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O modelo adleriano teve origem na abordagem de Alfred Adler (anos 20) (Ribeiro, 2003), que considerava que a prevenção dos distúrbios emocionais passaria por uma adequada educação dos indivíduos. O objectivo dos diversos centros que aquele autor criou consistia em facultar recursos aos pais, professores, técnicos e crianças, no sentido da aquisição de estratégias adequadas e eficazes de interacção. Durante a II Guerra Mundial, Adler emigrou para os Estados Unidos, onde fundou o Alfred Adler Institute of New York, visando uma intervenção clínica e não tanto na educação. Outros autores aplicaram as teorias e directrizes de Adler à educação das crianças, destacando-se Rodolf Dreikurs (anos 60), que criou centros comunitários – Community Child Guidance Centers – preconizando a aplicação do paradigmade Adler à educação parental (Ribeiro, 2003). Posteriormente, estes centros passam a designar-se Family Education Association, pois os princípios de actuação centravam-se na educação parental e familiar. A oferta do aconselhamento familiar foi expandida a diferentes contextos da comunidade, nomeadamente a igrejas, centros comunitários, residência de pais e escolas, onde se defendia uma linguagem acessível, compreensão, envolvimento e intervenção por parte dos pais.

Actualmente, no Alfred Adler Institute of Chicago, ainda se dinamizam acções de formação para líders de grupos de pais – Parent Study Group LeaderShip Training

Program – seguindo o paradigma de Adler e Dreikurs, que defende a formação

especializada para pais. A intervenção deste Programa assenta no respeito mutuo entre pais e filhos, na compreensão da criança, encorajamento e uso das consequências lógicas e comunicação eficaz. Ainda com base na abordagem de Dreikurs, mas

MESTRADO EM PSICOLOGIA PEDAGÓGICA 91 incluindo alguns princípios do PET, Dinkmeyer e McKay (1976) fundam o STEP –

Systematic Training for Effective Parenting. Entretanto, numa versão mais moderna

surge o Active Parenting – a Vídeo – Based Program, em que os conteúdos são transmitidos por vídeo, considerando a eficácia da mensagem visual (Ribeiro, 2003).

A educação parental poderá ser vista como uma das modalidades de intervenção sócio – educativa válida e eficaz para o desenvolvimento generalizado da criança numa perspectiva de prevenção. Gaspar (2004) aborda a problemática da parceria entre a educação parental e a educação pré – escolar, considerando-a uma área merecedora de investimento em todas as suas dimensões. Considerando os problemas comportamentais das crianças e as estratégias educativas parentais utilizadas nas interacções, importa identificar factores de risco e de protecção. A complexidade de factores envolvidos nesta problemática remete-nos para a constatação de que é essencial adoptar iniciativas de apoio e capacitação às famílias e abdicar das posturas de culpabilização. Segundo Webster – Stratton (1997, in op. Cit., p.261), “essencialmente para as famílias de baixo

– estatuto sócio – económico os programas de educação de pais têm de ser mais abrangentes e desenvolvidos na comunidade (incluindo os jardins de infância e escolas). O objectivo é reduzir o isolamento e fortalecer as redes de suporte às famílias. Esta abordagem conduzirá não apenas a uma melhoria nas competências educativas dos pais e a uma redução dos problemas de comportamento nas crianças, mas também a uma maior colaboração entre pais e as escolas e a uma maior envolvimento da comunidade” (p.261).

Em Portugal surge um manual designado educar para o Sucesso, como parte integrante da estratégia EPIS (Empresários para a Inclusão Social) com o objectivo de estruturar intervenção junto dos pais, com vista à promoção do desenvolvimento e do sucesso escolar das crianças (Barros, Pereira e Goes (2007). Neste manual, dirigido a pais e técnicos, poderá encontrar-se informação devidamente fundamentada sobre o desenvolvimento da criança e do adolescente, a parentalidade e o sucesso escolar, a escola como promotora de desenvolvimento e sucesso escolar, formação de pais (como intervir com pais para a educação e capacitação familiar). No que se refere à formação de pais este manual salienta alguns aspectos mais relevantes, tais como a dificuldade em mudar representações parentais e, consequentemente os seus comportamentos, a importância da compreensão dos determinantes e significações que levam os pais a agir de uma determinada forma e, a importância de promover junto dos pais a reflexão sobre as suas práticas. Neste sentido, o manual pretende propor “estratégias que visam

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modificar alguns dos determinantes parentais do desenvolvimento e sucesso escolar dos filhos, escolhendo aqueles que são provavelmente mais passíveis de modificar através de acções individuais ou grupais de formação parental” (Barros, Pereira & Goes, 2007,

p. 162).

O Modelo de Intervenção com pais parte da reflexão, auto – monitorização e comparação com outras perspectivas, passando pela identificação do problema, sua redefinição, reconhecimento das necessidades de mudança e orientando-se para a definição de um plano de mudança. Tal modelo visa uma maior satisfação parental e a obtenção de resultados quanto à mudança e melhoria das atitudes educacionais.

No último capítulo do manual, orientado especificamente para a formação de pais, são definidas algumas directrizes mais relevantes, tais como: exercícios para promover o auto conhecimento; estratégias baseadas na informação; exercícios de monitorização, estratégias para facilitar o controlo comportamental; estratégias de facilitação de comunicação, estratégias de resolução de problemas, etc. Promover nos pais uma reflexão crítica sobre as suas práticas educativas e sobre o comportamento dos seus filhos, levando-os a questionar as suas representações e a importância de operar determinadas mudanças constitui o fundamento das modalidades propostas.

A capacidade para levar os pais a distinguir, nas suas práticas, o que está correcto e o que devem alterar e centrarem-se nas estratégias de mudança é fundamental para que aqueles acreditem e se esforcem no sentido de implementar uma acção mais adequada e assertiva em relação aos seus filhos. Em complemento, os profissionais e professores devem ajudar os pais, procedendo ao seu encaminhamento para a selecção de estratégias que se revelem mais adequadas e adjuvantes no processo de educação dos filhos. “ A mudança comportamental é sempre morosa e difícil. ”A mudança no

comportamento parental, precisamente porque este comportamento é multideterminado, e em grande parte também função do próprio comportamento dos filhos e do contexto em que ocorre é particularmente difícil. Assim, esta mudança será tanto mais concretizável quanto a intervenção se organizar num conjunto em conjunto com acções dirigidas à sistematização de boas práticas na escola, e à promoção da mudança directamente com o próprio jovem” (Barros, Pereira & Goes, 2007, p. 189).

Neste sentido, salienta-se a importância de proceder a uma “negociação constitutiva” (Ausloos, 2003) onde quer os pais, quer outros agentes educativos que interferem na educação possam optimizar as suas competências para um fim comum, o bem – estar da criança.

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