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Capitulo II ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2. Contributos Teóricos Explicativos da IPI

2.3. Modelo da Ecologia do Desenvolvimento Humano de Bronfenbrenner

num outro meio ou se os meios físicos e sociais que enquadram o nosso desenvolvimento tivessem aparecido em momentos diferentes da nossa vida. Quer isto dizer que só no quadro da interação entre o sujeito e o seu ambiente se pode explicar o comportamento e desenvolvimento humano" (Portugal, 1992, p. 33). O modelo explicativo desta perspetiva é o Modelo da Ecologia do desenvolvimento humano de Bronfenbrenner (1979). Ele debruça-se sobre os contextos do comportamento e a sua importância no desenvolvimento humano e como tal propõe um modelo que privilegia as relações dinâmicas e recíprocas entre o indivíduo e o meio onde está inserido, constituindo uma alternativa aos estudos laboratoriais e centrados na criança que sustentavam a psicologia do desenvolvimento.

Para Bronfenbrenner "a ecologia do desenvolvimento humano implica o estudo científico da acomodação progressiva e mútua entre um ser humano ativo em crescimento e as propriedades em mudança dos cenários imediatos que envolvem a pessoa em desenvolvimento, na medida em que esse processo é afetado pelas relações entre os cenários e pelos contextos mais vastos em que estes cenários estão inseridos" (Bairrão, 1992, p.19).

Neste modelo ecológico "as experiências individuais constituem subsistemas que se encontram inseridos noutros sistemas, que também se inserem em sistemas mais gerais" (Correia e Serrano, 1999, p. 146), "como um conjunto de estruturas aninhadas, cada uma inserida na seguinte, tal e qual um conjunto de bonecas russas" Figura nº 1: Modelo da Ecologia do desenvolvimento

(Bronfenbrenner, 1979, p.22) e portanto estão sob a influência de mudanças ocorridas no seio da comunidade e sociedade, destacando a rede de fatores que envolvem a criança e que afetam o seu desenvolvimento.

Bronfenbrenner privilegia as relações entre o indivíduo e o meio como recíprocas e dinâmicas e considera que o contexto de desenvolvimento está estruturado em quatro sistemas hierarquicamente ordenados e progressivamente mais abrangentes: Microssistema, Mesossistema, Exossistema e Macrossistema (Figura 1).

O Microssistema é o que está mais próximo do sujeito. Reporta-se às atividades e papeis desempenhados e relações interpessoais existentes entre o sujeito e o seu ambiente, experienciados ou vivenciados no imediato e durante um certo período de tempo. Situam-se aqui os contextos como a família, a escola, o local de trabalho. O Mesossitema está relacionado com as inter-relações entre dois ou mais cenários do microssistema, também conhecido por sistema do microssostema, em que o sujeito participa ativamente e afeta indiretamente o seu desenvolvimento. Tratam-se de contextos, no caso de uma criança, das interações entre a família, a escola, o grupo de amigos, ou no caso de um adulto o trabalho, a vida social. O Exossistema remete par um ou mais contextos mais vastos em que o sujeito não tem necessariamente que participar diretamente, mas que influenciam o microssitema. É o caso, do local de trabalho dos pais, o círculo de amigos dos pais, a comunidade social e programas. Por fim o Macrossistema integra os três anteriores sistemas e está ligado com as crenças, ideologias, valores, estilos de vida inerentes a cada sociedade, numa determinada época e inclui os aspetos legislativos e políticos mas igualmente as representações que os diferentes agentes tem sobre o sujeito (Serrano, 2007, p.39; Pimentel, 2005, pp38-43; Serrano e Correia, 2000, pp. 21-23, Portugal, 1992, pp.38- 40; Bairrão, 1992, p-20, Bairrão 1994 pp. 42-43; Pessanha, 2008, pp. 37-38).

A abordagem ecológica, para Bronfenbrenner implica que "a pessoa, o meio envolvente e as relações que entre si se estabelecem, devam ser conceptualizadas em termos de sistemas mais e de subsistemas dentro de sistemas mais vastos" e embora este autor estivesse mais dirigido para a psicologia do desenvolvimento, a verdade é

que "a sua influência foi muito mais ampla e trouxe importantes contributos para o campo educacional (Bairrão, 1992, p. 22).

Ao longo da vida o indivíduo passa por Transições Ecológicas, que podem ocorrer em qualquer um dos níveis desta estrutura ecológica. Estas acontecem sempre que "a posição do indivíduo se altera em virtude de uma modificação no meio ou nos papéis e atividades" que passa a desempenhar (Portugal, 1992, p. 40). Se pensarmos no nosso percurso de vida constatamos estas transições: nascemos na maternidade, vamos para a creche, escola, tiramos um curso superior, arranjamos o primeiro emprego, viajamos, comparamos um carro, casamos... a lista é infinita. Para Bronfenbrenner "a transição ecológica é um elemento base no processo de desenvolvimento: é ao mesmo tempo uma consequência e um instigador do processo de desenvolvimento" (Portugal, 1992, p. 41). Estas transições ecológicas tendem ainda a afetar mais que um contexto dado que os processos recíprocos de interação atravessam as fronteiras dos diferentes contextos. Por exemplo, quando uma criança nasce ou quando vai para a escola o padrão das atividades familiares necessariamente é alterado.

Em 1989 Bronfenbrenner fez uma reformulação à sua definição de ecologia de desenvolvimento humano, integrando conceitos do modelo transacional de Sameroff e passando a preocupar-se com as interações duradoras no meio circundante, que ele refere como "processos próximos" (a alimentação ou a brincadeira com a criança, atividades de jogo ou outras situações de aprendizagem da criança), "o conteúdo e a duração desses processos próximos que afetam o desenvolvimento e que variam sistematicamente em função das carateristicas, quer da pessoa, em desenvolvimento, quer do ambiente, da natureza dos produtos do desenvolvimento, da continuidade e mudanças sociais que ocorrem ao longo do tempo e do período histórico em que a pessoa vive (Bronfenbrenner e Morris, 1998, cit. Bairrão e Almeida, 2003, p.16).

A perspetiva ecológica-transacional tem implicações conceptuais e organizacionais, nomeadamente em como intervir precocemente tendo em conta a complexidade do desenvolvimento e ao mesmo tempo organizar serviços e recursos que consigam

responder adequadamente às necessidades da criança e sua família (Bairrão e Alves, 2003, p.16)

A proliferação destes modelos teve repercussões práticas ao nível da intervenção, envolvimento parental e avaliação do trabalho a desenvolver com a família adotando uma vertente sistémica, transacional e ecológica. Foi necessário criar novos programas de IPI, criar legislação, instrumentos que permitissem a avaliação das necessidades da família, técnicos e as redes sociais de apoio e dar grande enfoque à formação.