Metodologia utilizada para a coleta de dados no Corpus do Português e nos poemas da Literatura de Cordel

A metodologia utilizada para a coleta dos dados do PB teve como característica principal o mapeamento das mesmas formas adverbiais em -mente encontradas nas cantigas medievais. Em outras palavras, não foram mapeadas todas as ocorrências de advérbios em -mente encontradas neste corpus do PB, apenas foi checada a forma adverbial atual em comparação com a forma antiga mapeada para descrever possíveis mudanças.

O mapeamento das formas adverbiais em –mente foi realizado por meio da

busca no site http://www.corpusdoportugues.org/x.asp. Apesar de este corpus abarcar ocorrências desde o ano 1300, para este estudo os focos foram os séculos XIX e XX, embora em alguns dos advérbios mapeados tenham sido encontradas ocorrências também em textos dos séculos XVII e XVIII. Além disso, adotou-se como critério de mapeamento o fato de buscarmos ocorrências da variedade do PB, apesar de algumas ocorrências encontradas fazerem parte do PE. Portanto, as ocorrências mapeadas neste

corpus são dos séculos XIX e XX e pertencem à variedade do PB.

Além dos critérios relacionados ao período e à variedade do português, é preciso ressaltar que a busca pelos advérbios em –mente no Corpus do Português visou a

formas específicas, não ao sufixo, uma vez que o intuito deste trabalho não é semelhante ao de pesquisas em sociolinguística quantitativa. Dessa forma, foi feita uma comparação qualitativa das formas da mesma palavra em períodos diferentes do Português, comparando dados, qualitativamente, e não corpora, dadas as especificidades de cada

corpus, que impossibilitam a comparação quantitativa entre eles.

112 _{Mais adiante, na seção 5, esta mesma ocorrência será analisada de forma mais detalhada, explorando}

possível observar a seguir a página inicial de busca das ocorrências:

Figura 5- Página de busca Corpus do Português

Fonte: http://www.corpusdoportugues.org/x.asp (acesso em 15 out. 2014).

A figura 5 mostra a primeira etapa da coleta dos dados no Corpus do Português. Após fazer o login, somos direcionados a essa página e digitamos as ocorrências de advérbios em –mente já mapeadas nas cantigas medievais (no caso, a palavra abertamente). Em seguida, o programa fornece uma lista da ocorrência pesquisada,

como mostra a figura 6:

Figura 6- Lista das ocorrências mapeadas para a palavra “abertamente”

uma na lista e uma outra janela era mostrada, como é possível visualizar na figura 7:

Figura 7- Mapeamento da ocorrência no contexto

Fonte: http://www.corpusdoportugues.org/x.asp (acesso em 15 out. 2014).

O trecho exposto na figura anterior evidencia a ocorrência pesquisada no contexto em que ela aparece. O mapeamento de todos os advérbios em –mente foi realizado desta forma: a ocorrência no contexto. Devido ao grande número de palavras encontradas, o mapeamento é apresentado em CD ao final desta tese, juntamente aos outros anexos. Deve-se ressaltar ainda que, para as ocorrências que apresentam grande quantidade (acima de 200), foram mapeadas apenas 100 delas, uma vez que o corpus em que tais ocorrências foram coletadas está disponível online113_.

Com relação ao mapeamento das ocorrências de advérbios em –mente nos

poemas da literatura de cordel, a metodologia se mostrou, em um primeiro momento, semelhante à utilizada na coleta de dados no Corpus do Português, uma vez que o intuito desse mapeamento era apenas checar, agora em contexto poético, algumas das formas adverbiais em –mente mapeadas nas cantigas medievais. Sendo assim, foram

escolhidos 10 dos 22 poemas da edição crítica de Lopes (1982), contudo nesses poemas selecionados não encontramos as mesmas ocorrências mapeadas nas cantigas medievais. Portanto, as ocorrências de advérbios em –mente marcadas não foram exatamente as

113 _{Se o leitor tiver qualquer dúvida ou mesmo quiser saber mais sobre determinada forma adverbial,}

comportamento prosódico daquelas.

Após o mapeamento, foi realizada a escansão do verso no qual cada ocorrência aparecia, como pode ser verificado no exemplo abaixo:

(72)

“As/ da/mas/ da/ al/ta/ côr/te 2-5-7 tra/ja/vam/ de/cen/te/men/te 2-5-7 tô/da/ cor/te im/pe/ri/al 1-3-6 es/pe/ra/va im/pa/ci/en/te 1-3-5-7 [...]”

(LIMA apud LOPES, 1982, p.28) O exemplo acima mostra que os acentos poéticos revelam a acentuação linguística das formas em –mente. Ao se localizar no final do segundo verso, a

ocorrência “decentemente” tem possibilidade de rima com a palavra “impaciente”, fato este que indica que este acento poético é revelador do acento de palavra114 _(MASSINI- CAGLIARI;CAGLIARI, 1998).

4.3 Considerações finais

Ao final desta seção é possível concluir que a metodologia utilizada para a coleta dos dados em PA se mostra eficaz e adequada para tentar definir e delimitar os acentos poéticos e, consequentemente, o acento nas palavras de um período da língua em que não se tem contato com os falantes nativos. Sendo assim, ao localizar os acentos nas palavras, sobretudo nas formas adverbiais em -mente, pode-se encontrar pistas que ajudam a determinar o estatuto prosódico dessas formas no período arcaico da língua portuguesa.

Conclui-se ainda que a comparação feita entre as formas adverbiais em –mente

do PA e do PB pode mostrar o quanto estas modificaram e o quanto se mantiveram ao longo do contínuo temporal delimitado a partir dos dois extremos focalizados. Através de tal mapeamento e da análise nas cantigas religiosas e profanas e também no Corpus

do Português foi possível: 1) descrever e comparar os fenômenos prosódicos

114 _{Mais adiante, na seção 5, esta mesma ocorrência será analisada de forma mais detalhada, explorando}

no PB; 2) analisar eventuais restrições e bloqueios a que a adjunção desse “sufixo” específico se submete em PA e PB.