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Transformações no mercado de trabalho: o caso das mulheres na

1. PERSPECTIVAS DE GÊNERO NO MERCADO DE TRABALHO

1.3. Transformações no mercado de trabalho: o caso das mulheres na

O crescimento da força de trabalho feminina no Brasil é um dos mais altos da América Latina; esta ampliação do trabalho da mulher é notória, bem como sua importância no processo de automização feminina; todavia,

“tem se verificado sobretudo no trabalho mais precarizado, nos trabalhos em regime de part-time, marcados por uma informalidade ainda mais forte, com desníveis salariais ainda mais acentuados em relação aos homens, além de realizar jornadas mais prolongadas” (Antunes, 2001: 108).

Nas últimas décadas, várias mudanças ocorreram nas relações de trabalho. O aumento do desemprego e as reduções nos postos de trabalho levaram à exclusão social e, conseqüentemente, à recorrência de novas estratégias para sobrevivência.

Estas formas alternativas podem ser caracterizadas pela expansão do trabalho autônomo (comércio ambulante, etc.); da terceirização de mão-de-obra (que traz como vantagens para as empresas a redução da mão-de-obra vinculada legalmente); da

prestação de serviços que não exigem qualificação; dos trabalhos sazonais; do subemprego (em que uma parte da força de trabalho está ociosa durante um tempo ou, se está trabalhando, é quase improdutiva); dos trabalhos temporários; da inserção de mão-de-obra feminina e, acentuadamente, pelo crescimento do setor informal.

Pelos critérios do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as atividades caracterizadas como informais são aquelas que não são regulamentadas pelo poder público ou que não recolhem impostos por não estarem registradas oficialmente, o que pode abranger desde a ocupação de um vendedor ambulante até uma atividade realizada em estabelecimento que envolva até cinco pessoas empregadas.

Assim, por estes critérios, são 40,5% da população economicamente ativa no mercado de trabalho informal, trabalhadores sem registro na carteira, sem direitos trabalhistas e em condições mais precárias de trabalho e renda.

Por este ângulo, Arbache (2003: 11) aponta que 58% das famílias pobres são chefiadas por trabalhadores autônomos, empregados informais ou sem remuneração. Estes empreendedores informais ainda precisam enfrentar algumas dificuldades como a baixa produtividade, a elevada concorrência, a dificuldade de acesso ao crédito e ainda a baixa escala de produção.

Como características do setor informal de trabalho podem ser apontados o reduzido emprego de técnicas, a baixa capacidade de acumulação de capital, a instabilidade dos empregos e baixos salários, a falta de relações contratuais regidas por legislação trabalhista e fiscal, as longas jornadas de trabalho e a falta de direitos sociais por parte dos trabalhadores.

Na abordagem do trabalho informal, sob a ótica da falta de registro na carteira de trabalho (que torna inacessível a proteção social e o vínculo empregatício pela

CLT), podem ser observados três fenômenos: a ilegalidade, a autonomia e o microempreendedorismo.

Quanto à ilegalidade, abrange a contratação de funcionários sem carteira assinada e as firmas que não cumprem totalmente a legislação vigente; no entanto, a legalidade não significa que o empregado necessariamente terá acesso aos seus direitos, uma vez que muitos abdicam desses direitos em troca da permanência no emprego.

No que concerne à autonomia, trata-se da iniciativa empreendedora dos trabalhadores que procuram ter seu próprio negócio, melhorar sua condição de vida e esquivar-se da relação patrão/empregado; nesse sentido ser trabalhador autônomo não implica precariedade porque muitas atividades podem proporcionar rendas acima da média para ocupações formais, e nem todo trabalhador encontra-se desprotegido quanto à seguridade social pois recolhe para a Previdência Social.

Já os microempreendimentos dizem respeito às ações de empreendedores que possuem poucos funcionários, em tais negócios torna-se inviável a legalização pelos custos orçamentários, quantidade de funcionários e da grande burocracia para o acesso à documentação; outra questão neste aspecto é a identificação do tamanho do microempreendimento, sendo mais utilizada a classificação pelo número de empregados (neste caso, até cinco).

O mercado de trabalho informal abrange trabalhadores por falta de alternativa bem como trabalhadores por opção racional; a informalidade é um fenômeno crescente por suas inúmeras vantagens para o sistema capitalista de produção, como ser um mercado de fácil entrada uma vez que requer atividades pouco capitalizadas, com tecnologia simples, mão-de-obra pouco qualificada; sendo este caracterizado pela falta

legislação trabalhista. “A informalidade é geralmente mais difundida entre as mulheres trabalhadoras” (Carneiro, 2003: 136).

A entrada das mulheres na força de trabalho tem gerado resultados drásticos: grande contingente tem sido “empurrado” para o setor informal da economia, principalmente para os segmentos de mais baixa produtividade. Isto traz à tona mais uma questão própria das relações de gênero, em que as mulheres têm uma educação levemente superior a dos homens, mas são rebaixadas a atividades ocupacionais que requerem mão-de-obra pouco qualificada.

Além das mulheres constituírem a maioria da mão-de-obra alocada no setor informal de trabalho, ainda sofrem um agravante: são mais vulneráveis, onde a média de rendimentos até no setor informal é inferior a dos homens.

No Brasil, de acordo com Carreira (2004), a média de rendimento dos homens no setor informal é de 5,3 salários mínimos (a mesma do setor formal); já para as mulheres a média no setor formal é de 3,2 salários mínimos, caindo para 2,7 no informal. Nesta perspectiva, a defasagem da renda das mulheres se comparada com a dos homens na economia informal chega a 50,9%.

Outro dado importante, segundo este mesmo autor, é que a maioria dos trabalhadores informais que desenvolvem suas atividades em domicílio é de mulheres – 82,8%; já nos espaços públicos 70% são homens. Isso pode revelar alguns aspectos como a dificuldade da mulher penetrar espaços além dos tradicionais reservados a ela; a falta de aceitação com o trabalho desenvolvido pela mulher fora de casa, ou até mesmo porque muitas atividades desenvolvidas por mulheres demoram a ser vistas como trabalhos comerciais, permanecendo observadas como trabalhos artesanais ou domésticos.

A informalidade também é apontada como uma das características das micro e pequenas empresas chefiadas por mulheres no país. Conforme pesquisa do SEBRAE6, 60% dos negócios informais no Brasil são chefiados por mulheres, diferentemente das empresas formais, onde os homens detêm 66% das chefias. Geralmente nestes empreendimentos as mulheres não têm sócios – em 85% deles - nem contratam funcionários – 78%. O perfil destas empreendedoras chefes de negócios informais ainda pode ser completado com a maioria delas sendo casadas (ou que vivem com companheiros), a família composta por quatro membros aproximadamente, a baixa escolaridade (65% delas estudaram apenas até o ensino fundamental e o difícil acesso a cursos técnicos, somente 22%).

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