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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.2 Micro-organismos Endofíticos

2.2.6 Importância Biotecnológica dos Micro-organismos

2.2.6.5 Micro-organismos Endofíticos Produtores de

Enzimas produzidas por micro-organismos endofíticos apresentam potencial de aplicação biotecnológica em diversos campos, como no processamento de alimentos, na fabricação de detergentes, de tecidos e de produtos farmacêuticos, na terapia médica e na Biologia Molecular (CARRIM et al., 2006; SUNITHA et al., 2013).

Carrim e colaboradores (2006) isolaram e identificaram dez espécies de bactérias endofíticas de Jacaranda decurrens e todas apresentaram atividade enzimática, com maior predominância de atividade proteolítica e amilolítica, seguida das atividades lipolítica e esterásica. Cuzzi e colaboradores (2011) realizaram a avaliação da capacidade da produção de enzimas extracelulares de 11 espécies de fungos endofíticos isolados de Baccharis dracunculifolia e observaram que sete apresentaram atividade lipolítica; em relação à atividade amilolítica, apenas um fungo foi negativo; e seis apresentaram a produção de enzimas proteolíticas.

2.2.6.6 Micro-organismos Endofíticos Produtores de Fármacos

Stierle e colaboradores, em 1993, despertaram, na comunidade científica, o interesse a respeito do potencial farmacológico presente nos micro-organismos endofíticos, pois ficou comprovado que um fungo endofítico, o Taxomyces andreanea, encontrado no interior da planta Taxus brevifolia, é capaz de produzir um complexo diterpenóide, o taxol, cuja fórmula molecular está presente na Figura 8, o qual é um antitumoral de alto valor agregado no mercado internacional. Outros trabalhos posteriores demonstraram que o fungo Pestalotiopsis microspora, isolado da Taxus wallachiana, também produz o taxol (TURGEON & BUSHLEY, 2010).

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Figura 8 – Fórmula molecular do taxol

Esse antitumoral é isolado dos vegetais hospedeiros desses micro- organismos endofíticos. Com a descoberta de que os fungos também seriam capazes de produzi-lo é que se vislumbrou uma nova alternativa, possivelmente mais eficiente e menos dispendiosa para a produção deste fármaco. Uma possível análise de similaridade entre os genes envolvidos na rota da biossíntese do taxol pode mostrar se houve ocorrência na transferência de genes da planta para o fungo ou vice-versa (MUSSI-DIAS et al., 2012; SHWETA et al., 2013).

Portanto, é extremamente importante a descoberta de fontes de micro- organismos endofíticos produtores de compostos bioativos de alto valor agregado, os quais são produzidos em quantidades reduzidas pelas espécies vegetais. Os endofíticos apresentam-se como uma alternativa importante para garantir a manutenção da produção de substâncias farmacológicas e a preservação dessas árvores. Diversos estudos visando avaliar a atividade biológica de micro-organismos endofíticos, no intuito de se obter novos compostos bioativos, vêm sendo realizados e resultados interessantes e de aplicabilidade têm sido encontrados (FERNANDES et al., 2009; MELO et al., 2009; DING et al., 2010; LV et al., 2010; RAMOS et al., 2010; ROSA et al., 2010; KUMAR et al., 2013).

A utilização indiscriminada de antibióticos e fungicidas favoreceu o surgimento de micro-organismos multi-resistentes, tantos aqueles que acometem humanos como animais e plantas. Portanto, a descoberta de novos agentes antibacterianos e antifúngicos produzidos por bactérias e fungos endofíticos, principalmente em países de grande biodiversidade, contribuem para que pesquisas relacionadas a compostos bioativos adquiram importância e relevância para a indústria farmacológica, visto a

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possibilidade de descoberta de novos compostos que poderão, além de combater doenças, gerar dividendos para o país (RODRIGUES et al., 2000).

Dentre os micro-organismos que acumulam substâncias antifúngicas, os fungos e as leveduras destacam-se pela quantidade de produtos farmacêuticos produzidos de utilização na medicina. Portanto, os fungos endofíticos se mostram como uma boa alternativa para a produção de novos compostos antimicrobianos (FERNANDES et al., 2009). Por exemplo, cita-se a produção de criptocandina, um lipopeptídeo antimicótico, produzido pelo fungo endofítico Cryptosporiopsis quercina (STROBEL et al., 1999).

2.3 As Actinobactérias

Anteriormente, as actinobactérias eram chamados de actinomicetos, denominação de origem grega, onde aktis, significa ―raio‖ e mykes, fungo, ou seja, ―crescimento radial como fungo‖. Sendo, portanto, primeiramente classificadas como um grupo intermediário entre fungos e bactérias. Posteriormente, com investigações com microscopia eletrônica e estudos citológicos, foi demonstrado que são bactérias filamentosas procarióticas (PANDEY, 2003).

Dessa maneira, o Filo Actinobacteria é formado por micro-organismos unicelulares procariontes Gram-positivos, aeróbios, anaeróbios facultativos ou aneróbios (HOPWOOD et al., 2000). Apresentam crescimento ramificado, muito característico do crescimento fúngico e a maioria possui uma morfologia filamentosa com a capacidade de formar agregados filiformes, devido à formação de hifas com diâmetro entre 0,5 a 1,0 µm, se assemelhando aos filamentos dos fungos, como mostra a Figura 9. O diâmetro das actinobactérias varia entre 0,5 e 2,0 µm (geralmente, menor que 1,0 µm), sendo a maioria de vida livre ou saprofítica

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Figura 9 – Semelhança existente entre a micromorfologia filamentosa dos fungos (em “A”, Exserohilum rostratum) e das actinobactérias (em “B”, Nocardia sp.)

Fonte: O Autor

Podem ser autotróficas, heterotróficas, quimiotróficas ou fototróficas, porém, em sua maioria, são quimio-organotróficas e crescem em pH neutro, porém existem algumas que são acidófilas ou alcalófilas. Existem aquelas que são halófilas (KONEMAN et al., 2008; GOODFELLOW, 2012). A maioria das actinobactérias são mesófilas e a temperatura ótima para seu crescimento está entre 25 ºC e 30 ºC. Em temperaturas inferiores a 5 ºC, o crescimento é praticamente nulo, e a temperaturas superiores a 55 ºC, observa-se algumas espécies termofílicas, pertecentes ao gênero Streptomyces, Thermonospora e Thermoactinomyces; contudo, esta alta temperatura pode ser letal caso o micro-organismo não esteja em um ambiente úmido (STANLEY, 1994).

As actinobactérias menos evoluidas tem um desenvolvimento micelial incompleto, o qual ocorre apenas durante o crescimento ativo, entretanto aquelas mais desenvolvidas apresentam dois tipos de micélios, o micélio no substrato, os rizóides; e aqueles fora do substrato, os micélios aéreos. Quando da presença de esporos, estes últimos se encontram na extremidade (FRANCO, 2008).

A parede celular é formada por peptidioglicano, lipoproteínas, lipopolissacarideos, ácidos teicóicos, entre outros. Apresentam uma porcentagem de guanina-citosina (GC) entre 63 a 75%, constituindo-se como grupo de bactérias com maior procentagem desse par de bases nitrogenadas, com genomas que variam entre 2,5 Mb a 9,7Mb (VENTURA et al., 2007).

55 Macroscopicamente, irão apresentar, em placas de Petri, colônias secas e não cremosas, as quais podem ser lisas ou com aspecto rugoso, duras, coriáceas e com intensa aderência ao meio de cultura e recobertas por uma fina película, o micélio aéreo ou reprodutivo, sendo esta uma característica peculiar. Podem apresentar diferentes colorações, como branco, rosa, laranja, verde, cinza, parda, entre outras (KONEMAN et al., 2008; GOODFELLOW, 2012).

As actinobactérias apresentam um odor característico de ―terra úmida‖, a qual se deve a compostos voláteis sintetizados pelo seu metabolismo secundário, como a geosmina. Além disso, possuem uma atividade metabólica alta, produzindo terpenóides, pigmentos e enzimas extracelulares com as quais degradam a matéria orgânica de origem vegetal e animal. São capazes de produzir metabólitos secundários, dentre os quais estão diversos compostos de importância econômica (EVANGELISTA & MORENO, 2007).

Esses micro-organismos apresentam distribuição cosmopolita, sendo encontrados em: plantas, principalmente, de folhas e raízes (ZHAO et al., 2011); solo, sendo este o habitat mais comum, abundante na rizosfera, região do solo influenciada pelas raízes da planta (MEHRAVAR et al., 2010; VASCONCELLOS et al., 2010); areia de praia (SUZUKI et al., 1994); deserto (NOROVSUREN et al., 2007); mangue (YU et al., 2010); pasto (LEE & HWANG, 2002); insetos (KALTENPOTH et al., 2005); sistemas e organismos marinhos (REYMA & VIJAYAKUMAR, 2008); incluindo habitats extremos, como sedimentos marinhos (PATHOM-AREE et al., 2006), geleira (REDDY et al., 2009) e solos desérticos hiper- áridos (OKORO et al., 2009). Outros são patógenos de plantas e animais, simbiontes, comensais ou habitantes do trato gastrintestinal de alguns animais (GOODFELLOW & FIEDLER, 2010).

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