• Nenhum resultado encontrado

5.2 Teorias Clássicas do Comportamento Antissocial

5.2.6 Modelo da Coerção de Patterson

Por fim, uma última abordagem expressiva na explicação do desenvolvimento e manutenção do comportamento antissocial é atribuída ao Modelo da Coerção proposto por Patterson8, Reid e Dishion (1992). A partir de uma perspectiva sociointeracionista e desenvolvimentista, os autores dispõem-se a analisar as bases do fenômeno na infância, apresentando as variáveis explicativas vinculadas a interações sociais da criança junto a seu contexto, especialmente em referência a dimensão das relações familiares e grupos de pares (PATTERSON; DEBARYSHE; RAMSEY, 1989). De início, este modelo foi formulado para a abordagem junto a crianças com transtorno de conduta e, posteriormente, foi ampliado para explicação e intervenção junto a adolescentes em conduta delitiva/criminal.

O Modelo da Coerção pressupõe o desenvolvimento do comportamento antissocial a partir de quatro etapas: a. na primeira infância, o ambiente familiar marcado por práticas parentais ineficazes e coercitivas, ausência de normas claras e de reforço a boas condutas, implica na aprendizagem e reforço de comportamentos aversivos; b. na média infância, no ambiente escolar, a criança passa a apresentar dificuldades interacionais e alta chance de rejeição por seus pares, bem como inabilidade social e baixo resultados acadêmicos; c. na adolescência, em função do histórico disfuncional, o sujeito sente-se excluído do contexto das relações prossociais e pode envolver-se com grupos desviantes; d. no início da vida adulta, há dificuldades de ajuste ao mundo do trabalho e vida convencional, risco de envolvimento com drogas e comportamentos delitivos associados à institucionalizações (PATTERSON; DEBARYSHE; RAMSEY, 1989 ; PATTERSON; REID; DISHION, 1992).

É relevante citar que os fundamentos do Modelo da Coerção reconhecem que tanto o comportamento prossocial quanto o antissocial são aprendidos nas relações sociais, em especial no contexto familiar, porém alteram-se conforme as mudanças contextuais pelas quais atravessa o indivíduo (PATTERSON; REID; DISHION, 1992). Ainda que a teoria indique um sistema progressivo em relação a complexificação do comportamento antissocial, ressalta-se que isso não denota que toda criança com condutas desviantes, necessariamente, irá seguir tal padrão

8 Gerald Roy Patterson (1926–2016). Foi um expoente psicólogo comportamental americano, doutor em Psicologia pela Universidade de Minessota e reconhecido mundialmente por seus trabalhos junto ao fenômeno da agressão, dando ênfase aos processos de funcionamento e influência familiar. Trabalhou ainda com formas de intervenção e treinamento dos pais, bem como com múltiplos métodos de medição com ênfase na observação direta da interação familiar. Recebeu inúmeros prêmios, dentre eles o Distinguished Scientist Award da APA e o Outstanding Achievement Award da Universidade de Minessota. Em 1976, fundou o Oregon Social Learning Center (OSLC), núcleo de pesquisa multidisciplinar de referência sobre o desenvolvimento, prevenção e tratamento da agressão infantil.

comportamental durante seu desenvolvimento (FERNÁNDEZ, 2010). Aponta-se na literatura, contudo, que variáveis como a idade precoce de emergência e a intensidade/repetição de atos delitivos, são preditores importantes da continuidade e agudização de tais condutas (PACHECO, 2004; FERNANDES, 2014).

Segundo Patterson, Debaryshe e Ramsey (1989), a funcionalidade do comportamento antissocial centra-se na ampliação das consequências gratificadoras imediatas e na evitação de cobranças do ambiente social, já quanto a tipologia caracteriza-se como evento aversivo e é utilizado como forma primitiva de enfrentamento. Indivíduos com tais condutas modelam e manipulam o comportamento de outros à sua volta e, em virtude da efetividade de tais atos, o padrão antissocial converte-se na forma predominante de interação desses indivíduos com o mundo social (FERNÁNDEZ, 2010).

No Modelo da Coerção, o comportamento antissocial não é um fenômeno pontual e episódico, mas sim um evento constituído nas interações sociais e compreendido enquanto um continuum que, progressivamente, vai se complexificando, sendo, portanto, o precursor de condutas delitivas e criminais em um resultado de maturação processual (PATTERSON; REID; DISHION, 1992). Esse modelo explicativo do fenômeno antissocial é amplamente testado e aceito em pesquisas com amostras de crianças e jovens com problemas de conduta e delinquência, apresentando resultados robustos e coerentes (FERNANDES, 2014; PACHECO, 2004).

Como pode se observar, o comportamento antissocial é um elemento polissêmico, com terminologias variadas, que mantém paralelo com outros importantes construtos e que apresenta uma gama variada de teorias explicativas, dentre as quais as que foram acima apresentadas. Dada tal multiplicidade e a dificuldade de unificação de critérios definidores, pesquisadores vêm elaborando propostas de sistematização e organização teórico-conceitual do campo em questão (AKERS, 1997; FERNÁNDEZ, 2010; MORIZOT; KAZEMIAN, 2015; RHEE; WALDMAN, 2002; ROMERO; SOBRAL; LUENGO, 1999).

Dentre estas, destacamos a proposição de Romero, Sobral e Luengo (1999). A proposta de sistematização apresentada por esses autores parte da tentativa de agrupar o corpo de conhecimentos e vertentes teórico-conceituais existentes sobre o construto, buscando orientar- se concretamente em função das linhas de pesquisa do campo em questão. Para tanto, propõe quatro grandes aproximações teórico-conceituais com diferentes especificidades epistemológicas, a saber: clínico-psiquiátrica, comportamental, legal e sociológica (ROMERO; SOBRAL; LUENGO, 1999).

(1999) apresenta-se mais robusta por englobar ampla gama de vertentes apresentadas em outras proposições, por se mostrar operacionalmente pragmática e exequível, epistemologicamente mais coerente e ter sido usada por estudos recentes (GRANGEIRO, 2014; FERNÁNDEZ, 2010; SANTOS, 2008). Em virtude de tais características, na presente pesquisa adotaremos a classificação proposta por esses autores como orientadora da revisão integrativa de literatura acerca das teorias explicativas do comportamento antissocial. No próximo capítulo, serão detalhadas as quatro aproximações, suas características e particularidades, vinculando-as aos produtos obtidos na revisão integrativa.

Em resumo, o presente capítulo buscou apresentar, de modo breve, um apanhado teórico acerca do comportamento antissocial, enfatizando as questões conceituais e terminológicas, apresentando temas a ele correlatos e resgatando as teorias clássicas do campo de estudo. Do mesmo modo, foi apresentada a proposta de classificação das teorias sobre o construto que foi utilizada como operacionalizador e norteador nessa pesquisa.

6 ESTRUTURA EPISTEMOLÓGICA DO COMPORTAMENTO ANTISSOCIAL

Este capítulo se configura enquanto eixo central da pesquisa. Nele são apresentadas e analisadas as perspectivas explicativas do comportamento antissocial emergentes da revisão integrativa proposta nesse estudo. De modo geral, foram contempladas as teorizações que vêm recebendo maior ênfase em estudos e pesquisas recentes, contudo também foi dada oportunidade de resgatar e discutir modelos clássicos sobre o tema. Deu-se ênfase à discussão da estrutura epistemológica que subsidia a construção dessas abordagens, apresentando autores, linhas teóricas e resultados de pesquisas empíricas.

Para tanto, este capítulo foi organizado em quatro tópicos, conforme modelo sistemático apresenta por Romero, Sobral e Luengo (1999), cada qual com as teorias pertinentes a sua aproximação epistemológica. Em cada tópico, tem-se uma apresentação da aproximação, um quadro analítico com os dados dos artigos selecionados na revisão e a discussão epistemológica pertinente aos eixos conceituais emergentes dos artigos.

Documentos relacionados