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MAPA 10 Planta de macro setorização IPHAN

2.2 Mobilidade urbana

2.2.2 Mobilidade urbana sustentável

Para Campos (2006), a preocupação com o desenvolvimento sustentável tem incentivado o estudo e a implantação de medidas e procedimentos que contribuem para a sustentabilidade em áreas urbanas e, quando se relaciona com transportes, deve buscar a mobilidade urbana sustentável. Ressalta ainda que essa busca deve ter como base o desenvolvimento sustentável, procurando definir estratégias que contemplem uma visão conjunta das questões sociais, econômicas e ambientais.

Além disso, Campos (2006) ressalta que a mobilidade, na visão da sustentabilidade, pode ser alcançada sob dois enfoques: relacionar a adequação da oferta de transporte ao contexto socioeconômico, com medidas que associem o transporte ao desenvolvimento urbano e à equidade social em relação aos deslocamentos e relacionar à qualidade ambiental, em que se enquadram a tecnologia e o modo de usar o transporte.

Segundo o Ministério das Cidades, esta é definição de mobilidade urbana sustentável:

A Mobilidade Urbana Sustentável pode ser definida como o resultado de um conjunto de políticas de transporte e circulação que visa proporcionar o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, através da priorização dos modos não motorizados e coletivos de transporte, de forma efetiva, que não gere segregações espaciais, socialmente inclusiva e ecologicamente sustentável. Ou seja: baseado nas pessoas e não nos veículos. (BRASIL, MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2004, p. 14).

E o Ministério das Cidades acrescenta:

A Mobilidade Urbana Sustentável dever ser entendida de uma forma ampla, como o resultado de um conjunto de políticas de transporte, circulação, acessibilidade e trânsito, além das demais políticas urbanas, cujo objetivo maior está em priorizar o cidadão na efetivação de seus anseios e necessidades, melhorando as condições gerais de deslocamento na cidade. (BRASIL, MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2004, p. 14).

Buscando definir mobilidade sustentável, a Agência Portuguesa do Meio Ambiente (2010), vinculada ao Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território de Portugal, considera ser aquela que, ao permitir o deslocamento das pessoas, se realiza com transportes sustentáveis. Quanto ao conceito de transportes sustentáveis, cita o Conselho Europeu de Ministros dos Transportes (CEMT, 2006), que conceitua sistema de transporte sustentável desta maneira:

 Permite responder às necessidades básicas de acesso e desenvolvimento de indivíduos, empresas e sociedade, com segurança e de forma compatível com a

saúde humana e o meio ambiente, fomentando ainda, a igualdade de cada geração e entre gerações sucessivas;

 Resulta exequível, opera equitativamente e com eficácia, oferece uma escolha de modos de transporte e apoia uma economia competitiva, assim como um desenvolvimento regional equilibrado;

 Limita as emissões e os resíduos ao nível da capacidade do planeta, usa energias renováveis ao ritmo da sua geração e utiliza energias não renováveis às taxas de desenvolvimento dos seus substitutos por energia renováveis, ao mesmo tempo que minimiza o impacto sobre o uso do solo e a poluição sonora. (PORTUGAL, 2010, p.11).

A Agência Portuguesa do Meio Ambiente também cita o conceito de transporte sustentável da Transportation Association of Canada, citado por Wadhwa (2000):

 Responde às necessidades de acesso da geração presente;

 Permite às futuras gerações satisfazer as suas próprias necessidades de acesso (as quais irão aumentar devido ao crescimento econômico e ao aumento da população);

 É propulsionado por fontes de energia renováveis;

 Não polui o ar, o solo e a água, para além das capacidades de absorção/despoluição do planeta (notadamente C02);

 É tecnologicamente possível;

 É econômica e financeiramente suportável;  Suporta uma qualidade de vida desejável;

 Suporta local, nacional e globalmente os objetivos do desenvolvimento sustentável. (PORTUGAL, 2010, p.11).

Os conceitos apresentados sugerem que, para haver mobilidade sustentável, é preciso que se assegurem meios de transportes sustentáveis. Mas, no atual contexto, as cidades brasileiras apresentam um modelo de transportes que não se sustenta e exige alterações no sentido de proporcionar uma mobilidade que atenda aos parâmetros socioeconômicos e ambientais sustentáveis.

A Agência Portuguesa do Meio Ambiente (2010, p.11) considera que a obtenção de mobilidade sustentável não se restringe à prática de transportes sustentáveis, pois exige nova organização dos espaços urbanos, “onde os conceitos do urbanismo de proximidade e de mistura do uso do solo e funções urbanas ganham uma importância decisiva”. Segundo essa Agência (2010), há dois patamares distintos, mas complementares: a solução para o passivo das expansões urbanas, que resulta na consolidação do transporte individual, e o controle do crescimento urbano, evitando erros do passado e atenuando as disfunções que foram criadas.

Para a Secretaria Nacional de Transportes e Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades (2007), há uma crise de mobilidade instalada em cidades brasileiras, o que torna necessária uma mudança de paradigma que possa reverter o atual modelo de mobilidade, integrada aos instrumentos de gestão urbanística, subordinada aos princípios da sustentabilidade ambiental e voltada decisivamente para a inclusão social. Esse novo conceito

de mobilidade urbana deve adotar uma visão sistêmica de movimentação de bens e de pessoas, envolvendo todos os modos e todos os elementos que produzem as necessidades de deslocamentos, portanto diferente da maneira tradicional de tratar as questões de planejamento, regulação do transporte coletivo, construção de infraestrutura e outras questões relativas ao deslocamento nas cidades.

A Secretaria Nacional de Transportes e Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades, ao elaborar planos de mobilidade, define princípios para o planejamento da mobilidade e sua relação com o planejamento urbano:

 Diminuir a necessidade de viagens motorizadas, posicionando melhor os

equipamentos sociais, descentralizando os serviços públicos, ocupando os vazios urbanos, favorecendo a multi-centralidade, como formas de aproximar as oportunidade de trabalho e a oferta de serviços dos locais de moradia;

 Repensar o desenho urbano, planejando o sistema viário como suporte da

política de mobilidade, com prioridade para a segurança e a qualidade de vida dos moradores em detrimento da fluidez do tráfego de veículos;

 Repensar a circulação de veículos, priorizando os meios não motorizados e

de transporte coletivos nos planos e projetos - em lugar da histórica

predominância dos automóveis – considerando que a maioria das pessoas

utiliza estes modos para seus deslocamentos e não o transporte individual;

 Desenvolver os meios não motorizados de transporte, passando a valorizar

a bicicleta como um meio de transporte importante, integrando-a com os modos de transporte coletivo;

 Reconhecer a importância do deslocamento de pedestres, valorizando o

caminhar como um modo de transporte para a realização de viagens curtas e incorporando definitivamente a calçada como parte da via pública, com tratamento específico;

 Reduzir os impactos ambientais da mobilidade urbana, uma vez que toda

viagem motorizada que usa combustível, produz poluição sonora, atmosférica e resíduos;

 Propiciar mobilidade às pessoas com deficiência e restrição de mobilidade,

permitindo o acesso dessas pessoas à cidade e aos serviços urbanos;

 Priorizar o transporte público coletivo no sistema viário, racionalizando os

sistemas, ampliando sua participação na distribuição das viagens e reduzindo seus custos, bem como desestimular o uso do transporte individual;

 Promover a integração dos diversos modos de transporte, considerando a

demanda, as características da cidade e a redução das externalidades negativas do sistema de mobilidade;

 Estruturar a gestão local, fortalecendo o papel regulador dos órgãos

públicos de gestão dos serviços de transporte público e de trânsito. (BRASIL, MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2007, p. 21-22).

Esses princípios foram preservados pela Lei n.º 12.587, de 2012 (BRASIL, 2012), que instituiu as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana e definiu instrumentos de gestão para a mobilidade nas cidades brasileiras, grandes, médias e pequenas.

Além dos aspectos específicos de transportes sustentáveis, a busca da mobilidade sustentável está intimamente relacionada a questões de crescimento urbano com padrões de dispersão e planejamento e uso do solo, que, aliados a fatores socioeconômicos, condicionam o comportamento das pessoas, determinando o modelo de mobilidade, que pode ser caracterizado por número, tempo gasto em viagens, modo de transporte utilizado, conforto, segurança, etc.