• Nenhum resultado encontrado

A UAB e a missão de formar professores em exercício das redes públicas baianas Demanda por formação superior na Bahia e por

ESTADUAL MUNICIPAL ESTADUAL MUNICIPAL ESTADUAL MUNICIPAL Campo

4.2.5 A UAB e a missão de formar professores em exercício das redes públicas baianas Demanda por formação superior na Bahia e por

formação inicial e continuada de professores

O Estado da Bahia possui 417 municípios, distribuídos em 27 Territórios de Identidade, como ilustra a Figura 4 abaixo. Com mais de 14 milhões de habitantes e um território de 564.830 km2, possui enorme demanda por educação básica e superior, o que se acentua devido às distâncias existentes entre as comunidades de zona rural e urbana de um mesmo município, à oferta de escolas centralizada nas sedes dos municípios, o que em geral contribui para a exclusão das populações residentes nas áreas rurais. De acordo com estudos do IBGE,

Mais uma vez, a região Nordeste teve as maiores taxas de analfabetismos nas áreas rurais durante toda a série estudada, entre 2001 e 2009. A região tinha, em 2001, a incrível taxa de 36,7% e alcançou o ano de 2009 com 27,7% de analfabetos. (LEMOS, 2012, P. 146)

Quando se trata de professores, a realidade não é muito diferente no Estado. Entre os docentes que atuam nas redes públicas estadual e municipal, é grande o número dos que não possui formação adequada e legalmente referenciada para o exercício docente. Segundo o Relatório de atividades do ano de 2009 do Instituto Anísio Teixeira – IAT, centro de formação de professores da rede pública estadual, a demanda por formação inicial de professores no estado da Bahia, em 2009, era de cerca de 54 mil vagas em cursos de licenciatura, que deveriam atender docentes em pleno exercício e sem a formação inicial adequada, pois como diz o documento,

[…] em 2007, o Governo da Bahia encontrou dados alarmantes em relação à formação dos profissionais da Educação: 7.201 professores do quadro do magistério público estadual do ensino fundamental e médio não possuíam nível superior com formação profissional em licenciatura plena. Isso correspondia a 20,57% dos professores sem formação inicial na rede Estadual. Já nas redes municipais, cerca de 80% dos professores não possuíam licenciatura ou qualquer outra graduação. (BAHIA, 2009, p. 9)

Na intenção de atender tal demanda, o IAT buscou definir novas diretrizes para a formação inicial dos professores da rede pública baiana, em cooperação com diversas instituições representativas de classe, movimentos sociais e sindicais, o que culminou com a apresentação à população, em março de 2009, do Programa de Formação Inicial de Professores, que vislumbrava a oferta, até 2011, de 54 mil vagas para atendimento de toda a demanda reprimida por formação inicial no estado, num esforço coletivo de todas as IPES baianas e algumas de fora do estado, em cursos nas modalidades presencial e a distância, este último ofertado pelo sistema UAB. Vale ressaltar que o Programa de Formação Inicial de Professores da Bahia foi o maior Figura 4 – Mapa dos Territórios de Identidade da Bahia

apresentado, na ocasião, ao MEC, através do Planejamento Estratégico da Formação Inicial ainda em 2008. O documento relata o trabalho feito para levantar as demandas no Estado e chama atenção para o fato de que havia um número

[…] significativo de professores da rede estadual sem formação, principalmente nas áreas de Matemática, Letras, Biologia, História, Geografia e Artes. O trabalho também apontou que as áreas de Química e Física não apresentam demanda significativa pelo número insuficiente de docentes efetivos nas escolas, ou seja, há necessidade de contratação de professores nessas áreas por concurso público. Esse diagnóstico tem indicado as regiões Sul e o Sudoeste como as mais necessitadas por formação de professores na Bahia e dependerá do apoio das IES parceiras e da UAB para atuação nessas regiões. (BAHIA, 2008, P. 54)

O levantamento feito, através do cruzamento de dados do próprio governo estadual, dos governos municipais, do Educacenso do ano de 2007, além da aplicação de questionários nos municípios permitiu se chegar ao número de 66.007 docentes em exercício e sem formação em licenciatura, como ilustra a Tabela 2.

Tabela 2 – Demanda por disciplina e dependência administrativa, Bahia - 2008

Curso

Demanda

Rede Estadual Rede Municipal Total

Ciências 0 6279 6279 Matemática 946 7982 8928 Letras 1242 8360 9602 Espanhol 72 25 97 Filosofia 176 285 461 Física 403 135 538 Educação Física 295 2331 2626 História 840 7368 8208 Inglês 397 1461 1858 Química 347 139 486 Outra Língua 0 6 6 Sociologia 177 117 294 Informática 44 81 125 Biologia 780 148 928 Geografia 784 7320 8104 Artes 360 2969 3329 Pedagogia 338 13800 14138

Fonte: Instituto Anísio Teixeira (IAT), Planejamento Estratégico da Formação Inicial de Professores do Estado da Bahia, 2008

A proposta então explicitada no Planejamento Estratégico era de se promover o início da formação da maioria dos professores em questão até o ano de 2011. As intenções explicitadas no documento estavam vinculadas às universidades partícipes do Parfor, que dispuseram-se a se organizar para

[…] atender toda a demanda de formação inicial dos professores em exercício da rede estadual, juntamente com a UNIVASF, UFRB, CEFET e UFBA. No mesmo período de execução, as universidades estaduais disporiam do excesso de sua capacidade, em articulação com o sistema federal, para ofertar vagas aos professores da rede municipal em exercício. Ressalta-se que o consórcio UAB atuaria fortemente no atendimento aos municípios, nas demandas mais dispersas dos professores da rede estadual no interior da Bahia e no preenchimento do quadro funcional de professores nas escolas do município e estado, estabelecendo cotas para demanda social. (BAHIA, 2008, P. 57)

Observa-se que o texto explicita a intenção de oferta de vagas para demanda social, ou seja, a comunidade local que não pertence ao quadro de docentes das escolas públicas, mas que tem interesse em cursar licenciatura. Acredita- se que o atendimento a esta demanda contribuiria, posteriormente, para garantir a existência de pessoas licenciadas e possíveis futuros professores nos diversos municípios da Bahia. A importância desta questão dá-se pelo fato de que alguns municípios da Bahia, assim como a rede estadual, realizaram concursos públicos para provimento de vagas para docentes da educação básica e não obtiveram sucesso por falta de candidatos, ou seja, o município e seu entorno não possuíam pessoas devidamente formadas para o exercício da função docente e não conseguiam atrair – talvez por questões salariais ou de localização, deslocamento e transporte – candidatos de outros municípios ou da capital. O Secretário da Educação do Estado da Bahia, Osvaldo Barreto, em 2011, menciona o problema em matéria publicada no portal da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior - ANDIFES, afirmando que em alguns municípios baianos,

[…] não há habilitados para convocar. “Dividimos o Estado em subáreas de até três cidades. Das 135 regiões formadas, a maioria não tem aprovado em pelo menos 5 das disciplinas básicas da Educação. Muitas não tiveram habilitado em sete áreas”, diz, acrescentando que as disciplinas em que mais faltam profissionais são biologia, química, física e matemática. (ANDIFES, 2011)

No entanto, algumas intercorrências, que serão mencionadas mais à frente neste trabalho, reduziram ou inviabilizaram a oferta de demanda social – abertura de vagas para a comunidade local não-docente - em diversos municípios baianos.

A demanda apontada na tabela 2 teve, neste mesmo planejamento, uma parcela importante programada, com previsão de que um pouco mais de 39 mil professores teriam iniciado seus cursos até este ano, com previsão de oferta gradual pelas IPES e entradas a cada semestre. Destas ofertas, 21.140 vagas ficaram a cargo da UAB, em cursos ofertados pelas IPES baianas, nos diversos polos em funcionamento no Estado, como se vê na tabela 3.

Tabela 3 – Oferta a distância, por disciplina, Bahia - 2008 Ofertas UAB Disciplina Vagas Ciências 755 Matemática 580 Letras 2640 Espanhol 2115 Filosofia 1500 Física 2350 Educação Física 1800 História 0 Inglês 0 Química 0 Outra Língua 0 Sociologia 2350 Informática 1800 Biologia 600 Geografia 600 Artes 0 Pedagogia 4050 TOTAL 21140

Fonte: Instituto Anísio Teixeira (IAT), Planejamento Estratégico da Formação Inicial de Professores do Estado da Bahia, 2008

Desse modo, deu-se o início do processo de estruturação das ofertas da Uab na Bahia. Neste primeiro momento, o planejamento da formação a distância pelo sistema UAB representou um percentual significativo das ofertas de cursos de licenciatura, como se vê na figura 5.

A partir da imagem, é possível observar que a participação da UAB na implementação da política nacional de formação de professores seria a maior do que a participação da formação presencial, tendo sido vislumbrado aqui, para a educação a distância, o papel de efetivamente ampliar em tempo muito reduzido e, ao mesmo tempo, pulverizar e interiorizar – através dos seus polos de apoio - as formações iniciais de docentes, o que se configurava o maior desafio para a redução da grande demanda por tal ação no Estado da Bahia.

Tal intenção foi, em alguma medida, obteve sucesso, a depender de cada situação específica relacionada aos diversos municípios baianos que estão inseridos na UAB através da presença de um polo na sua sede ou no seu entorno. Tais situações referem-se a oferta prometida e cumprida pelas IPES, condições de realização dos cursos pelos professores, o que inclui custeio dos deslocamentos, hospedagem e alimentação, além de liberação das suas obrigações docentes e sua substituição por outro profissional, condições do

Figura 5 – Planejamento das ofertas por modalidade, Bahia, 2008

Fonte: Instituto Anísio Teixeira (IAT), Planejamento Estratégico da Formação Inicial de Professores do Estado da Bahia, 2008

polo em questão, financiamento dos cursos, entre outros fatores.

Até aqui, a presente pesquisa buscou descrever os dados obtidos, que se iniciam no momento em que ocorrem as primeiras articulações referentes às instalação da UAB na Bahia, através de registros documentais e bibliográficos. Nesse sentido, considerou-se o marco deste primeiro momento a entrega do Planejamento Estratégico da Formação Inicial de Professores ao MEC, por se compreender que o documento selou o compromisso entre os entes federados ( governos federal, estadual e municipais) e as IPES para viabilizarem as 21.140 vagas iniciais de licenciatura para professores e demanda social. Sobre isso, afirma o documento que sua assinatura, por envolver todas as universidades públicas baianas, e permitir o atendimento a todos os municípios, “[...] garantirá o compromisso dos municípios em custear a logística (transporte, hospedagem e alimentação) dos professores, favorecendo a efetividade na execução do Programa nos pólos formadores” (BAHIA, 2008, p. 66).

A partir daqui, parte-se para analisar o processo de efetivação das formações planejadas pela UAB na Bahia, as dificuldades enfrentadas pelos atores envolvidos nestas ações e as soluções encontradas no decorrer do percurso.

4.2.6 O processo de implementação do sistema UAB – as dificuldades e