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Capítulo III – Pressupostos Metodológicos Inerentes à Prática Pedagógica

3.1. O Papel da Criança no Processo de Ensino-Aprendizagem

3.1.2. Modelo Curricular High/Scope

O Modelo Curricular High/Scope foi implementado na década de 1960 por David Weikart, um profissional de psicologia que trabalhou com crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE). Este modelo tinha como conjetura a aprendizagem pela ação e refutava a aprendizagem por repetição e memorização. Desencadeia-se então, a Fase Compensatória deste Modelo que previa o desenvolvimento intelectual da criança (Oliveira- Formosinho, 2007a).

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Ainda com base no mesmo autor, numa fase posterior, Piaget foi uma personalidade que contribuiu para o surgimento da Orientação Cognitivista. O fundamental nesta fase seria a definição do papel do educador como promotor do desenvolvimento psicológico das crianças para que a transição entre cada estádio de desenvolvimento fosse favorável. Não obstante, a rotina diária deveria ser estabelecida de uma forma clara e estável.

No início da década de 70, o High/Scope entra na terceira fase com uma organização das atividades baseadas nas Experiências-Chave que decorrem do ambiente educativo estimulante, preparado previamente pelo educador.

Neste momento, este Modelo Curricular encontra-se numa quarta fase, onde a criança é o centro da ação, traduzindo-se no seu poder de iniciativa e decisão e, o educador é o promotor do ambiente propício dessa aprendizagem. Ainda assim, deve observar a ação das crianças e apoiá-las quando necessário (Oliveira-Formosinho, 2007a). Marchão (2012) confirma esta mesma ideia, complementando que, o educador observa, planifica, documenta, avalia e interpreta as ações individuais e do grupo, compreendendo e indo ao encontro dos seus interesses e necessidades.

De acordo com Oliveira-Formosinho (2007a) o Perfil de Implementação do Programa consiste num modelo de avaliação, desenhado para observar e registar, avaliar e refletir o projeto decorrente na sala de atividades, apoiando-se no ambiente físico, rotina diária, interação adulto-criança e adulto-adulto. Não esquecer que tudo isto acontece com vista à promoção da autonomia e do desenvolvimento das crianças.

O Modelo Curricular High/Scope apresenta na Roda da Aprendizagem, criada por Hohmann e Weikart (2003) os princípios curriculares pelo qual o educador deve reger a sua prática, considerando que este processo é cíclico e exige ao profissional da educação um planeamento, ação e reflexão conscientes com vista ao desenvolvimento saudável e sustentável do seu grupo de crianças.

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Figura 7 – A Roda da Aprendizagem High/Scope

Fonte: Adaptado de Hohmann e Weikart (Educar a Criança, 2003, p. 6)

Assim, são imergentes num quadro de aprendizagem pela ação, a interação do adulto com a criança que deve basear-se num clima positivo, de confiança e de bem-estar. O educador conduz a sua ação de modo a que a criança se sinta confiante e aprenda pela sua descoberta. O ambiente físico onde decorre toda a ação pedagógica deve ser estruturado de acordo com os objetivos que se pretende alcançar, selecionando e preparando os materiais adequados à realização das atividades. A rotina diária é fundamental na medida em que “permite às crianças antecipar aquilo que se passará a seguir e dá-lhes um grande sentido de controlo sobre aquilo que fazem em cada momento do seu dia pré-escolar” (p. 8). Por fim, a avaliação é feita através do registo daquilo que o adulto observa ao longo do dia, apontando o que a criança verbaliza e realiza.

Segundo Marchão (2012) esta abordagem conta com os pilares construtivistas e interacionistas com base nas influências de Piaget e Vigotsky. A visão construtivista compreende que o indivíduo aprende por meio do papel ativo que assume e da exploração, conferindo significado através da experiência. A aprendizagem ocorre em virtude de um pensamento independente, criativo e crítico. Jean Piaget definiu quatro estádios de desenvolvimento pelos quais as crianças passam: estádio sensoriomotor; estádio pré- operatório; estádio operatório concreto e estádio das operações formais (Lebrun, 2008).

Avaliação Interação adulto-criança Rotina diária Ambiente de aprendizagem

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Figura 8 – Estádios de desenvolvimento da criança

Fonte: Adaptado de Lebrun (Teorias e Métodos Pedagógicos para Ensinar e Aprender,

2008, p. 113-114)

Fazendo uma abordagem mais profunda ao estádio pré-operatório, que se adequa às crianças com idades correspondentes à EPE, é notória a evolução entre o estádio anterior e este. Neste momento a criança vive no imaginário, confundindo a realidade com a fantasia. É neste sentido que o jogo simbólico surge como uma das características mais marcantes desta fase, onde as crianças através de um dado objeto dão-lhe funções distintas/diferentes da realidade, por exemplo, um cabo de vassoura poderá ser transformado num cavalo. É nesta fase que a criança ainda se assume como o centro de tudo - o egocentrismo, caracterizado pela irreversibilidade que diz respeito ao seu pensamento de que todos pensam em si (Biaggio, 1976).

Por outro lado, o interacionismo defende que os fatores biológicos e culturais têm um papel proativo na aprendizagem da criança. Deste modo, verifica-se que o contexto social, histórico e cultural da criança não são dissociáveis do seu processo de aprendizagem. A introdução do conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal por Vigotsky consiste na

Estádio das operações formais

12-15 anos Elabora hipóteses, verifica, organiza e estrutura a informação Estádio operatório concreto

7-11 anos Realiza operações mentais se estiver perante o objeto Estádio pré-operatório

2-7 anos Inicia a sua comunicação e as atividades simbólicas Estádio sensoriomotor

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distância entre o nível de desenvolvimento da criança e o nível máximo que ela pode alcançar sob orientação do adulto (Marchão, 2012). Segundo Lebrun “é delimitada, por um lado, pela tarefa mais difícil que o indivíduo pode empreender sozinho e, por outro, pela tarefa mais difícil que o indivíduo pode desempenhar com a ajuda de alguém” (p. 133).

De acordo com o mesmo autor e para finalizar, existe uma diferença entre as ideias de Piaget e Vigotsky: enquanto que para Piaget as interações que a criança estabelece com o meio são essencialmente físicas, para Vigotsky, estas constituem-se num suporte relacional significativo para a aprendizagem.