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Mobilização

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS (páginas 79-83)

CAPÍTULO III – A criação e gestão dos parques florestais urbanos na cidade de

3. Resultados e Discussão

3.1 Parque Estadual Sumaúma

3.1.1 Mobilização

A mobilização para criação do Parque Sumaúma se iniciou em meados do final dos anos 90, quando a área pertencia aos tradicionais clubes de futebol do Amazonas: o Rio Negro e o América. De acordo com o relato do atual gestor do Parque Sumaúma. Na época, o fragmento florestal urbano era utilizado pela população para atividades de lazer, as pessoas se banhavam e jogavam bola. Ao mesmo tempo, nascia o maior aglomerado habitacional da época: o bairro Cidade Nova. Porém, no planejamento do bairro a área que hoje se encontra o parque, não fazia parte do planejamento, com isso a população foi percebendo a invasão e a pressão imobiliária que vinha ocorrendo, consequentemente, iniciou-se uma mobilização para que o fragmento fosse protegido e não virasse uma verdadeira “favela”.

Foram mobilizados diversos segmentos da sociedade, desde a população local, órgãos do Poder Executivo Municipal, Estadual e Federal, representantes do Ministério Público Estadual, Poder Legislativo e ONG’s ambientalistas.

Segundo o depoimento de lideranças do processo de mobilização, um movimento conseguiu reunir em um abaixo-assinado com mais de mil assinaturas para que o fragmento pudesse ser protegido, e uma caravana de três ônibus envolvendo juntamente as escolas do

entorno seguiu até a prefeitura. Assim, foi desenvolvido o projeto de parque com a elaboração da maquete. Ainda de acordo com o relato da liderança do movimento, todos ficavam encantados ao visualizarem o projeto nas dependências da extinta Secretaria de Defesa do Meio Ambiente (SEDEMA). No entanto, os anos foram se passando e o projeto de criação do parque permanecia apenas no papel. Isso se deu por um conflito que surgia entre o Município e o Estado pela dominialidade da área. Na época, a área pertencia à Superintendência de Habitação do Estado do Amazonas (SUHAB), o que gerou um entrave pela desapropriação da área pelo poder público municipal que pretendia criar a área protegida.

Para Lavendowski et al. (2007), a gestão de Unidades de Conservação em regiões metropolitanas é marcada por um conflito de escalas. Esse estudo realizado pela autora e colaboradores no Parque Natural Municipal do Pedroso, no município de Santo André, região metropolitana de São Paulo destaca que a gestão do parque é de responsabilidade de um órgão municipal, mas que enfrenta questões de conflito que têm suas razões no âmbito das políticas estaduais e até federais.

No ano de 2002, ocorrida a eleição para Governo Estadual, um novo governo se instala no âmbito estadual. Diante disto, por iniciativa das lideranças do movimento, a proposta da criação do parque foi encaminhada para a esfera estadual, pois acreditavam que por ser uma gestão nova, o projeto de criação poderia ir mais bem recepcionado tendo maiores chances de ser implementado. Com a apresentação da proposta ao Governo, imediatamente iniciou-se a elaboração do decreto-lei que criaria o parque, protegendo assim o fragmento florestal urbano. Em pouco tempo, por meio do Decreto n° 23721 de 5 de setembro de 2003 ficou criado o Parque Estadual Sumaúma (PAREST Sumaúma).

Além da mobilização da população para a criação do Parque houve também uma que visava impedir a implantação de estrada, a Avenida das Torres. O projeto de construção da Avenida por dentro do Parque foi descoberto pelos moradores em novembro de 2011 que se mostraram revoltados pelo Governo ter assinado o projeto que permitia a construção, sendo que o fragmento florestal já estava protegido por meio do Decreto n° 23721/2003.

Assim que tomaram conhecimento através da imprensa da intenção do governo estadual em construir a estrada e desafetar área do parque, o mesmo grupo que se mobilizara anos anteriores pela criação do parque deram início a uma mobilização popular contra a decisão do governo estadual. Os líderes promoveram várias reuniões e audiências, chegando a mobilizar caravanas de moradores que se dirigiam até a Assembleia Legislativa,

convocando pessoas engajadas e que pudessem auxiliar e apoiar nessa causa. Sem que os protestos e ações fossem atendidas pelas autoridades, os moradores criaram barreiras humanas para impedir que os tratores desse início à construção da estrada.

Com a criação do PAREST Sumaúma criou-se também o Instituto Ecológico e Comunitário do Amazonas – IECAM. O Instituto foi criado com o objetivo de resolver os problemas associados ao Parque mesmo sabendo que o gerenciamento do mesmo é executado por um órgão estadual (SDS), composto por um conselho gestor formado por representantes de organizações locais. Em 2014 foi criado mais um Instituto, o Instituto Sumaúma, sendo presidido pelo mesmo.

A criação desse novo Instituto se deu por questões de divergências de opiniões e ações, e que o grupo que compõe o Instituto Sumaúma não queria se envolver tanto com questões políticas, ao contrário do IECAM que atua mais politicamente, conforme o gestor do Parque.

Na opinião de um ex-gestor do Parque, uma das principais dificuldades foram as barreiras intrainstitucionais, pois as demandas apresentadas por moradores de entorno nem sempre eram atendidas, criava-se expectativas e nem sempre o Governo do Estado atendia de prontidão, desmotivando razoavelmente a interação de gestão da UC com moradores do entorno.

Em janeiro de 2014, o Parque sofreu com atos de vandalismo. Cadeiras, mesas, grades e até livros pertencentes ao acervo da biblioteca, utilizados pelos estudantes da comunidade, foram roubados e destruídos. Segundo os relatos dos entrevistados que estiveram no local após a invasão, o centro de convivência do Parque teve os muros pichados com frases como: "Vida Loka em plena madrugada" (Figura 19) e "Cadê o vigia?" (Figura 20), um lugar que eles próprios estavam ironizando. A biblioteca teve as janelas quebradas, os livros didáticos rasgados e espalhados pelo chão.

Somente após essa depredação é que medidas foram tomadas para a segurança do patrimônio do Parque. Em julho de 2014, o Parque foi reinaugurado, após reforma e contratação de uma empresa de segurança.

Atualmente, a gestão do Parque pretende transformar o Parque em um parque temático. Ele será reaberto com oito ambientes temáticos, contando com réplicas de animais da fauna e personagens do lendário amazônico que prometem ser a atração do espaço. As lideranças relataram não terem sido favoráveis ao novo projeto, pois acreditavam que o investimento deveria ser destinado às necessidades essenciais, como infraestrutura, auditório, anfiteatro, que na visão dos moradores ajudariam as pessoas a criarem um vínculo com a unidade.

Figura 19 - Freezer de cozinha pichado.

Fonte: G1, 2014.

Os líderes do movimento pela criação e proteção do Parque rejeitam a concepção e principalmente os aspectos visuais do projeto cenográfico do parque, por considerarem que as estruturas e equipamentos do parque deveriam refletir e serem mais integrados ao ambiente natural, como aquários para proteger as espécies aquáticas, uma academia ao ar livre, ou até mesmo um zoológico com os próprios animais residentes do Parque. No entanto, consideram que é melhor esse projeto do que não ser feito nada para atrair a população de Manaus.

Figura 20 - Centro de convivência do parque pichado.

Fonte: G1, 2014.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS (páginas 79-83)

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