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6.2 – MINERALIZAÇÃO AURÍFERA DA FAZENDA DA DIVISA 6.2.1 Situação Geológica

OCORRÊNCIAS DE OURO NA ÁREA

6.2 – MINERALIZAÇÃO AURÍFERA DA FAZENDA DA DIVISA 6.2.1 Situação Geológica

A mineralização de ouro da Fazenda da Divisa situa-se cerca de 10 km a leste da Vila de São João Batista da Serra da Canastra (Figura 6.1). A região compreende a borda norte da Serra da Canastra tendo como limite sul o Rio Santo Antônio e leste o Córrego da Divisa.

Geologicamente o depósito situa-se próximo ao fechamento SE de uma estrutura braquissinforma denominada por Silva et al. (2001) de Braquissinforma do Campo Alegre, que possui plano axial orientado em N45-60W/ 90 e linha de charneira de caimento suave (Figura 6.1). Esta estrutura é afetada pelo cisalhamento de baixo ângulo, evidenciado por uma penetrativa foliação (S4) que corta os dois flancos desta estrutura. Esta é a foliação principal da área estando presente em praticamente todos os afloramentos descritos, atribuída à fase D4, responsável pelo transporte tectônico em direção a SE. Imediatamente a sul desta área ocorre a Zona de Cisalhamento da Canastra, uma falha transcorrente sinistral relacionada à fase D5. Esta fase localmente desenvolve clivagem de crenulação, principalmente próxima à zona de falha, mas em geral é marcada por suaves crenulações dos planos pré-existentes, associada a pequenas falhas e veios.

A região é marcada por um sistema de três escamas imbricadas tectonicamente por falhas de empurrão, desenvolvidas em um período anterior à formação da estrutura

Figura 6.1 - Mapas de Localização Geográfica e Geológico da Braquisinformal do Campo Alegre na região de Tapira, MG.

escamas possuem características litológicas e metamórficas distintas como descrito brevemente abaixo e na Figura 6.1.

Na escama superior o principal litotipo reconhecido é granada-mica xisto, com freqüentes intercalações de granada-quartzo xistos e lentes de rochas metaultramáficas (clorita xistos, magnetita-clorita xistos, talco xistos e serpentinitos). Na escama intermediária é possível reconhecer no topo muscovita xistos e quartzo xisto com camadas decamétricas de quartzitos puros a micáceos, que passam em direção a base a granada- mica xistos com intercalações de xistos grafitosos e quartzitos. A estes seguem granada- grafita-muscovita xistos, ao qual intercalam-se camadas de quartzitos, que sobrepõem granada-quartzo-muscovita xisto com freqüentes intercalações de quartzitos micáceos. A escama inferior, na região em apreço, é marcada por quartzitos puros a micáceos que sobrepõem clorita-muscovita xisto com porções feldspáticas, além de lentes e camadas de quartzito. Esta unidade, que no mapa geológico do Anexo 1, é denominada EI-3, é a encaixante do depósito aurífero da Fazenda da Divisa. As três escamas se sobrepõem por falha de empurrão às rochas do Grupo Bambuí autóctone que é marcado por filitos com lentes de mármores calcíticos.

6.2.2 - Geologia do Depósito

A região da Fazenda da Divisa (Figura 6.2) é recoberta por um solo eluvionar, marrom avermelhado com fragmentos de xisto intemperizado e quartzo de veios, cuja espessura varia entre 1 e 5 metros. Por vezes este solo é observado abaixo de crostas lateríticas.

As rochas hospedeiras da mineralização são basicamente clorita-muscovita- quartzo xistos, com lentes métricas de quartzitos. O exame detalhado dos clorita- muscovita-quartzo xistos revela uma variação na coloração em função da relação clorita e muscovita. Quando a rocha possui um maior percentual de muscovita em relação a clorita, ela é cinza esverdeada, quando a clorita predomina a cor tende a ser cinza escuro. A distribuição destes litotipos em sub-superfície pode ser visualizada na Figura 6.3. É possível reconhecer um bandamento centimétrico definido por camadas claras e escuras (Figura 6.4a), paralelo ao qual ocorrem veios lenticulares de quartzo e calcita, brancos com espessura média de 2 cm, podendo atingir até 5 cm. Estes também podem ser paralelos à

Figura 6.3 - Comportamento das rochas encaixantes da mineralização aurífera da Fazenda da Divisa, em sub-superfície, reconstituídas através de furos de sonda (Segundo DOCEGEO 1996).

A análise petrográfica dos clorita-muscovita-quartzo xistos com base em lâminas de amostras de superfície ou de furos de sonda mostra que essas rochas são marcadas por uma textura grano-lepidoblástica, associada a uma xistosidade contínua interpretada como S4 (Figura 6.4c-d). Esta foliação é afetada por crenulações suaves e localmente por clivagem de crenulação relacionada à fase D5. A mineralogia básica, conforme ilustrado nas Fotos 6.4c-f, é muscovita (30-40%), clorita (30-40%), quartzo (10-20%), albita (1-10%). Como minerais acessórios ocorre carbonato, turmalina, pirita, rutilo, ilmenita e calcopirita. Adicionalmente ocorrem de maneira mais restrita arsenopirita e pirrotita. Os quartzitos são basicamente compostos por quartzo (80-90%), muscovita (5-10%), albita (3-5%) e carbonato (1-2%).

O carbonato ocorre em veios (Figura 6.5a), ou como agregados dispersos na matriz do xisto (Figura 6.5b). Muitas vezes é observada uma associação entre carbonato, quartzo e pirita, conforme ilustrado na Figura 6.5c, onde é retratada a matriz do xisto formada por muscovita e albita, além de carbonato, pirita e quartzo. Esta associação, marcada por uma maior percentagem de carbonato em clorita-muscovita-quartzo xistos foi observada somente na área mineralizada e logo a sul do deposito, na área próxima à Zona de Cisalhamento da Canastra.

Dentre os sulfetos identificados destaca-se a pirita que é freqüentemente observada tanto em afloramentos quanto nos testemunhos de sondagem. Em geral tem hábito cúbico, podendo ocorrer de três formas. (a) preenchendo os planos da foliação S4, substituindo rutilo com aspecto alongado (Figura 6.5c-d). (b) Como porfiroblastos euédricos dispersos na matriz do xisto, onde tem faces retas e inclusões de rutilo e quartzo. Algumas vezes são observadas franjas de deformação de quartzo (Figura 6.5e). Em geral os porfiroblastos sobrecrescem a foliação S4, indicando crescimento pós-D4. (c) Como porfiroblastos alongados paralelos à clivagem de crenulação S5, em geral associados a carbonato (Figura 6.5f).

Foram analisados em microssonda eletrônica dois cristais de pirita euédricos, do modo de ocorrência (b) (ver Figura 6.5b e a Tabela 6.1) de uma amostra provinda de testemunho de sondagem (FD 2) de um intervalo onde são freqüentes os veios de carbonato associados à pirita. As análises comprovam pelos teores de ferro e enxofre que são realmente cristais de pirita. É interessante notar que em ambas as análises foram detectadas a presença de prata 0,02 e 0,07. Adicionalmente uma das análises apresentou

Figura 6.4 - (a) Foto de afloramento de clorita-muscovita-quartzo xistos mostrando segregações lenticulares de quartzo sub-paralelos a deformação principal da rocha S4. (b) Foto de afloramento de clorita-muscovita-quartzo xistos onde é possível reconhecer veios de quartzo milimétricos, que em alguns locais definem dobras intrafoliais, cujo plano axial é marcado pela foliação S4. (c-d) Fotomicrografia apresentando o aspecto geral do clorita-muscovita-quartzo xistos. (e) Fotomicrografia de clorita-muscovita-quartzo xistos fora da área mineralizada. (f) Fotomicrografia de clorita-muscovita-quartzo xistos na área mineralizada.

Figura 6.5 - (a) Fotomicrografia de veios de calcita dispostos sub-paralelos ou perpendiculares à foliação S5 em quartzo-muscovita-clorita xistos. (b) Fotomicrografia de associação entre calcita, quartzo e pirita em quartzo-muscovita-clorita xisto. (c) Fotomicrografia de quartzo-muscovita- clorita xisto apresentando cristais de pirita sub-paralelos à foliação S4 em quartzo-muscovita- clorita xistos. (d) Fotomicrografia apresentando aspecto detalhado de pirita substituindo o rutilo em quartzo-clorita-muscovita xistos. (e) Fotomicrografia de quartzo-muscovita-clorita xisto apresentando porfiroblastos de pirita com franjas de pressão de quartzo nas bordas. (f) Fotomicrografia de quartzo-muscovita-clorita xisto apresentando porfiroblastos de pirita sub- paralelos à veios de calcita.