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CAPÍTULO 3 METODOLOGIA

3.1. Modelo de Investigação

Para o desenvolvimento da pesquisa sobre o ensino e educação no Maranhão e Grão- Pará (sécs. XVII e XVIII) – Os jesuítas e prática missionária, têm sido utilizadas várias abordagens fenomenológicas, onde se destaca a abordagem fenomenológico-hermenêutica.

Este trabalho de investigação consta de uma abordagem fenomenológico- hermenêutica para o desenvolvimento do objeto de estudo, que é caracterizaro ensino e edu- cação no Maranhão e Grão-Pará sécs. XVII e XVIII – Os jesuítas e prática missionária. Para

tal, são utilizados fontes hemerográficas - artigos de jornais, revistas, publicações em períodi-

cos, monografias, iconográficas – mapas, imagens Aróstegui e Sánchez (2001) e Rodriguez (2010) organizados em pastas no Software Zotero e de documentos textuais, neste caso, os manuscritos já transcritos pelos próprios autores colocados em ordens nos fichamentos.

As fontes históricas, segundo Pinsky (2008, p. 7), são “fontes que têm historicidade: documentos que "falavam" com os historiadores positivistas talvez hoje apenas murmurem, enquanto outros que dormiam silenciosos querem se fazer ouvir”.

Como sugere Febvre (1985), os procedimentos de investigação relacionados com a história têm de utilizar os documentos que comprovam os fatos e esclarecem as dúvidas atra- vés de fonte credível. Assim,

“a História faz-se com documentos escritos, sem dúvida, quando eles existem; mas ela pode fazer- se sem documentos escritos, se não os houver. Com tudo o que o engenho do historiador pode permitir-lhe utilizar para fabricar o seu mel, à falta das flores habituais. Portanto, com palavras. Com signos. Com paisagens e telhas. Com formas de cultivo e ervas daninhas. Com eclipses da Lua e cangas de bois. Com exames de pedras por geólogos e análises de espadas de metal por químicos. Numa palavra, com tudo aquilo que, pertencendo ao homem, depende do homem, serve ao homem, exprime o homem, significa a presença, a atividade, os gostos e as maneiras de ser do homem” (Febvre, 1985, p. 249)

54 Neste sentido, o pensamento de Saviani (2006) ressalta que as origens documentais prevalecem a qualidade da investigação

“As fontes estão a origem, constituem o ponto de partida, a base, o ponto de apoio da construção historiográfica que é a reconstrução, no plano do conhecimento, do objeto histórico estudado…. . Elas, enquanto registros, enquanto testemunhos dos atos históricos, são a fonte do nosso conheci- mento histórico, isto é, é delas que brota, é nelas que se apóia o conhecimento que produzimos a respeito da história” (Saviani, 2006, p. 29)

Neste caso, o estudo abrange as fontes primárias e secundárias ao reforçar o que já foi produzido por autores do passado e do presente e suas abordagens ao ensino e educação no então Estado do Maranhão nos séculos XVII e XVII, como também suas práticas missio- nárias naquele local.

Assim, ao evidenciar a abordagem hermenêutica correlacionada com as fontes primárias e as fontes secundárias, “não se negligencia a mais corrente e aceita das tendências historiográficas, aquela que classifica as fontes em primárias e secundárias segundo sua aproximação direta ou indireta com os fatos históricos” (Berrio, 1976, p. 456).

Para Saviani (2006), Berrio (1976) e Funari (2008), as fontes primárias são aquelas fontes criadas por observadores ou participantes diretos dos fatos e cujos testemunhos são supostamente fiéis à verdade e as fontes secundárias são fontes com informações prestadas, de maneira indireta, por autores que não foram testemunhas presenciais do acontecido.

Neste contexto, entende-se que a utilização de fontes primárias e fontes secundárias, nesta investigação, possibilitam, na abordagem hermenêutica, as vantagens relacionadas com a capacidade de uso e manuseio de documentos relacionados com a sua natureza. Segundo Langlois e Seignobos (1915, p. 13), “sem documentos, sem história” dado que a análise feita para elaboração, estruturação e conclusão desta tese passou pelo processo de seleção de documentos escritos e digitais, iconográficos, arquitetónicos, mobiliários dentre outros consi- derados peças essenciais para se esclarecer as circuntâncias concretas dos fenómenos ocorri- dos em determinadas épocas e sociedades, como então o ensino e educação no Estado do Maranhão e Grão-Pará, sécs. XVII - XVIII- Os jesuítas e prática missionária que, segundo os autores Berrio (1976), Melo (2010) e Costa (2010), estes elementos são peças essenciais que

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devem articular-se com a finalidade de promover o desenvolvimento e a estruturação da pes- quisa.

Para Costa (2010, p. 193), “as fontes não falam por si só, não adquirem sentido por elas mesmas, daí a necessidade de diálogo científico com os documentos, dialógo que passa, muitas vezes, por uma relação saudável de desconfiança”. Deste modo, os documentos tornam-se essenciais para “cruzar fontes, cotejar informações, justapor documentos, relacionar texto e contexto, estabelecer constantes, identificar mudanças e permanências” (Barcellar, 2008, p. 71).

Costa (2010) adverte ainda para a qualificação desses documentos devido a vasta e variada utilização de fontes primárias, neste caso, dos textos jesuíticos, devido ao fato de que “os documentos do passado não foram elaborados para o historiador, mas sim para atender a necessidades específicas do momento” (Barcellar, 2008, p. 69). No entanto, a validade dos documentos aferidos na investigação ganharam qualidade nestes procedimentos “devem ser observadas regras para não se fazer do resgate de fontes um exercício de memória, mais dig- no de estarem em um museu da escola do que, propriamente, suscitar um debate académico” (Costa, 2010, p. 193).

Para Cardoso e Vainfas (1997, p. 377), o “documento é sempre portador de um dis- curso que, assim considerado, não pode ser visto como algo transparente.” Entretanto, em relação às regras utilizadas nesta pesquisa, seguimos as orientações de Melo (2010, p. 21), no que respeita a visibilidade da investigação seguem-se os procedimentos que identificam o seu próprio pesquisador, “não se pode esquecer que a credibilidade de uma fonte repousa, em grande medida, na credibilidade do seu autor”.

Outro aspeto relevante na abordagem hermenêutica é a identificação dos fatos. Tal leva a crer que, neste estudo, a investigação de aspeto histórico no ponto de vista da educação “não se realiza sem o apoio dos fatos, dados e informações contidas nas fontes” (Pinsky, 2008, p. 7). Segundo Melo (2010, p. 21), “de posse dos dados obtidos com essas ações, é pos- sível buscar uma aproximação com o autor, desvendar suas preocupações, tendências, ideolo- gias, objetivos”.

56 O foco desta pesquisa é caracterizar o ensino e a educação no Maranhão e Grão-Pará (sécs. XVII- XVIII) – Os jesuítas e prática missionária. O ensino jesuítico foi considerado a génese do sistema educacional relativamente à educação no extremo norte do Brasil Colonial cuja localização atual corresponde hoje à Amazónia legal.

Para enfatizar a localização do objeto de estudo, partiu-se da denominação Ilha do Maranhão descoberta, povoada e sob o domínio francês, de 1607 a 1614, foi-lhe atribuído o nome de São Luíz do Maranhão em 1611, em homenagem ao Monarca Luiz XIII. Com a der- rota francesa pelos portugueses em 1615, a Ilha do Maranhão passou a chamar-se Estado do Maranhão por Carta Régia, de 13 de junho de 1621; permaneceu assim até 1652, quando este Estado foi suspenso por período de dois anos, em que novamente uma Carta Régia, de 25 de agosto de 1654, restabeleceu-o e passou a chamar-se Estado do Maranhão e Grão-Pará até 1751, quando foi modificado para o Estado do Grão-Pará e Maranhão até 1772 e mais tarde foram separados, tornando-se províncias independentes: Maranhão e Grão-Pará com divisões, limites e governos próprios (Mayer, 2010; Mauro, 1991; Bettendorff, 1910, 1990; Chambou- leyron, 2007; Azevedo, 1901; Bloch et al, 1972; Berredo, 1749). Estas, por sua vez, podem ser vistas em uma área que compreendia, em sua extensão no ano “de 3 de setembro de 1626, o seguinte limite que começava não longe dos baixos de S. Roque, ao 30º 30” L. S., esten- dendo-se até ao Rio Vicente Pinson (Oyapock)” (Bettendorf, 1910, 1990, p. xii –xiii).

O modelo de abordagem fenomenológico-hermenêutica por Levering e Van Manen (2002) é desenvolvido a partiu do contato com os textos clássicos pedagógicos fenomenológicos do alemão e holandês para o inglês.

O modelo proposto por Levering e Van Manen (2002), na pespectiva teórica e metodológica da pesquisa, está enraizado num modelo fenomenológico de investigação em Ciência Humana descrito pela primeira vez em 1990/97, no livro Researching Lived

Experience: Human Science for an Action Sensitive Pedagogy. Este, por sua vez, pode ser

constatado na obra de Husserl, o pioneiro da Escola de Utrecht no desenvolvimento da fenomenologia em Ciências Humanas, dado que Levering e Van Manen (2002) fazem um estudo histórico do desenvolvimento do movimento, na escola de Utrecht, no período entre 1940 e 1970, na Holanda e na Flandres.

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A utilização do modelo fenomenológico-hermenêutico é feita a partir da perspectiva de Levering e Van Manen (2002) que sugere um estudo voltado para a descrição dos fenómenos de experiência vivida. Deste modo, confirma-se que as cartas, obras, entre outros, feitos em registos pelos próprios jesuítas a respeito do ensino e educação no Maranhão e Grão-Pará (sécs XVII-XVIII), como também as suas práticas missionárias, evidenciam as descrições em obras, vocabulários e catecismos criados pela Ordem para atuar naquele local.

Carabajo (2008) salienta a sua importância

“na descrição e interpretação das estruturas essenciais da experiência vivida, bem como o reconhecimento do significado e a importância educacional desta experiência. Este método constitui uma abordagem coerente e rigorosa para o estudo das dimensões éticas, relacionais e experiência pedagógica quotidiana práticas dificilmente acessíveis pelas abordagens de pesquisa usual” (Carabajo, 2008, p. 409)

Neste processo, a descrição de experiência vivida pelos missionários a respeito de ensino e educação no Maranhão e Grão-Pará, de forma pormenorizada pelos próprios jesuítas e por outras autoridades locais, é considerada como um conjunto de documentos essenciais para que possamos desvendar quais foram os contributos do ensino jesuítico no Estado do Maranhão e Grão-Pará (1638-1759).

Van Manen considera a “descrição (textual) evocativa e estimulante de ações, com- portamentos, intenções e experiências humanas, como as conhecem no mundo da vida” (Van Manen, 2003, p, 37). E de acordo com Barnacle (2004, p. 57), “o modelo de pesquisa, com base na noção de experiência vivida, forneceu uma base para os investigadores educacionais refletir sobre sua própria experiência pessoal como educadores, teóricos da educação, gestão e política educacional.”

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