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Modelo computacional da mente de Steven Pinker

Cientista cognitivo, em sua obra “Como a Mente Funciona” (1998), fornece uma visão geral sobre a mente e o modo como ela atua nas atividades humanas. A base teórica de seu empreendimento fundamenta-se em dois pilares: a ciência cognitiva – entendida como a teoria computacional da mente – e a teoria da evolução de Darwin.

Recentemente, o desafio de Darwin recebeu uma nova abordagem chamada de “psicologia evolucionista”, associada aos nomes do antropólogo John Tobby e da psicóloga Leda Cosmides. A psicologia evolucionista, portanto, engloba duas grandes revoluções científicas: a revolução cognitiva e a revolução na biologia evolucionista. A fusão das duas idéias forma uma forte combinação. Isso porque a ciência cognitiva argumenta que uma mente é possível e ajuda a entender que tipo de mente o ser humano possui. A biologia evolucionista é fundamental para que se entenda porque os humanos possuem esse tipo de mente específico.

Nessa direção, Pinker procura responder perguntas para as quais se busca resposta que vão desde como e o que faz com que se é capaz de ver e, inclusive, determinar qual a origem dos desejos, das crenças, dos sentimentos e das atitudes humanas, com base na ciência

cognitiva e, principalmente, na teoria da evolução pela seleção natural. Uma vez entendida a estrutura do cérebro, pode-se entender porque se pensa.

Diante da complexa estrutura da mente, Pinker (1998, p. 32), defende que:

a mente é um sistema de órgãos de computação, projetados pela seleção natural para resolver os tipos de problemas que nossos ancestrais enfrentavam em sua vida de coletores de alimentos, em especial entender e superar em estratégia os objetos, animais, plantas e outras pessoas. Os processos cognitivos seriam atividades cerebrais onde são processadas informações de modo computacional. Quando o autor se refere à mente, diz que ela é organizada em módulos ou órgãos mentais e que seu funcionamento foi moldado pela seleção natural, com a finalidade de enfrentar problemas específicos e interagir com o mundo durante a maior parte da história evolutiva. Para isso, um programa genético seria montado para maximizar o maior número de cópias possíveis e ser transmitidas com êxito às gerações seguintes.

Todavia, a estratégia de Pinker, utilizada para esclarecer essa perspectiva evolucionista e computacional da mente seria praticado pela engenharia reversa. Isto significa que: se a engenharia trata de projetar uma máquina para determinado fim, a engenharia reversa a desmonta para entender para que foi feita. Em analogia com a mente, esta por sua vez, seria o resultado do processo evolutivo que apenas uma visão retrospectiva ajudaria a explicar como ela foi construída, até atingir o estágio atual. Na realidade, o fundamento lógico para as coisas vivas tem a sua origem nos próprios fundamentos de Darwin.

A teoria computacional da mente tenta explicar como a evolução da mente pela seleção natural, permitiu montar um programa altamente complicado como o comportamento humano. Quando se refere às emoções estas, na sua concepção, são mecanismos que dão ênfase às metas mais elevadas do cérebro. Na opinião deste cientista, é praticamente impossível uma explicação plausível para a mente sem esta teoria. Contudo, afirma ele: “[...] não entendemos como a mente funciona – nem de longe tão bem quanto compreendemos como funciona o corpo [...]”. (PINKER, 1998, p. 9). A figura 1 exprime simbolicamente a idéia do autor.

Figura 1. Síntese da Teoria Computacional da Mente. Fonte: Pesquisa da autora.

Nota: As duas idéias juntas se combinam e produzem grande efeito. A ciência cognitiva ajuda a esclarecer a respeito da mente e que tipo de mente o ser humano é dotado. Quanto a biologia evolucionista, esta ajuda a entender a especificidade da mente humana.

Entretanto, o estudo da mente humana, tem mostrado que há grandes dificuldades para se construir máquinas inteligentes. É o desafio tecnológico que a ciência cognitiva e a própria IA vem enfrentando. Este consiste em entender as atividades mentais e funções de rotina aparentemente simples que se executa normalmente: enxergar, andar, planejar, etc., por exemplo, que permitem resolver muitos problemas impostos pelo próprio meio ambiente, até certo ponto com sucesso.

Em se tratando de robôs, um dos desafios dos cientistas, é construí-los de forma que sejam réplicas humanas, mas até o momento eles só existem na ficção científica e a desconformidade entre a ficção e a realidade é enorme e a possibilidade remota. Evidentemente já existem muitos deles: que soldam, que pintam nas linhas de montagens, etc., mas robôs que andam, falam, vêem, pensam, dotados de emoção, eis a questão; por enquanto são apenas projetos de laboratórios. No entanto, esta é uma questão estimulante desafiadora e excitante. Sob esse aspecto, Pinker (1998, p. 14) assim se refere:

[...] o abismo entre os robôs da imaginação e os da realidade é meu ponto de partida, pois mostra o primeiro passo que devemos dar para conhecer a nós mesmos: avaliar o design fantasticamente complexo por trás das proezas da vida mental às quais não damos o devido valor. A razão de não haver robôs semelhantes a seres humanos não surge da idéia de uma mente mecânica estar errada. É que os problemas de engenharia que nós, humanos, resolvemos quando enxergamos, andamos, planejamos e tratamos dos afazeres diários são muito mais desafiadores do que chegar à Lua ou descobrir a seqüência do genoma humano. A natureza, mais uma vez, encontrou soluções engenhosas que os engenheiros humanos ainda não conseguem reproduzir.

Teoria computacional da mente

Muitos atributos, por assim dizer, são necessários para a construção de um robô e precisam ser considerados. Em primeiro lugar, as habilidades humanas normais, corriqueiras e estas envolvem inteligência. Ora,

Um ser inteligente não pode tratar cada objeto que vê como uma entidade única, diferente de tudo o mais no universo. Precisa situar os objetos em categorias, para poder aplicar ao objeto que tiver diante de si o conhecimento que adquiriu arduamente a respeito de objetos semelhantes, encontrados no passado. (PINKER, 1998, p. 23).

Um robô precisa também ser dotado de bom senso e isso representa um grande desafio uma vez que: “Um ser inteligente precisa deduzir as implicações do que ele sabe, mas apenas as implicações relevantes”. (PINKER, 1998, p. 25). Esta é uma questão fundamental que passou despercebida por inúmeros filósofos que, segundo Pinker (1998, p. 25),

[...] pela ilusória falta de esforço de seu próprio bom senso. Só quando os pesquisadores da inteligência artificial tentaram duplicar o bom senso em computadores, a suprema tabula rasa, o enigma, atualmente denominado “problema do enquadramento” [frame problem], veio à luz. Entretanto, de algum modo, todos nós resolvemos o problema do enquadramento quando usamos nosso bom senso.

Assim como as regras do bom senso, as categorias do bom senso são deveras difíceis de estabelecer. Mesmo aquelas aparentemente mais simples, não são tão simples assim. O cotidiano das pessoas é repleto de raciocínios com conclusões muitas vezes lógicas e outras, nem tanto. Para melhor esclarecer isso, os exemplos a seguir utilizados pelo autor, são oportunos:

Mavis mora em Chicago e tem um filho chamado Fred, e Millie mora em Chicago e tem um filho chamado Fred. Porém, embora a Chicago onde Mavis mora seja a mesma Chicago onde Millie mora, o Fred que é filho de Mavis não é o mesmo Fred que é filho de Millie. Se há uma sacola em seu carro e um litro de leite na sacola, então há um litro de leite em seu carro. Mas, se há uma pessoa em seu carro e um litro de sangue em uma pessoa, seria estranho concluir que há um litro de sangue em seu carro. (PINKER, 1998, p. 24).

Isto demonstra que não é fácil elaborar um conjunto de regras para se tirar conclusões sensatas, assim como é muito difícil utilizar essas mesmas regras para orientar o comportamento de forma inteligente. Projetar um robô requer ainda uma tomada de consciência.

Superar esses desafios significa uma façanha admirável. Por trás de toda esta problemática está a mente e suas peculiaridades. Infelizmente, ainda não se têm respostas para a maioria das indagações sobre o funcionamento da mente. Algumas das teorias apresentadas ajudam a esclarecer alguns pontos sobre pensamentos, sentimentos, emoções e consciência.