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4 OBJETOS DE COMUNICAÇÃO E ESCOLARES NO SISTEMA EDUCATIVO RADIOFÔNICO DE BRAGANÇA

4.2 SISTEMA EDUCATIVO RADIOFÔNICO DE BRAGANÇA E A RÁDIO EDUCADORA DE BRAGANÇA: “A Voz Católica da Família Paraense”

4.2.1 O microfone na sala de estúdio do SERB

É interessante destacar que o microfone não foi substituído por outros objetos de comunicação, ele foi evoluindo e se aperfeiçoando quando passaram a ser fabricados com películas muito mais sensíveis. Na figura a seguir é mostrado o microfone utilizado pelos professores no SERB.

Figura 29 – O microfone utilizado no Sistema Educativo Radiofônico.

Fonte: Museu da Rádio Educadora de Bragança, 2018.

Essa imagem mostra um dos primeiros microfones utilizados no Sistema Educativo Radiofônico. Ele tem 19,5 cm de altura e 5,5 cm de largura e apresenta a forma de um cilindro, cuja ponta é preenchido com um semicircle, revestido internamente por metal e tecido para não expor sua película. Apesar de não obtermos informações nos documentos investigados sobre as práticas culturais dos agentes do SERB, com o microfone foi possível localizar no meio deste a seguinte sigla “RCA 77-DX”. Ao pesquisar essa marca, identificamos dois Catálogos, indicando que ele foi produzido pela Rádio Corporation of America (RCA). Esta corporação fabricava diversos objetos eletrônicos, de comunicação, irradiação eletromagnética e de rádio com Amplitude Moderada (AM) (CATÁLOGO B.1009, RCA, 1955).

A entrada do microfone RCA no Brasil ocorreu desde 1910 quando os EUA expandiram a sua indústria eletrônica para o mercado brasileiro, cuja estratégia era permanecer como um país hegemônico no campo da comunicação, economia e política para outras indústrias, visto

que nesse período também disputava com suas concorrentes de mercado como a Alemanha e Grã-Bretanha55.

A RCA foi estruturada no campo da eletrônica no final de 1919 em Nova York e posteriormente foi levada para Nova Jersey. Esta era controlada pela General Electric, American Telephone and Telegraph Company (AT&T), United Fruit e Westinghouse Electric and Manufacturing Company (CATÁLOGO B.1009, RCA, 1955). Vale destacar que algumas dessas corporações estavam presentes no Centenário da Independência de 1922, no Rio de Janeiro quando se iniciou a Radiodifusão no Brasil, neste centenário diversos utensílios foram apresentados na exposição, como o microfone da RCA mais antigo da série 77 e 77D também produzidos pela Rádio Corporation of América56.

Conforme o Catálogo RCA (1955), o microfone RCA tipo 77-DX/MI-404557 foi projetado principalmente para o uso em transmissão de rádio; ele tinha um acabamento de fita Polydirecional que poderia ser facilmente ajustado para obter uma variedade de padrão de direção e velocidade da voz, além disso era cromado acetinado com um esmalte cinza-escuro de baixo brilho que elimina o excesso de reflexos.

Esse microfone foi fabricado e lançado em 1954 no intuito de transformar a energia sonora (da voz) do professor-locutor em sinal elétrico – chamado de transdutor, pois, assim se converte o som, em sinais elétricos. A seguir apresentamos uma imagem desse objeto de comunicação:

55 Disponível em: http://www.coutant.org/rca77dx/. Acesso em: 6 jan. 2019. 56 Disponível em: http://www.coutant.org/rca77dx/. Acesso em: 6 jan. 2019.

5757 O microfone TYPE 77 DX/MI 11006 foi projetado para uso em televisão e é completamente acabado em um esmalte cinza-escuro de baixo brilho que elimina reflexos gritantes geralmente vistos em microfones altamente polidos (CATALOGO DA RCA, 1955, p. 1).

Figura 30 – Imagem da estrutura interna do Microfone RCA TYPE77DX.

.

As características, desse microfone Polydirecional, se apresentam enquanto um utensílio de:

[...] reprodução de alta qualidade com maior sensibilidade em toda sua faixa de frequência de áudio onde foi produzido especificadamente para rádios, mais havia fabricação para televisão e também foi um objeto de comunicação de voz e música com estrutura para várias posições no ato de ser operado (CATÁLOGO B.1009, RCA, 1955, p. 1-2).

A seguir organizamos uma tabela para identificar as peças que formam a estrutura do microfone:

Tabela 5 – Peças que compõem a estrutura do Microfone RCA/TYPE77-DX. Descrição do objeto de

Comunicação no SERB

Número do estoque

Diagrama de localização das peças do microfone

Microfone Polydirecional produzido pela

Radio Corporation of America -

RCA/TYPE77-Dx (Produtos de Transmissão e Comunicação,

Camdem, N.J

50906 Montagem de Tela (Screen assembly) 54127 Braçadeira de Fita (Ribbon Clamp)

45385 Fita (Ribbon)

54329 Braçadeira de Fita (Ribbon Clamp) 207118 Braçadeira de Fita (Ribbon Clamp) 95219 Alça de Alumínio –porca (Thumbnut)

18393 Garfo (Fork)

207115 Reator (Reactor) 50907

Alça de Alumínio –porca (Thumbnut) 44677 Almofada (Cushion)

50925

Conjunto de Montagem de Almofada (Cushion Mouting Assembly) 44446

Braçadeira de Fita (Ribbon Clamp)

97472 Parafuso (SCREW) 54327 Parafuso (SCREW) 54327 Parafuso (SCREW) 52469 Parafuso (SCREW) 97472 Parafuso (SCREW) 95220

Parada de Limpeza (Stop Washer)

95218 Buchas (BUSHING)

97502 Arruela de Pressão (THRUST WASCHER)

93981 A

Montagem de Linha Acústica (Acoustic Line Assembly) 215992 Transformador (Transformer)

93817 Viga (STUD) 95216 Porca de capa (CAP NUT) 56702 Indicador (Indicator)

50909 Placa (PLATE)

50910 Obturador (SHUTTER) S/n Visão Traseira de Montagem do

Motor (Motor Assembly Rear View)

44671 Vedação –Junta (Gasket)

50908 Noz (Nut)

44440 Molas (Spring)

MI- 43D Cabo Específico de Comprimento (Cable Specify Lengtn) 19828 Braçadeira de Cabo (Cable Clamp) 58878 Alívio de Tensão (Strain Relief) Fonte: Adaptado da Imagem do Microfone (19) presente no Catálogo da RCA, 1955, p. 6.

As peças do microfone: (= 01) Montagem de Tela; (=04) Braçadeira de Fitas; (=01) fita Polydirecional; (=01) Alça de Alumínio; (= 01) Garfo; (=01) Reator; (=01) Almofada; (= 01) Conjunto de Montagem de Almofada; (=05) Parafusos; (=01) Parada de Limpeza; (=01) Bucha; (=01) Arruela de pressão; (=01) Montagem de Linha Acústica; (=01) Transformador; (=01) Interruptor; (=01) Viga; (=01) Porca de Capa; (=01) Indicador; (=01) Placa; (=01) Obturador; (=01) Visão Traseira de Montagem do Motor; (=01) vedação de Junta; (=01) Noz; (=01) cabo Específico de Cumprimento; (=01) Braçadeira de Cabo e (=01) Alívio de Tensão compõe a estrutura do Microfone Polydirecional, fabricado pela Rádio Corporation of America - RCA/TYPE77-Dx -Produtos de Transmissão e Comunicação, Camdem, Nova Jersey/N.J. Compõe a estrutura do microfone, por cada numeração do estoque.

Assim, o microfone, adquirido pelo Sistema Educativo Radiofônico de Bragança, foi fabricado pela RCA e ao chegar no Brasil indica que foi adquirido pelo Bispo D. Eliseu quando este o comprou como um dos primeiros objetos de comunicação para o SERB 58em uma de suas viagens até o Estado de São Paulo e Rio de Janeiro.

58 Não identificamos nos documentos, a aquisição do microfone pelos seus agentes, contudo pelos vestígios indicadores dos primeiros objetos que foram adquiridos na Sociedade Técnica Paulista, observamos que este material pode ter sido adquirido dessa forma.

No SERB, o microfone RCA/TYPE77-DX foi um dispositivo que tinha por finalidade transformar o som da voz do professor-locutor em energia elétrica, é evidente que o microfone dependia de outros dispositivos como o amplificador de som para equalizar a voz. Durante todo período de 1960 a 1977, o microfone, enquanto um objeto de comunicação, sempre foi usado como um elemento da cultural material escolar e em sua configuração era utilizado pelo professor-locutor no SERB para capturar sua voz no sentido de transmitir os conteúdos e orientar os alunos.

Desse modo, um dos desafios enfrentados pelos professores-locutores era com a utilização dos microfones, visto que seu uso exigia uma determinada técnica sobre o posicionamento e a velocidade para uma melhor emissão da voz do professor-locutor durante as aulas no SERB até a chegada de sua voz para os rádios educativos, localizados nas escolas radiofônicas das comunidades, de modo que, uma boa frequência também dependia do posicionamento deste objeto de comunicação.

Assim, a prática cultural desse objeto relaciona-se com o ponto de vista de Souza (2007), quando o mesmo objeto tem diversas funcionalidades, este faz parte de uma cultura material escolar que está conectada com a atividade humana que norteia os valores, as significações, as apropriações, a materialidade do objeto escolar, os processos, a circulação e o significado humano sobre cada objeto.

É preciso frisar que, além da utilização do microfone, havia uma interlocução deste com outros objetos, anexados a mesa de suporte para fixá-lo. Ela determina o posicionamento do microfone para que a voz do professor-locutor fosse emitida com êxito sem interferência na frequência no momento da propagação das disciplinas escolares. Na imagem a seguir, visualizamos o espaço interno da sala técnica do estúdio, onde ocorriam as aulas:

Figura 31 – Sala de estúdio onde ocorriam as aulas do SERB.

Fonte: Livro de Tombo da REB.

Na parte dos fundos do prédio do SERB e da Rádio Educadora, os espaços para reprodução das aulas eram abertos e não se tinha paredes para os ajustes da frequência da voz do professor durante a organização das aulas, pois:

[...] Tudo era muito precário, não se tinha paredes com isolamento de madeiras para equalizar a voz do professor que saía da rádio no momento das aulas, mais este era o correto. Como aconteciam as aulas na parte de trás da rádio, ficava lá atrás, nós não escutávamos o barulho dos carros, e isto não interferia. Aliás naquela época não se tinha muito carro em Bragança como se tem hoje né [...] (TÉCNICA DA RÁDIO 1) (informação verbal)59.

Observamos tanto na imagem quanto na fala da Técnica da Rádio que nesse espaço escolar não haviam paredes de isolamento para serem reproduzidas as aulas, uma vez que a própria estrutura do prédio era muito precária ao ponto de não se ter, por exemplo, paredes de madeira (tipo forro) para o isolamento acústico durante as aulas dos professores-locutores.

A Imagem 31 refere-se a visita dos técnicos e Bispos. Um técnico estava sentado manipulando os aparelhos de emissão; o outro é o último na ponta do lado esquerdo e ao meio, identificamos o Arcebispo da capital D. Alberto Ramos e o Pe. Miguel na outra ponta. Todos observando e manipulando a reprodução das programações da Rádio Educadora.

Sobre a organização das aulas para emissão da voz do professor- locutor, elas aconteciam da seguinte forma:

59 Entrevista em out. 2018.

[...] Para dar aula sempre tinha um técnico para controlar os tocas-fitas, com disco vinil. É muito interessante porque tinha-se uma caixa onde se colocava o disco de vinil, aí ele rodava, e na frente tinha a mesa de som com os botões e ao lado duas caixas quadradas com uma tampa, era lá que estavam conectados os fios que saiam da mesa de som do técnico e a dos microfones dos professores. Estes fios iam para o porte, por cima, e chegavam até os transmissores e ao lado dos transmissores tinha-se uma antena, já não mais aqui e sim já lá adiante[...] (TÉCNICA DA RÁDIO, 1) (informação verbal)60.

Identificamos na fala da Técnica da Rádio (1) que a organização para as aulas radiofônicas, além da mesa de controle do técnico, discos vinis, caixas de instalação da fiação elétrica para os transmissores, apontam uma relação direta entre o espaço da Rádio Educadora, na sala de estúdio e as antenas ao lado das Casas dos Transmissores para a emissão da voz dos professores-locutores.

Na organização da sala de aula, identificamos que a figura do professor-locutor é o principal agente para transmitir os conhecimentos para os alunos, aqui, constitui-se uma permanência no ato de operar uma aula, pois a presença do professor com os alunos durante as aulas sempre foi e é uma prática cultural desenvolvida no interior das instituições educativas ao longo da história da educação brasileira. Mas, no Sistema Educativo Radiofônico de Bragança há duas inovações pedagógicas: a sala de aula e ensino do professor, era a sala de estúdio localizado na Rádio Educadora, onde se produzia os conhecimentos para os alunos nos mais variados municípios da Prelazia do Guamá. Além disso, quem escutava as aulas emitidas por estes professores no interior da sala de aula eram os alunos e monitores (principal responsável de orientar os alunos), ou seja, há uma ausência da presença do professor nas salas de aula com os alunos nas escolas radiofônicas.

Para a reprodução das aulas, os professores-locutores deveriam se adequar ao dispositivo decálogo que foi construído como uma das normas estabelecidas pela direção do Sistema Educativo Radiofônico de Bragança para orientar os professores sobre a organização de uma aula:

60 Entrevista em out. 2018.

Figura 32 – Orientações para professor(a) locutor(a) no SERB.

Fonte: Livro de Tombo Exames Supletivos (1976-1981).

A estratégia de orientação para os professores-locutores efetivarem uma aula no Sistema Educativo Radiofônico foi estruturada na forma de um decálogo que apresenta a atribuição específica deste agente: no primeiro decálogo, o tempo de dez minutos para chegar, antes do início da aula, está relacionado com a organização deste professor para executar os conteúdos. No segundo decálogo quando o professor fornece antecipadamente o script – um determinado

texto com uma série de instruções escritas na forma de conteúdo para o técnico da rádio, identificamos uma correlação entre o técnico e o professor-locutor para a execução de uma aula.

No terceiro decálogo é solicitado que a sequência do script possa ser seguida religiosamente – fidedignamente para que ambos os profissionais venham obter a mesma linguagem, por isso, é solicitado que o professor visualize inúmeras vezes o script da aula a ser apresentada, conforme é apontado no quarto decálogo.

O quinto decálogo é constituído pela pronúncia das palavras, o professor deveria, com segurança, pronunciar a última das sílabas das palavras para facilitar a audição dos alunos nas escolas radiofônicas. O sexto orienta sobre a posição do professor em relação ao microfone de modo que isto não prejudique a transmissão. No sétimo decálogo, o significado sobre as palavras difíceis deveria por acaso ser pronunciado durante as aulas para retirar as dúvidas dos alunos, o que expressa um método de repetição das palavras para memorização do aluno.

Em relação ao oitavo decálogo, o professor deveria prestigiar ao máximo, os monitores que se encontravam nas comunidades da Prelazia do Guamá a fim de que estes pudessem ser prestigiados pelos alunos; era uma outra forma de trabalhar a autoestima tanto dos monitores quanto dos alunos para a permanência nas turmas de escolarização da EJA. A leitura dos professores-locutores era um outro ponto fundamental para a transmissão da aula, por isso, “LER CORRIDO”, não significa transmitir bem as aulas, essa norma está estruturada no nono decálogo. O décimo decálogo reforça a diferença entre um locutor e um professor locutor, cuja função é de transmitir uma aula, com o máximo compreensível, para os alunos no interior das escolas radiofônicas.

O dispositivo decálogo, construído pelo SERB para o professor-locutor, apresenta práticas culturais aos professores nas mais diferentes formas de orientação: assiduidade do professor em relação ao tempo de início da aula; o planejamento deste no sentido de entregar os conteúdos: script da aula; o diálogo entre o professor-locutor e o técnico no horário da rádio; a linguagem acessível das palavras; os conhecimentos sobre a postura do professor em relação ao microfone; a explicação das palavras complexas; uma ênfase em prestigiar os sujeitos da comunidade – monitores e alunos; a leitura do script de forma compassada e a lembrança em que este agente antes de ser locutor é um professor.

Essas práticas culturais são regidas pelas normas estabelecidas por esta instituição de modo a permitir a compreensão do professor sobre alguns itens: o conhecimento sobre as técnicas especificas com o objeto de comunicação, a linguagem e a postura do professor para operar uma aula na rádio resultam na necessidade de não prejudicar a transmissão da aula e por

conseguinte facilitar a aprendizagem do aluno e do monitor no ato de escutar o script, esses itens aparecem com frequência em toda forma do decálogo.

Outra forma de Reprodução das aulas era com os gravadores, este objeto de comunicação circulou inicialmente no Sistema Educativo Radiofônico de Bragança e depois foi utilizado no Escritório Central do SERB.

4.3 ESCRITÓRIO CENTRAL DO SISTEMA EDUCATIVO RADIOFÔNICO DE