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2. POLÍTICAS DE EMPREGO E MICROCRÉDITO NO BRASIL

2.2. Microcrédito no Brasil: conceituação e história

Um dos exemplos de política estrutural é o microcrédito oferecido por “bancos” não-oficiais. Este tem se mostrado como uma boa opção para os trabalhadores que buscam sua reinserção no mercado ou a melhoria da qualidade de vida através do trabalho.

Na linguagem financeira, microcrédito está relacionado a um pequeno empréstimo simplificado para que determinada pessoa (ou várias) possa utilizá-lo e depois restituí-lo ao dono; é um sistema cumulativo em que a partir do primeiro empréstimo e de sua quitação o usuário está habilitado para o recebimento de outros empréstimos e de valores gradativos. Traz consigo vários atributos que vão desde o meio de conceder o crédito até o beneficiário e a finalidade a que se destina.

Geralmente, o microcrédito beneficia a população de baixa renda e especialmente os microempreendedores do mercado de trabalho informal, uma vez que estes usuários têm necessidade de valores compatíveis com sua capacidade de

O microcrédito é conhecido também como crédito produtivo orientado; produtivo por atender unicamente a atividades econômicas (de microempresas e pequenos empreendimentos informais) e orientado por contar com a visita e a avaliação do agente de crédito (que é a ponte entre o beneficiário do microcrédito e a instituição financeira).

Os programas de microcrédito propiciam uma relação de confiança que envolve o tomador do empréstimo e a instituição financeira, relação que está propensa ao risco porque o ato de emprestar traz a necessidade de que o dinheiro seja devolvido. Tais programas trazem como objetivo

“... face às dimensões e à natureza substantiva do desemprego contemporâneo, oferecer alternativas de geração de emprego e renda, de inserção no processo produtivo, portanto, sem o recurso a práticas assistencialistas ou paternalistas. O estímulo à capacidade empreendedora e à busca da auto-sustentação são assim traços comuns a eles.” (Azeredo, 1998: 271)

O segmento das microfinanças abrange um sistema financeiro que traz serviços adequados e sustentáveis para a população de baixa renda, apresentando assim como objetivos dois vieses, o segmento microempresarial e o combate à pobreza. Tais serviços financeiros (com garantia, prazo, valor, finalidade e meio de pagamento) são ajustados à realidade dos clientes de baixa renda; a forma de análise de risco também é peculiar, inclui a capacidade de pagar (ou seja, uma construção informal do fluxo de caixa dos clientes), a análise da vontade de pagar (caráter do cliente) e ainda uma forma não-convencional de garantia que se assenta no compromisso pessoal e solidário.

Nesta perspectiva, a recorrência a instituições financeiras de microcrédito tem se mostrado muito viável, pois o processo simplificado contrasta com as exigências feitas pelos bancos privados, como as garantias reais, comprovantes de renda, planejamento de negócios formais e análises de balanço.

A tecnologia financeira do microcrédito substitui a burocracia dos bancos oficiais, as informações sobre possíveis clientes são conseguidas de maneira informal e no local pelos agentes de crédito; estes são fundamentais para o êxito das negociações uma vez que precisam estabelecer uma relação de confiança e profissionalismo, realizando entrevistas, repassando as informações e visitando o local da atividade do empreendedor para poder, dessa forma, fixar o valor e as condições do empréstimo.

No Brasil, somente a partir de 1994 foi que houve uma expansão e o fortalecimento das “indústrias” de microfinanças. Porém, a primeira experiência em microcrédito no Brasil foi em 1973, com a União Nordestina de Assistência a Pequenas Organizações, conhecida como Programa Uno – organização não- governamental especializada em microcrédito e capacitação para trabalhadores de baixa renda do setor informal -, esta desapareceu em 1991 por não conseguir manter práticas que favorecessem sua auto-sustentabilidade.

Antes de 1994, somente a rede FENAPE (que havia implantado os Centros de Apoio aos Pequenos Empreendedores – CEAPEs – e teve sua experiência inicial no Rio Grande do Sul) e o Banco da Mulher (a princípio na Bahia) operavam em parte do país. O impulso para o crescimento das instituições foi o aumento do interesse dos governos municipais e estaduais em fomentar a criação de ONGs que ofereciam microcrédito.

A partir daí, surgiram muitas experiências como o PORTOSOL (da Prefeitura de Porto Alegre com o apoio de entidades civis); o Programa CREDIAMIGO do Banco do Nordeste; a VIVACRED (com o apoio, entre outros, do BNDES e da ONG VIVARIO) e a atuação do Conselho da Comunidade Solidária no desenvolvimento do microcrédito no país, com a tomada de medidas importantes, entre elas a edição da Lei

Sociedades de Crédito ao Microempreendedor, e da Lei 9.790/997 que inclui o microcrédito como um dos objetivos das OSCIPs (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público).

De acordo com o SEBRAE, no mercado brasileiro, os pequenos empreendimentos (cerca de 13 milhões, 98,5% das empresas) é que são responsáveis por mais de 60% dos empregos e formas de ocupações geradas. Destes, mais ou menos 2/3 são formados por micro e pequenos negócios informais e 95% não têm acesso ao sistema oficial de crédito.

Alguns autores apontam problemas e limitações nestes programas de geração de emprego e renda que são baseados na concessão de crédito, tais como: a falta de abrangência desses programas - que não lhes permitem alcançar os fenômenos “do desemprego, do subemprego e do emprego desqualificado que as transformações econômicas colocam atualmente” (Azeredo, 1998: 274) -; a desarticulação existente entre os programas, mesmo entre programas da mesma rede de ações e que a maioria não tem escala operacional suficiente (sustentabilidade, ou seja, o meio de garantir a continuidade dos serviços prestados e o aumento do número de clientes).

Ainda entre estas barreiras, a oferta das instituições de microfinanças encontra- se limitada ao microcrédito produtivo – capital de giro e pequenos investimentos – não abarcando, assim, o grande tipo de necessidades financeiras da população de baixa renda.

No entanto, como nos apresenta Silveira Filho (2005), são inegáveis as características positivas do microcrédito para a população de baixa renda. Isto fica evidenciado quando da observação do acesso continuado ao crédito, com juros não tão

elevados, o que possibilita o fortalecimento do negócio e o crescimento da renda das famílias.

Logo, estas medidas econômicas têm gerado grande impacto social, e de maneira positiva; em nível macro favorece o crescimento econômico sustentável e eqüitativo (constituindo-se também como parte de um sistema financeiro que consegue alcançar os mais pobres), e num nível micro traz oportunidades de desenvolvimento para os pequenos empreendedores que tenham capacidade empreendedora.

2.3. INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DE MICROCRÉDITO: ACESSO AO

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