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Modelo de Westley

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1. A QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

1.3.2. Modelo de Westley

As questões relativas à QVT, segundo Westley (1979), devem envolver os programas de mudanças nas organizações relacionados aos problemas que são gerados pelo sistema econômico.

Para ele, a natureza das organizações do trabalho das sociedades industriais gera problemas, como insegurança, injustiça, alienação e anomia. Assim, devem ser traçadas ações em direção à melhoria das condições do trabalhador, levando-se tais problemas em consideração.

As questões insegurança e injustiça têm suas raízes no desenvolvimento das chamadas sociedades industriais, que criaram a concentração do poder e da riqueza nas mãos de proprietários e dirigentes de fábricas, resultando em exploração e coerção do trabalhador. Em resposta a esta situação surgiram o movimento socialista e a organização dos sindicatos, sendo o objetivo desses últimos a obtenção de segurança no emprego (poder) e eqüidade no pagamento (divisão dos lucros). Atualmente, as demandas do trabalhador por participação e propriedade são ainda uma conseqüência de um processo que surgiu na época da Revolução Industrial (WESTLEY, 1979).

Westley (1979, p. 115) sustenta que muitas vezes os programas de QVT podem resolver problemas de insegurança e injustiça (especialmente quando o foco

é no trabalhador dirigente e/ou no proprietário), todavia, não abarcam a questão da alienação. O autor ressalta ainda a importância de se distinguir o relacionamento entre os tipos de problemas e os tipos de soluções, pois, muitas vezes, a prática obscurece e modifica o que em tese é articulado. Assim, fica claro que a divisão de lucros beneficia o envolvimento de trabalhadores apenas quando os inclui em novos papéis de gerentes e “da mesma maneira a participação pode perder e perde seu efeito político nos níveis hierárquicos mais baixos das organizações. No comércio, por exemplo, a participação quase não tem efeito político e se transforma no redesenho de cargos e grupos de trabalho. Sob tais circunstâncias seria um erro a denominação de participação”.

A alienação é tomada, de acordo com o referido autor, como uma condição que envolve o desligamento entre o trabalho e o eu. Tal condição é marcadamente fruto da super-racionalização do trabalho, tornando-o fracionado e de natureza altamente monótona. Desta maneira, a alienação gera, psicologicamente, um afastamento do envolvimento com o trabalho, tornando-o sem significado e longe de ser de interesse fundamental na vida da pessoa.

Por sua vez, a anomia é um efeito social que, segundo Westley (1979), gera duas conseqüências: enfraquece o conhecimento sobre o relacionamento de causa e efeito e, portanto, uma perda de significado; e amplia o afastamento da compreensão sobre o trabalho e sua racionalização, o que o esvaziou de seus conteúdos normativos.

É interessante salientar que aqueles profissionais que têm um trabalho envolvente sentem-se gratificados pelo que fazem. Porém, quando sentem a necessidade de fazer uma negociação por melhores pagamentos e maior segurança, freqüentemente têm todo o caráter normativo de compromisso destruído. O processo de negociação parece ter uma lógica que apenas mantém as necessidades que são geradas pelo dinheiro (WESTLEY, 1979).

Assim, pode-se fazer uma síntese da análise de Westley: a insegurança e a injustiça são expressão da insatisfação e a alienação e a anomia, expressão do afastamento (falta de envolvimento); além disso, a injustiça é uma questão econômica e a insegurança, uma questão política e a alienação e a anomia são, respectivamente, uma questão psicológica e sociológica.

Uma vez levantados os problemas relacionados à QVT, as soluções para este contexto, na opinião de Westley (1979), são: o enriquecimento do cargo, cuja natureza é individual, psicológica e asistêmica e o método sociotécnico aplicado à reestruturação do cargo e do trabalho do grupo, que é essencialmente grupal, sociológico e sistêmico.

De acordo com o autor, o enriquecimento do cargo tem por objetivo identificar as deficiências que não permitem que ele satisfaça as necessidades psicológicas do trabalhador. Então, muitas vezes, o enriquecimento do cargo ainda requer uma reestruturação da organização social do trabalho, não se restringindo a uma ampliação do cargo.

Em contrapartida, a abordagem do sistema sociotécnico apóia-se em uma análise dos sistemas técnico e social de trabalho, o que dirige o processo para um desenho dos papéis do trabalho no lugar do cargo, de acordo com Westley (1979, p. 121), terminando por “construir uma cultura do trabalho, um sistema normativo, e ativar valores sociais”.

No Quadro 1 é apresentada uma síntese da avaliação de Westley (1979) sobre as condições da QVT.

Westley (1979) afirma que a análise dos problemas e das respectivas soluções coloca-se como um guia para a estruturação e a reestruturação de suas organizações do trabalho. Todavia, os problemas relativos a insegurança e injustiça merecem programas (melhoria de salário e medidas de segurança) que irão, especificamente, lidar com tais questões, sendo que eles já não cobririam os entraves relativos a alienação e anomia. Por outro lado, o método sociotécnico de reestruturação do grupo levaria ao conhecimento dos agentes de mudança, ou cientistas sociais, as características de normas culturais deste método, o que impossibilitaria o surgimento de normas morais do grupo.

A análise desse autor atinge profundamente a questão das transformações que o mundo do trabalho sofreu a partir da era da industrialização, enfatizando os principais problemas gerados desde então.

Assim sendo, Westley (1979) deixa claro que a QVT é um processo que toma sua forma de acordo com o movimento político, econômico, psicológico e sociológico

de cada época, fato que revela a natureza histórica da QVT, e afasta a incoerência de qualquer análise imediata e descontextualizada dela.

Quadro 1. Origens da qualidade de vida no trabalho.

Tipos de reivindicações das organizações de trabalho Problemas do trabalho Agentes para resolução dos problemas Indicadores Alternativas propostas Econômica (1850-1950)

Iniqüidade União Insatisfação, greves e sabotagens Cooperação Divisão de lucros Acordos na produtividade Política (1850-1950) Insegurança Partidos políticos Insatisfação, greves e sabotagens Trabalhadores em: Auto- gerenciamento Diretoria Conselho Psicológica (1950 até o presente) Alienação Agentes de mudança Sensação de afastamento Absenteísmo e turnover Enriquecimento do cargo Sociológica (1950 até o presente) Anomia Grupos de autodesenvol- vimento Sensação de perda de significado Absenteísmo e turnover Grupos de trabalho de projetos Fonte: WESTLEY (1979, p. 122).

Observa-se que tal sustentação transforma-se na contribuição mais relevante do estudo desse autor sobre a QVT, servindo de referência para pesquisas subseqüentes.

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