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O modelo para análise e diagnose de erros no ensino de Língua Materna de Bortoni-

Bortoni-Ricardo (2005) desenvolveu um modelo para análise e diagnose de erros no ensino de língua materna que se baseia em descrições sociolinguísticas das variedades da língua, partindo de erros decorrentes da própria natureza arbitrária do sistema de convenções da escrita até os erros decorrentes da transposição dos hábitos da fala para a escrita. As categorias de análise propostas pela autora foram as seguintes:

1. Erros decorrentes da própria natureza arbitrária do sistema de convenções da escrita 2. Erros decorrentes da interferência de regras

fonológicas categóricas no dialeto estudado.

Erros decorrentes da transposição dos hábitos da fala para a escrita

3. Erros decorrentes da interferência de regras fonológicas variáveis graduais.

4. Erros decorrentes da interferência de regras fonológicas variáveis descontínuas.

Fonte: Bortoni-Ricardo (2005, p. 54)

Segundo a autora, os erros que caracterizam a Categoria 1 são os decorrentes da própria natureza arbitrária do sistema de convenções da escrita. Nessa categoria, foram classificados os erros que resultam do desconhecimento total ou parcial das convenções do sistema de escrita. Uma das maiores dificuldades para os alunos dominarem o sistema ortográfico do português está relacionada à existência de fonemas que, mesmo quando em contextos idênticos podem ser representados por diferentes grafemas, e, por outro lado, casos em que um mesmo grafema, também em contextos idênticos, pode corresponder a diferentes fonemas.

Nas categorias 2, 3, e 4 foram classificados os erros decorrentes da transposição dos hábitos da fala para a escrita. Nessas categorias é importante diferenciar regras fonológicas categóricas de regras fonológicas variáveis. Conforme Bortoni-Ricardo (2005), as regras fonológicas categóricas aplicam-se sempre, independentemente das características sociodemográficas do falante e do contexto situacional, enquanto que as regras fonológicas variáveis podem aplicar-se ou não, dependendo de fatores estruturais linguísticos ou extralinguísticos. A autora enfatiza, ainda, que a classificação em regras categóricas ou variáveis tem de levar em conta o dialeto regional estudado. Essas categorias são as que mais nos interessam, haja vista que a presente pesquisa investiga as marcas da oralidade do nível

morfofonêmico manifestadas em produções escritas de estudantes.

Na categoria 2, classificam-se os erros decorrentes de regras fonológicas categóricas no dialeto estudado. No corpus analisado pela autora, foram encontrados os seguintes erros: 5a) vocábulos fonológicos constituídos de duas ou mais formas livres ou dependentes, grafados como vocábulo formal: “uque”, “levalo”, “janotei”; b) Crase entre vogal final de uma palavra e vogal idêntica ou foneticamente próxima da palavra seguinte: “a tenção”; c) Neutralização das vogais anteriores /e/ e /i/ e das posteriores /o/ e /u/ em posição pós-tônica ou pretônica; d) Nasalização do ditongo em “muito” por assimilação progressiva.

Na categoria 3 – Erros decorrentes da interferência de regras fonológicas variáveis graduais, a autora registrou os seguintes fenômenos: a) Despalatalização das sonorantes palatais (lateral e nasal): Ex.: carinhoso ˃ cariõsu, olhar ˃ oliar; b) Monotongação de ditongos decrescentes: Ex.: beira ˃ bera, outro ˃ outro; c) Desnasalização das vogais átonas finais: Ex.: homem ˃ homi; d) Assimilação e degeminação do /nd/: /nd ˃ ˃ nn ˃ ˃ n/ : Ex.: mostrando ˃ mostranu; e) Queda do /r/ final nas formas verbais.

Os erros decorrentes da interferência de regras fonológicas variáveis descontínuas compõem a categoria 4, cujos exemplos são: a) semivocalização do /lh/: velho ˃ veio; b) epítese do /i/ após sílaba final travada: paz ˃ pazi, pessoal ˃ pessuali; c) troca do /r/ pelo /l/: sirva ˃ silva; d) monotongação do ditongo nasal: muito ˃ munto; e) supressão do ditongo crescente em sílaba final: veio ˃ vei, padrinho ˃ padrim; f) simplificação dos grupos consonantais no aclive da sílaba: dentro ˃ dentu; g) metátese: satisfeito ˃ sastifeito.

Para a autora, a análise requer “uma descrição acurada das variedades populares do português no Brasil. A própria distinção entre traços graduais e descontínuos carece de mais evidências empíricas”, diz Bortoni-Ricardo (2005, p.59). No entanto, acreditamos que para o trabalho do professor, em sala de aula, o reconhecimento das categorias de análise e a compreensão das diferenças entre erros decorrentes da própria natureza arbitrária do sistema de convenções da escrita dos erros decorrentes da transposição da fala para a escrita são o ponto de partida para uma análise de erros nos textos escritos dos alunos, funcionando como um diagnóstico, para que o professor, a partir de uma análise crítica, compreenda a natureza de cada erro e possa fazer intervenções apropriadas para a superação de determinados erros. Para tanto, é importante compreender o esquema proposto por Bortoni-Ricardo (2005),

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baseado na proposta de Corder (1973), o qual nos parece um continuum dialético, em que representa as relações, entre o processo de análise de erros bem como o papel do sociolinguista e do professor.

Fonte: Bortoni-Ricardo (2005, p.59).

A análise do esquema acima nos faz refletir sobre a importância, por parte dos professores de língua materna, dos conhecimentos sociolinguísticos. O esquema mostra-nos a integração de forma dialética dos diversos fatores envolvidos em um trabalho sociolinguístico coerente e eficaz. Analisando-o criticamente, acrescentaríamos mais um tópico para o trabalho do professor, que poderia chamar-se: intervenções pedagógicas. No trabalho pedagógico, não está claro que aconteceriam as intervenções, é possível em um trabalho pedagógico acontecer a aplicação do material didático e o aluno simplesmente resolver aquilo sem reflexão nenhuma do que está sendo posto. Ao passo que o tópico da intervenção pedagógica definiria que, após o trabalho pedagógico, ou seja, a aplicação do material, o professor dedicaria parte do tempo para fazer as intervenções com os alunos sobre os fenômenos linguísticos estudados.

Esse trabalho de análises e descrições sociolinguísticas possibilita um conhecimento real do perfil sociolinguístico dos alunos e a possibilidade de elaboração de material estruturado adequado, assim como intervenções pedagógicas coerentes e eficazes para o desenvolvimento de um trabalho sociolinguístico no ensino de língua materna.

Análise de erros

Perfil sociolinguístico dos alunos

Elaboração de material didático

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os procedimentos metodológicos são explicitados, inicialmente, a partir de uma breve caracterização da pesquisa, seguida do contexto da pesquisa, dos sujeitos, da constituição do corpus, da coleta de dados e, por fim, dos procedimentos de análise.