Garoto torturado por militares
2. Militares; tenente; um superior;
patrulha; soldados; supostos agressores (2); suspeitos.
3. 9a Brigada de Infantaria Motori-
zada; a família; Maria Célia Fur- tado (mãe adotiva); Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ; familiares; Secretaria Especial de Direitos Humanos; coordenador geral de combate à tortura; advo- gado do adolescente, João Tan- credo.
* Estão entre parênteses os números relativos às repetições de expressões nas reportagens.
Razões
As razões indicam os motivos ou a gratuidade das ações relatadas nas reportagens.
Quadro 3 Razões
Expressões empregadas para indicar motivos das ações Folha de S.Paulo O Estado de S. Paulo
A vítima reconhece que pulou o muro do quartel para fumar ma- conha. A mãe adotiva admite que o adolescente estava errado, mas diz que isso não justifica a tortura. O Exército alega que os militares aplicaram apenas spray de pimen- ta, indicado nessas oportunida- des, pois ele resistiu à prisão, para impedir que o garoto fugisse.
A vítima diz saber que estava erra- da por fumar maconha, mas “eles me barbarizaram”.
O Exército alega que uma patru- lha usou spray de pimenta para deter dois invasores que teriam tentado fugir.
Em ambos os jornais, as razões apresentadas são de duas ordens: 1) a vítima diz por que motivo pulou o muro do quartel (para fumar maconha com um companheiro, que fugiu dos militares), admitindo estar errada; 2) os militares dizem que usaram spray de pimenta para impedir que os “invasores” fugissem. Os jornais registram as alegações, ficando subentendido no texto que o motivo apresentado pelo adolescente não era suficiente para que fosse detido, enquanto a alegação dos militares (de que foi usado ape- nas spray de pimenta) parece inverídica, devido às lesões do adolescente, que teve que ser internado na divisão de queimados do hospital. Os repórteres cumprem o seu pa- pel de ouvir as partes, mas o subtexto (ou as conotações do texto) dão pistas suficientes para o leitor interpretar, com base no bom-senso, que houve um abuso e que os agressores mentem.
Essas matérias são paradigmáticas nos enquadramen- tos jornalísticos da imprensa diária. Um acontecimento revoltante é revelado, o repórter precisa apurar e redigir a matéria em pouco tempo, evitando interpretar o caso, uma vez que as investigações nem começaram e não há culpas formalizadas. De qualquer maneira, trata-se de uma situação recorrente: profissionais treinados e armados para o uso da violência usurpam os direitos de pessoas indefe- sas, geralmente jovens pobres, que cometeram pequenos deslizes (pular o muro do quartel, fumar maconha) e, nessa condição, ficam à mercê de seus algozes, mal treinados, sem discernimento dos estreitos limites de sua autori- dade e ignorantes dos direitos civis dos cidadãos. Nessa circunstância, os repórteres puderam apenas dar saliência a alguns aspectos reveladores sobre o caso: o fato de ser um menor (um “garoto”, um “menino”, como se lê nas matérias), a falta de importância do acontecido (pular o muro para fumar maconha), a selvageria das agressões e sua ilegalidade (“crime de tortura”), descrição dos ferimentos,
o sofrimento atroz do adolescente, as lesões sofridas e riscos de sequelas e as fotos publicadas que mostram o estado crítico em que o adolescente ficou.
O Estado trouxe, no dia 11, uma matéria que arre- mata os sentidos implícitos no acontecimento, além de vinculá-lo a outro mais grave ocorrido antes, envolvendo o Exército e três jovens do morro da Providência, também no Rio de Janeiro. A matéria informa que a Secretaria Especial de Direitos Humanos vai sugerir que a forma- ção dos militares se faça de acordo com os preceitos da Constituição de 1988. É divulgado também que o coor- denador-geral de Combate à Tortura, Pedro Montenegro, vai monitorar as investigações sobre o caso. Ou seja, fica implícito que militares estão agindo em desacordo com a lei, a Constituição e que isso é entendido pela Secretaria como resultado de um treinamento inadequado, ampliando a repercussão do acontecimento para a própria instituição militar (responsável pelo treinamento aos soldados).
Presos humilhados
As matérias deste caso se referem a presos algemados obrigados a cantar, dançar e se beijar na boca, enquanto eram filmados. O vídeo foi postado no YouTube. Ou seja, trata-se degradação e humilhação de presos por parte de autoridades que receberam do Estado a incumbência de sua custódia. O assunto mereceu algumas notas nos dois jornais.
Títulos das notas veiculadas:
Folha de S.Paulo:
“PM apura cenas de vídeo em que detidos são humi- lhados”(12/11/08, p.C3).
O Estado de S. Paulo:
“Humilhações a presos vão parar na Internet” (12/11/2008, p.C4).
Quadro 4 Definição
Expressões empregadas nas reportagens para narrar o ocorrido Folha de S.Paulo O Estado de S. Paulo
PM de Pernambuco apura parti- cipação de policiais em cenas de vídeos, em que homens algemados são obrigados a cantar, dançar e se beijar na boca. Vídeos foram pos- tados no YouTube.
Para a PM, se confirmada a partici- pação de policiais, haverá punição.
Vídeos gravados pela PM de Pernambuco mostram presos algemados sendo obrigados a se beijarem na boca. Outros pre- sos fazem coreografia e cantam. Abusos, atitude criminosa, abu- so de poder, impunidade, distúr- bio, “doença”.
Percebe-se que os termos da narrativa da reportagem de O Estado a tornam mais detalhada e valorativa, reforçando os sentidos negativos aos fatos. O acontecimento ganhou repercussão na imprensa, provavelmente porque os vídeos foram postados na internet e as pessoas o compartilharam pelos celulares “por diversão”. A situação de submissão dos presos é total, e os policiais aproveitam para humilhá- -los, o que consiste num desvio de conduta.
Quadro 5 Atores
Expressões empregadas nas reportagens para indicar: 1. agressores; 2. vítimas; 3. outros
Folha de S.Paulo O Estado de S. Paulo 1. Policiais (2); PM.