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Modelo de integração do design nas empresas

Capítulo 4 · O design na indústria

4.7 Proposta para a implementação do design nas empresas

4.7.2 Modelo de integração do design nas empresas

Não é possível evoluir para segmentos de negócio com maior valor acrescentado sem capacidades ao nível do design e do estilismo em que o país é carente. Não é possível apostar de forma credível na internacionalização sem ter quadros empresariais com a formação necessária para actuar em mercados com um grande grau de exigência.

(Ministério da Economia, 2003, p.26)

É com base na fundamentação que tem vindo a ser explicada que se propõe um modelo regulador da intervenção do design nas empresas, representado na figura 4.37. O primeiro passo

compreende a geração ou análise de estímulos/ideias que justifiquem o início do processo de criação e que pode resultar de uma observação das atitudes dos consumidores ou de uma pesquisa elaborada acerca de um determinado tema. Essa pesquisa pode ser centrada numa análise critica feita ao legado etnográfico de uma determinada região, tirando partido dos recursos locais para a criação de um argumento de venda inovador (ver modelo metodológico apresentado na secção.3.5 - Considerações sobre a prática projectual fundada num exercício de ecodesign).

Nos anos 80 o design foi alvo de uma reformulação metodológica motivada pela assimilação de contributos oriundos das ciências sociais, que agora passavam a fazer parte do corpo

multidisciplinar, que até então era constituído apenas por ciências exactas, (López, 2005; Bürdek, 2002). O objectivo desta mudança visava uma melhor compreensão dos fenómenos sociais e comportamentais. A antropologia, enquanto ciência responsável na interpretação das identidades e património cultural, revelava ser um contributo de suma importância para o design, fornecendo-

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Capítulo 4

lhe os meios para a interpretação e o conhecimento das características sócio-culturais de cada comunidade. Com o incorporar destas novas competências o designer passou a desempenhar o papel de intérprete, mediando as relações entre o corpo social e as novas produções (Verganti, 2003).

processo de verificação (prototipagem)

ideias / estímulos - observação de atitudes dos consumidores

- investigação e desenvolvimento de recursos locais

criação do briefing sujeitar conceito a apreciação

de um grupo multidisciplinar

criação de imagem de marca

(geração de argumento / conceito)

anteprojecto

(criação de várias hipoteses trabalho)

reunião com grupo multidisciplinar

projecto

(desenvolvimento da proposta eleita)

fase de testes (com utilizadores)

produção se sim, se não, 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 1

O design na indústria

É com base nesta reestruturação metodológica e na referida falta de informação inicial,

característica da generalidade das PME’s portuguesas, que se propõe que esta primeira fase seja realizada pelo designer. Este, no entanto, deverá manter uma posição aberta e atenta pois outros profissionais da empresa também poderão vir a dar valiosos contributos.

Assim, como referido anteriormente, os estímulos que irão desencadear o processo criativo poderão resultar da análise de tendências feita a partir da observação das atitudes dos

consumidores ou da pesquisa realizada sobre as mais variadas temáticas (ponto nº1 do modelo).

As ideias, já enquadradas num suporte teórico e explicitadas sob a forma de projecto, deverão ser submetidas a uma reunião multidisciplinar com o intuito de analisar o interesse da proposta e eliminar possíveis incompatibilidades. Dessa reunião deverão participar os responsáveis pelas principais fases da cadeia produtiva que deverão analisar a proposta e propor remodelações, caso tenham detectado alguma inviabilidade técnica (ponto nº2 do modelo).

Após a viabilização da proposta deve ser elaborado o brief contemplando os objectivos do projecto enquadrados por uma breve contextualização contendo prazos de elaboração, orçamentação, bem como os resultados líquidos que se pretenda alcançar (ver secção 2.2.1 Definição do brief). Este será um documento que irá esclarecer as tomadas de decisão e objectivar acções futuras, tornando-o num elemento de consulta, para quando houver dúvidas (ponto nº3 do modelo).

Tendo em conta este documento, o designer poderá recolher mais alguma informação que ainda esteja em falta e proceder à composição de analogias ou metáforas, decorrentes da investigação que efectuou e mediante o conceito que criou. Dessas relações espera encontrar o insólito, o estranho, o inesperado, que irão dar maior ênfase ao argumento de venda. A recombinação de tecnologias artesanais, materiais e usos/costumes ancestrais, com novos materiais e técnicas poderá ser mais um meio para criar soluções singulares tirando partido das raízes culturais. Este exercício poderá também beneficiar com uso de metalinguagens para uma recriação mais enfática do argumento de venda (ver modelo metodológico apresentado na secção.3.5 - Considerações sobre a prática projectual fundada num exercício de ecodesign).

Nesta fase, deverá ser também concebida uma imagem de marca e respectiva linha gráfica, destinada a promover e divulgar o lançamento do novo produto, desenvolvendo por exemplo: as embalagens para os produtos, as etiquetas, a página para Internet, entre outros (ponto nº4 do modelo).

O passo seguinte consiste no esboço das ideias. Pela utilização do desenho, o designer irá começar a esquematizar as hipóteses de trabalho futuro (ver secção 2.2.2 Hipóteses de trabalho). Nesta fase é que serão equacionadas várias soluções (ponto nº5 do modelo).

Capítulo 4

Estas hipóteses de trabalho deverão ser submetidas a apreciação geral através de uma reunião multidisciplinar, sendo seleccionada a solução mais satisfatória. Deverão ser também apontadas sugestões e discutidas soluções para situações que possam vir a levantar quaisquer

constrangimentos técnicos (ponto nº6 do modelo).

A fase seguinte consiste no refinamento da solução escolhida. Os esboços assumem agora uma expressão mais técnica e as ideias surgem representadas com o máximo rigor, definindo todos os detalhes pormenorizadamente (ponto nº 7 do modelo). Com vista à detecção e resolução de qualquer falha que o produto ainda possa apresentar são criados protótipos que dão uma visão prévia sobre a conformação do produto final, servindo também como elemento de teste útil para avaliar o desempenho da solução eleita junto do consumidor final (ponto nº 8 e nº 9 do modelo).

Se os testes efectuados não apresentarem problemas, o projecto pode ser enviado para a linha produtiva. Este processo de concretização do projecto deve ser acompanhado pelo designer de forma a assegurar da sua correcta implementação (ponto nº10 do modelo). Se os testes revelarem alguma situação de uso indesejável, deverá voltar-se ao ante-projecto e desenvolver outra

hipótese que responda mais eficientemente aos objectivos traçados (voltar ao ponto nº 5 do modelo).

Após o lançamento do produto no mercado, deverão ser confrontados os resultados obtidos com os esperados, nomeadamente, vendo se foi registada alguma mudança na quota de mercado e/ou no volume de negócios. Em caso de haver um desfasamento negativo entre o esperado e o obtido, deverá também ser feita uma análise a todo o processo de concepção e produção com o intuito de detectar os pontos onde o desempenho não foi tão positivo de forma a melhorar os procedimentos futuros, tornando-os mais efectivos.