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Metodologias de análise de Inclusão Digital na C

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.2 INCLUSÃO DIGITAL NA CI: ABORDAGENS E CONCEITOS

2.2.2 Metodologias de análise de Inclusão Digital na C

De acordo com os autores que tratam de Inclusão Digital na CI é possível compreender que a Inclusão Digital deve ser entendida e debatida sob dois pontos de vista: o macro, através das políticas públicas; e do ponto de vista mais específico, isto é, considerando a realidade das pessoas assistidas pelos programas e projetos de Inclusão Digital. Dessa

forma, as ações de Inclusão Digital sofrem modificações de acordo com o perfil dos beneficiários, como as questões referentes à faixa etária e ao nível de escolaridade, por exemplo. Diante dessa perspectiva, exclui-se a possibilidade dos projetos de Inclusão Digital seguirem metodologias de funcionamento completamente similares, excluindo-se, de igual modo, a possibilidade de existência de um único modelo de análise para as iniciativas de Inclusão Digital.

Além disto, segundo Medeiros Neto e Miranda (2009), a avaliação de um programa de Inclusão Digital pode ser realizada sob óticas distintas ou em vários níveis de abrangência, podendo-se analisar ou avaliar a base teórica do projeto, bem como o seu processo ou os seus modos de operacionalidade, sua eficácia, eficiência, efetividade, e assim por diante. Diante desse contexto é importante frisar que o presente trabalho possui como foco a análise da base teórica do referido projeto de Inclusão Digital “Telecentros de Informação e Educação – Estações Digitais”, bem como seus processos operacionais, tendo como interesse a análise de como o projeto contribui (e se contribui) para a formação de sujeitos autônomos e participativos.

Partindo destes pressupostos, propõe-se que os modelos criados por pesquisadores para análise de programas/projetos de Inclusão Digital servirão de base para a criação de um quadro de análise próprio para esta pesquisa, que se adeque ao objeto desta pesquisa. Para que se tenha um panorama de como estes modelos de análise foram elaborados, expor-se-á uma síntese de trabalhos desenvolvidos na CI sobre o tema, para que assim seja possível a criação do quadro de análise próprio, mas logicamente elaborada a partir de outros modelos plenamente aceitos pela área.

Sirihal Duarte et al. (2008), tendo como base a categorização de Dudiziac (2004), desenvolveu uma metodologia de análise de usuários da informação digital na perspectiva da Inclusão Digital relacionada com a inclusão informacional. Abaixo, encontra-se exposto o quadro (quadro 2) de categorias que serviu de referência para a análise de um projeto de Inclusão Digital.

Figura 1 – Indicadores de Inclusão

Fonte: Adaptado de Sirihal Duarte et al., 2008

Este modelo metodológico apresentado por Sirihal Duarte et al. (2008) foi desenvolvido tendo como objetivo investigar se as iniciativas que se propõem a capacitar os usuários para o uso das tecnologias da informação e comunicação obtêm resultados satisfatórios. Nesse exemplo, a partir das categorias selecionadas, a autora elaborou o material de coleta de dados, que, nesse caso específico, foram questionários. É importante salientar

que um dos objetivos desse estudo de Duarte foi a verificação do comportamento do usuário em relação ao uso da informação no meio digital, ou seja, tal estudo objetivou analisar o impacto da Inclusão Digital no cotidiano dos usuários, sendo que a principal variável presente nessa análise foi o tipo da informação por eles utilizada. Tem-se, assim, uma metodologia, construída especificamente para um estudo de usuário, com foco na competência informacional.

O trabalho de Lemos e Costa (2005) é outro exemplo de construção metodológica para a análise de Inclusão Digital. Nesse estudo buscou-se analisar os projetos em andamento, à época, na cidade de Salvador, que se enquadravam sob a denominação de “Inclusão Digital”. Para fins metodológicos, foi desenvolvida uma matriz de análise onde a Inclusão Digital é compreendida sob o pano de fundo de quatro capitais (social, técnico, cultural e intelectual) que constituem todo processo do projeto em questão.

A partir desses capitais foi proposta a compreensão da Inclusão Digital através de três categorias principais: a técnica, a cognitiva e a econômica. Essas categorias foram ainda inseridas em duas grandes categorias gerais de Inclusão Digital que os autores chamaram de “induzida” e “espontânea”. De tal modo, foram analisados os processos de inclusão denominados de induzidos, com o objetivo de demonstrar a hipótese de que os programas de Inclusão Digital em Salvador privilegiavam apenas o capital técnico em detrimento dos capitais social, cultural e intelectual, relegando assim os aspectos econômicos e cognitivos, como se observa no quadro 3:

Quadro 2 – Matriz de análise de projetos de Inclusão Digital

Fonte: Lemos e Costa, 2005

Com esta metodologia de análise, Lemos e Costa (2005) puderam constatar que grande parte dos projetos analisados encontra-se no nível técnico, concluindo assim que o conceito de inclusão é pensado apenas na dimensão tecnológica, não colocando em valor os capitais intelectual, social e cultural.

Partindo das contribuições trazidas pelos autores supracitados e tendo como referência central o modo de formulação metodológica de Dudziac (2004), objetivou-se a criação de um quadro de análise que contemple os objetivos traçados por esta pesquisa. Para tal, cabe expor de forma objetiva e sucinta, os pressupostos norteadores para a concepção da Inclusão Digital elaborados após a discussão das ideias apresentadas:

a) A Inclusão Digital não se encerra com o mero uso das tecnologias: a perspectiva técnica constitui um aspecto indispensável, porém, deve-se transcender a etapa de acesso e uso das tecnologias.

b) A alfabetização digital corresponde ao nível preliminar da Inclusão Digital: a alfabetização digital corresponde ao domínio das habilidades mínimas requeridas para o uso das tecnologias.

c) A inclusão informacional deve ser estimulada nos projetos de Inclusão Digital: o uso da informação para atender as necessidades informacionais através das TICs é o diferencial para que os projetos de Inclusão Digital promovam a inclusão social.

d) A Inclusão Digital, ao promover a inclusão informacional, potencializa a

inclusão social: a Inclusão digital legítima é aquela que auxilia o desenvolvimento através do estímulo às práticas cidadãs.

Torna-se necessário, a este ponto da discussão teórica, recapitular os objetivos propostos pela pesquisa para que a abordagem teórica adotada esteja em total sinergia com tais objetivos. Tem-se como objetivo geral “Analisar o projeto Telecentros de Informação e

Educação – Estações Digitais sob os pressupostos teóricos de Inclusão Digital da Ciência da

Informação”; e como objetivos específicos: “Analisar os conceitos de Inclusão Digital que

orientam o projeto”; “Conhecer as condições ambientais internas e externas de funcionamento do projeto” e “Propor diretrizes para a manutenção e/ou melhoria do projeto em questão”.

Vale ressaltar que esta pesquisa não se constitui enquanto em estudo de usuário com foco na competência informacional, e sim como um estudo que visa analisar o modo através do qual o referido projeto de Inclusão Digital está estruturado, identificando os conceitos que o orientam e de como as diretrizes que o norteiam estão voltadas para a promoção da Inclusão Digital para além do mero acesso às tecnologias e à informação.

Os modelos metodológicos acima apresentados (e outros semelhantes) não são possíveis de ser aplicados para esta pesquisa, pois não atenderiam, em sua plenitude, aos objetivos deste estudo. Diante deste fato, tendo como base os modelos acimas apresentados e reunindo os pressupostos teóricos sintetizados em sinergia com os objetivos propostos, têm-se o seguinte modelo de análise (quadro 4):

Quadro 3 – Níveis de Inclusão Digital em Telecentros

Inclusão Digital

Nível técnico-

operacional

Habilidades técnico- operacionais para o manuseio de hardwares e

softwares; uso livre da

internet;

Os cursos ofertados contemplam o uso básico dos hardwares e

softwares, com conteúdos em sua

maioria técnicos; a internet é utilizada para lazer e

entretenimento;

Nível

Informacional

Habilidades que abrangem a busca, classificação e uso da informação; uso da internet com fins

educacionais;

Os cursos ofertados contemplam o uso da informação no ciberespaço, com propósitos definidos e ligados à educação; a internet é usada para busca de informações, serviços utilitários e para e-learning.

Nível