• Nenhum resultado encontrado

Mineração como atividade indutora ao desenvolvimento

5.1 MINERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO: A BORDAGE M TEÓRICA

5.1.2 Mineração como atividade indutora ao desenvolvimento

Há outra abordagem que se contrapõe à teoria da maldição dos recursos e que destaca a importância da atividade mineral enquanto indutora de desenvolvimento e de promoção da redução da pobreza. O bom desempenho econômico de países de base extrativista como Austrália, Canadá, Estados Unidos e Noruega são exemplos usados para refutar esta teoria.

Enriquez (2007) argumenta o fato de que não há desenvolvimento sem meios para financiá-lo e as receitas geradas pela mineração poderiam servir para este fim.

Para Mikessel (1997), a maldição dos recursos é paradoxal, pois a produção de recursos naturais tem sido a alavanca inicial ao desenvolvimento, trazendo recursos e habilidades externas. Além disso, fornece tanto matéria prima para processamento como um mercado para manufaturados.

Nessa linha, Stijns (2005) contesta os achados de Sachs e Warner, sobre a causalidade de recursos naturais e baixo desempenho econômico. Para ele, abundância em recursos pode gerar tanto efeitos positivos, quanto negativos, dependendo do tipo de processo de aprendizado envolvido na exploração dos recursos naturais.

A partir de análise por correlação parcial entre crescimento econômico e condições de vida, com a possível abundância de terra e de recursos minerais, o autor encontrou resultados negativos para todas as variáveis estudadas em relação à terra, enquanto que, para os recursos minerais isto não se verificou integralmente. Segundo seus achados, a mineração teria contribuído com a melhoria da educação, estado de direito e performance burocrática, poupança agregada e taxas de investimento, além de uma política econômica mais orientada para o mercado.

Brunnschweiler (2006) reexaminou os efeitos da abundância de recursos naturais no crescimento econômico. Utilizou novas medidas de dotação de recursos e considerou ainda o papel da qualidade institucional. Sua pesquisa focou a análise em um novo índice de abundância de recursos que estima o capital natural em dólares per capita, assim como, dois indicadores de qualidade institucional desenvolvidos pelo Banco Mundial.

As curvas de regressão obtidas evidenciaram provas que contestam a hipótese da maldição dos recursos, pois mostram que os recursos naturais e, em particular recursos minerais, obtiveram uma associação positiva direta com o crescimento real do PIB no período de 1970-2000.

Ademais, seus resultados também se opõem a outro efeito indireto da maldição dos recursos: de que a riqueza natural compromete os canais institucionais (corrupção no setor público), a partir de um comportamento de ganância e apropriação das rendas geradas16.

Para Brunnschweiler (2006) a riqueza em recursos naturais pode trazer mais benefícios do que constituir uma maldição para o desempenho econômico, como muitas vezes se acredita. Desse modo, apresenta uma perspectiva diferente sobre os efeitos do crescimento com base em recursos naturais ao longo dos últimos trinta anos.

Segundo Pegg (2006) o Banco Mundial considera a indústria extrativa mineral como uma atividade importante para a redução da pobreza. Fugindo da concepção freqüente da maioria dos economistas de avaliar esta variável unicamente com base no PIB per capita, o

16

Cruz e Ribeiro (2009) apontam a corrupção e a malversação de recursos, como efeitos bastante relatados na maldição dos recursos. Citam como exemplos, a negociação na concessão de outorgas ou licenças para a exploração de recursos naturais.

banco adota os seguintes critérios para conceituar a pobreza: privação material, baixos níveis de educação e saúde, vulnerabilidade e exposição a riscos, e pouca democracia e ineficiência. A visão do Banco Mundial é de que o apoio ao financiamento de atividades mineiras em países subdesenvolvidos é importante para promover o crescimento econômico e diminuir a pobreza.

Ainda de acordo com Pegg (2006), embora diversos estudos realizados tenham provado o contrário, o Banco Mundial continua acreditando no desempenho social do setor, os argumentos utilizados são:

1. Analogia histórica - a mineração serviu como uma rota para o desenvolvimento de diversas nações como: Austrália, Canadá e Estados Unidos, podendo, portanto, desempenhar o mesmo papel em países pobres.

2. Geração de emprego – as indústrias extrativas podem reduzir a pobreza, pois contratam trabalhadores, gerando renda para eles e suas famílias.

3. Geração de renda – a mineração poderia contribuir indiretamente para a redução da pobreza, a partir das receitas geradas pela atividade (taxas, impostos, royalties) que poderiam ser usados pelos governos em programas sociais para reduzir a pobreza.

4. Crescimento econômico – a renda do setor mineral pode proporcionar um crescimento econômico que também poderá ser refletido no alívio da pobreza.

5. Transferência tecnológica – as atividades extrativas demandam grande aporte tecnológico e podem se constituir indústrias de conhecimento, como o exemplo exitoso americano, onde a mineração conduziu ao estabelecimento de um sólido sistema de base tecnológica, sobre o qual se desenvolveram também as indústrias de manufatura.

6. Desenvolvimento de infra-estrutura – a mineração exige uma boa condição logística e para que isso se concretize, são necessários grandes investimentos em infra-estrutura, contribuindo, portanto, com o crescimento econômico.

Entre as pesquisas que condenam os países ricos em recursos naturais à maldição e outras que ressaltam sua importância para o crescimento econômico, há ainda outras questões determinantes ao desempenho econômico dessas nações, uma bastante apontada refere-se à qualidade das instituições.

5.1.3 Mineração, desenvolvimento e qualidade das instituições

Outra abordagem utilizada para explicar o mau desempenho das economias de base extrativista mineral está relacionada com a má gestão das receitas mineiras. Segundo Davis e Tilton (2002) as receitas originadas pela mineração poderiam ser mal geridas e gastas sem a devida aplicação, levando a disputa de grupos pelas rendas, podendo gerar corrupção, conflitos e até guerras.

Estudos encomendados pelo Banco Mundial corroboram as afirmações acima, indicando o baixo nível de desenvolvimento de países extrativistas. O motivo principal seria a má governança, que impede a gestão adequada dos recursos gerados com a mineração. (SUSLICK, MACHADO; FERREIRA, 2005).

Outro fator determinante para a ocorrência ou não da maldição dos recursos é a qualidade das instituições. A justificativa encontra-se ancorada nas teorias institucionalistas, cujo um dos principais expoentes é Douglas North. Para North (1990) a chave para compreender e alcançar o desenvolvimento econômico e social está nas instituições, pois, são as responsáveis diretas pela regulação econômica, principalmente sobre os custos de produção e transação, elementos importantes no processo de crescimento econômico.

Achados de algumas pesquisas desenvolvidas sobre o desempenho econômico de países ricos em recursos naturais e da ação do estado, tem revelado certa correlação entre a qualidade das instituições e a afluência desses países.

Kronenberg (2003) analisou o efeito da abundância de recursos naturais no desempenho de economias em transição do antigo leste, durante a década de 1990. Ele aponta como o principal motivo para a maldição dos recursos a corrupção, pois a renda derivada das exportações desperta o interesse dos governos e das elites políticas, as quais, por vezes, agem de forma a bloquear as reformas necessárias, retardando a modernização do estado e o crescimento.

Com base na análise de indicadores de corrupção estatal (SCI) constantes no levantamento de desempenho de ambiente de empresas e negócios realizado pelo Banco Mundial em 1999, Kronenberg (2003) concluiu por uma forte correlação entre abundância de recursos e corrupção, e que países nestas condições estariam contaminados por esse problema (Gráfico 8).

O autor avaliou ainda se a corrupção também afetaria o crescimento. A partir da análise da correlação entre os indicadores de corrupção estatal e da média anual de