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Capítulo 5 Simulação Numérica

5.4 Estudos de Sensibilidade

5.4.1 MFBAUP

Um dos objetivos dos estudos de sensibilidade, realizados com base numa sala de reserva do MFBAUP, foi a avaliação da influência da utilização de materiais higroscópicos na es- tabilização da humidade relativa interior.

A sala de reserva selecionada para a realização deste estudo foi a Reserva de Pintura Cen- tral do MFBAUP, devido ao facto de ser a mais próxima da galeria de exposição (através da qual se realiza a admissão de ar), bem como de apresentar um comportamento higro- térmico semelhante às outras salas de reserva. Consideraram-se as condições fronteira e a envolvente do edifício introduzidas aquando da validação do programa e associaram-se os climas medidos nas salas de reserva adjacentes à sala em estudo, nomeadamente os climas da sala de reserva de escultura e de pintura. No teto e nas paredes considerou-se a aplica- ção de um material de revestimento higroscópico caracterizado por possuir uma elevada permeabilidade ao vapor de água – δp = 5,8E-11 kg/(m.s.Pa) (TS) e uma variação de teor de humidade de 16 kg/m3 para uma variação de humidade relativa entre 40 e 70 %. Por

fim, como os caudais de ventilação mais elevados tendem a atenuar o efeito higroscópico dos materiais, simulou-se a variação do caudal de ventilação, considerando-o inferior ao medido.

O material de revestimento higroscópico utilizado foi o material PFMLM, caracterizado no Capítulo 3, ou seja painéis de fibras de lã de madeira de abeto revestidos por ligantes mine- rais. Como este material não constava da base de dados do programa, teve que ser criado como material novo e introduzidas as suas propriedades (Tabela 5.6).

A curva higroscópica e o fator de resistência à difusão de vapor de água permitem que o modelo quantifique o efeito do material na estabilização da humidade relativa. Como se pode verificar na Tabela 5.6, o PFMLM possui uma boa capacidade higroscópica para va- lores de humidade relativa compreendidos entre os 40 e os 70 %, limites mínimo e máximo recomendados por Thomson [3] para a humidade relativa no interior dos museus.

Tabela 5.6 — Propriedades do PFMLM introduzidas na base de dados do programa.

PROPRIEDADES Curva Higroscópica (ϕ, w)

Massa Volúmica (ρ) 533 kg/m3 0 20 40 60 0 20 40 60 80 100 w (k g /m 3) Humidade Relativa (%) Porosidade 0,40 Calor Específico (c) 1810 J/kg.K Condutibilidade Térmica (λ) 0,075 W/m.K

Fator de Resistência à Difusão de

Vapor de Água (µ) 3,3 (TS) 1,1 (TH)

Na Tabela 5.7 apresentam-se as várias configurações estudadas: a Simulação 1 corresponde à situação original – sem materiais de revestimento higroscópico e ventilação elevada; na Simulação 2 mantêm-se os materiais de revestimento originais (sem materiais de revesti- mento higroscópico) e reduz-se a ventilação para 0,24 h-1 (ventilação reduzida); na Simu- lação 3 reveste-se o teto e as paredes da sala com o material PFMLM (com material de re- vestimento higroscópico) e mantém-se a ventilação original de 0,98 h-1 (ventilação eleva- da) e na Simulação 4 considera-se o revestimento de teto e paredes com o material PFMLM (com material de revestimento higroscópico) e reduz-se a ventilação para 0,24 h-1 (ventilação reduzida).

Tabela 5.7 — Configurações estudadas.

Configuração Materiais de Revestimento Ventilação

Simulação 1 Originais (sem) 0,98 h-1 (elevada)

Simulação 2 Originais (sem) 0,24 h-1 (reduzida)

Simulação 3 Material PFMLM (com) 0,98 h-1 (elevada)

Simulação 4 Material PFMLM (com) 0,24 h-1 (reduzida)

Na Figura 5.27 e na Figura 5.28 representam-se as variações anuais da humidade relativa obtidas nas diferentes configurações estudadas para a reserva de pintura central, bem como a variação de humidade relativa da galeria (ar admitido).

20 40 60 80 100

jan. 12 mar. 12 mai. 12 jul. 12 set. 12 nov. 12 jan. 13

H

R

(

%

)

Galeria Simulação 1 Simulação 3

Figura 5.27 — Variação da humidade relativa obtida nas simulações 1 e 3 efetuadas para a reserva de pintura central.

20 40 60 80 100

jan. 12 mar. 12 mai. 12 jul. 12 set. 12 nov. 12 jan. 13

H

R

(

%

)

Galeria Simulação 2 Simulação 4

Figura 5.28 — Variação da humidade relativa obtida nas simulações 2 e 4 efetuadas para a reserva de pintura central.

Na Tabela 5.8 podem ser consultados os valores mínimos, médios e máximos dessas varia- ções, bem como o parâmetro Relative Humidity Stabilization (RHS), definido no § 4.5.2, que permite quantificar a influência que as várias soluções possuem na estabilização da humidade relativa. Este parâmetro resulta do somatório ao longo de um ano, das diferenças absolutas entre a humidade relativa média sazonal a 90 dias e a humidade relativa em cada hora (11). Por sua vez, a humidade relativa média sazonal a 90 dias em cada hora é calcu- lada através da equação (8) e consiste na média dos valores horários dos 45 dias ou das 1080 horas antes, dessa hora e dos 45 dias ou das 1080 horas depois.

Outro parâmetro que pode ser avaliado é a variação máxima da média dinâmica sazonal da humidade relativa (HRsazonal), que é calculada aplicando a equação (16). A variação máxi-

ma da média dinâmica sazonal da humidade relativa resulta da diferença entre o valor má- ximo e mínimo das várias médias dinâmicas sazonais da humidade relativa.

)

(

)

(

i,sazonal i,sazonal sazonal

máx

HR

mín

HR

HR

=

(16)

Tabela 5.8 — Valores mínimos, médios e máximos da humidade relativa nas simulações.

Humidade Relativa Simulação 1 Simulação 2 Simulação 3 Simulação 4

Mínimo 30,9 42,8 39,7 52,2 Média 62,3 65,9 63,7 65,7 Desvio Padrão 10,7 8,2 8,0 4,9 Máximo 95,3 87,4 86,8 79,4

RHS

66 287 48 785 47 663 27 080 sazonal HR16,4 12,7 12,9 7,8

Analisando o gráfico e os valores da tabela, pode-se concluir o seguinte:

— No gráfico é visível o amortecimento dos picos da humidade relativa quando se compara a variação da humidade relativa da simulação 1 (sem materiais higros- cópicos e ventilação elevada) com a da simulação 3 (com material higroscópico e ventilação elevada) e a humidade relativa da simulação 2 (sem materiais hi- groscópico e ventilação reduzida) com a da simulação 4 (com material higros- cópico e ventilação reduzida). Este amortecimento resulta da utilização do mate- rial higroscópico PFMLM, em substituição dos materiais de revestimento origi- nais do teto: gesso cartonado e das paredes: reboco à base de cal;

— Um efeito semelhante é visível ao comparar a curva de variação da humidade relativa da simulação 1 (sem materiais higroscópicos e ventilação elevada) com a curva da simulação 2 (sem materiais higroscópico e ventilação reduzida) e a curva da simulação 3 (com material higroscópico e ventilação elevada) com a da simulação 4 (com material higroscópico e ventilação reduzida). Neste caso, o amortecimento deve-se à diminuição da taxa de renovação horária.

— Se o número de renovações horárias é cerca de 1 h-1 e se é utilizado o material higroscópico PFMLM no revestimento do teto e das paredes (Simulação 3), o valor do parâmetro RHS baixa em 28 %, quando comparado com os materiais originais de revestimento (Simulação 1);

— Se a ventilação for reduzida para 0,24 h-1 e se o teto e as paredes forem revesti- dos com o material higroscópico PFMLM (Simulação 4), o valor do parâmetro

RHS reduz 44 % face à utilização dos materiais de revestimento originais (Si- mulação 2) e 59 %, face ao aumento da taxa de renovação horária para cerca de 1 h-1 (Simulação 1).

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