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Migrantes como participes das redes pentecostais

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1 ORIGENS DA FAVELA DO DER NO CONTEXTO DE SÃO BERNARDO DO

3.7. Migrantes como participes das redes pentecostais

Algo notório também no DER é a concentração de indivíduos de um mesmo Estado de origem em uma só comunidade religiosa, por exemplo: do Pernambuco. GURAK E CACES (1998), a respeito deste fenômeno das redes sociais defendem que estas redes, quando propiciam a transmissão de recursos ou servem de vinculação, podem influenciar na escolha do local de

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destino no processo migratório. Tais redes, também disponibilizam certo suporte na adaptação e integração dos novatos (recém-chegados) no grupo de destino.

“Na minha igreja aqui no DER, tem muitas pessoas do Pernambuco. Muitas pessoas mesmo! Se você levanta, chega lá em cima lá e perguntar - quem é do Pernambuco? Muitas pessoas vão levantar a mão, do Pernambuco!

Tem bastante irmãos do Pernambuco, tem pessoas também de Minas, né? Da Bahia…mas, o que tem mais mesmo é do Pernambuco. Maior número é do Pernambuco mesmo! ”

(R.M.S., em 29/10/2017) narrativa do entrevistado.

O grupo religioso a que me refiro, ADMSBC do DER, contou com o pastor Agenor72 por mais de 35 anos à frente da igreja e como fundador- líder do NEAN. Há que se ressaltar que este pastor é também migrante, e mais, tendo sua origem no Pernambuco. Ademais, a história da Assembleia de Deus em São Bernardo do Campo tem uma forte ligação com processo migratório. O fundador da igreja sede matriz da congregação instalada no DER, Pr.P. Roberto Montanheiro, era migrante vindo de Minas Gerais. O primeiro pastor da igreja do DER era também migrante, Pr.C. Horácio Lourenço Neto que nasceu em Montes Claros, Minas Gerais. Em 1945, Horácio tornou-se funcionário do Departamento de Estradas de Rodagem (D.E.R.) e, como mestre de obras, chefiou uma equipe de cerca de 500 (quinhentos) operários na construção da Via Anchieta73. Com 10 filhos, foi morador do DER por muitos anos. O sucessor do Pr.C. Horácio, à frente da congregação do DER, Pr.C. Amaro, por sua vez, também migrante pernambucano, ocupou por pouco tempo esta função. Logo em seguida, assume o Pr.C. Agenor desde 1981, como já mencionamos também migrante pernambucano74. Sem falar, retrocedendo um pouco mais no tempo, no aspecto histórico quando da origem do pentecostalismo no Brasil, conforme menciona FAJARDO, (2013), citando Paul Freston:

“O pentecostalismo brasileiro tem uma relação histórica bastante estreita com os movimentos migratórios brasileiros do século XX. As duas primeiras denominações pentecostais do país foram fundadas por migrantes estrangeiros. No primeiro caso, o italiano Luigi Francescon criou a Congregação Cristã no Brasil no município de Santo Antônio da Platina, no Paraná em 1910. Um ano depois foi a vez dos suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren, recém-chegados dos Estados Unidos, criarem a Missão da Fé Apostólica (posteriormente Assembleia de Deus) em Belém do Pará. A Igreja do Evangelho Quadrangular também nasceu da ação imigrante, já que em 1954 o ex-

72 Pr Agenor esteve à frente da igreja do DER e do NEAN, até meados de 2017.

73 Cf. Lei Municipal 5322/2004, Pr Horácio, já falecido, tem seu nome em uma das praças do município.

74 Caberia aqui pesquisa investigatória mais aprofundada para estudar a influência do líder religioso migrante no

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cowboy de cinema Harold Williams criou a Cruzada Nacional de Evangelização, que no ano seguinte receberia a atual denominação (FRESTON, 1994). ”

O imigrante para adequar-se à realidade da cidade grande, em ambiente de periferia urbana, se vê diante de desafios que requerem aclimatação drástica em seus hábitos e relacionamentos. Para tomar a decisão de deixar sua terra natal, quase sempre tal atitude tem o apoio de redes familiares ou religiosas (ou sobreposição das duas, como já visto), no que respeita à introdução ao novo cenário em que será inserido. Caso contrário, o processo migratório certamente seria bem mais custoso. Dos migrantes entrevistados nesta pesquisa, a maioria dos que se transferiram para São Bernardo tinham, já, algum elo de vinculação com o local destino.

No caso do baiano G.C.S., ele alega que um “conterrâneo” conhecido, que já havia migrado para São Paulo, ofereceu a ele um emprego. Além de trabalhar com tal pessoa, ele acabou se casando com a sobrinha de seu empregador anfitrião.

“No meu caso é, eu tive um problema familiar, né? Eu tive um problema familiar uma perda na família, a perda do meu pai, eu perdi ele por uma enfermidade e eu não consegui ficar no mesmo lugar, né? No mesmo Estado, na mesma cidade, sentia muito a presença dele por a gente estar muito ligado, trabalhávamos juntos e eu procurei a cidade de refúgio então, aqui foi uma cidade de refúgio.

Hoje atualmente a minha esposa, eu vim com um tio dela. Não, não, antes eu não conhecia ela. Eu vim com o tio dela trabalhar, ele me ofereceu uma oportunidade de emprego aqui, e com o meu problema familiar, a perda do meu pai, me trouxe pra cá” (G.C.S., em 29/10/2017) citação do entrevistado.

A família pernambucana migrante do entrevistado I.M.V., viu na rede religiosa o amparo para harmonizar suas vidas, na dura realidade da periferia urbana. Citando mais uma vez o seu depoimento na data de 29/10/2017, “-Meu pai veio de Pernambuco; meu pai pernambucano minha mãe baiana. Então vieram de outros Estados e aqui, em São Bernardo, conheceram a igreja e tiveram o apoio, na igreja tanto meu pai, como minha mãe se conheceram na igreja e puderam estabilizar suas vidas. ”

Quando um pentecostal da Assembleia de Deus migra para outras regiões, tem o cuidado de levar consigo a “carta de mudança”, que comprova sua preexistente pertença religiosa (conforme depoimento do entrevistado I.M.V). Procurar uma igreja logo que chega a seu destino é prioridade, vez que, estar entre pessoas da mesma religião (mesmo que não sejam parentes consanguíneos) e ainda mais, sendo conterrâneos (caso da citada igreja de maioria pernambucana) duas redes associativas conjugadas, certamente lhe garante o apoio necessário

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no seu processo de estabelecimento na periferia como recém-chegado. Isto robustece o sentimento de pertença comum, facilitando sua relação comunitária.

Não obstante a relevância do papel que essas redes religiosas cumprem em relação à complexa experiência dos migrantes no processo de estabelecimento nas periferias urbanas, em nossa pesquisa de campo parte dos adeptos, das igrejas pesquisadas, que experimentaram a migração para o DER, em sua cidade de origem não professavam a fé pentecostal. Dos migrantes que responderam o questionário podemos afirmar uma implicação da experiência migratória na pertença religiosa. A esse respeito Almeida pondera que:

“(...) em geral, os nordestinos no Nordeste são católicos, enquanto no Sudeste tendem a se tornar evangélicos. Isso significa que algo deve ter ocorrido nesse processo de deslocamento espacial. Se a explicação teórica já não é satisfatória, o fenômeno permanece: a migração incide sobre a mudança religiosa (ALMEIDA, 2004:21) Enquanto que 39% dos migrantes entrevistados aderiram à igreja após ter migrado (ou no processo de migração), 30% somente já eram convertidos em seu lugar de origem, conforme gráfico descrito abaixo. Esse número de migrantes que saíram de seu lugar de origem já conversos, não coaduna com a observação de autores, tais como ALMEIDA (2004), fato que ainda enseja investigação mais aprofundada na favela do DER.

Gráfico12 - Local onde aderiu à fé pentecostal

Fonte: Elaboração própria

Barrera (2017) assevera que os grupos religiosos cristãos evangélicos, muito presentes na periferia urbana, aglutinam grande quantidade de população migrante de variadas regiões do país. Com esta verdade, o pesquisador levanta uma questão instigante: -“Cabe assim perguntar pelo papel que essas igrejas cumprem em relação à complexa experiência dos migrantes no longo do processo de estabelecimento nas periferias urbanas dos distintos contextos e das

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realidades dos países em questão75”. O autor afirma que ainda há um vazio de estudos aprofundados sobre os migrantes evangélicos nas periferias urbanas, apesar de já haver pesquisas das duas últimas décadas que demonstram a importância do associativismo religioso nas favelas do Rio de Janeiro e São Paulo.

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