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CAPÍTULO 1 MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS: O PAPEL DA GLOBALIZAÇÃO

1.2 Migrações internacionais: teorias e principais fluxos globais

1.2.1 Migrações internacionais x Direitos Humanos: Marco internacional

Será abordado, neste momento, a importância dos direitos humanos no contexto das migrações internacionais. Esta subdivisão é de extrema relevância para a compreensão dos direitos dos migrantes no plano internacional, no que tange ao deslocamento populacional.

Para iniciar a discussão se utilizará o conceito de Bobbio que explica:

Partimos do pressuposto de que os direitos humanos são coisas desejáveis, isto é, fins que merecem ser perseguidos, e de que, apesar de sua desejabilidade, não foram ainda todos eles (por toda a parte e em igual medida) reconhecidos; e estamos convencidos de que lhes encontrar um fundamento, ou seja, aduzir motivos para justificar a escolha que fizemos e que gostaríamos fosse feita também pelos outros, é um meio adequado para obter para eles um mais amplo reconhecimento (BOBBIO, 2004, p. 12). Importante, também, é a relação entre direitos e reconhecimento enfatizadas por Zamberlam et al. (2013). Para eles toda a pessoa tem direitos pelo simples fato de existir, porém nem todos estes direitos são legalmente reconhecidos. Conforme os autores mencionam:

O processo de reconhecimento se liga a qualidade de consciência da sociedade que se expressa pelas vias jurídicas. O passo do reconhecimento na nossa sociedade é muito lento e contraditório por enfrentar interesses de grupos que querem manter seus privilégios. (ZAMBERLAM et al., 2013, p. 27)

Para estes autores a história dos direitos humanos se pauta na história do estabelecimento dos limites entre o Estado e o indivíduo, entre o poder e a justiça, para posteriormente estabelecer uma convivência pacífica e de qualidade entre os indivíduos.

No campo do conhecimento dos Direitos Humanos, outro autor que traz contribuições significativas é Ruiz (2014). O autor retrata que os migrantes vêm sendo tratados ao longo dos anos como cidadãos de segunda ou terceira categoria por países capitalistas centrais. Neste contexto, mesmo os direitos básicos lhes vão sendo negados. Outro conceito, muito trabalhado pelo autor, que instiga as discussões sobre direitos humanos é o conceito de "soberania nacional e regional". Muitos estudiosos e autores acreditam que esta soberania nacional e regional contribui para a inclusão e exclusão de muitos migrantes e pessoas em situação de vulnerabilidade. Conforme menciona o autor a respeito da soberania nacional/regional:

Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos de forma global, justa e equitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase. Embora particularidades nacionais e regionais devam ser levadas em consideração, assim como diversos contextos históricos, culturais e religiosos, é dever dos Estados promover e proteger todos os direitos humanos e liberdades fundamentais sejam quais forem seus regimes políticos, econômicos e culturais. Mazzuoli (apud RUIZ, 2014, p. 68).

Destaca-se, que o Ruiz (2014) ainda cita que entre os autores que dissertam sobre a temática de direitos humanos é praticamente unânime que a maior contribuição para este campo de pesquisas, foi a necessidade de reconhecimento, previsão e efetividade dos direitos de ordem social e do mundo do trabalho. Por fim, este mesmo autor (Ibid.), nas palavras de Mazzuoli resume esta temática conceitualizando, que os direitos humanos e as liberdades fundamentais, devem ser consideradas direitos naturais de todos os seres humanos, sendo que sua promoção e proteção devem estar sob a responsabilidade primária dos governos.

Importante contribuição a respeito desta temática nos é dada por Ballestrin (2006). A autora, através de Bobbio, alerta para a dificuldade existente em construir- se um conceito na temática direitos humanos, devido à multiplicidade de diferentes áreas que o compõe, como por exemplo, a filosofia, a ética, a jurídica, a histórica e a política. Reforçando essa ideia, Hogemann (apud BALLESTRIN, 2006) enfatiza que as várias denominações atribuídas aos direitos humanos, podem ser transformadas em apenas uma: "Direitos Fundamentais". Mas, o que é irrefutável é que não se tem

uma uniformização a respeito da conceitualização de direitos humanos. Corroborando com esse fato, Ballestrin (2006) ressalta, ainda, que a construção ou o uso de um conceito universal encontraria claros limites diante da multiplicidade de distintas identidades étnicas, nacionais e culturais, que fazem parte da sociedade mundial contemporânea.

Em relação à construção da Declaração Universal dos Direitos Humanos, deve- se retornar a sua historicidade para melhor compreensão. Na tentativa de resgate desse processo histórico, utiliza-se o texto de Brito (2013) chamado "A politização das migrações internacionais". Este menciona que as Declarações do Direito do Homem construída no final do século XVIII tiveram como base as Revoluções Americana (1776) e Francesa (1789). Estas declarações foram criadas para garantir os direitos fundamentais dos cidadãos. Posteriormente a Primeira Guerra Mundial, foi criada a Liga das Nações, que tinha como objetivo e missão garantir a paz e os direitos humanos das minorias. Segundo o mesmo autor, esta experiência organizacional foi ineficiente, devido principalmente a predominância de países autoritários, e com o início da Segunda Guerra Mundial.

Logo após a Segunda Guerra, criou-se a Organização das Nações Unidas (ONU), que tinha como objetivo superar as deficiências da Liga das Nações e garantir a permanência da paz entre os Estados Nacionais. Em 1945, a Carta de Fundação das Nações Unidas foi assinada, e tinha como foco alguns artigos que afirmavam a garantia de direitos humanos entre as nações e principalmente a cooperação internacional. Em 1947, a primeira dama dos EUA, Eleanor Roosevelt, tentou implantar uma Declaração e uma obrigação como status de tratado, mas ao final em 1948, ficou ratificado apenas a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Esta Declaração traz como eixos principais as garantias de liberdade, paz e direitos fundamentais, sempre respeitando a soberania nacional. Segundo Brito (2013), caso esta soberania não fosse respeitada dificilmente a referida Declaração seria aprovada pelos países pertencentes a ONU. A Declaração foi um marco para o Direito Internacional, vindo, mais tarde, a se fragilizar com o advento da Guerra Fria. A Declaração Universal dos Direitos Humanos conforme o autor (Ibid.) divide- se em dois blocos principais de artigos e três artigos finais: os artigos 3 a 21 são considerados de primeira geração (Direitos/liberdade), que servia para limitar o poder do Estado sobre os indivíduos; os artigos 22 a 27 são considerados de segunda geração e tratam das questões econômicas e sociais, representam os deveres do

Estado no que se refere ao bem-estar social. Neste caso, o Estado possui um papel de passividade; os três últimos artigos visam regular a ordem social e internacional.

Ainda segundo Brito (2013), no que tangem, as migrações internacionais, no contexto da Declaração temos, como exemplo, o art. 13 que se refere à mobilidade populacional, ao direito de ir e vir e de mudança residencial respeitando as fronteiras de cada país. É visível que a ONU, percebendo algumas fragilidades, utilizou a sistemática de Convenções para complementar esta Declaração como foram os casos da Convenção de Genebra em 1951, que garantiu o direito a asilo para apátridas e refugiados; e as Convenções relativas ao trabalho, elaboradas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), que realizou a Convenção da Imigração para o trabalho em 1949 e a Convenção dos Trabalhadores Imigrantes, tendo como fundamentos, a garantia de igualdades de direitos trabalhistas entre os migrantes e os cidadãos nacionais.

Após a Guerra Fria, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou em 1990 a Convenção sobre os Direitos dos Imigrantes. Além disso, em 1993 em Viena, foi discutido amplamente questões relacionadas aos direitos humanos na ótica do Direito Internacional. O tema "população e desenvolvimento" foram discutidos no Cairo em 1994, ocorrendo a classificação dos fluxos migratórios em: migrações internacionais e desenvolvimento; imigrantes documentados, imigrantes indocumentados, os deslocamentos forçados, refugiados e solicitantes de asilo (BRITO, 2013).

Para finalizar esta temática, Bobbio (2004) explicita que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, possui um caráter universal e "positivo". Universal, pois abarca a todas e todos indistintamente e "positivo", porque visa garantir os direitos dos cidadãos, inclusive, contra o próprio Estado. Além disso, para o autor, o grande desafio das Declarações que tratam dos direitos humanos, é que não importam quantos e quais são os direitos, quais seus preceitos e fundamentos e, sim, qual é o método mais seguro para garantir esses direitos e impedir que, mesmo com todas as Declarações e Acordos, esses mesmos direitos continuem a ser violados.