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2 AS REDES DO BAIRRO DE MOCÓS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O

2.1 TIMBAÚBA

2.1.1 Mocós

A produção de redes do bairro de Mocós tinha participação também na prosperidade econômica da cidade, como é possível verificar na tabela 1, à página 33. Era alto o número de participantes envolvidos na produção de uma rede. Mas as lembranças sobre Mocós não se restrigem ao campo econômico:

Como vive Mocós?

Pode-se dizer, sem medo de errar, que Mocós vive, praticamente, como um arrabalde independente da cidade. Lá existe um pequeno comércio que supre as necessidades do lugar; tem suas festas próprias, sendo a mais famosa a da Nossa Senhora da Conceição, padroeira do lugar. Mas os dias de glória de Mocós são vividos quando, em sua igreja, realizam-se os grandes casamentos. (…) É a glória … e motivos para muitos dias de comentários às portas das casas, nas noites tranquilas dos que vivem, ainda, com tempo e condições para conversar nas calçadas. Mocós vive sua poesia na autenticidade do seu povo, fiel às tradições; limitadas no tempo, as pessoas vivem e trabalham; conversam e brincam; brincam trabalhando e trabalham brincando. E, ao lado de tudo isso, embalados pelas músicas das lançadeiras nos trespasses dos teares, Mocós avança pelos anos, sem se deixar prejudicar pelo modernismo, vivendo sua tranquilidade, com sua poesia e seu trabalho rústico.

Mocós realmente vive!41

38 “Junto com a navegação a vapor, foi a ferrovia que tornou possível aos lugares esquecidos do mundo serem alcançados por essa desejada senhora. O fantástico mundo da riqueza e progresso, entretanto, não deixou nunca de ter seu avesso fantasmagórico”. TEIXEIRA, Flávio Weinstein. As Cidades enquanto Palco da Modernidade: O Recife de Princípios do Século. Dissertação (mestrado em História). Recife, CFCH – UFPE, 1994. p. 25.

39 A figura 3 desperta a minha memória afetiva, pois me lembro de quando meu pai era motorista da Usina Nossa Senhora de Lourdes, na década de 1990. No contraturno do meu horário escolar, eu gostava de ir com ele para a usina, ver toda a maquinaria interna, ouvir o barulho, sentir o cheiro doce e forte, enquanto a caçamba do caminhão era preenchida com o açúcar. Depois seguíamos para descarregá-lo no pontilhão que se vê na imagem acima. Para mim, foi uma aventura diária durante algum tempo.

40 “Em nenhum momento, as fronteiras e territórios regionais podem se situar num plano a-históricos, porque são criações eminentemente históricas e esta dimensão histórica é multiforme, dependendo de que perspectiva de espaço se coloca em foco, se visualizado como espaço econômico, político, jurídico ou cultural, ou seja, o espaço... é produto de uma rede de relações entre agentes que se reproduzem e agem com dimensões espaciais diferentes”. ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. A Invenção do Nordeste e Outras Artes. 4º ed. São Paulo: Cortez, 2009. p.35.

41 VASCONCELOS, Marcos Antônio de. Mocós. Revista Timbaúba Centenária. Edição comemorativa. Timbaúba fevereiro de 1982.

Figura 4: Imagem da Primeira Casa de Mocós Construída de Taipa em 1870, por Manoel Félix e Leonor Maria da Conceição.

Fonte: Revista Timbaúba Centenária, 1982. Foto: João Hélio Guerra.

Figura 5 - Igreja Nossa Senhora da Conceição. Fica no centro do bairro de Mocós.

Fonte: Revista Timbaúba, 1997. BNB.

No artigo intitulado “O que foi feito de Mocós” da Revista Especial da ACIAT42 – Timbaúba, publicada em 1997, o promotor e intelectual Marcos Vasconcelos aborda que no povoado que deu origem a Mocós, no início do século XIX, havia uma intensa feira, mas que foi transferida pelo fazendeiro português José Guimarães para o pátio de sua fazenda, chamada Fazenda Timbaúba (ou “Fazenda Árvore de Espuma”). Sobre tal fato, Marcos Vasconcelos afirma que Mocós “transformou-se num núcleo populacional sem atividade

preponderante, afeitos à agricultura principalmente ao cultivo do algodão, o povoado passa a

trabalhar na fiação, utilizando métodos primitivos que perduram até hoje”43.

De “núcleo populacional sem atividade preponderante... utilizando métodos primitivos” no início do século XIX, à “Comunidade Artesanal” no final da década de 1960, o bairro de Mocós, na cidade de Timbaúba em 1969 possuía 226 imóveis e 210 famílias. A população total do bairro chegava a 813 pessoas das quais 325 dedicavam-se exclusivamente ao trabalho artesanal44 .

Segundo o Projeto de Melhoria da Comunidade Artesanal de Mocós em Timbaúba, PE de 1969, cujos objetivos explicitarei melhor no próximo capítulo, homens e mulheres participavam de todas as etapas de produção, utilizavam tear manual, além de outros equipamentos. Crianças dos cinco anos de idade até adultos com 65 anos envolviam-se no processo de feitura das redes. Em 1969 a participação total de mulheres na produção de redes era de 56,9% equivalendo, portanto, a 185 artesãos do sexo feminino e 140 do sexo masculino. Logo, 325 artesãos no total. Contudo a renda variava conforme a atividade desempenhada em cada etapa de produção.

43 VASCONCELOS, Marcos Antônio de. O que Foi Feito de Mocós. Revista Especial – Timbaúba, 1997. n.p 44 Projeto de Melhoria da Comunidade Artesanal de Mocós em Timbaúba - PE. SUDENE, 1969.

Tabela 1 – Artesãos, segundo a função e renda média mensal. (NCR$).

A tabela 1 organizada pela SUDENE quando da aplicação de seu projeto em Mocós, possibilita ao leitor identificar a renda dos artesãos conforme a função desempenhada na confecção. A moeda era cruzeiros novos. E o total de rendimento mensal chegava a alcançar

uma diferença de 50%. Os acabadores45 e os noveleiros eram o que obtinham o menor ganho.

As mulheres e as crianças geralmente desempenhavam as funções menos remuneradas. Mas não era regra; também houve mulheres produtoras de redes. Os que mais lucravam, à

45 Ainda neste capítulo eu descrevo o processo de feitura das redes e as etapas de produção com as respectivas funções.

ESPECIFICAÇÃO ARTESÃOS RENDA (NCr$)

Nº % TOTAL Produtor Tecelão Acabador Espulador Meadeiro ou Noveleiro Mamucabeiro Urdidor Cordoardor Outros 325 44 64 137 22 7 23 5 12 11 100,00 13,5 19,7 42,1 6,8 2,1 7,1 1,5 3,7 3,4 __ 172,00 64,00 13,00 24,00 13,00 21,00 26,00 21,00 44 Fonte: SUDENE, 1969.

propósito, eram os fabricantes de redes. Na linguagem da SUDENE, produtor é equivalente a “fabricante de redes”, a saber, os donos dos teares.