entre a prática social e a estrutura social: a última é tanto uma condição como um efeito da primeira” (p. 91). Em outras palavras, o discurso é moldado e constituído pela estrutura social e contribui também para a constituição dessa estrutura social, ou seja, é socialmente constitutivo. Nesse sentido, ao considerarmos os documentos de políticas como discurso estamos a defender que eles não apenas refletem a realidade social, mas são constitutivos da realidade.

A partir dessa compreensão, no processo de análise buscou-se enfocar as três dimensões da ADTO: a análise textual, análise da prática discursiva e análise da prática social, ou seja, a análise tridimensional. Para tanto, ao considerarmos o discurso enquanto texto tomamos como categorias de análise, por exemplo, a estrutura textual, a linguagem empregada e os argumentos utilizados para fundamentar as proposições nos textos.

No que se refere ao discurso enquanto prática discursiva, tal dimensão envolve os processos de produção, distribuição e consumo do texto. Destacamos que esses processos precisam ser analisados tomando como referência o contexto social, político e econômico no qual o discurso foi produzido. Nesse momento, contemplamos as categorias da intertextualidade e interdiscursividade expressas nos textos. A opção pelo trabalho analítico, com foco na intertextualidade15 e interdiscursividade, conforme já discutido em Ball (1994), significa considerar que os textos podem transformar textos anteriores e reestruturar os já existentes, possibilitando a geração de novos textos. Nessa perspectiva, salienta Fairclough (2001, p.114),

intertextualidade é basicamente a propriedade que têm os textos de ser cheios de fragmentos de outros textos, que podem ser delimitados explicitamente ou mesclados e que o texto pode assimilar, contradizer, ecoar ironicamente, e assim por diante.

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O termo intertextualidade, utilizado por Fairclough, é tomado emprestado de Julia Kristeva cunhado no final da década de sessenta a partir da releitura de Mikhail Bakhtin.

Ressalta, no entanto, o autor a necessidade de se enfatizar a relação entre intertextualidade e hegemonia para a análise do discurso como estratégia de investigar as mudanças sociais. Ao articular a intertextualidade e hegemonia, o autor sinaliza para a preocupação com as posições de sujeitos, e com as relações de poder que emergem no texto. Já a interdiscursividade, também intitulada por Fairclough (Ibidem) de intertextualidade constitutiva, diz respeito à configuração de convenções discursivas mais complexas que entram na produção de um texto.

A terceira dimensão de análise diz respeito ao discurso como prática social. Assim, buscamos ao longo do exercício de nossa análise indicar as relações hegemônicas e ideológicas que perpassam pelos discursos.

Finalmente, cabe destacar que essa abordagem nos permitiu trabalhar com o discurso de um modo aberto, flexível, considerando-se a possibilidade de mudanças, incluindo a prática social como elemento importante na realização da análise. Nessa direção, através dessas estratégias, procuramos estabelecer os referenciais teórico- conceituais para desvelar os meandros da política de expansão da educação superior pública federal emPernambuco.

CAPÍTULO 2

POLÍTICA DE EXPANSÃO E ACESSO À EDUCAÇÃO SUPERIOR: UM OLHAR